13º Desafio Sherlolly escrita por Mariii


Capítulo 1
Gatos e Dinossauros




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♫ ♪ ♫

Vamos lá. Eu estava decidido. Sim, eu estava. Tão decidido quanto um hematófobo fica ao fazer exame de sangue. É, talvez eu não estivesse tão firme em minha decisão quanto queria parecer, mas levaria até o fim. Precisava levar.

Eu tinha planejado, pensado, revisado e ensaiado por dias a fio. Iria conversar com Molly e tentar expor o que eu estava sentindo por ela, que era tão confuso quanto eu me sentia ao por em palavras. Será que eu era mesmo capaz de gostar de alguém de forma assim... Romântica? O que eu poderia oferecer em um relacionamento? Nunca tive um e talvez eu não fosse o que Molly esperava. Talvez eu não pudesse dar o que ela precisa. Balanço a cabeça e afasto os pensamentos. Eu estava decidido e não mudaria de ideia agora.

Caminhei até a casa dela após o almoço. Eu a procurei no St. Barts e tinha ideia de chamá-la para almoçar, mas descobri que ela ligou avisando que não iria trabalhar naquele dia. Não sei se estava fazendo o certo em ir até sua casa, e se ela estivesse com algum problema muito pessoal? E se eu atrapalhasse alguma coisa? Passou-me pela cabeça que podia ser algum problema de caráter romântico e agora mais do que nunca eu precisava ir até lá. Invadir uma briga de casal com o que eu tinha para dizer não era a melhor das ideias, mas era o que eu tinha no momento.

Toquei o interfone e a voz dela me pareceu diferente ao atender. Parecia que ela estava gripada, talvez fosse só isso.

- Sou eu, Molly. Eu... Eu precisava falar com você.

Ouço-a suspirar do outro lado e a resposta demora a vir.

- Tudo bem. Suba.

Ok, eu subo. Será que eu não devia mesmo ter voltado para casa? Quando chego em seu apartamento ela abre a porta e vira as costas para mim. Eu entro, fechando-a e me perguntando o que foi que eu fiz dessa vez. Em um segundo eu vasculho os últimos dias em minha memória, mas não fiz nada de errado. Bom, talvez eu tenha sumido alguns dias e feito algum comentário grosseiro, mas nada fora da normalidade de sempre.

Então, ela se vira para mim e vejo os olhos inchados de quem tinha passado a noite chorando. Eu devo ter feito algo muito grave mesmo!

- Molly... Eu... - Como um idiota, eu apontava para a porta e olhava para ela, sem saber o que dizer ou fazer. Nunca tinha visto Molly chorando e acho que não sei como lidar com isso, talvez eu tenha descoberto um ponto fraco. Fraquíssimo.

Ela faz eu me calar levantando a mão. Tudo bem, eu não sabia mais o que falar de qualquer forma. Fico esperando que ela consiga dizer o que está acontecendo e meu medo cresce progressivamente. Talvez ela chorando me assuste um pouco. E talvez me paralise de forma que eu não consigo nem respirar. Molly tenta falar sem chorar e respira fundo várias vezes.

- O Toby morreu. - E as lágrimas dela escorrem copiosamente agora. Daqui a pouco isso daqui tudo vai alagar e eu aqui, parado, sem saber o que fazer e olhando para ela. O cúmulo do azar para um sociopata é quando ele vai se declarar e escolhe o pior momento. Sim, sou eu. E quem era Toby? Penso um pouco, fuçando de novo em meu palácio mental. Ah! O gato.

Descido que é hora de me mexer, e já que não vou falar nada agora, decido fazer algo.

- Venha aqui, Molly. Sente-se. - Levo-a até o sofá e nós nos sentamos lado a lado. - O que aconteceu?

- Ele-estava-doente-e-eu-levei-no-veterinário-mas-ele-não-resistiu-e-morreu. - Mais lágrimas. E eu não entendi nada. Começo a separar as palavras que ela falou em minha mente, enquanto assinto para ela como se tivesse compreendido. Doente, ok. Veterinário, ok. Morreu, ok. Acho que entendi o suficiente. E agora o que fazer? Não sei o que dizer e num impulso eu passo o braço pelos ombros dela. É um gesto incomum para mim e espero que diga tudo que não tenho como expor em palavras. Molly parece não se incomodar, e colocando as pernas sobre o sofá, se acomoda junto a mim. Wow. Apesar do que eu tinha planejado dizer, esse contato me surpreende. Como se eu estivesse programado a vida inteira para fazer isso, minha mão sobe até os cabelos dela e eu os acaricio.

Ficamos um longo período nessa posição. Ela para de chorar, mas mesmo assim continuamos dessa forma até que ela se levante provavelmente dolorida por estar na mesma posição por tanto tempo - como eu estou.

- Vou fazer chá. Você aceita?

Aceno que sim e a acompanho até a pequena cozinha em silêncio. Molly prepara o chá rapidamente e nos sentamos à mesa para tomá-lo.

- Obrigada... Por estar aqui. Achei que era melhor ficar sozinha, mas talvez não seja.

Sorrio timidamente e de novo as palavras fogem de mim. Onde estão meus comentários pertinentes e ácidos?

