Quando anoiteceu, Sabrine mexia em suas roupas inquieta.
— Droga! - ela murmurou — Não tenho nada para vestir.
— Algum encontro especial? - perguntei
Ela riu e sentou ao meu lado.
— Vai ter festa hoje, esqueceu?
— Ah, é! Eu não vou.
— É claro que você vai. Pode deixando esse desanimo pra lá, Liv. O acampamento serve pra gente se divertir, os problemas ficam fora daqui.
— E o que fazer quando o meu problema está bem aqui, no acampamento?
Sabrine passou a mão pelos meus cabelos e sussurrou no meu ouvido.
— Hoje nós vamos nos divertir. Nada de garotos, ok? Só nós.
Concordei com a cabeça. Eu precisava me distrair um pouco, conhecer pessoas novas e aqui era o lugar ideal.
— Eu tenho um vestido que vai ficar ótimo em você. - falei
— Sério? Ai meu Deus, cadê?
Fui até a minha mala e tirei um vestido verde claro de alcinha. Os olhos dela se iluminaram.
— É lindo, Liv. Tem certeza que não vai usar hoje?
— Não se preocupe, tenho outra roupa em mente.
Sabrine começou a se arrumar rapidamente. Abri uma outra mala e encontrei o vestido perfeito. Mateus havia me dado ele no natal e me disse para usar em uma ocasião especial. Hoje era um dia especial. Assim que estendi ele na cama, Sabrine sorriu.
— Você vai ficar maravilhosa!

*****
Em menos de trinta minutos nós estávamos prontas. Sabrine com o vestido verde claro que batia na altura dos joelhos, e eu com um vestido branco longo. A parte das costas era aberta e ele tinha pequenas pedras douradas na barra. Calcei minha rasteirinha, e deixei meus cabelos soltos. Sabrine assoviou.
— Muitos homens vão perder o fôlego quanto te ver.
— Não se te verem antes.
Nós duas sorrimos e saímos do nosso chalé.
— Pronta? - Sabrine me perguntou
— Pronta!

******
Definitivamente o acampamento todo estava ali. Alguns grupos estavam conversando, outros cantando e tocando em volta da fogueira e outros se pegando entre as árvores. Julia veio correndo em nossa direção.
— Finalmente! Pensei que vocês não chegariam nunca.
— Porque a pressa? A noite é uma criança Julia... e você também. - Sabrine disse
Julia revirou os olhos e caminhou ao meu lado.
— Um garoto perguntou sobre você.
— Quem? O Mateus?
Ela riu e negou com a cabeça.
— Quem dera fosse. - ela suspirou — Foi um garoto bonito até, não que a beleza dele compare com a do Mateus, mas ele até que tem seu charme.
— Então...? - perguntei
— Bom, ele não disse o nome mas me pediu para te falar isso... - ela tossiu e recitou — "Agora, por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada do meu coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada."
Pedro.
— Já sabe quem é? - Julia perguntou
Concordei com a cabeça.
— Como você decorou tudo isso?
— Eu já li Dom Casmurro, Liv.
Sabrine se aproximou e me cutucou.
— Olha quem está ali. - ela disse em um sussurro
Olhei na direção em que ela disse e encontrei o Mateus rindo com mais dois garotos. Ele estava vestido com uma camisa cinza e calça jeans. Seu cabelo estava levemente despenteado.
— Respira. - Sabrine disse rindo.
— Eu preciso beber alguma coisa.
— Eu estava só esperando você dizer.
Caminhamos até uma mesa onde tinha alguns salgadinhos e refrigerantes.
— Onde está a bebida de verdade? - Sabrine perguntou
Trey apareceu com dois copos e um sorriso nos lábios.
— Aqui! - disse nos entregando
Encostei o nariz na beirada do copo e franzi a testa. Aquilo era forte.
— Se quiser eu te trago um refrigerante. - Trey disse.
— Não, está tudo bem.
Dei um gole e tentei não fazer cara feia. Sabrine riu.
— Nós precisamos nos encontrar fora desse acampamento e sair, Liv. Vou te mostrar o que é festa e bebida de verdade.
Não pude conter um sorriso.
Uma música elétrica soou no alto falantes e a galera gritou de animação.
— Vamos dançar. - Sabrine disse
— Vou terminar de beber, na próxima eu danço.
Ela, Trey e Julia saíram e eu fiquei encostada na mesa de comes e bebes. Mateus havia saído do meu campo de visão e eu observei como todos se divertiam. No céu a lua brilhava como se quisesse participar da festa também.
— Dez reais pelo seu pensamento.
Olhei pra trás e encontrei o Pedro. Ele estava com uma camisa escura e calça jeans. Seu cabelo estava amarrado em um rabo de cabelo, e suas mãos estavam nos bolsos.
— Acho que meu pensamento não vale tanto assim.
— Tudo o que diz respeito a você vale muito, Liv.
Sem saber o que dizer, olhei para o chão.
— Você está linda. - ele disse — Um anjo na escuridão.
Dei um gole na minha bebida.
— Você está romântico hoje.
Ele riu e se aproximou de mim.
— Eu sempre estou romântico. Julia te mandou o meu recado?
— Mandou. - falei — Você sempre me surpreendendo.
— Eu gosto de te surpreender.
Ficamos nos olhando por alguns segundos sem dizer nada. Pela primeira vez eu não senti aquela atração por estar tão perto dele, ao contrário, o que senti foi um desconforto. Pedro pareceu notar.
— O que foi?
— Nada... - falei passando o dedo ao redor do copo — Acho que vou ao banheiro.
— Tudo bem. Te espero aqui.
Deixei o copo sobre a mesa e andei em direção ao banheiro. O único som que havia eram dos grilos. O banheiro estava vazio e era incrivelmente assustador. Me apressei fazendo minhas necessidades e parei em frente ao espelho, arrumando o meu cabelo. Levemente a porta do banheiro abriu e um rosto familiar entrou.
— O que você está fazendo aqui? - perguntei
— Não posso?
— É claro que não. Isso é o banheiro feminino, Mateus.
— Eu só quero conversar.
— Que tal conversarmos lá fora?
— É rápido, eu juro.
Mateus se aproximou de mim e enrolou a ponta do meu cabelo em seu dedo. Um fio de eletricidade percorreu o meu corpo.
— Você está linda. - ele sussurrou
Involuntariamente dei um passo em sua direção. Ele sorriu.
— Eu preciso tanto de você.
Suas mãos tocaram meu rosto, braços e cintura. Cada toque uma sensação nova me invadia. Eu pertencia a ele. Acho que sempre pertenceria.
— Me beija. - sussurrei
Mateus uniu nossos lábios como se fossem um só. Sua língua explorava a minha boca e sua mão passeava pelas minhas costas nuas. Desejo ardia dentro de mim.
— É melhor pararmos. - falei me afastando e respirando com dificuldade.
— Eu faria uma loucura aqui mesmo. - ele disse com um sorriso nos lábios
— Aqui não.
— Tudo bem, Liv.
Mateus se aproximou de mim e passou seus braços na minha cintura. Eu o agarrei pelos ombros e ficamos nos olhando.
— Eu vi você conversando com o Pedro.
— E o que isso tem demais? - perguntei
Mateus não disse nada.
— Olha, eu sei que passei anos te falando meus sentimentos pelo Pedro. E imagino o quanto isso deve ter sido um saco, mas não restou mais nada. Hoje eu tive a prova, Mateus. Tudo o que eu sentia por ele acabou.
— Você jura? - ele perguntou
Sorri e beijei levemente seu queixo.
— Juro!