A sentença escrita por Sweet Capricorn


Capítulo 1
Culpa e Segredo


Notas iniciais do capítulo

Essa fic está apenas relacionada ao Mangá de Saint Seiya, portanto estou desconsiderando o Anime, Epi, G, Lost Canvas, Saintia Shô e por aí vai. Apenas para lembrar, informações extras que eu acredito que possa gerar alguma duvida ou despertar curiosidade no leitor estão com um numero entre colchetes, sendo abordada melhor como nota de rodapé. Ex: blábláblá Genocídio Amênio [3]



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Shura entra nos aposentos do grande mestre em passos apressados, quase correndo, fazendo-se anunciar há uma boa distancia pelo tilintar de sua armadura. Por onde passava, nocauteava os guardinhas que cuidavam da entrada sem ao menos encostar neles, apenas ao se aproximar, os pobres guardas eram arremessados longe. Ao abrir a porta do suntuoso quarto, Shura vê o Mestre, ao lado de sua cama, usando uma túnica branca de seda leve, ricamente ornamentada com bordados em fios de ouro formando arranjos florais e arabescos. Seu longo cabelo loiro estava preso em uma trança lateral e seu rosto coberto com a sombra do elmo dourado estava coberto com algumas gotas de suor e sua respiração estava um pouco acelerada.

– O que houve Shura de Capricórnio, que alvoroço é... – O Grande Mestre começa a falar severamente quando é interrompido pelo capricorniano.

– Eu sei que você é um impostor. Sei quem é você, Saga de Gêmeos! – Shura fala entre os dentes, apontando para o homem a sua frente.

– O que...? Como você soube...? – Saga fala baixo, estupefato pela descoberta de seu segredo pelo mais jovem, deixando sua respiração ainda mais descompassada.

– Eu o matei...EU O MATEI POR SUA CAUSA, DESGRAÇADO! – Shura grita a plenos pulmões, não conseguindo conter suas lágrimas de fluírem, tremendo de raiva.

– Não Shura, você se dizia amigo de Aioros, mas nem ao menos tentou questioná-lo. – Saga fala com sarcasmo enquanto seu cabelo muda do loiro para o negro, controlando sua respiração.

As palavras de Saga caem sobre Shura como um balde de agua fria, tirando a ação do capricorniano.

– Mas... – Shura tenta falar algo, mas foi interrompido pelo geminiano.

– Seja realista garoto, você acha que um neném pode salvar o mundo? Você mesmo disse que só não matou a criança porque ficou com dó de matar uma coisinha tão frágil e a deixou nas mãos dos deuses. – Saga o encara com olhos maliciosos por baixo da sombra do elmo e um sorriso sarcástico, se aproximando lentamente de Shura como um felino ante a presa. Nem mesmo parece que a poucos instantes estava aparentemente cansado e abalado.

– SEU TRAIDOR, MESMO ASSIM ESSE BEBÊ ERA ATENA! – Shura grita, tentando se desvencilhar da lábia de Saga.

– E O QUE ELA PODERIA FAZER? E QUE BELA PROTETORA DO MUNDO, SE NÃO FOSSE O AIOROS AQUELA PIRRALHA TERIA MORRIDO! – Saga grita ainda mais que o cavaleiro de capricórnio, olhando-o com o rosto ligeiramente levantado com ares de superioridade.

– ORAS CALE A BOCA! SEU TRAIDOR EU VOU DAR O CASTIGO QUE VOCÊ MERECE! EXCALI... – Shura eleva seu cosmo perigosamente numa velocidade absurda e se prepara para lançar seu ataque quando repentinamente deixa de sentir o seu corpo, caindo inerte no chão, observando, aterrorizado, os pés do cavaleiro de Gêmeos se aproximando e passando a centímetros do seu rosto.

Saga passa por Shura e tranca a porta de seu quarto, posteriormente se dirige ao garoto e o pega no colo com muito cuidado, colocando-o na grande cama do belíssimo quarto. Enquanto uma mão o segura para não deixa-lo escorregar, a outra puxa dois travesseiros e os colocam encostados na cabeceira, apoiando as costas do imóvel cavaleiro nos macios travesseiros.

