É engraço ter que dizer adeus a algo que nunca me pertenceu, como quando chega o outono levando consigo todas as belezas que outrora pertencera somente à primavera.

Mas, sabe, ainda há beleza nas folhas que desfalecem à medida que o vento sopra os galhos das árvores; ou na fina camada de água que recobre os vidros das janelas quando a gente acorda pela manhã, junto com o raiar do sol.

Mas ao contrário das estações, que vêm e vão, com determinação e sem aviso, esse sentimento vai acabar aqui. Os dias vão passar, os meses, os anos... os invernos e os verões, mas toda essa dor e esperança que guardei tão profundamente no meu coração, ficarão parados no tempo.

Agora. Nesse exato momento.

Eu sei que você não vai entender. Estou te vendo daqui, da minha mesa no meio da guilda, enquanto você e o Happy escolhem uma nova missão. Posso imaginá-lo enquanto invade o quarto da Lucy e mostra a ela o papel que arrancou desse painel. Sei que ela vai brigar com você, sem ao menos saber quanto tempo passou aí, relendo tantas missões, só para ter certeza de que poderia levá-la consigo.

Enquanto você caminha na direção da saída, pouco antes de passar pela minha mesa, repito baixinho as palavras que passei a noite ensaiando. Meu sorriso não vai ficar igual ao que fiz na frente do espelho. Ele vai ficar estranho e torto, mas eu não me importo. As palavras sairão tremidas, e você não vai mais perceber. Você já não me percebe mais, não é mesmo?

E eu não me importo, por que quero seguir em frente. Não posso mais desejar algo que já perdi. Isso é ainda pior do que desistir de algo que nunca foi meu.

— Hei, Natsu — digo, escutando as palavras ao longe, como um sussurro perdido no tempo. — Já vai embora?

— Sim, vou para uma nova missão.

— Então... Adeus.

E então você acena para mim. Você apenas acena.

Adeus, adeus.