LARISSA POVS

Chegou um grupinho de adolescentes frescos aqui na pizzaria e como pela ordem é a minha vez de atender, vou ter que ir.

– Pois não?

Demoraram um tempão conversando entre si pra escolher o sabor da pizza e quando terminaram uma menina de óculos disse:

– Uma pizza família de frango e uma de camarão

– Acho melhor a de calabresa- falou uma menina loira

– Como é o nome daquela que a gente comeu semana passada naquela outra pizzaria?- falou outra

– A de queijo é boa- opinou mais uma

E voltaram a discutir entre si. Minha paciência já estava esgotando quando o chefe fez sinal pra depois conversamos.

Enfim decidiram o sabor da pizza, mas aí travaram uma reunião pra decidir o refrigerante. Depois de uns minutos, quando eu já estava prestes a deixar aquelas criaturas anotarem seus próprios pedidos enfiando a caderneta na boca deles finalmente se decidiram por uma garrafa de dois litros de Coca-cola.

Fui até a área de funcionários e entreguei o pedido a Paulo, o pizzaiolo. Fui ver o chefe que me esperava ali próximo e tive uma ótima sensação de alivio quando percebi do que se tratava.

– O Jona teve que faltar hoje e temos umas entregas pra fazer, pegue a moto e vá lá entregar, por favor.

Enfim ficaria livre de ir novamente à mesa daquelas patricinhas e tomaria um ar fresco, já que aquele lugar estava muito quente devido ao ar condicionado que pros funcionários não tem.

Entreguei as pizzas e por fim fui a uma escola entregar as ultimas, lembro de uma vez em que o Jona me disse que entregas assim tem que ser escondidas porque normalmente os professores, diretores etc. não sabem.

Tirei o boné e olhei pela janelinha do portão e lá tinha um porteiro dormindo em uma cadeira, de repente um menino veio em minha direção e disse baixinho pra eu ar rodear que tinha um portão lá no fundo aberto.

Quando cheguei lá, não tinha ninguém esperando pra receber as pizzas. Um menino com cabelos cacheados- o mesmo que disse para eu vim por aqui- balançou o braço em sinal pra eu ir até lá. Era uma quadra e eles estavam sentados em um degrau da arquibancada, a escola estava um silencio e não vi ninguém por aquele lado além daqueles meninos, suponho que estavam perdendo aula.

Agora ventava um pouco, meus cabelos voavam com o vento e eu me senti como em um filme em câmera lenta. Lá tinha cinco meninos: o do portão, um loiro, um com uma manchinha no pescoço, um de camisa listrada e um moreno que passou por minha cabeça a impressão de já ter visto em algum lugar.

Quando me aproximei entreguei as pizzas e o de camisa listrada disse:

– Rian!

E o outro respondeu:

– Que?

– A menina que te derrotou naquela dança

Ah então é de lá que eu conheço ele. Sabia que já tinha o visto. Olhei pra ele e o mesmo tava todo vermelho. Ele disse “oi” e eu respondi um “oi”

O de cabelo cacheado pagou as pizzas e eu fui embora com os cabelos novamente “voando” com o vento. Pude ouvir uns estalos como se fossem tapas, mas não olhei pra trás, montei na moto e voltei pra pizzaria. E felizmente quando cheguei aquele grupinho não tava mais lá. Coloquei novamente meu boné porque me esqueci de colocar quando saí da escola e voltei a anotar pedidos.