And You Know What? You Like It. escrita por Bella Figueiredo


Capítulo 1
Capítulo Único




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Um cachorro encarava o sol descendo no fim da tarde. O dia estava quente, morno, acolhedor, e o animal estava com os olhos fechados e a grande língua para fora, com os pelos balançando para trás com a leve brisa. Tinha uma coleira azul amarrada no pescoço, era doméstico. Mas estava solto, livre. Era um animal manso.

Desviei os olhos e caminhei em direção ao nada. Simplesmente segui o caminho de ma rua qualquer. Sentia um gosto amargo no começo de minha garganta, e queria vomitar. Porque amar é isso, não é mesmo? Entregar o mais delicioso doce para alguém, e receber o mais puro amargo em troca. Andei mais rápido, a rua estava vazia e fechei os olhos, contando estrelas imaginárias. Não vou chorar. Não vou chorar. Não vou chorar. Eu não choro, ninguém me faz chorar. Ninguém me faz sofrer. Ninguém acha meu coração, ninguém toca nele.

Mas tudo se repetia em minha cabeça, como um disco quebrado. O beijo dele e de Carly.. ninguém me viu espiando pela porta do estúdio. Ou o modo que ele olhou para ela. Mas não me importei, certo? Fingi que não vi nada e assim que assisti minha melhor amiga partindo para outro país, subi as escadas e me atirei em seus braços.

O beijei e fingi que não podia sentir o leve gosto do gloss doce de Carly em seus lábios. Não era para o sabor dela estar ali. Não era, não era, não era. Só meu sabor pode estar lá. O de mais ninguém. Então continuei o beijando, e ele não se importou, e apenas seguiu meu jogo.

Carly vai para a Itália. E ela diz que vai voltar, mas todos dizem. Meu pai também disse. E ninguém nunca volta.. ela vai encontrar outra amiga, outra irmã. Vou ser a segunda melhor novamente. Está tudo frio dentro de mim, e esse fogo que Freddie me proporciona é o único que me cura. Arranquei qualquer pedaço de pano sobre nossos corpos e ele me fodeu no chão do quarto dele, ali mesmo. Não, ele não fez amor comigo. Não se faz amor com quem não se ama. Não foi puro, foi sujo. Não foi calmo. Minhas unhas arrancaram pele de suas costas, meus lábios arrancaram partes dos dele. E quando acabou, simplesmente saí e não olhei para trás.

"A gente se vê, Benson."

Me lembro de dizer isso antes de dar um fora dali.

Fiquei com falta de ar e meus olhos se abriram. Onde estou?Onde está a rua deserta? Onde está a claridade, a calmaria? Estou no meio de uma floresta. Está tudo escuro e não estou mais sozinha. Posso ver os olhos brancos me encarando entre as plantas negras. Posso escutar passos se aproximando, e não sinto medo. Sei que é um sonho. Só mais um sonho. Fecho os olhos novamente. É só um sonho, sei disso. Posso controlar o que acontece, tudo o que acontece. Os passos se aproximam ainda mais e finalmente param. Abro os olhos e o animal me encara; Coleira azul, língua para fora, sentado no chão e me encarando carinhosamente com a cabeça inclinada. Solto uma risada meio engasgada, e meu corpo começa a sentir o frio da floresta. Lembro-me desse cão. É o animal que encarava o horizonte mais cedo. É manso. Calmo. Não pode me machucar.

Me aproximo. Seus pelos parecem tão macios, que sinto a necessidade de tocar, de acariciar. E então a floresta parece se apertar ao meu redor. Tudo fica mais escuro, mais silencioso. O cão fica de pé, sobre as quatro patas e guarda a língua para dentro. Ele parece maior. Ele se transforma, cresce rapidamente à minha frente e torna-se mais peludo. Seus pelos castanhos vão escurecendo e tornam-se pretos, combinando com o breu da mata. O cão agora é um lobo que sorri maldoso para mim, e seus dentes são mais brancos que os meus, pontudos como uma espada. Fecho os olhos. É só um sonho, sei disso. Posso controlar o que acontece, tudo o que acontece.

Abro os olhos, mas ele continua ali. Sinto meu coração acelerar, e o escuto batendo alto em meus ouvidos. Sinto medo, um calor subindo por minhas pernas e aquela familiar sensação de formigamento em minha boca seca. O lobo rosna e avança sobre mim, suas unhas encontram o caminho das minhas veias e arrancam sangue de meu ombro. A ferida foi profunda, e quando meus olhos encaram a besta, seus olhos são vermelhos, assim como o sangue em meu corpo. Corro em disparada, a floresta ficando cada vez mais estreita e escura ao meu redor e posso escutar os passos me seguindo.

Me sinto em em um filme. Estou correndo junto com a música, meu coração é o tambor, traçando uma melodia linda. Sinto um sorriso no meu rosto e de repente estou rindo enquanto corro. Sinto a dor da ferida em meu ombro; Não existe dor em sonhos. Isso não é um sonho, isso é real. E continuo rindo, porque me sinto viva. Não importa que estou sangrando, que estou correndo da morte, eu estou viva. Minha risada aumenta, e começo a perder o fôlego, mas não me importo. A floresta começa a se apertar ao meu redor, mas não me importo.

Então isso que é se apaixonar, não é mesmo? Começa manso, acolhedor, tentando te atrair. E de repente torna-se uma besta que te persegue com paixão e fogo, tentando te perseguir, e quer saber? Você gosta. Você gosta da sensação. Você ama que seu coração se torna um tambor, você ama a ação, o tremor em suas pernas. Porque você se sente viva. Não importa que você está sangrando, você está viva. Mais viva que nunca.

E então perco totalmente o fôlego e paro de correr. Meu riso para, mas um sorriso ainda está em meu rosto. Me viro para trás e na escuridão só enxergo uma coisa: Os olhos sangrentos da besta se aproximando. Meu sorriso aumenta e consigo enxergar o sorriso do animal também; Ouço um rosnado e o barulho do bote. A besta me alcança.

Fui pega pelo amor. E estou morta, mas nunca me senti tão viva.


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Notas finais do capítulo

Não sei.. só sei que comecei a digitar e saiu isso.



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