Olho pela janela do táxi e penso em como minha vida é uma droga.

Tudo bem que muitas pessoas têm pais divorciados, mas meus pais na verdade nunca foram casados, moravam juntos desde que eu havia nascido e sempre falavam que queriam se casar. Sempre que diziam isso eu ficava muito feliz e dizia que planejaria junto com eles. Tinha até um caderno com tudo o que minha mãe ia querer na cerimônia e na festa.

Mas um dia, sem motivo aparente, meu pai foi embora de casa quando eu tinha 12 anos e nunca mais voltou. As vezes até liga para mim para ver como estou, mas não me importo mais.

Meu pai me ligou na semana passada, do nada, dizendo que queria que eu fosse para Seattle para ajudar com os planejamentos de seu casamento com outra mulher. Ele lembrava da promessa que eu tinha feito dez anos atrás, quando eu só tinha 7 anos.

Agora estou aqui em Washington, do outro lado do país porque minha mãe acha que isso irá me aproximar novamente do meu pai.

O taxista para na frente de uma casa branca de madeira de dois andares, muito bonita por sinal e me diz o preço olhando no taxímetro. Ele desce do carro para me ajudar com as malas e depois de pegá-las começo a subir as escadas da varanda. Paro na frente da porta e antes de tocar a campainha, respiro bem fundo.

Logo que aperto a campainha uma mulher de uns vinte e poucos anos abre a porta.

– Ah meu Deus! Você deve ser a Ashley. Você é a cara do seu pai. Phillip, ela chegou.

Segundos depois, meu pai aparece na porta. Ele está quase igual, tirando algumas rugas e alguns cabelos brancos, mas fora isso, está exatamente igual a como eu me lembrava.

– Querida, como você cresceu – diz meu pai, me abraçando

– É isso que acontece quando você não vê sua filha a cinco anos – resmungo.

Ele se afasta e posso ver a tristeza em seus olhos.

– Não era o que eu queria, minha querida.

– Pare de me chamar de querida! - grito – você não me vê a séculos e quer fingir que ainda somos próximos?

Ele olha para baixo e vejo seu olhos marejarem.

– Tudo bem – ele diz – seu quarto é no segundo andar, terceira porta à esquerda.

– Obrigada – digo ríspida e subo as escadas batendo os pés.

Quando chego no corredor, percebo que não lembro que porta da esquerda era, então começo a abrir uma por uma. Na primeira há um quarto com uma cama de casal, que provavelmente deve ser o do meu pai.

Estou prestes a abrir a segunda porta quando escuto uma voz atrás de mim:

– O que vai fazer no meu quarto?

Me viro e vejo um garoto de uns 18 anos, de cabelos castanhos e olhos azuis me observando inquisidoramente.

– Ahn, desculpe, estava procurando meu quarto... - digo.

Ele aponta para a terceira porta, arqueado uma sobrancelha.

– Uh, obrigada. Acho – quando digo isso entro correndo no quarto que ele indicou e bato a porta. Me encosto nela e penso em como essas semanas serão esquisitas.