– Thomas! – gritei

Estava sem fôlego, corri mais que um atleta em olimpíada. Justo hoje quando eu me decido, Iago vem e me beija. Pelo amor...

Ele parou e se virou.

– Thomas eu...

Nem consegui terminar a frase, a Maria Cecília veio na minha frente e puxou Thomas.

– O-oi, Thomas. É que... você poderia ir na lanchonete comigo? – a vaca da Maria disse.

Encarei os dois, andei alguns passos e peguei minha mochila da mão de Thomas.

– Olá... – falei e saí com a cabeça baixa.

Voltei até a escola e tomei um pouco de água.

Por que tudo dá errado comigo? Talvez não seja isso que o destino quer, tenho apenas 14 anos e já tomo na cara. Que ele fique por lá com aquela... aquela... idiota, vaca, imbecil. E que se dane ele também! Vou caçar minha felicidade, e ela estava na minha frente o tempo todo.

Vi Iago passando e acenei. Ele veio em minha direção.

– Oi, me desculpe por aquela hora, te peguei de surpresa, não é? – ele passou a mão no pescoço.

– Tudo bem – forcei um sorriso. – Iago, você gosta de mim? – perguntei na cara de pau.

Ele olhou para o chão, coçou e braço e disse:

– É claro que gosto – segurou minha mão. – Olívia, eu quero te fazer feliz...

– Mas, e a Fernanda? Você ainda não esqueceu ela...

– A Fernanda está no passado, você está no meu presente e futuro. Entenda, me dê essa chance...

Deixei meu pensamento tomar conta de mim... É, eu ganhei dessa vez e acho que não vou deixar escapar o que tanto pedi. Isso, quero ser a nova namorada do Iago Rangel e seguir o caminho que o destino me guiar, mesmo com minha pouca idade.

– Eu te dou ela... – falei.

Ele chegou com carinho e me beijou. Caminhamos de mãos dadas até meu ponto de ônibus, ele se ofereceu para me deixar em casa mas eu recusei.

– Sabe que dia é amanhã? – ele perguntou.

– Terça?

– Também... Mas é o dia de tomar sorvete – sorrindo ele disse. – E você vai comigo, faço questão de pagar.

Sorvete... Como não me lembrar de ontem?! Que não seja na mesma sorveteria, ou a mulher vai achar que sou do tipo de garota que sai com um e com outro.

Avistei meu ônibus, olhei as horas e nada de Thomas chegar até o ponto. Que faça bom aproveito dessa tarde com a Maria, não ligo também! A quem estou engando? É claro que estou ligando. Se ela pegar em um fio de cabelo dele, jogo ela no rio mais próximo!! Ok, tenho que ficar calma porque agora estou com o Iago, apesar de não ser sério mas estou.

– Acho que vou ter que te deixar... Até amanhã e não se esqueça! – ele me deu um selinho.

Fiquei o trajeto todo olhando pela janela. O problema é como vou contar para mamãe sobre eu e Iago... Nem devo contar, não há nada entre nós além de beijos. Qual será a reação de Thomas?

Cheguei em casa e joguei minha mochila. Lucas me recebeu com um abraço e disse que estava com fome.

– Minha mãe não deixou comida para você? – perguntei.

– Deixou mas – ele coçou a cabeça. – Eu não gosto de jiló!

– Lucas – agachei para ficar do tamanho dele. – Não é tão ruim, já experimentou? – fui na cozinha e peguei com o garfo um pedaço de jiló. – Abre a boquinha...

Ele mastigou e fez uma cara feia. E como apenas o arroz não tem jiló, eu terei que me virar.

– Eu tive uma ideia – coloquei minhas mãos na cintura, fazendo pose. – Que tal você me ajudar a preparar um macarrão?

– Com queijo?

– Até com presunto se você quiser! – sorri

Lucas sorriu e balançou a cabeça. Peguei na sua mão e fomos para cozinha. Coloquei um avental e ele também.

– É como se fosse uma brincadeira. Eu serei a cozinheira e você meu ajudante – peguei a colher de pau e a levantei.

Expliquei como ia cozinhar o macarrão. Até ai tudo bem, ele pegou o pacote de macarrão e colocou a quantidade de água certa. Liguei o fogo e disse para esperarmos um pouco, depois íamos fazer o molho.

Sentamos no sofá, peguei o controle remoto e coloquei em qualquer canal.

– Olívia... – disse Lucas.

– Oi, Luquinha?

– Por que você não namora com meu irmão? Sabe, ele tinha uma namorada chata. Ela tentava me comprar com presentes mas eu não aceitava.

