Lead On

AU Cursed!Ruby e Belle

Ruby não tinha amigos. Ela não precisava deles.

Eu não tinha amigos. Mas eu precisava dela.

Desde o dia que entrara no Granny’s Diner pela primeira vez, Ruby me encantara de um modo surpreendente. Mas eu sabia que não podia me dar ao luxo de tal sentimento, suas roupas e atitude procediam a sua reputação. Infelizmente, a partir daquele momento, ela amaldiçoara meus sonhos. Ruby aparecia em toda e cada fantasia do meu subconsciente, algumas que eu mesma nunca admitiria ter.

Com a minha monótona rotina na biblioteca, eu gostava de passar o tempo naquele restaurante, e não podia deixar de observá-la secretamente. Nós nunca conversamos propriamente, ela me atendera nas minhas primeiras visitas e algum tempo depois, eu mal entrava no estabelecimento, Ruby sorria, piscava para mim e quando chegava ao meu lugar de costume, lá estava ela com meu pedido.

Não eram suas roupas ousadas, maquiagem pesada ou a reputação que me chamavam atenção. Eu, antes de tudo, queria entende-la. Acreditava que ela era interessante como um livro de mistério, daqueles que a maioria das pessoas larga por achar que já sabe como tudo se desenrola, mas se você continuar até o fim e se entregar à história, com certeza irá se surpreender.

Neste dia em particular, Ruby conversava energicamente com uma mulher loira, acho que seu nome era Ashley. Ruby reclamava que ela não tinha mais companhia depois que a outra havia tido o bebê e mandava Sean cuidar da criança por um tempo, para que elas pudessem se divertir, mas Ashley recusara a oferta.

A loira saiu do restaurante, Ruby bufou, respirou fundo e olhou em volta. Foi quando seus olhos pararam nos meus, desviei o olhar para que ela não achasse que eu estava encarando por muito tempo, mas era tarde demais. Ela se aproximou e começou a conversar sem mais formalidades, eu não estava acostumada com esse tipo interação, mas era a primeira oportunidade que tinha para desvendá-la. Ruby perguntou se eu tinha planos para hoje à noite, na verdade eu planejara terminar um ótimo livro, mas disse que não.

Ela se animou e me convidou para ir ao Rabbit Hole, o bar mais popular da cidade. Respondi que não era bem o lugar que eu gostava de freqüentar e foi incrível como consegui enxergar um adorável cachorrinho na expressão triste de Ruby. Ela já havia agradecido e estava deixando o lugar a minha frente quando eu continuei dizendo que sair da rotina de vez em quando não mataria ninguém, sorri e pisquei numa tentativa não tão sexy de imitar o jeito que ela me cumprimentava todos os dias. Ela riu de um jeito que nunca vi antes, um sorriso genuíno. Ruby anotou seu número num guardanapo para acertarmos os detalhes depois e voltou ao trabalho, me deixando ali, estática e agradecendo a todos os seres divinos.

Nos encontramos em frente ao Rabbit Hole, a casa já parecia cheia e podia-se ouvir as batidas e sentir as vibrações que ecoavam do lugar. Ruby mais uma vez vestia sua máscara superficial, por isso me surpreendi no quão atenciosa ela foi comigo, por saber que eu não estava na minha zona de conforto. Soltei uma exclamação sufocante quando entramos, o lugar estava mesmo lotado. Ruby tocou em meu braço e disse que guiaria, eu só precisava seguir. Ela abria caminho pela multidão como se fosse dona do lugar, várias pessoas passavam fazendo comentários sobre sua aparência ou “habilidades”, alguns notaram minha presença, me checaram e a parabenizaram, enquanto minhas bochechas queimavam. Entre bebidas e danças, ficava cada vez mais fácil dar a devida atenção à Ruby, e cada vez mais difícil de decifrá-la, meus pensamentos se embaralhavam toda vez que estávamos numa clara troca de flertes e, de repente, ela virava e dava atenção para outra pessoa. Talvez fosse o calor do momento, ou o álcool tomando o controle, eu não me importava mais. Sabia que nós não éramos próximas, ela só havia me convidado por falta de opção, mas eu estava bem com isso, devia aproveitar a oportunidade. Em algum momento Ruby me guiou para os fundos do Rabbit Hole, nós precisávamos de ar fresco. Ela me perguntou se eu estava me divertindo, eu assenti, sorri e subitamente a abracei, não é que eu estava totalmente bêbada, só me sentia mais livre para me expressar fisicamente.

– Nós devíamos sair mais vezes. – Ela me segurou pela cintura para que eu não tropeçasse depois de sair do abraço.

– Definitivamente. – Nós não nos soltamos totalmente. Examinei seu rosto bem de perto e não pude deixar de tocá-lo com uma das mãos.

Ruby tinha um sorriso bobo; percebi que ela era mais forte do que parecia quando me puxou para perto e, lentamente, aproximou seu rosto.

Meu coração batia mais rápido do que qualquer ritmo que eu ouvira hoje. Não sei como consegui, mas aquilo estava realmente acontecendo.

Nossos lábios se tocaram numa mistura de Iced Tea Long Island e Cosmopolitan, eu segurava sua nuca, enquanto ela aprofundava o beijo. O calor do amontoado de pessoas na casa não se comparava ao que sentíamos naquele momento.

No dia seguinte, entrei no Granny’s mais feliz do que nunca, os acontecimentos da noite passada não passavam de borrões, mas era impossível esquecer o fato de que ela me beijou, a textura da sua pele macia, a impressão de alguém saindo do meu quarto no meio da noite.

Quando Ruby me viu, ela sorriu, piscou e foi buscar meu pedido usual. Meu coração gelava a cada segundo que ela demorava. E se ela não se lembrasse? E se, para ela, tudo não passasse de mais uma diversão casual? Óbvio que era isso, eu não podia me iludir. Eventualmente ela voltou, serviu meu prato de panquecas e chá gelado como sempre, mas agora havia um bilhete junto à comida: “guie-me desta vez”.