– Hahahahaha... não sente seu corpo criança? Está vendo a diferença entre você e eu? Pois bem, eu tirei seu sentido do tato e do paladar antes mesmo que você concluísse o seu golpe. Acho que agora dá para conversarmos. – Saga fala com um sorriso sádico e um olhar oculto quase psicopata, sentando-se na cama ao lado do Shura, de frente para ele e acariciando suavemente a perna coberta com a armadura do menor.

– Eu tenho a força que a Justiça da Terra precisa. – Saga sussurra ao pé do ouvido do garoto, como se fosse contar um segredo. – Hitler nos anos 30 e 40 era aclamado pelo seu povo. Seu genocídio? Era um castigo ao Dolchstoßlegende [1]. Hoje é mais demonizado do que Mao Tsé-Tung ou Stalin [2], não necessariamente por ter matado mais ou menos, mas por ter levado a maior queda entre eles. Curioso observar, meu pequeno, é que enquanto falamos do Hitler, o maior genocida da História, "quem fala hoje sobre extermínio dos armênios[3]”?

Saga dá uma pequena pausa e respira profundamente, afasta seu rosto apenas o suficiente para poder observar de perto o rosto do pobre garoto, levando as mãos sobre o diadema em forma de chifres e removendo-o ternamente de sua fronte, colocando-o ao seu lado.

–Por outro lado, você considera Harry Truman[4] um herói? Imagino que não, só a catástrofe de Hiroshima e Nagasaki é lembrada, não quem deu a ordem. Ninguém foi penalizado formalmente por isso. Oras... E o bombardeio a Desdren[5] foi justo? Eu acho que não. – Saga aproxima seu rosto ainda mais e encara o garoto fixamente, o suficiente para Shura conseguir ver o belo rosto do geminiano encoberto pela sombra do elmo, como se fosse uma serpente preste a dar o bote. – Pode ser até cansativo ouvir isso tantas vezes, mas...a História é dita pelos vencedores.

Shura olha incrédulo para Saga, enquanto o mesmo encosta seus dedos indicadores e médio nos lábios do menor em um e suave toque. Shura sentiu algo diferente, percebendo que havia recuperado a capacidade de mexer os lábios e o maxilar.

– Você é um doente... como ousa justificar a atitude desses crápulas? – Shura fala entre os dentes.

– Não me olhe assim, eu disse que estou justificando isso por acaso? Em todos esses casos haviam pessoas do santuário infiltradas para acabar com esses massacres. Nós temos a obrigação de acabar com o sofrimento na Terra, mas só podemos fazer isso se tivermos força. Atena é uma deusa, ela pode escolher vir em sua plena forma e mesmo assim preferiu vir na forma de um inofensivo bebê...Bela proteção. Chega a ser ofensivo por parte dos deuses, uma chacota a nós que temos que protegê-la, ela escolhe vir na forma mais vulnerável possível. – Saga fala sério, convicto de suas próprias palavras.

– Mas... – Capricórnio tenta contra argumentar, mas nada lhe vem a seu favor.

– Maaaaaaaaaas... Se Atena realmente quisesse, seu amigo Aioros estaria vivo e eu preso no cabo Sunion, provavelmente morto a essa altura do campeonato. Mesmo sendo um bebe, ela ainda é uma deusa e deveria agir como uma. Diga-me Shura, seja sincero comigo, o cosmo do bebê te surpreendeu?

Shura fica pasmo com a pergunta que Saga lhe fez. Realmente é verdade, o cosmo da criança em nada o lembrou de algo divino. Por mais que não lutasse, deveria ter cosmo o suficiente para faze-lo estancar diante de sua presença, se o cosmo da criança não estivesse dormente, Aioros estaria vivo. Ou era nisso que ele acreditava.

– Não... – Shura fala pasmo, mirando o diadema depositada ao lado de Saga, sem perceber que o geminiano também tirou o próprio elmo.

Saga coloca sua mão no queixo de Shura, que só percebe ao sentir seu campo de visão mudar quando o geminiano lhe levanta um pouco o rosto.