- Isso me lembra que não perguntei por que você veio.

Ah. Agora fiquei perdido de verdade.

- Eu... Eu soube que você não tinha ido trabalhar e pensei em vir ver se você estava bem. - Boa!

- Ah... Eu achei que você tivesse dito que queria conversar comigo. - Não tão boa.

- Hum. Talvez. Mas nós podemos deixar para outra hora, quando você estiver melhor. - Escorregadio como um sabonete. Vejo-a concordar e fico aliviado.

- Sherlock... Você acha que... Que poderia ficar?

- Ficar?

- É... Não, não dessa forma... - Que pena. - Apenas... Me fazer companhia. Eu não quero ficar sozinha essa noite. Só tinha Toby e... - Ela vai começar a chorar novamente.

- Tudo bem, Molly. Eu fico. - As lágrimas dela estavam me deixando apavorado de verdade. Recebo um sorriso dela e meu corpo se aquece como se estivesse em uma estufa.

Nós ficamos na sala por todo o resto de tarde. Ela não volta a encostar em mim e eu sinto falta disso. Bastou uma vez para que me sentisse viciado. Nós conversamos sobre crimes e vimos filmes chatos, mas apesar disso a tarde passou de tal forma que nem percebi. Molly fez sanduíches e nós comemos quando a noite chegou. Ela arrumou o sofá cama para que eu dormisse e arranjou-me algumas roupas. Eu não sei dizer o porquê, ou pelo o que fui dominado, mas quando ela me desejou boa noite eu a puxei pela mão.

- Você acha que poderia ficar?

Molly não diz nada, mas deita-se no sofá ao meu lado. Eu a abraço e nós ficamos assim até que ela durma. Gosto da sensação que o corpo dela junto ao meu traz. Pela primeira vez tenho a certeza de que estou fazendo a coisa certa, ainda que tenha começado de uma forma um tanto estranha. E sim, acho que posso oferecer o que ela precisa ou ao menos aprender a fazer isso.

Acordo bem antes dela e consigo me desvencilhar sem que acordá-la. Preparo o café na cozinha da forma mais atrapalhada que se pode imaginar. Escuto-a acordando quando derrubo o açucareiro sobre a pia e ele faz um escândalo como se fosse uma bomba nuclear.

- Não pense em vir até aqui, Molly. - Eu falo por uma fresta da porta e a fecho.

- Tudo bem.

É tudo que ela responde, deve estar em choque por essa cena. Quando tudo fica aparentemente pronto, mesmo que não tão apresentável, eu levo o café em uma bandeja para o sofá.

- Está melhor? - Ela parece estar. Apesar dos olhos estarem inchados, já dava pra ver um pouco mais de cor em seu rosto. Molly olha em dúvida para a bandeja, como se um alienígena estivesse sobre ela.

- Sim, estou. Obrigada novamente... Mas acho que talvez você queira me matar com esse café.

É, talvez não esteja assim com uma cara boa. Nós sorrimos um para o outro e após comermos – o gosto até que não é ruim -, deixo-a instalada no sofá cama, dizendo que preciso resolver um caso. Não é uma total mentira, não deixa de ser um caso sério. Ligo para Mary assim que saio do apartamento, preciso de ajuda.

--- --- ---

- Shiu. Faça silêncio, por favor.

Chamo Molly pelo interfone de novo e ela me deixa subir.

- Será que você não pode calar a boca?

Molly abre a porta e vê que estou escondendo algo atrás de minhas costas. Entro no apartamento sem me virar e ela fecha a porta atrás de mim.

- O que foi? E com quem você estava falando?

Tiro a caixa que escondo e entrego para ela, torcendo para que não tenha dado uma bola fora.

- Aqui, tome essa coisinha barulhenta.

Ela abre e seus olhos se enchem de lágrima ao ver a pequena gatinha malhada que Mary me ajudou a arrumar. Há um laço em seu pescoço com uma pequena plaquinha "Oi, me chamo Loo", que foi ideia de Mary, é claro.

- Ai meu Deus, que coisa mais linda.

- Você gostou de verdade?

Molly não responde, simplesmente se joga em meus braços quase amassando a gata entre nós, que mia ainda mais.

- É que... Uh... – ela me aperta mais – Nossa, se eu te desse um elefante você me esmagava.

Estou gostando dessa história. Talvez se desse um dinossauro ela me beijasse. Onde será que posso arrumar um? Penso sobre isso quando ela coloca a gatinha no chão e cola os lábios nos meus, pegando-me desprevenido. Travo por alguns instantes e quando vejo que ela irá se afastar de mim, a seguro.

- Você não... – Ela diz enrubescendo, como se tivesse em dúvida sobre o que fazer depois disso, pensando que eu não tinha gostado.

- Sim... Eu sim... – A beijo de verdade, tendo como trilha sonora os miados da pequena gata.

Meu último pensamento antes que Molly os domine por completo é que no final das contas eu nem precisei de um dinossauro.


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Notas finais do capítulo

Ai gente, ficou parecida com o desafio da Roberta, mas não foi proposital... u.u

Tomara que vocês tenham gostado... Contrariando o tema, eu não fiz um drama... kkkkkkkkkkk

:*



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