Minha vontade é de sair correndo, esbarrar em tudo que estiver na minha frente. Não importa quem esteja. Eu quero fugir. Eu me culpo por ter ouvido aquilo. Eu jamais deveria vir para essa direção. Apenas eu me lembro do ditado que minha mãe sempre dizia: "Curiosidade matou um gato". O gato sou eu, e eu vou morrer. Se Lunny souber oque eu ouvi, ela certamente me matará.

Corro para onde Charlotte está, ela me vê com a cara vermelha e pergunta oque aconteceu, eu respondo que nada. Apenas corri demais e, cansei.

A viajem acaba, eu não converso com ninguém no vagão, todos perguntam oque aconteceu, mas eu só respondo nada. Mas eu tenho que contar para alguém. Não sei se aquilo era ou não verdade. Mas continuo preocupado.

Chego na escola, arrumo meu beliche, James entra no quarto e começa a jogar o mesmo jogo sem noção de ontem. Segundo ele, já estava muito perto de zera-lo. Eu dou uma cochilada longa, e sonho com as coisas que ouvi hoje. Como isso pode acontecer? O mau não foi todo embora? Estava escrito na vila do fogo que não sobrou nada do mau neste mundo. E eu ouvi Lunny dizer que era filha de Nikko. Impactante. Não sei quanto tempo vou durar vivo.

Acordo, e James ainda está jogando. Desço do beliche e tomo um banho, fico horas no chuveiro. Usei meu poder para me entreter, esquentando a água, congelando a água. Tudo para me fazer feliz naquele momento. Mas nada adiantou.

Sai do banheiro, e James parou de jogar. Ainda bem. Então arrisco uma pergunta.

– James, - começo - Como você é inteligente... Já deve ter lido muitos livros sobre leis sobre a escola, não é?

– Sim, John - ele diz - Por quê?

– Se uma diretora... Infringir uma regra... Oque acontece com ela?

– Bem, ela é posta para fora.

– E se ela for uma pessoa maléfica?

– Morta. - responde - Agora, eu irei dormir. Não me faça mais perguntas, John.

Ele se joga na cama e dorme, eu fico na minha beliche, insônia durante toda a noite.

Dias se passam, finalmente começou a nevar. A vista na cantina paga é linda, os lagos congelados, arvores repletas de neve. Tudo parece feliz. Mas não é a realidade. Então, vem a minha cabeça o homem com quem Lunny estava falando, horrível, vestido de preto. Então também vem a minha cabeça a viagem para o hotel. O vulto. Ele é o vulto que eu vi.Me lembro bem de seu rosto e da sua estatura.

Então, eles devem estar agindo para Lunny. Lunny quer recomeçar oque seu pai não conseguiu fazer. Que alienar a terra. Quer ter escravos. Quer ver morte. Ela é a inimiga.

Fiz um ótimo relatório sobre a viagem, e ganhei nota 10,0! Fiquei feliz por isso agora. Eu decido falar para Charlotte depois das aulas. Decido leva-la de novo á cantina paga da escola. E á vou esclarecer-lhe tudo oque ouvi.

Fiz isso, contei a ela tudo, todos os mínimos detalhes. Ela fica horrorizada.

– Meu Deus, John - ela diz - Isso é muito grave, devemos denuncia-la.

– Não podemos, ela pode nos matar - exclamo.

– Vamos fazer oque você quiser. Afinal, você que ouviu. Você diz.

– É melhor ficarmos calados, alguém irá descobrir.

– Não, John. Oque você acha? Você acha que vão descobrir isso num piscar de olhos? Se nós demorarmos será tarde. Ela pode dominar e fazer esse tal de soro mágico aí.

– Não!

– Faça oque você quiser - ela diz e sai, provavelmente saiu irritada.

Quando passo pelo corredor do meu quarto, ouço a professora Heavensbee conversando com seu tigre.

– Oque? - ela pergunta - Mau?, como assim Mau? Porque você só esta falando essa palavra hoje?

Corro para meu quarto, onde James está lá, de novo jogando o jogo sem noção. Eu pergunto porque ele ainda não zerou, se disse que estava muito perto de zerar. Ele disse que foi porque seu cérebro estava desconectado do mundo dos Jogos por causa do relatório. Eu rio.

Me vem a cabeça a professora Heavensbee conversando com seu tigre, Pequenino. Que só estava falando a palavra "Mau" toda a hora. Saio do quarto. Medo corre sobre minhas veias agora. Lunny está no corredor, usando seu longo vestido preto, seu óculos meia-lua. O vestido dela vai se arrastando pelo chão enquanto ela anda com sua cabeça erguida. Não olha para nenhuns lados, somente para a frente.

Ela não fala nada, aparentemente está indo para a escadaria que leva para outro andar. Ela percebe que uma lâmpada está com sua luz fraca e estende o seu dedo indicador para a lâmpada. Um raio cinza bate na lâmpada e ela fica claríssima novamente.

Esqueço ela passando e desço para o portão da escola. Quero pegar a neve em minhas mãos. Colocar na boca. Como eu gosto. Chego no portão e avisto um helicóptero com o Husky-Siberiano, o símbolo da HSM, pousando próximo dali. E dele sai uma mulher com uniforme de aeromoça, e depois um rosto familiar. Com uma jaqueta preta, segurando uma mala. Seu cabelo está todo embaraçado. Prine.

Corro para dar-lhe um abraço. Ele abre seus braços como se fosse um pai esperando por um filho que ficou anos fora do país.

– Olha só para você - diz ele, sempre sorrindo - Como é que você está? Garoto.

– Bem - embora que seja mentira, tenho que mentir no momento - Estava com muita saudades de você.

– Eu também - ele responde - Agora tenho que ir, conversas com a diretora.

– Você vai ficar aqui, não é?

– Vou.

– Depois preciso ter uma conversa séria com você. - ele me olha como "Fala agora" - Não, você vai esperar.

– Uhum - ele fala e sai.

Acho que Prine não irá acreditar no que eu vou falar. Acho que ele vai ficar do lado da diretora, defendendo-a. Mas eu tenho que falar para ele. Ele é meu 3° amigo depois de Charlotte e James. E ele é o 2° mais confiável depois de Charlotte.

Decido-me, que na primeira oportunidade vou contar-lhe tudo, como disse á Charlotte. Sobre o soro, os homens vestidos de preto. Tudo. Tudo oque eu sei a respeito. Direi que foi na "Vila do Fogo", não deixarei escapar nada.