Olhei ara Noah que esperava ainda minha resposta, seu rosto mostrava uma expressão curiosa e o pior, ele estava sorrindo.. Passei a mão novamente pelo cabelo, como se isso pudesse mudar algo naquilo. Apertei os lábios um contra o outro tentando segurar a vontade de gritar “EU LEMBRO MAS DÓI”, eu não podia contar que agora eu conseguia lembrar de coisas, isso o daria uma esperança ridícula e mentirosa, eu não estou voltando ao normal, eu estou na verdade piorando...

–Le? Está tudo bem? -Ouvi Noah dizer enquanto se levantava puxando a sua cadeira para meu lado.

–Ahn, sim. Onde estávamos? O que pediu ? -Perguntei esperando que isso pudesse o fazer esquecer.

–Só dois pratos de strogonoff. -Respondeu Noah pegando na minha mão e a deixando de lado, mas junto a dele. -O que foi? Não pode me contar ?

–Noah... -Olhei para ele tentando não chorar, se ele soubesse que lembrar me fazia mal ele iria meio que pensar que estou doente novamente, não quero ser vítima.

–Meu Deus o que aconteceu? Ok, não me fale nada, não precisa.. -Noah passou a mão pelas minhas costas me aconchegando em seu abraço, me senti mais calma no momento, mas em seguida percebi que aquilo não estava certo, esconder as coisas dele dessa forma.. Prometi a mim mesma contar tudo, mas após a viagem.

–Senhores? -Um homem alto disse quando se aproximava com uma bandeja a nossa mesa.

–Ah sim, obrigado. -Noah disse sem me soltar, enquanto o homem posicionava os pratos em nossa mesa. -Quer falar sobre isso ? -Me perguntou colocando uma mão em meu rosto para me afastar um pouco.

–Não... -Respondi lentamente e então ele pegou o seu prato e o arrastou até onde ele estava. -Noah? -Perguntei enquanto ele puxava tudo para nosso lado.

–Gosto de fazer coisas ao seu lado. -Disse ele sorrindo enquanto me dava um beijo na bochecha que me fez corar.

–Bobo. -Falei ao ver que ele começou a comer mas do nada me parou.

–Dieta? Vamos coma ! -Sorri vendo que meu namorado era perfeito, mesmo sem ter as respostas esperadas, ele ainda estava normal, pelo menos era o que parecia.

☽ ☾● ◯

Já em casa, me deitei na cama, vendo que as várias sacolas de compra se espalhavam pelo chão do meu quarto.

–Filha? -Minha mãe disse ao bater na porta antes de entrar, me sentei na cama e esperei ela entrar. -Acho que precisamos conversar, amanhã vocês vão viajar então...

–Sim, é amanhã, nossa. -Disse tentando não parecer tanto animada, afinal, até um dia atrás minha mãe odiava essa situação. -Sabe se a mala do Noah já chegou?

–Sim, e a sua nova também, como vocês vão amanhã a noite precisamos arrumar logo tudo, mas antes, filha, você precisa saber que o mundo não é um conto de fadas, e você não pode falar com estranhos, o Noah fala alemão então só peça coisas para ele, e não faça tudo o que ele quiser, quem manda no seu corpo é você... -Coloquei a mão na boca tentando não rir ao ver onde minha mãe queria chegar com tudo aquilo.

–Mãe, para ! -Disse rindo tentando não ficar tão vermelha com aquela situação.

–Me desculpe Alexia, preciso te alertar...-Não aguentei e comecei a rir, fazendo minha mãe não entender.

–Mãe, por favor chama o Noah, eu vou arrumar as malas. -Disse ao me levantar e ir até o banheiro, usando isso como desculpa.

–Mas... Você não quer que eu ajude? -Me senti mal vendo que eu estava excluindo ela...

–Se quiser. -Disse mas ela se virou e sorriu.

–Vou chamar o Noah, vou fazer compras agora, aproveitando que o seu primo chegou da noitada. -Ri um pouco mesmo me sentindo mal com a situação e assenti. Me sentei na cama e esperei o som da porta se abrindo, anunciando assim que era Noah.

–Nossa, que animação você hein ! -Ouvi ele dizer enquanto se sentava na cama deixando ao lado as duas malas que havíamos comprado. -O John que recebeu, ele ficou meio sem entender o porque das malas.

–Hm... -Respondi ainda olhando o meu guarda-roupa, como se alí tivesse algo importante.

–Ei, tudo bem? -Noah perguntou quando me viu deitar na cama como se ele não estivesse aqui.

–Tudo, eu só estou um pouco travada com tudo o que está acontecendo... -Noah se jogou para trás como fiz antes e deitou sua cabeça na altura do meu peito o que me fez rir um pouco.

–Se você achar que não deve ir, eu entendo... -Noah disse olhando para o teto enquanto sua cabeça subia e descia pelo movimento de minha respiração.