– E o meu cosmo Shura? Meu cosmo te surpreende? – Saga pergunta sério e sincero, abrindo sua alma e encarando profundamente os olhos do santo de capricórnio.

Foi em um curtíssimo espaço de tempo, apenas ao tentar manter o mesmo nível de olhar do maior, Shura foi engolido pelo inebriante azul de sua íris e sentiu como se estivesse olhando para o próprio universo. Em seu interior até mesmo podia ouvir o som de estrelas nascendo, fervilhando, indo e vindo em velocidade furiosa. Uma luz branca ao centro expandindo-se em braços espiralados de estrelas e sistemas. Poeira cósmica em todos os lados. E num único piscar de olhos pode ver, sentir e ouvir o som de duas galáxias colidindo, se fundindo e explodindo.

O cosmo de Saga era aterrador e, ao mesmo tempo, protetor. Era como se estivesse diante de um deus e um demônio ao mesmo tempo. O cosmo de Gêmeos possuía uma ambiguidade nunca antes vista por ele. Nem mesmo com Aioros, a quem tanto admirava, sentiu um cosmo com tamanha força.

– Vamos Shura, por favor me responda. O meu cosmo te surpreende? – Saga repete a pergunta, querendo uma resposta sincera.

–S-sim... – Shura fala pasmo. Estava encantado com tamanho cosmo que presenciou. A aparência de Saga não ficava para trás. Ao vê-lo com os cabelos enegrecidos, sentia-se uma aura aterradora, mas ao se recordar do cavaleiro enquanto loiro, Shura se lembra de que todos no santuário o considerava tão belo e justo quanto um deus e agora começava a entender o porquê.

– Meu cosmo pode ser usado pela justiça Shura. Eu apenas me rebelei contra a falta de respeito dos deuses contra nós. Eu acredito na justiça guiada pela força e sei que você também acredita nisso. – Saga começa a afagar os cabelos do menor. Percebendo ter minado toda a agressividade de Shura, aos poucos foi devolvendo seu sentido do tato. – Aioros jamais me entenderia, mas sinto que você me entende e eu não quero perder você.

Shura começa a sentir seus movimentos retornarem aos poucos e leva sua mão até o pulso de Saga, que continuava a afagar os cabelos escuros do capricorniano.

– Se assim você desejar, torne-se meu juiz Shura, Dê-me tempo para te provar que eu posso ser justo. – Saga fala com certo pesar na voz, seu cosmo começa a se abrandar e seus cabelos clareiam pouco a pouco.

Mal Saga termina de falar, ouve-se alguns pesados passos do lado de fora, seguindo-se de uma firme batida na porta.

– Grande mestre o Senhor está bem? – Os guardinhas falam preocupados.

Saga volta a colocar o elmo e se levanta da cama indo em direção da porta, com seu cabelo loiro retornando totalmente ao tom original e mostrando um cosmo cálido e tranquilo.

– Imagino que vieram por causa do cavaleiro de Capricórnio, mas já está tudo bem. – Saga fala ao abrir a porta do quarto. – Ele estava apenas um pouco confuso. Podem retornar aos seus postos rapazes.

Os soldados se olham e, ao constar que realmente o Grande Mestre está bem, eles reverenciam-no e voltam aos seus lugares. Saga novamente tranca a porta do quarto e retorna em direção da cama, vendo que Shura recuperou seus movimentos, pois estava de pé ao lado da cama.

– Por favor, sente-se, tenho uma proposta a lhe fazer. – Saga fala, retirando seu elmo e o depositando ao lado do diadema de capricórnio.

Era como se fosse outra pessoa. O cosmo agressivo deu lugar a um terno e cálido cosmo, que desestimulava qualquer tipo de agressão. Shura se senta novamente na cama e Saga senta-se a sua frente, tomando as mãos do menor entre as suas.

– Não sinto orgulho pelo que fiz, tinha por Aioros uma amizade fortíssima. Meu sonho era o de ser um protetor e Atena como o de qualquer santo de ouro, mas não adianta chorar pelo leite derramado Shura. Aioros ou Shion não voltará e se for à vontade dos deuses, Atena tomará posse futuramente ou eu continuarei como Grande mestre e liderarei vocês na Guerra Santa que está por vir. – Saga confidencia pesaroso.

