Escuto o apito e me concentro apenas no azul da água na minha frente tentando deixar qualquer vestígio do barulho das conversas ao redor de lado, escuto o aviso e já estou preparado na minha posição a corneta toca e me lanço na água sem medo, então pelos próximos segundos nada mais existe, apenas minha respiração coordenada e o leve topor causado pela água enquanto me esforço para conseguir um bom tempo.

Assim que eu completo a prova tiro meus óculos de natação e olho em direção a arquibancada e posso avistar facilmente minha família, meus pais comemoram com os braços erguidos e meus irmãos estão sorrindo e pulando, olho meu tempo no telão e fico feliz com o resultado não foi meu melhor tempo, mas sem duvida estou classificado para as finais. Assim que saio da piscina cumprimento os demais nadadores antes de me dirigir para o vestiário comemorando com os outros dois classificados da minha turma. Nadar era uma das minhas paixões o que sem duvida foi uma surpresa já que as ultimas três gerações da minha família jogou no time de basquete, não que não goste ou não saiba jogar mais não é algo que tenha interesse em fazer quer dizer gosto de jogar na garagem de casa com meu pai e meus irmãos, assisto alguns jogos com eles e me divirto, mas treinar e jogar em um time mesmo que seja da escola definitivamente não é algo que queira fazer. Confesso que quando decidi competir na escola senti um certo receio do que meu pai acharia afinal eu sabia o quanto ele adorava ver Nathan jogando e o quanto o basquete os unia, metade de mim acreditava que ele esperava o mesmo de mim e que escolher outro esporte seria uma decepção, mas diferente disso ele assim como minha mãe nunca deixaram de ver minhas competições e sempre me deram apoio.

O caminho para casa foi feito em um clima totalmente descontraído enquanto falamos sobre a final que vai acontecer em duas semanas no colégio adversário e os planos de comemorar minha classificação no boliche naquela noite com meus padrinhos, Rue e meus avos o que promete ser bem divertido já que sair em família sempre é. Assim que chegamos em casa sou mandado direto para o chuveiro pela minha mãe que já esta organizando tudo para sairmos no horário o que não é uma tarefa simples afinal Nico já correu para brincar com Thor no quintal, Prim correu para o telefone e Nathan foi fazer um lanche.

Meia hora depois estou pronto em frente ao computador e assim que abro meu e-mail vejo uma nova mensagem da Clove onde ela fala sobre a estreia que fez na noite anterior e pergunta sobre a competição e sobre o Nathan nada fora do comum, respondo contando como foi e que me classifiquei para as finais, a parabenizo pela estreia e sou rápido ao falar sobre meu irmão, mando em anexo a foto do telão com os tempos e uma outra que tirei com meus amigos após o fim da prova e envio.

Minha relação com ela atualmente não é ruim, ela vem se esforçando para manter contato desde que voltou embora eu só a tenha visto pessoalmente três vezes nos últimos cinco anos sendo que a ultima foi a mais de um ano quando ela veio fazer um teste no distrito Onze e acabou passando por aqui. Ela costuma mandar e-mails frequentes e ligar pelo menos uma vez por mês embora eu seja o único que fale com ela, a verdade é que Nathan ainda se nega a ter qualquer contato com ela, nunca perguntei se ele abre os e-mails dela ou se um dia ele pretende deixar o passado de lado, meu irmão construiu um murro enorme em relação a Clove e não sei se um dia ele será capaz de derruba-lo, mas ele nunca se mostrou contra meu contato com ela assim como meus pais.

A verdade é que é difícil explicar essa relação com minha genitora por mais que hoje consiga manter uma relação legal com ela não muda tudo o que aconteceu nos meus primeiros anos de vida, não muda ela ter ido embora e que ela não fez parte da minha vida, não esqueço as sensações que senti com a falta dela, com as duvidas é difícil expressar o que senti afinal nunca me senti sozinho ou como se não tivesse família pelo contrario se tem algo que meu pai me ensinou sempre é que família é muito mais do que ter um pai e uma mãe e por mais que ela não estivesse aqui eu tinha uma família quer dizer meus padrinhos, meus avos meus tios, meu pai e Nathan sempre tivemos uns aos outros o grande problema é o abandono são as duvidas que sentimos ao longo dos anos, é ficar pensando no porque, é tentar entender algo que esta totalmente fora do nosso alcance.

– Pietro – olhei para a pessoa parada na porta e não pude deixar de sorrir – Você já esta pronto? – confirmo com a cabeça enquanto ela entra e deposita um beijo na minha testa antes de sentar na minha cama – Você nadou muito bem hoje, seu pai e eu estamos muito orgulhosos de você.

– Obrigado – se existe algo que me orgulho e do relacionamento que tenho com meus pais principalmente com minha mãe, somos sinceros e acima de tudo conversamos sobre tudo, não tenho segredo com ela o que chega a ser engraçado já que meus amigos costumam evitar falar determinadas coisas com os pais.

– O que você esta fazendo? – ela perguntou arrumando alguns quadrinhos que havia deixado espalhado em cima da cama.

– Estava respondendo um e-mail da Clove – respondi sincero e vi o sorriso dela vacilar por um instante, por mais que ela negasse ficar chateada por eu manter contato com Clove eu hoje em dia sabia que não era completamente verdade, a alguns anos eu tinha conversado com meu pai sobre minha suspeita e ele havia dito que as vezes por mais racionais que tentamos ser acabamos tendo alguns medos sem fundamento e que minha mãe me amava demais por isso não podia evitar sentir alguns medos sem sentido, e disso eu entendia bem afinal por mais que ame meu irmão caçula o nascimento do Nico com certeza trouxe alguns medos sem sentido como ser deixado de lado pelos meus pais, ou de ser menos amado por eles principalmente por minha mãe já que ele é filho biológico dela, obviamente o tempo foi acabando com todos eles hoje entendo bem que por mais que eles amem meu irmão nunca vão deixar de me amar também ou de estar ao meu lado.

