Eu Acredito em Você escrita por silentread


Capítulo 1
Único.


Notas iniciais do capítulo

Texto randômico derivado de um dos meus devaneios.



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Quando ali estavam, muito distante da fronteira do Condado, Thorin ordenou que eles parassem. Sugeriu – mandou – que caçassem perigos ao redor. Muito preocupado, ele sentiu um aperto no ombro esquerdo; era Balin, falando algo que, estranhamente, ele não pôde ouvir. Talvez fossem as batidas do coração, altas demais, como tambores ressoando bem perto de seu ouvido.

“... Thorin?”

Mas ele não respondeu ao chamado. Ao invés do velho olhá-lo em reprovação, por não manter a atenção adequada ao grupo, ao seu grupo, nessa parte perigosa da jornada, ele sorriu gentilmente. Afastou-se por completo, fazendo o anão mais novo afundar-se em seus turvos pensamentos.

~*~

Não muito distante, um sujeito que era menor que todos os anões, o observava. E parecia fazer anotações mentais de sua expressão, postura e gestos. Com um olhar confuso, ele continuou a revista. Já que Thorin não observava de volta, Bilbo podia levar o tempo que quisesse.

“Concentrado, Mrs. Baggins?” Alguém cutucou-lhe o ombro. Levemente assustado para alguém que não estava fazendo nada demais, Bilbo gaguejou quando disse:

“N-não, eu só estava...” Deu um de seus sorrisos nervosos, chacoalhando a cabeça. Mas Balin fez um aceno vagaroso com a mão, sentando-se ao seu lado. Então, olhando também para Thorin, ele começou a falar. De repente, era como se não existisse mais ninguém no lugar, apenas Bilbo, Balin e o sujeito cansado ali, logo na pedra à frente deles.

“Era um dia normal como todos os outros. O comércio ia bem...” Dizia ele. Atento a todos os detalhes, Bilbo imaginava como seria se Erebor não tivesse sido atacada por Smaug ou por qualquer outro ser indesejado. Como Thorin estaria governando. Em instantes, ele soube – não de toda ela – a história que antecedia todo esse esforço para voltar à sua terra natal. E sentiu um misto de angústia, pena e impotência; porque, como um ser tão pequeno como ele poderia intervir numa situação tão grande?

Ainda mais confuso em seus pensamentos, não ouviu, viu ou sentiu o velho anão afastar-se dele, parando perto da fogueira. Apesar de querer encher Thorin de perguntas, ele se conteve no lugar. Ao longe, um dos anões da comitiva dirigia-se para perto de Bilbo, mas antes que ele realmente chegasse, Balin atravessou-se em seu caminho, fazendo-o andar para trás e não mais voltar.

Obrigado, Balin.” Pensou o hobbit, apoiando os braços cruzados nos joelhos flexionados. Naquela posição, passou incontáveis minutos, o olhar voltado para o rei à sua frente.

O homem que estava sempre enraivecido por alguma coisa, mas continuava forte do mesmo jeito, parecia um jovem fraco e cansado naquela noite de luar gelado. Suas mechas brancas, que deveriam parecer mais brilhantes à luz da Lua, sumiram. Entre batalhas, perdas e dor, o rosto perdera a maioria de suas rugas.

O Thorin antes da catástrofe de fogo. Antes das hordas de orcs, da rejeição dos elfos. Antes da fome, do frio e da tristeza; porém, nunca a desesperança.

~*~

Não ouvia mais nenhum burburinho à sua volta. Parecia que existiam apenas as árvores, suas folhas e o vento. Nem o frio ele sentia. Catou uns cascalhos no chão, e atirou-os no rio abaixo; as pedras demorando-se a bater contra a água, tamanha era a distância entre elas e a superfície. Alguém limpou a garganta deveras perto de si. Ele não assustou-se, porém; era treinado para atacar a qualquer ameaça que o rodeasse.

Mas ali não tinha ninguém para retalhar; quem sabe, ele deveria ensinar o ser ao seu lado a fazer isso.

“Mrs. Baggins. Não deveria deitar-se, como os outros?” O anão parecia educado, mas na verdade queria apenas ficar sozinho. Mais que o natural.

“Assim como o senhor. Mas, talvez não como o senhor, eu também tenha problemas a pensar.”

“Se está falando do dragão, a hora de desistir era quando ainda estivesse em sua toca, no Condado. Se chegou até aqui, irá até o fim.”

Viu Bilbo tentar rebater o comentário, mas desistiu. Um silêncio pesado pairou sobre os dois. O anão deu uma risada seca, mas cheia de mágoa.

“Balin lhe contou a história. O senhor deve saber o porquê de estarmos e aqui, como isso é importante e...”

“E...?”

Mas ele suspirou, esfregou a tez e não completou a frase.

“Escute o que vou dizer-lhe agora.”

“Se for reclamar sobre a comida, desista; apenas Bombur gosta de cozinhar aqui.”

“Não seja arrogante. Estou falando... Bem, como devo...?”

Thorin, que já não estava muito a fim de ouvir um hobbit ficar tagarelando o tempo inteiro, começou a ficar impaciente.

“Há muito dias você vem se apresentando meio apático. Não retiro o seu direito de parecer assim, porém... E também, não que mostrasse seu sorriso o tempo inteiro antes, mas é que...”

“Ajudaria-me muito se você falasse logo o que quer falar.”

Bilbo olhou feio. Jamais gostara de ser interrompido, ele percebeu.

“Como eu estava dizendo” ele continuou “não que você mostrasse sorrisos o tempo inteiro, mas a frequência vem diminuindo cada vez mais. Eu sei pelo que passou. Digo, não é nem metade do sentimento real, mas entendo a história. Eu sei que já passa pela sua cabeça há anos que a tarefa de substituir o Rei, reconquistar a Montanha e fazê-la seu lar novamente é sua responsabilidade. Eu sei que quer proteger não só a seus sobrinhos, mas todo esse grupo de anões. Sei o que pretende. E admiro a sua coragem. Mas, pelo amor de Yavanna, você não está abandonado. Entendeu? Você não deve, de forma alguma, levar esse peso sozinho, como se a culpa fosse sua. Se esses 13 anões estão aqui, é porque eles te apoiam, Thorin. Eles o veem como o Rei que é, e que em breve, será coroado. Eles acreditam em você, Thorin Oakenshield.”

Pela primeira vez, o anão o encarou. Este que olhava fixamente para um ponto no horizonte. Este que continuava a atirar as pedrinhas no rio abaixo.

Seus olhos muito claros pareciam etéreos sob a luz de uma Lua extremamente prateada. Viu o hobbit sorrir de forma contida e abanar a cabeça, como sempre fazia. Hesitante e mesmo assim, raivoso, continuou:

Eu acredito.”

~*~


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Notas finais do capítulo

Mereço um tapa na cara. Era para eu ter postado há muito tempo, e eu ainda modifiquei horrivelmente (ou não, não sei). No entanto, achei que ficou bom.