Easy escrita por Nora


Capítulo 10
9 – Someone Who Cares


Notas iniciais do capítulo

Não sei se alguém ainda acompanha, mas decidi postar pra ver no que vai dar.
Música deste capítulo é do Three Days Grace.



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O telefone de Trevor tocou exatamente às seis horas da manhã. Ele tateou cegamente em seu criado-mudo, até que por fim encontrou seu celular.

— Alô? – ele murmurou sonolento, sem prestar atenção em quem era antes de atender.

Uma voz irritada e totalmente acordada, sem nenhum resquício de cansaço, falou:

— Obrigada por me deixar falando com as paredes!

— Caralho, Maya, são seis horas da manhã! – ele falou, alto, também irritado. – Você não dorme nunca? Parece até uma vampira desse jeito.

— Querido, pelos meus cálculos faltam exatamente trinta minutos para o seu despertador tocar. Eu só lhe fiz um pequeno favor. – ela falou, e Trevor pôde imaginá-la sorrindo triunfantemente em seu apartamento. – E acredite, se eu fosse uma vampira, você não estaria vivo.

— Ai, que medo – ele debochou e ela bufou, irritada, fazendo-o rir. – Então eu deveria agradecer por esse favor? Vai pro inferno, Scalettine. E eu já te falei pra não me chamar de querido.

— Deveria, sim. E não, muito obrigada. Já tenho meu próprio inferno particular. – ela devolveu, fazendo-o revirar os olhos.

— Afinal, para que me acordou a essa hora? – ele perguntou.

— Nada, só para acordar você. E para lhe chamar para tomar café comigo no Cyber e conversar.

— Mas já não conversamos o suficiente ontem? – Trevor murmurou, irritado.

— É claro que não! Não se esqueça que temos uma conversa para terminar, McCalton. – ela respondeu do outro lado da linha. – Agora vê se levanta esse traseiro da cama e se arruma! Me encontra no Cyber em meia hora. – e desligou.

Ele deixou a cabeça cair no travesseiro e suspirou. Não queria conversar sobre America com Maya, mas sabia que a amiga não descansaria até que conversassem e ele lhe contasse tudo.

— Seis horas da manhã e ela quer ir no Cyber em meia hora. Depois fica brava quando eu digo que ela é maluca – ele murmurou para si mesmo.

Suspirou novamente e se levantou. Assim que fez isso, seu corpo foi atingido pela fria brisa da manhã que entrava por uma pequena fresta na janela. Foi até o banheiro e passou um tempo observando-se no espelho. Estava com uma cara péssima, e nem bebera – muito – na noite passada. Lavou seu rosto e escovou os dentes. Voltou ao quarto e vestiu a primeira roupa que encontrou em seu guarda-roupa, sem muita paciência para procurar seletivamente, arrumou sua cama – o que era um hábito um tanto incomum, mas que aprendera a adquirir – e então viu que já haviam passado os trinta minutos e ele estava atrasado.

Desceu rapidamente até a garagem e montou em sua moto. Alguns minutos após ele estava circulando pelas ruas já movimentadas de Nova Iorque. Era incrível o fato de que podia ser quatro ou seis horas da madrugada, a cidade continuava acordada e em total movimento, sempre. Parou em um sinal vermelho e bocejou. Se pudesse, estaria dormindo.

E sem demora ele chegou ao Cyber – que era um café com internet livre. Estacionou ao lado da moto esportiva branca de Maya e entrou no estabelecimento. Ela estava mexendo em seu celular, sentada em um lugar aonde pegava bastante sol fazendo seus cabelos vermelhos brilharem como se estivessem pegando fogo.

— Estava prestes a ligar para você – ela disse, antes mesmo de ele se sentar.

— Caramba, você tem olhos na nuca ou o quê? Ah, o trânsito estava horrível. – ele retrucou, mesmo que fosse mentira.

— Eu escutei você chegando, ora. E não precisa mentir para mim porque eu sei que o trânsito não está péssimo. – ela largou o celular e o encarou.