– Ela esta bem?

– Esta estreou uma peça no distrito Cinco ontem – comentei sem me aprofundar no assunto.

– Que bom, eu vou verificar seus irmãos ou vamos chegar atrasados para encontrar seus padrinhos e seus avos – ela levantou

– Mãe – chamei antes que ela alcançasse a porta – Você sabe que ela sempre vai ser só uma amiga não sabe? Você é minha mãe e nada no mundo pode mudar isso – ela sorriu sincera – Amo você.

– Também amo você.

Aquela era a mais pura verdade por mais que o nome da minha certidão de nascimento fosse um, minha mãe sempre seria a Katniss isso não mudaria nunca, ela que esteve ao meu lado a maior parte da minha vida, ela que cuidava de mim todos os dias e acima de tudo ela que eu sempre escolheria como mãe. Pensar no quanto nossa família mudou para melhor desde que ela e Prim passaram a fazer parte dela é algo incrível quer dizer elas completaram nossa família que ficou muito melhor com elas, obviamente Nico também fez uma grande diferença, mas ao lembrar de como éramos antes e de como somos agora, só posso dizer que é muito melhor agora.

Hoje em dia Nathan é muito mais tranquilo e por mais que ele tenha dificultado uma aproximação com nossa mãe no inicio e tenha demorado confiar sei que Katniss pra ele é tão mãe quanto é pra mim, embora ele tenha demorado bastante em admitir isso em voz alta o relacionamento deles é ótimo. Papai é alguém muito mais feliz desde que se casou e como meu tio Gale costuma dizer meus pais formam um casal hollywoodiano. E por mais que tenha achado estranho a ideia de ter uma irmãzinha quando papai contou que iria se casar tenho que admitir que amo Prim e que definitivamente ela é uma boa irmã, mesmo quando estamos discordando de algo ou quando Nathan a defende de tudo, temos bons momentos juntos e não trocaria isso por nada, assim como Nico quer dizer ele tem quase cinco anos e definitivamente as vezes é complicado lidar com ele atrás de mim e com o fato de que ele ainda se acha o bebê da casa as vezes, mas também não o trocaria por nada afinal de alguma forma sou quase um herói pra ele.

Ter três irmãos não é sempre fácil, temos que dividir tudo incluindo nossos familiares e principalmente nossos pais, algumas vezes tenho a sensação de que algum deles é sempre o favorito de que estou sendo injustiçado e de que eles estão sempre errados enquanto estou sempre certo, nos brigamos as vezes, discordamos de coisas simples, mas fazemos as pazes tão rápido que nem notamos, nos defendemos com unhas e dentes e acima de tudo amamos uns aos outros de uma forma única. E para ser sincero eu adoro isso, adoro tê-los em minha vida e nada no mundo vale mais a pena do que os momentos que passamos juntos quer dizer eu vi o Nico aprender a andar e aprender a dizer meu nome, eu implico com a Prim o tempo todo na maioria das vezes só por implicar, mas ela sempre será minha irmãzinha que vou defender custe o que custar, Nathan me entende como ninguém as vezes e acho que sempre vai ser meu melhor amigo.

Certa vez meu pai me disse que as melhores lembranças que ele tem da infância ele dividiu com meu tio Gale, na época não entendi direito, hoje por outro lado eu entendo um pouco melhor o que ele quis dizer já que não preciso pensar muito para achar bons momentos com eles, seja correndo por ai, vendo um filme, jogando algo ou simplesmente rindo dentro do carro temos ótimas lembranças juntos e sei que posso contar com eles nos bons e nos maus momentos.

Ouvi meu pai chamar no andar de baixo e desci rapidamente as escadas parando no meio dela e observando as pessoas próximas a porta se preparando para sair, aquelas cinco pessoas essenciais na minha vida. Segundo o dicionário família tem mais de um significado e nenhum deles é suficiente para mim, porque família é muito mais do que um grupo de pessoas vivendo sobre o mesmo teto ou um grupo de pessoas com ancestralidade comum.

– Ai esta ele – meu pai falou assim que me viu – Esta pronto para perder no boliche hoje? – ele perguntou presunçoso

– Quem disse que eu vou perder

– Mas é claro que você vai perder, já eu que eu vou estar jogando – Nathan entrou na onda enquanto íamos em direção ao carro.

– Vocês esquecem que estou indo jogar também e que não tem ninguém nessa casa melhor do que a mamãe aqui no boliche.

– Mãe você é péssima no boliche – Nathan disse passando rapidamente por ela.

– O Nathan tem razão mãe – Prim opinou

– Vocês dois não estão sendo justos, eu melhorei muito e tenho grandes chances de ganhar – todos acabamos rindo afinal se existe algo que Katniss Mellark é pior do que no preparo de bolos e jogando boliche e foi inevitável lembrar dos últimos passeios ao boliche durante o trajeto.

São esses simples momentos que fazem com que eu tenha certeza de que família é muito mais do que o significado dado pelo dicionário, até porque minha família vai além das pessoas que moram na minha casa, são todas as pessoas que podemos contar e que estão ao nosso lado sempre, e eu sei que tenho o privilegio de fazer parte de uma incrível.