Shura fica impressionado de como aquele homem malicioso de alguns minutos atrás deu lugar a uma pessoa de coração tão puro. Cada vez mais se sentia envolvido por Saga, tanto pela sua força e poder, quanto pela pureza que irradiava dele agora.

–Torne-se meu juiz se quiser, fique ao meu lado e pese em uma balança minhas ações. Se você me considerar digno, mesmo depois do mal que eu causei, peço que guarde meu segredo, mas se eu for injusto aos seus olhos não irei impedi-lo de me denunciar aos quatro cantos do mundo e aceitarei minha sina. A única coisa que peço para você é tempo para ficar ao seu lado e mostrar quem realmente eu sou. – Saga diz olhando nos olhos de Shura, que novamente teve a sensação de que sua alma estava sendo invadida pelo próprio universo apenas por sustentar o olhar de Saga.

Shura fica um tempo pensativo, solta um longo suspiro, mexe o pescoço para um lado e para o outro, dando um alto estalo.

– Esta bem, ficarei um ano ao seu lado, irei onde você estiver e depois disso, só depois de conviver com você, avaliarei se manterei segredo ou se irei te entrega-lo à justiça do santuário e então, nós dois seremos julgados pelo nossos crimes. – Shura fala serio, sustentando o olhar de Saga, mostrando um cosmo justo, firme e determinado como a lamina da espada do mais nobre paladino, um cosmo muito sólido e pesado, sustentado por uma criança de apenas 11 anos que surpreendeu e muito ao geminiano. - Se você não me convencer de que é justo o suficiente para compensar o assassinato do Grande Mestre, eu irei te entregar, e irei me entregar por ter matado Aioros de Sagitário. Não o culpo pela morte de Aioros, mas também não nego que se não fosse a sua traição, eu também não teria cometido tal ato hediondo. Nossas vidas estão em suas mãos Saga e não tenho medo de punição ou da morte, mas peço apenas que não me esconda quem realmente você é.


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Notas finais do capítulo

[1]Dolchstoßlegende ou a Lenda da Punhalada pelas Costas - Basicamente isso foi uma lenda política de extrema-direita do período entre-guerras na Alemanha, que atribuía a derrota do Império Alemão na Primeira Guerra a uma sabotagem dos socialistas, bolcheviques e judeus alemães ao não responderem o chamado patriota, sendo considerado esse fracasso como uma punhalada na costa do exercito. Essa lenda aumentou consideravelmente a popularidade do exercito nazista.[2] Mao Tsé Tung - Cerca de 77 milhões de mortosJoseph Stalin - cerca de 43 milhões de mortosAdolf Hitler - cerca de 2i milhões de mortos[3]'"Quem fala hoje sobre extermínio dos armênios?", teria indagado o próprio Adolf Hitler, em 1939, a generais que temiam a repercussão de um massacre aos judeus. (Renato Aizenman)' . O Genocídio Armênio que ocorreu no Império Otomano durante o governo dos Jovens Turcos, de 1915 a 1917.Mesmo contando com campos de concentrações, deportação forçada, exploração física e até mesmo crucificações, muitas nações até hoje não consideram o genocídio armênio legitimo (o Brasil é um desses ¬¬)[4] Harry S. Truman era o presidente dos EUA que usou as bombas nucleares em Hiroshima e Nagasaki.[5] 'O bombardeio de Dresden foi um bombardeamento militar efetuado durante a Segunda Guerra Mundial pelos aliados da Força Aérea Real (RAF) e a Força Aérea do Exército dos Estados Unidos da América (USAAF) entre 13 e 15 de fevereiro de 1945. Em quatro ataques-surpresa, 1.300 bombardeiros pesados lançaram mais de 3.900 toneladas de dispositivos incendiários e bombas altamente explosivas na cidade, a capital barroca do estado alemão de Saxônia. A tempestade de fogo resultante destruiu 39 quilômetros quadrados do centro da cidade.' - tirei da Wikipédia, achei um bom resumo :3



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