Ele revirou os olhos e então se sentou. Alguns minutos depois uma moça loira apareceu trazendo dois cappuccinos e Maya tomou um longe gole do seu.

— Suponho que ontem houve bem mais do que apenas um “passeio de moto” com Debbie – ela falou, arqueando uma sobrancelha.

— É claro que sim – ele respondeu, sorrindo, e sua expressão se tornou maliciosa. Foi a voz de Maya revirar os olhos, com desgosto.

— Sabe, você deveria aprender a escolher garotas melhores. Aposto que aquela era alguma vadia de quinta – ela retrucou, ácida.

— Você nem ao menos a conheceu! – ele replicou e ela riu com ironia.

— E você conheceu? – disparou ela. – Você tem alguma ideia do que está falando, Trevor? – disse, começando a se aborrecer. – Deveria dizer isso para si mesmo, McCalton. Uma cantada barata, uma bebida, uma volta de moto, sexo. É assim que as coisas funcionam e acontecem na sua vida, não é? Sempre foi. Sei que vocês não trocaram nem uma dúzia de palavras. Então não venha com essa história para cima de mim, que eu já a decorei. Ambos sabemos que não a conhecemos nem um pouco. – completou, elevando um pouco o tom de voz. As poucas pessoas que estavam ali começaram a encará-los.

— E se sempre foi, Maya?! Qual o problema disso?! Você não precisa agir como se fosse minha mãe. – ele retrucou.

— Talvez às vezes você devesse sentir o gosto da realidade, Trevor. Nem sempre as coisas vão ser fáceis e nem vão ser exatamente como você quer, e nem sempre você vai poder comprar tudo com seu dinheiro. – ela proferiu, olhando bem no fundo dos olhos dele. – E na verdade, eu preciso sim. Pois sou a única mãe que você tem.

Ele ficou olhando nos olhos castanhos dela e ficou em silêncio. Seu inconsciente sabia que ela tinha total razão. Sabia que tudo o que ela falara era verdade. Mas seu consciente não conseguia aceitar isso. Pois ele era orgulhoso demais para o fazer.

— Quer saber, Maya? Eu não me importo. Você pode falar a porra que quiser. Eu não me importo. Porque pelo o que eu saiba, quem comanda a minha vida sou eu. Quem toma as minhas decisões sou eu. E se você se importasse comigo o suficiente, perceberia isso. – ele praticamente gritou, pegando seu celular e suas chaves de cima da mesa. Se levantou e saiu do Cyber, batendo a porta com força.

Maya apenas ficou assistindo enquanto ele montava na moto e disparava à toda velocidade, espantando algumas pessoas que entravam no Café. E logo os sussurros começaram.

— Desculpe, Trevor – Maya sussurrou, com o rosto entre as mãos.

***

— Alguém está irritadinho hoje – America zombou quando certa moto entrou cantando pneu no estacionamento da faculdade.

— É o que parece. – Madison concordou.

Trevor desceu da moto, tirando o capacete, e as duas viram pela expressão no rosto dele, que ele estava mais do que irritado. Muito mais.

— Oi, Mare. Oi, Algueratti. – ele disse quando passou por elas.

— Você está bem? – America perguntou, andando ao lado dele.

Ele suspirou.

— Eu acabei de brigar com a minha melhor amiga, então não, eu não estou bem.

Ele se distanciou das duas garotas como um jato, caminhando apressadamente, deixando America e Madison completamente confusas.

Madison revirou os olhos, irritada.

— Ele não parece estar tendo um dia bom. – a francesa observou e a amiga concordou com a cabeça enquanto as duas entravam na universidade.

A primeira aula de America era História do Jornalismo e a de Madison, Fotojornalismo II. As duas garotas se despediram e America subiu as escadas. O sinal tocou exatamente no momento em que ela entrou na sala. Era a única ali, além do professor Guilherme, que também lecionava essa matéria. Ela gostava de chegar cedo.

Guilherme levantou os olhos e sorriu quando viu que era ela.

