Easy escrita por Nora


Capítulo 19
18 – Fire Meet Gasoline


Notas iniciais do capítulo

Sia.



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— Pronto – Trevor entregou a America uma quantidade enorme de folhas. Ela constatou que se tratava do trabalho de economia.

Ela leu todas as folhas e se surpreendeu. Estava melhor do que imaginou que estaria. Muito melhor.

— Uau – disse. – Você se saiu bem.

— Bem, na verdade você se saiu bem. Você fez mais da metade. Eu só fiz o final. – ele replicou, com um sorrisinho em seu rosto.

Dan se aproximou dos dois, acenou para ela e disse algo no ouvido de Trevor, fazendo-o rir. Depois que ele saiu, o sinal tocou. Trevor pegou um livro em seu armário e America estava prestes a ir para a aula, quando algo cruzou sua mente.

— Como você sabia? – perguntou, de súbito.

— Sabia o quê? – ele perguntou, se virando para olhar para ela.

— Que aquelas rosas são minhas flores preferidas – respondeu ela.

Ele ficou em silêncio por um instante, e seus olhos brilharam. Ele sorriu e então respondeu:

— Eu não sabia.

***

Fora uma linda e feliz coincidência o fato dele ter comprado as flores preferidas sem saber. Toda a raiva que America sentia por ele sumira, mesmo que ele tivesse dito que ela era “apenas mais uma garota”. Aquilo a magoara de fato, por mais que não admitisse. Nunca admitiria isso. Se ele soubesse, agiria mais estupidamente ainda.

— America!! – ela ouviu alguém lhe chamar e logo reconheceu a voz de Andy.

Se virou e viu que ele vinha correndo em sua direção, ofegante.

— Meri! – exclamou, respirando fundo, quando finalmente chegou a ela.

— Nossa, Andy – disse ela, rindo. – Para que essa correria toda? – perguntou.

— É que eu tenho um convite para fazer a você. – o amigo respondeu, com um sorriso suspeito no rosto que a deixou um tanto desconfiada, mas ele também parecia apreensivo.

— Hmmm, que convite, Andy?

— Você quer ir jantar comigo e com a Amanda? Hoje à noite? – ele falo tudo de uma vez, rápido e quase tropeçando nas palavras.

America deu risada; e antes que pudesse responder alguma coisa ele interveio novamente:

— Eu sei que você vai ficar de vela, eu sei, mas por favor. – pediu ele. – Se quiser pode até levar alguém.

Dava para ver claramente que ele queria muito que ela fosse. Ele estava praticamente implorando, e isso era engraçado e raro. Andy nunca implorava por algo, exceto que fosse realmente importante para ele.

— É claro que eu vou, Andy. Não precisa implorar. – ela respondeu, rindo novamente.

No mesmo instante, a expressão dele se tornou outra totalmente diferente e ela riu mais ainda.

— E quem disse que eu estava implorando? – retrucou ele.

***

A francesa estava pensando em levar seus fones de ouvido ou algum livro no tal “jantar”. Seria entediante, ela sabia, mas Andy pedira e ela não iria recusar e frustrar toda a animação dele – e por fim, decidiu levar tanto os fones quanto o livro.

Pensara em de fato levar alguém como ele mesmo lhe sugerira ao fazer o convite, mas não haviam muitas opções. Trevor? Fora de questão. Thomas? Ainda estava viajando – infelizmente, pois ele fora o primeiro que surgiu em sua cabeça e era sua melhor opção. Joshua? Não tinha intimidade o suficiente, e ele não falara mais com ela. E ela não conhecia mais nenhum rapaz da cidade, infelizmente.

Prendeu seu cabelo em um rabo de cavalo, vestiu sua jaqueta jeans e pegou sua bolsa e suas chaves. O combinado era encontrar Andy e Amanda já no restaurante, que ficava quase em Manhattan, mas não era caro demais, e foi o que ela fez. Pegou um táxi e algum tempinho depois chegou lá.

O restaurante, cujo nome era algo em italiano, tinha uma bela aparência por fora e uma melhor ainda por dentro. Não era algo exatamente “chique”, era mais descontraído, na verdade, com pôsteres de bandas de rock antigas e recentes colados nas paredes. Era estilo Hard Rock Cafe, mas ela não conseguia imaginar de onde viera a inspiração para o nome em italiano.

Ela entrou no estabelecimento e sentou-se em uma mesa bem no canto, sentando-se ao lado da parede. Sempre gostara mais de se sentar ao lado da parede.

