Jogos da Virtualidade escrita por GMarques


Capítulo 13
O Verdadeiro Jogo Virtual.


Notas iniciais do capítulo

Perdão pela hiperdemora, vou ser mais pontual...



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Já era tarde quando eu finalmente consegui cair no sono.

Em meus sonhos, ou pesadelos não sei ao certo; a menina e o abismo retornaram. Dessa vez não há nada que me impeça de chegar até ela. A própria solta um leve sorriso e estende sua mão me chamando para próximo de si. Eu vou caminhando em sua direção, calculando cada passo. Ela se afasta um pouco da beira do abismo, onde estivera, e eu chego até ela. É lógico que eu sou maior que a garota, que num ato com as mãos pede para eu abaixar. Ela quer falar algo. Eu me agacho até a altura de sua cabeça e ela encosta sua boca em meu ouvido. Um arrepio percorre o meu corpo, e ela começa a falar friamente:

–Olhe, -Não é uma voz infantil. -Está vendo? -Não parece coisas que uma criança falaria mas... -Foi você que fez. -Ela aponta para o abismo. -Você os matou. -Com certeza não é uma criança.

Ela se levanta, e sorri para mim. Como se não tivesse dito o que disse, volta a brincar na beira do abismo e a cantarolar. A questão é, quem eu matei? Por que ela disse isso?

Vou me aproximando para mais perto da beirada, com receio do que vou encontrar lá. Cada passo lento. Um, dois, três passos... E quando eu estou já estou a um passo eu fecho os olhos, não quero ver mas algo me diz que eu devo ver. Com os olhos ainda fechados eu abaixo a cabeça, em direção ao fundo da abismo. E vou abrindo lentamente os olhos. Preferia não o tê-lo feito. No fundo do abismo, numa imagem de corpos de desfigurados estão minha mãe, meu irmão, Carolina e Shisudva.

Não pode ser real, é um sonho. Eles não estão mortos. A menina continua a cantarolar, e a canção infantil agora é de terror. Quando finalmente me viro de costas para não ver mais, tento escapar, correndo, fugir para o mais longe daquele abismo, mas antes que eu possa dar o segundo pisão, a rocha abaixo de meu pés sede e deslizo para o abismo.

Levanto-me desesperado da cama, e continuo agradecido por estar vivo, fora do sonho. Significa, quiçá, que todos estão bem, quer dizer, menos Shisudva. Só de pensar em seu nome uma culpa me consome. Então decido mudar os pensamentos, para me distrair.

Volto à cama e fico lá sentado, olhando para um ponto focalizado, até que minha visão escureça em parte. Começo a dar conta de que estou ficando louco. É impossível saber se é dia ou noite, não há janelas, não há sol nem há lua. Nem sequer há um relógio por aqui. Procuro pela pílula que tirará o vazio do meu estômago, e encontro-a apertando o primeiro botão que encontro.

Shisuodin entra no cômodo, me assustando. Ela está com a mesma roupa branca de sempre.

–Você me assustou. -Digo.

–E você já está acordado. Por quê? -Ela joga a cabeça levemente à esquerda ao fazer a pergunta.

–Não consegui dormir. -Falo, sentando na cama.

–Eu sei. -Ela se senta do meu lado. -Eu vi.

–Como? -Pergunto. Mas me lembro de uma vez em que uma d'As Shisus me disseram que elas sentiam tudo o que eu sentia, estavam conectadas a mim. -Esquece...

–Você se lembra quando Shisudva disse que o jogo começaria hoje?

–Como não lembrar? -Me levanto instantaneamente da cama, dou uma volta e termino a frase. -Não estou preparado. Não me dei bem como líder. Não fiz nada de útil. E por minha culpa Shisudva está morta.

–Ninguém nunca jamais esteve preparado para os Jogos da Virtualidade, Marcael. -Ela se levanta também, e põe a mão sobre meu ombro. -Não se culpe sobre o que aconteceu com Shisudva.

Eu abaixo a cabeça.

–Vamos. -Ela diz tirando a mão de meu ombro. -E quero que você use muito bem uma de suas qualidades.

–Mesmo? Qual? -Digo passando pela porta ao lado dela.

Esperança. –Ela olha para mim profundamente e de um modo ou outro posso ver algo raro em Shisuodin, uma expressão facial, mesmo não sabendo qual. -Esperança é algo raro aqui em Virtualidade X.

Vamos andando pelos corredores vazios e cromados, até chegarmos à uma porta, essa é dourada. Odin dá os comandos no pequeno monitor ao lado e a porta se abre partindo-se ao meio. Ela entra e eu a acompanho. A porta se fecha atrás de mim. A sala, é branca e toda iluminada. No centro dela há uma cadeira colchoada de cor branca, quase no mesmo tom das paredes.

–É... -Examino um pouco mais a cadeira. - Que lugar exatamente é esse? -Pergunto.

–Aqui não tem um nome específico, mas a chamamos de A Sala. -Fala fazendo um gesto para que eu sente.

–Com certeza esse nome foi muito planejado. -Zombo. -O que exatamente "A Sala" faz?

–Ela é o segredo dos jogos. Vai te ligar mentalmente ao Cérebro, onde todos os outros jogadores estarão. -Ela começa a colocar pequenos eletrodos espalhados pelo meu braço.

–Isso é frio! -Digo a respeito dos eletrodos. -O que é O Cérebro?

–Ele cria uma surrealidade paralela. Isso é são os Jogos da Virtualidade. -Ela começa a por os eletrodos em minha perna.

–Então eu não vou sentir fome? Ou dor? -Não estou entendo. -Então eu não vou morrer fisicamente?

–Negativo. -Ela começa a por os eletrodos em minha testa. -O Cérebro reproduz de uma forma real o que acontece na surrealidade, assim como a surrealidade funciona com o que ocorre aqui.

–Como assim? -Estou quase entendendo agora.

–Se você for esfaqueado e começar a sangrar, vejamos, você vai sangrar aqui também. Seu corpo sentiria a dor da faca, como num sonho, só que ele se reverte para realidade.

–Entendi, mas... E a outra parte? A parte do que acontece aqui, ocorre lá também.

–O sua audição, o tato e o fato estarão ativas ainda. Então, a mente reproduziria algo parecido com o que você está ouvindo aqui na surrealidade. Por isso ninguém ficará aqui enquanto você estiver no jogo.

–A parte do tato... -Franzo a testa. -Se alguém me der um tapa aqui, eu sentirei lá?

–Sim. -Ela abre a porta dourada. -Preciso ir agora Marcael.

–Está bem.

–Lembre-se, você controla o que quiser. -Ela sai da sala e só posso ouvir um pequeno e curto "bos sorte"

–Mas... -O quê? -O que ela quis dizer com isso? -Mais uma coisa para me assombrar.

Uma voz fina e calma tira o silêncio da sala e começa a dar instruções.

"Atenção selecionados para esta edição dos jogos. Permaneçam nas cadeiras. Não se movimentem muito. Fiquem calmos e relaxados. Fechem os olhos calmamente no terceiro sinal sonoro. Lutem. Sobrevivam ou. Morram. Atenção jogadores, esta edição dos Jogos da Virtualidade está prestes a começar."

As luzes da sala diminuem de incidência, deixam o branco da sala num tom sem brilho e morto. O primeiro bip ecoa no ar. Eu estou desesperado, não estou pronto. Bip. Preciso me acalmar, inspirando e respirando. Bip. Fecho os olhos calmamente e dou o meu último suspiro neste mundo.


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Notas finais do capítulo

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