— Bom dia, ma chérie – ele disse, em um francês impecável.

— Bonjour – ela respondeu, rindo. – Você possui um francês ótimo.

— Alguns anos na França me fizeram aprender. – ele falou, enquanto ela se sentava em uma das fileiras mais da frente.

Algumas outras pessoas chegaram na sala e entre elas estava Alyssa. Ela fuzilou America com o olhar quando a enxergou, enquanto a outra a ignorou completamente.

— Estão todos aqui? – o professor perguntou depois que praticamente todos entraram.

Os alunos responderam “sim” em uníssono e o professor Guilherme fechou. Ele disse, escorando-se novamente em sua mesa:

— Hoje o tema que abordaremos será o surgimento dos jornais. Alguém sabe me dizer qual é o jornal mais antigo que se tem conhecimento?

— Acta Diurna – uma voz feminina prontamente respondeu.

— Correto, Isobel. A Acta Diurna surgiu por volta de 69 b. C., a partir do desejo do Imperador romano Júlio César. Na China, surgiram jornais escritos à mão no século VIII. Os jornais modernos surgiram em 1447, invenção de Johannes Gutenberg. A publicação periódica iniciou-se na Europa Ocidental a partir do século XVIII, e o London Gazette, lançado em 1665, mantêm-se até hoje.

A sala estava um completo silêncio, todos atentamente prestando atenção no que Guilherme dizia. Ele tomou um gole de água e continuou:

— Como todos sabem, o jornalismo sofreu uma enorme mudança desde o seu surgimento até a atualidade. Em 1844 ocorreu a invenção do telégrafo, que ocasionou uma grande evolução neste ramo. E com o surgimento e popularização da internet, surgiu também o Web Jornalismo, que facilita muito a vida de alguns jornalistas.

Ele se virou e escreveu algo na lousa. Se tratava de uma espécie de linha do tempo, com alguns fatos importantes sobre o jornalismo.

— O que eu quero que façam é que pesquisem e me tragam uma tabela com os dez jornais mais antigos do mundo ainda em circulação. É algo simples, um pequeno trabalho de início de semestre, portanto não requer tanto tempo. Vocês têm três semanas para entregar. – ele finalizou a explicação e o sinal tocou em seguida.

America não tinha nenhuma aula no segundo tempo, portanto não se apressou em guardar suas coisas. Logo os alunos deixaram a sala e ela estava saindo de lá quando ouviu alguém perguntar ao professor:

— Guilherme, eu queria saber se você está livre na sexta à noite, eu estava pensando em...

— Desculpe, Isobel, mas estarei ocupado. – ele a interrompeu.

America riu baixinho. A garota passou rapidamente por ela, e o professor saiu da sala, alcançando a francesa logo em seguida.

— Você ouviu isso? – ele perguntou.

Ela assentiu e ele suspirou.

— Ela está tentando sair comigo há séculos. – falou.

— É, ela parece gostar mesmo de você. – America concordou, rindo baixinho.

— Demais inclusive. Ela tentava sair comigo até mesmo quando eu estava namorando.

— Ela parece ser legal. Mas ao mesmo tempo, parece ser tipo aquelas namoradas sinistras que vemos nos filmes. – a francesa falou.

Guilherme gargalhou.

— Isso é verdade. Tem algo de sinistro nela, porém é uma de minhas melhores alunas. – ele observou.

Os dois passaram por um ponto no corredor onde pegava sol e a luz solar incidiu nos cabelos dele, fazendo-os brilharem como se fossem loiros. E America não havia percebido antes, mas na verdade eles eram de um tom loiro, porém escuro.

— Está indo para a biblioteca? – Guilherme perguntou.

— Sim. Não tenho aula agora – ela respondeu.

— Sorte a sua – ele riu. – Tenho uma reunião agora.

— Então boa sorte – ela disse quando os dois chegaram a biblioteca.

— Obrigado. – ele sorriu e completou: – Até mais, America.

— Até, professor Guilherme. – respondeu, e logo o perdeu de vista.


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