– Lucas, eu e seu irmão somos amigos e...

– E que ele gosta de você!

– Como você sabe? Q-quer dizer, você é novo ainda para saber o que o Thomas sente.

– Ele é meu irmão e entendo muito bem... Ele te olha do jeito que olhava para a Gabriela. Tenho certeza que ele já fez de tudo para você perceber mas você só tem olhos para o Iago...

– Isso deve ser só impressão sua... E como você sabe do Iago?

– Eu li seu diário do ano passado... Desculpe! – ele fez cara de cachorrinho sem dono.

Esse moleque... Dou carinho, comida e divido meus pais e ele fica mexendo nas minhas coisas sem permissão, nem lembrava que esse maldito diário existia. E pra quem tem 8 anos, sabe de mais sobre os sentimentos do irmão... Lucas deve ser bem esperto, puxou isso de Thomas.

– Olívia, vou para o quarto fazer meu dever, quando estiver pronto me chama. – Lucas falou.

– Ok, Lucas.

Me deitei no sofá e uma série de perguntas surgiram na minha cabeça. Qual o real motivo da separação de Thomas e Gabriela? Por que Lucas estava mexendo nas minhas coisas? Será que Thomas gosta mesmo de mim? Essas e outras perguntas hoje no Olívia Repórter.

Escutei o barulho do portão mas dei de ombros. Fechei os olhos e quando estava quase pegando no sono, Lucas aparece.

– Thomas chegou – falou ele.

– Hm... – falei ainda de olhos fechados

– Tem uma menina com ele.

– O QUE? – pulei do sofá e fui para fora de avental mesmo. - Se for a nossa vizinha, vou mandar o Dandi morder aquela menina, que coisa!

Antes fosse, dou um doce pra quem acertar o nome da pessoa. Uma dica: Começa com Ma e termina com Ria.

– A casa não está aberta para visitas! – encostei na parede e cruzei os braços.

– Eu a trouxe para conhecer Lucas, você deixa ela entrar? – perguntou Thomas.

Fechei os olhos mostrando minha raiva, gritei Lucas que chegou no mesmo instante. O segurei ele pelo ombro e disse:

– Esse é o Lucas. Pronto, já pode voltar para seu esgoto sua...

– Respeito, Olívia! Eu e Ceci somos amigos, então acostume-se com a situação – Thomas disse me cortando.

– Fala sério! Pra ela você dá apelidos, nunca ouvi você ser carinhoso comigo. – fechei a cara.

– E por que seria? Por acaso temos alguma coisa? – rebateu ele.

Abaixei a cabeça e soltei Lucas. Eu escolhi um caminho e Thomas o dele, o máximo que devo fazer é ser gentil com ela, afinal, ela não sabe dos meus sentimentos.

– Por favor, Maria Cecília, queira entrar... Me desculpe pela maneira que te tratei. – eu disse.

Quando todos entraram, uma lágrima escorreu dos meus olhos, limpei-a depressa e tentei forçar um sorriso.

– Sente-se, eu estou terminando o macarrão. – encaminhei ela até a mesa e chamei Lucas.

Desliguei o fogo e joguei o macarrão no escorredor de plástico. Peguei alho, óleo, tempero, tomate, pimentão e pedi Lucas para pegar o extrato de tomate. Liguei a panela e joguei o óleo, alho e o tempero, mexi com a colher até dourar. Lucas jogou o extrato de tomate e eu coloquei um pouco de água, respingou um pouco na roupa dele então peguei o pano para limpar. Olhei com o canto do olho para a mesa e Thomas não estava lá.

– Obrigado por me limpar – disse Lucas.

– Agora vou picar o tomate e o pimentão, certo ajudante? – dei um sorriso.

– Certo!! – ele pegou a colher de pau e a levantou.

Quando peguei a bacia, percebi que Thomas estava espiando tudo pelo canto da parede.

– Quer ajudar, Thomas? – perguntei sem olhar para ele.

Ele assentiu, deu um sorriso e pegou um tomate da minha mão.

O macarrão tinha ficado delicioso. Não é me gabando mas sei que tenho mãos de anjo.

O relógio marcava 15:11, eu e Thomas acompanhamos Maria até o ponto de ônibus. Ela pegou o ônibus, eu e Thomas voltamos para casa mudos. Eu tinha que contar para ele minha situação...

– Thomas... – falei.

– Diga.

– Estou com o Iago.

Ele limpou o rosto e percebi que sua mão estava molhada. Ele se virou, seus olhos estavam vermelhos, e disse:

– Problema é seu.

Fim do capítulo 20.