Buonasera! – um garçom trazendo o cardápio lhe disse, alegremente. – Gostaria de fazer o pedido agora, signorina?

— Não, estou esperando dois amigos. Grazie. – respondeu ela. Ao menos sabia um pouco de italiano.

O garçom fez uma leve reverência e sumiu de vista, deixando o cardápio ali. Quando America o pegou, ela olhou para o balcão mais adiante e ficou surpresa ao encontrar ninguém menos, ninguém mais que Stacy. Aquele tom loiro oxigenado dos cabelos dela era totalmente inconfundível.

Naquele momento, teve vontade de ir embora e dizer a Andy que passara mal, mas não faria isso com seu melhor amigo. Pelo menos não naquele dia, então enfiou o rosto no cardápio para que a loira não a visse. E não demorou muito para que ouvisse a porta do estabelecimento se abrindo e altas risadas. Baixou o cardápio e viu Andy, com as bochechas rosadas do frio, e Amanda, ambos a procura dela e assim que a avistaram disseram, alegres, em voz bem alta:

— America!!! – algumas pessoas que também estavam no restaurante os olharam espantadas, e outras deram risada.

— Oi, pessoal. – disse ela, rindo levemente, quando os dois sentaram-se a sua frente.

— Nos atrasamos porque Amanda demorou muito no banho – Andy falou, revirando os olhos, enquanto ela deu risada.

— Ah, você sabe que eu demoro para me arrumar. Quase toda mulher demora. America me entende, não é? – e as duas deram risada, com a francesa assentindo.

— Enfim – ele replicou, tirando o casaco –, decidam o que vamos comer, pois eu estou terrivelmente faminto.

Os três abriram o cardápio e Amanda logo exclamou, com um perfeito sotaque italiano:

— Esse gnocchi é muito bom!

— É? – perguntou Andy. – Hmm, nunca provei. O que acha, Meri?

A francesa suspirou levemente porém os dois não perceberam, observando com o canto do olho que Andy colocava os braços em volta dos ombros de Amanda. Largou o cardápio na mesa com força e disse:

— Não estou com muita fome e não entendo nada desses nomes italianos. Decidam vocês.

Os dois deram de ombros, sem notar a rispidez em sua voz, e começaram a discutir o cardápio. America olhou para o outro lado distraidamente, procurando algo para se ocupar enquanto os dois faziam gracinhas um com o outro – que ela achava totalmente desnecessárias –, e por um único minuto, encontrou Stacy a encarando de algumas mesas à distância, mas ao ver que ela percebera a loira logo moveu o olhar para a pessoa em sua frente. America achou aquilo estranho. Gostaria de saber o motivo daquele olhar, que não era exatamente amigável, porém também não era amedrontador. Era simplesmente curioso.

***

A comida que Amanda escolhera era, na opinião de America, horrível. Ela não era a maior fã de batatas, e aquilo estava muito salgado – tanto que tomara dois copos inteiros de água após provar.

Andy e Amanda, por outro lado, estavam se divertindo muito, como se estivessem só os dois ali e America não existisse. A francesa estava se perguntando, mentalmente, por que Andy lhe pedira tanto para ela ir naquele jantar, já que estava sendo daquele jeito.

— Meri? Amiga, oi, salut? – Andy falou, fazendo-a focar a visão no rosto dele, piscando os olhos. Não aguentava mais; tudo o que queria era ir para casa e dormir.

— Sim? – respondeu, antes de bocejar.

— Então, eu e Amanda temos uma novidade para contar a você. Que é muito importante, apesar de eu achar que você já sabe – ele continuou, com um sorrisinho confiante e irritante em seu rosto.

America engoliu em seco. Tinha noventa e cinco por cento de certeza de que já sabia do que se tratava.

— Falem. Estão me deixando nervosa. – disse, com uma leve risadinha. Estava de fato nervosa.

Os dois se entreolharam por um instante, ambos com um sorriso no rosto, e então Amanda respondeu:

— Estamos namorando!!! – e abraçou ele, que sorria de orelha a orelha.

— Uau. Isso é surpreendente. – a francesa articulou, tentando sorrir, com uma fraca e baixa risada. Uma única e singela lágrima quente escorregou por sua bochecha. Ela torceu para que, com a fraca iluminação ali, eles não percebessem. Andy a observava, querendo captar sua reação. Que não era exatamente surpresa, felicidade ou tristeza. Era mais algo como desapontamento. Ou talvez a mistura desses quatro itens juntos. – Bem, meus parabéns. Estou feliz por vocês. Realmente estou.

