Um Homem de Sorte escrita por AnonyWriteer


Capítulo 2
Il




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Depois de ter respondido a pergunta de Noah Emerson, levei Aurum e Argetium para casa. No terraço, liguei a mangueira para lava-los e impedir que eles e a própria casa ficasse suja de areia.

–O.K, vocês estão livres. –os deixei entrar para casa novamente.

–Ai. Meu. Deus! –disse Keesha pausadamente. –Tess!

Ela correu e se lançou em meus braços, apertando os seus ao redor do meu pescoço. Revirei os olhos. Será mesmo que ela ia bancar a boazinha a essa altura?

–Está me sufocando. –resmunguei.

–Desculpe, é que eu tenho tanto a te contar!

Paciência Tess, paciência. Em passos largos e em silêncio, caminhei até a cozinha. Pendurei as coleiras de volta ao gancho e abri a geladeira, procurando algo para comer.

–Como se sente?

–Estava bem, até você chegar.

Ela gargalhou.

–Você não perde seu senso de humor, não é mesmo? –suspirou risonha– Mas então, eu posso contar as novidades?

–Quais? Aquela que você transou com James enquanto ele estava bêbado? Aquela que você traiu minha confiança ou aquela que você se aproveitou do meu acidente para roubar o meu lugar? –ela paralisou– O que houve querida? Você não queria explanar para todo mundo? Conseguiu. –rosnei.

–Uau... O coma te fez mal mesmo.

Eu larguei o copo sobre a pia e me aproximei cada vez mais de Keesha, até ela recuar e bater com suas costas na parede. Queria que ela entendesse de que não tinha para onde correr e que, se eu quisesse, poderia asfixia-la ali mesmo.

–Eu vou te dizer o que me fez mal, pode ser? –ela assentiu rápido, com olhos bem abertos– Me fez mal confiar em você, me fez mal achar que você não “furaria meu olho”. De novo. Só de te olhar, me dar ânsia de vômito! Isso me faz mal.

Ela se arrastou até a porta de entrada.

–Ora, pois a culpa não é minha se você não consegue nem ao menos segurar o homem, ainda mais, o homem que mora com você e morou durante toda sua vida!

Eu mordi o lábio inferior. Ela estava certa. James foi criado comigo durante toda minha vida, depois que meus pais morreram, os deles me criaram como se fosse sua própria filha. Enquanto que Keesha só precisou de alguns meses para ir para cama com ele, eu passei uma vida inteira ao seu lado e nunca consegui um beijo se quer. Um carinho com outras intenções.

A porta bateu me tirando de um pesadelo e me pondo em outro. Ali, eu estava chorando, agora na frente não só de Keesha, mas de James também.

–O que está acontecendo aqui? –ele cerrou os punhos.

–Só estava conversando com minha melhor amiga, amor. –Keesha sorriu. Cadela pulguenta.

–Conversando? –James riu– Escuta, some daqui! Você não vai conseguir nada, me entendeu bem? Some. Evapora. Vai para o inferno, qualquer lugar, menos aqui. –rosnou.

Keesha estremeceu. Eu estremeci. Já havia visto James nervoso, mas nunca daquela forma. Não de um jeito tão explosivo. Parecia um vulcão inativo, que finalmente entrou em erupção. Keesha por sua vez, bateu a porta como uma criança pirracenta e mesmo com as janelas fechadas era possível ouvi-la chorando como uma patricinha mimada. Cadela pulguenta.

Antes que James pudesse fazer algo, ou até falar algo, lhe dei as costas e entrei no quarto. O nosso quarto. Quando compramos o apartamento, sabíamos que só havia um quarto. No entanto, como sempre fomos criados juntos, dividir uma cama não era nada. A não ser que um dos dois, no caso eu, sentisse algo a mais pela pessoa que estaria dormindo ao lado.

–Eu só vim pegar o cobertor. Fico na sala mesmo.

–Não precisa. –sussurrei.

Ele suspirou aliviado.

–O que ela te disse?

–Vai dormir, deve estar cansado do jogo. –disse, por fim.

...

Eu me revirei na cama, olhando o relógio que apontava que James e eu tínhamos uma hora para nos arrumarmos e irmos para a festa na casa de Ian Kirk, irmão de James. Os dois jogam juntos no mesmo time, San Francisco 49ers, mas Ian fazia esse tipo de coisa há mais tempo. Ao meu lado, James dormia de costas para mim.

–Keesha disse que eu passei uma vida toda com você nunca tive coragem de te contar o que eu sinto. Já ela, só precisou de alguns meses e eu fora do seu caminho para te levar para cama. –sussurrei.

Levantei-me sem pressa, abrindo as portas do armário e passando a mão entre os vestidos. Um cheiro forte do perfume mais caro que James tinha se fez presente enquanto remexia em minhas coisas.

–Veste o azul escuro. –estremeci– Fica bonito em você.

–Obrigada. –sussurrei.

Puta merda. Ele ouviu tudo o que eu disse. Fiquei feito uma idiota contando sobre meus sentimentos pensando que ele estava dormindo, mas ele estava acordado. Estava fingindo dormir, ouvindo cada palavra do que eu disse.

–Eu tive um sonho muito estranho, você falava que me amava e me contava às coisas que a Keesha falou para você.

Minhas pernas estavam bambas. Ri de nervosismo.

–Você é um idiota, James Kirk.

–O que eu fiz de errado?

–Não foi um sonho. –disse, entrando no banheiro.

Tranquei a porta, soltando a toalha. A água quente caia sobre os meus ombros me fazendo ficar cada vez mais relaxada. O que James pensaria de mim agora? Depois de anos vivendo ao seu lado, eu precisei perdê-lo para dizer tudo o que precisava ser dito. Tudo o que estava entalado em um bolo de sentimentos na minha garganta.

Depois de alguns demorados segundos, me vesti e me vi sozinha na casa. Ou pelo menos, no quarto.

–James?

–Bu!

Soltei um gritinho.

Rapidamente, James me prensou contra a parede e encostou seu rosto no meu.

–Achei que você nunca fosse me contar.

–O que? –o bati– Convencido!

Ele não respondeu. Aos poucos meus olhos se fixavam cada vez mais nos seus, estávamos tão perto um do outro que sentia sua respiração um pouco ofegante e seu hálito quentinho.

–Por Deus, me beija. –ele riu.

Eu senti o coração fazer festa e mil borboletas saindo de seus casulos no meu estômago, quando ele me beijou. Um beijo calmo, úmido e quente. A sua mão passeava pela minha cintura, deixando minha pele ouriçada. As nossas respirações ficavam cada vez mais ofegante à medida que nosso fôlego se esvaia, mas ainda sim nós queríamos continuar.

–A gente vai se atrasar... –pressionei os lábios em seu pescoço.

–Ninguém vai perceber.

–Mais tarde. –insisti.

–Está bem, está bem.

James entrou no banheiro e ouvi a porta se trancar. Suspirei forte, as minhas pernas ainda estavam bambas, me apoiei na cômoda e com um impulso caminhei até a cozinha. Eu precisava de água. E ar, muito ar.


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