–Eu quero ir, é o que eu mais quero Noah. -Respondi o fazendo rir um pouco do jeito que falei a tal frase.

–Temos um problema. -Ele disse me fazendo ficar mais alerta e em seguida relaxar. -A empregada não mandou as roupas de frio, você briga comigo se eu for no shopping ?

–Não, não, tudo bem. Eu vou te esperar para arrumar as coisas. -Sorri e ele se aproximou de mim, me beijando levemente e assim partindo, me deixando sozinha perdida em pensamentos.

Sai do quarto um tempo depois, indo em direção a cozinha.

–Ei, Lexie ! -Ouvi a voz de John atrás de mim e me virei, vendo que ele parecia estar meio cansado. Tentei não rir e o abracei.

–Oi, onde você estava ? -Perguntei rindo enquanto ele me soltava.

–Ah, eu saí pra uma festa e.. -Comecei a rir de ver que ele estava corando.

–Ok, esqueça. Mas enfim, o que foi? -Perguntei querendo saber porque ele havia me chamado peo corredor.

–Bem. Eu só quero saber se está tudo bem, alguma dor? Lembrança? -Segui John até dentro do seu quarto, onde me sentei na cama.

–Então, lembrei sim de uma coisa ligada ao Noah, e doeu muito.. -Respondi olhando o chão, John se sentou do meu lado e sorriu.

–Eu tenho uma boa notícia... -Disse ele enquanto passava a mão no meu cabelo de um modo super protetor.

–O que? É sobra a sua nova namorada? -John passou a mão no rosto tentando não rir.

–Não Lexie, é sobre você, é uma coisa que pode te ajudar com suas memórias. -Me animei na hora e olhei para ele, esperando que pudesse dizer logo o que era, o que poderia me curar.

☽ ☾● ◯

Parada na porta da casa de Brandon, respirei fundo e tomei coragem para bater.

–Sim, ah Alexia querida ! -A mãe de Brandon disse ao me ver, limpou a mão no avental e me deu um abraço.

–O Brandon está em casa? -Perguntei tentando olhar mais de dentro, eu precisava falar com ele, não posso ir embora por dias sem avisar meu único amigo.

–Sim, se quiser subir lá, eu vou chamar ele. -Assenti mas fiquei do lado de fora.

–Vou esperar ele aqui. -Fui até o minijardim do quintal dele, e me sentei num banco.

–Oi Lexie. -Ouvi Brandon dizer ao se sentar ao meu lado.

–Eu precisava conversar contigo . -Brandon se virou e não esperou eu falar mais nada me abraçou tão forte que achei que iria me sufocar. -Ei, o que foi?

–Eu acho que sei por que você veio aqui... -Brandon sussurrou ainda sem me soltar, eu gostava quando ele me abraçava, eu sentia a diferença do abraço de Noah, que me deixava mais elétrica, como se fosse um imã se aproximando do metal. Já com Brandon era somente algo afetuoso.

–Eu vou viajar. -Respondi quando o soltei, olhei para o céu, estava ficando tão tarde que a lua aparecia timidamente no lugar do brilhante sol.

–Eu sei.. -Brandon disse tentando não me olhar nos olhos.

–Você não está feliz por mim? -Perguntei o fazendo rir baixinho.

–Por você sim, mas você meio que sabe que eu queria também ter como te mostrar coisas diferentes no mundo. Eu não sou o Noah, eu não sou rico. -Peguei na mão dele, sabendo que isso o deixaria mais calmo.

–Para Brandon, um dia vamos para algum lugar legal ok, só nos dois. -Disse o fazendo sorrir mesmo sem me olhar.

–Você vai hoje? -Perguntou ele se encostando no banco ao meu lado.

–Amanhã as sete da noite, você vem se despedir? São só uns dias, mas... -Brandon se levantou do meu lado e me olhou:

–Não, eu prefiro que você me ligue um dia ou sei lá, só vai sem se despedir, da última vez que eu falei para você tomar cuidado, bem, você parou num hospital então, melhor eu só dizer um até depois. -Me levantei e fui em direção a ele que deu um passo para trás. -Agora é hora de você ir viver seu sonho Cinderela.

–Não faz assim Brandon, só fala que vai ficar bem... -Dei um soco no braço dele que sorriu.

–Vou ficar bem. -O abracei rapidamente e sai correndo para casa.

☽ ☾● ◯

Chegando em casa, passei pela cozinha sem dizer nada, olhei para a sala vazia e quando pisquei, eu não estava mais alí.

Eu estava anos atrás, exatamente numa noite como aquela, eu me vi sentada no sofá, bem no canto enquanto minha mãe passava vassoura no corredor, perto da escada. John na cozinha brigando novamente com Rosie, dessa vez eles discutiam sobre uma comida. Quando meu pai desceu das escadas eu senti uma agonia estranha.. Meu Deus meu pai, vivo...