— Obrigada. – falou Amanda, sorrindo.

Andy também sorriu e então a beijou, e sem avisar America saiu da mesa para ir ao banheiro, que era logo a frente. Chegando lá, entrou em uma cabine e sentou-se na superfície branca e fria da tampa do vaso sanitário, respirando fundo.

Não era como se não gostasse de Amanda ou não aprovasse o namoro dos dois. Ela só não estava gostando da pessoa que Andy estava se tornando por causa dela, uma pessoa totalmente diferente, que estava se distanciando cada vez mais dela. Uma pessoa que ela não reconhecia como o velho Andy de sempre, como o mesmo Andy das longas noites de maratonas de séries até às seis horas da manhã ou das guerras de travesseiros na França. Que ela não reconhecia mais como seu melhor amigo, que a ajudara e ficara em seu lado por tantos momentos difíceis e complicados.

Algumas lágrimas haviam caído e ela estava secando-as quando ouviu o barulho da porta do banheiro batendo e então uma voz que ela conhecia falou:

— Ah! Finalmente, não aguento mais olhar para a cara do Jake e ouvir ele falar. Ele não cala a boca! – era Stacy, definitivamente.

— Ele é muito chato. Imagina conviver com ele todos os dias! – uma voz que ela não conhecia, porém feminina, disse.

— Ah, Jules, eu não aguento mais aquela tal de Maya. Trevor só fala dela e isso é insuportável. Parece que ela está tomando conta de tudo. E além do mais, ela é ridícula. Quer dizer, olhe aqueles braços todos tatuados, aquele cabelo vermelho. Só pode ser duro e ruim aquele cabelo dela. Queria saber como ela conseguiu o professor Guilherme, porque aquele... é realmente um pedaço de mau caminho. Eles têm até um filho juntos! Mas eles não estão mais juntos, então posso ter uma chance com ele. – foi o desabafo de Stacy.

Após a última frase, America pôde ouvir risadinhas. Ao ouvir tudo isso, a francesa sentiu uma vontade instintiva de sair da cabine e defender Maya, mesmo que não a conhecesse – talvez a convivência com Trevor estivesse fazendo efeito –, pois Maya definitivamente não era ridícula e era dez mil vezes melhor que Stacy, pois ela realmente tinha conteúdo, enquanto a loira era apenas um monte de cabelos oxigenados, peitos e totalmente fútil. Porém manteve-se quieta.

— Mas você e Trevor não estão namorando, não é? – a outra, Jules, perguntou.

— Ah, não, namorar definitivamente não é para mim. – mais risadas. – Só nos pegamos de vez em quando. Ele é oooutro – ela prolongou o som da letra O – pedaço de mau caminho. Só é muito estressado. Tipo, muito.

Bem, isso eu devo concordar, America pensou e riu baixinho, mas a risada saiu um pouco alto demais e ela teve certeza que as duas garotas ouviram, pois estas se calaram no mesmo momento.

— Bem, vamos voltar. – disse Stacy e sem delongas, America ouviu a porta do banheiro bater novamente.

Espiou por uma pequena fresta e se certificou que elas já haviam ido embora. Saiu da cabine e lavou as mãos, olhando-se no espelho logo em seguida. Seu rosto estava... bem. Não havia registros das últimas lágrimas. E seu cabelo estava todo despenteado e de um jeito feio.

Estava odiando seu cabelo nos últimos dias; estava odiando principalmente a cor. Estava com vontade, surpreendemente, de pintá-lo de loiro de novo. Mas não iria decidir isso agora, realmente não era o momento mais adequado. Fez um coque e saiu do banheiro, e enquanto voltava para a mesa, pôde perceber Stacy a encarando de olhos totalmente arregalados. America deu uma risada baixa.

E ao voltar para a mesa, se surpreendeu ao não encontrar Andy nem Amanda. Olhou ao redor e os encontrou mais à frente, perto do balcão, fazendo algo que ela não conseguiu identificar o que era.

Suspirou. Andy iria pagar para ela e provavelmente não iria sentir sua falta, então não havia problema algum em ir embora. Pegou um guardanapo e escreveu, com a caneta que sempre carregava na bolsa “Passei mal e tive que ir embora. Até mais.” Os dois nunca descobririam que se tratava de uma mentira.

Deixou o bilhete perto do prato do amigo, pegou sua bolsa e foi embora, sentindo o vento frio de outono castigar-lhe a face assim que saiu do estabelecimento.


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