–Le? -Ouvi alguém dizer e me virei com tudo batendo a mão na pessoa sem mesmo ver quem era. -Ei, ei, Lexie sou eu. -Abri os olhos e percebi que o rosto de Noah se materializava na minha frente. -O que ? O que está acontecendo contigo?

–N-Noah? -Disse vendo que a expressão dele estava preocupada.

–Ei, amor o que aconteceu? -Noah passou a mão no meu rosto, afastando a franja que caia em meu olho.

–Eu vi uma coisa. -Respondi o abraçando, ele passava a mão pelas minhas costas de leve.

–Pelo menos eu sei que você sabe se defender. -O soltei e passei a mão em seu ombro.

–Ai meu Deus me perdoe. -Disse me sentindo culpada por ter quase dado um soco nele.

–Tudo bem, não doeu, o que você viu querida? -Passei a mão no rosto tentando ignorar que a dor de cabeça tinha voltado.

–Ahn, nada. Comprou as coisas? -Perguntei me soltando dele e indo até a escada, o fazendo me seguir em direção ao quarto.

–Sim, quer ver? Nossa já está meio tarde não é. Vamos arrumar as coisas amanhã, quero dormir. -Noah se deitou na minha cama e comecei a rir.

–Dormir aqui? É assim fácil agora? -Noah sorriu e me sentei na cama. -Nem quero o jantar hoje.

–Vamos amanhã mais cedo, tenho que passar na casa do Rick. -Assenti e me deitei na cama, me aconchegando ao lado dele. -É melhor dormir mais cedo.

–Boa noite Noah. -Disse tentando fechar os olhos sem lembrar da dor que estava me matando naquele momento.

“Calma Alexia, aguenta só até a viagem, depois você cura isso”, pensei.

☽ ☾● ◯

–Meu Deus onde está o vestido Rosie? -Gritei do quarto enquanto procurava entre as gavetas meu vestido preto, não como os outros mil pretos que eu tinha, o que eu havia separado há uns dias já para a ocasião.

–Aqui, nossa eu disse que ia levar alí para passar ! -Rosie disse me entregando o vestido que coloquei no corpo rapidamente mesmo ainda estando meio quente pelo ferro. -Você vai ligar? Sei lá, só liga pra contar como estão as coisas lá, por favor !

–Eu ligo sim Rosie, já é duas da tarde não é? Preciso ir logo. -Disse enquanto vestia o par de sapatos. -Noah já está lá em baixo?

–Sim, ele disse que quer você lá em dez minutos, meu Deus ele está nervoso demais ! -Sorri para Rosie e a abracei.

–Preciso ir. -Sussurrei a soltando.

–Ok, como sou a última a me despedir eu vou fazer isso logo para que você possa ir. -Rosie me abraçou novamente e eu sai correndo pela escada, tentando ao máximo me equilibrar no salto sem mancar muito, fui até o carro e senti Noah passar o braço pela minha cintura.

–Cuide bem dela ! -Ouvi John dizer ao lado de minha mãe que estava na porta sorrindo para nós, ela parecia feliz...

–Pode deixar. -Noah me olhou sorrindo e entrou no carro. -Próxima parada.. Estação de Trem.

☽ ☾● ◯

Quatro horas, isso que foi necessário para chegar na casa de Rick, me despedir e ir ao aeroporto.

–Estou nervosa. -Disse apertando a mão de Noah enquanto esperávamos chegar nossa vez de fazer o check-in.

–Nunca fui na Alemanha mas estudei várias coisas, existem lugares lindos lá, e é inverno lá. -Noah dizia sorrindo e quando chegou nossa vez, passou a frente para poder resolver a papelada do embarque enquanto eu somente observava como se entendesse algo alí. -Pronto, vamos é por alí.

–Noah, obrigada por realizar isso, é um sonho. -Ele sorriu de lado e pegou na minha mão enquanto passávamos pelo corredor em direção a entrada do avião. Estávamos juntos, sozinhos, embarcando em uma viagem deixando tudo para trás, nos aventurando num país desconhecido.

–Me promete uma coisa? -Noah perguntou enquanto andava atrás de mim, se segurando em minha cintura.

–Sim. -Sorri vendo que o corredor estava desaparecendo dando lugar à uma grande escada, Noah passou os dedos pela minha nuca, brincando com o meu cabelo que hoje estava preso, me fazendo assim cócegas.

–Me promete que agora nada mais vai dar errado? -Dessa vez seus lábios estavam na minha orelha, deixando um rastro de calor. Até que chegamos na escada e ele me soltou. Antes de subir o primeiro degrau me virei e olhei em seus olhos.

–Nada vai dar errado. -Disse o beijando levemente.