Da última vez em que vi o homem-aranha pessoalmente, eu poupei a vida insignificante dele e isso foi à umas duas semanas atrás. Nesse pequeno período de tempo eu o acompanhei pela televisão e realmente o cara não tem descanso. Eu fui analisando aos poucos as táticas que ele usava nos outros inimigos e fui percebendo também que ele quase nunca usa força bruta, ele estava mais acostumado a usar sua inteligência, sua astúcia, velocidade e agilidade. Apenas em situações especiais o Parker usava a força aracnídea, para impedir Rino, por exemplo. E mesmo lutando contra o Rino, ele usava a inteligência antes de usar a força.

Mas eu parei de só observar e comecei a pensar no futuro. Eu fui até a igreja onde eu me tornei venom e por alguns instantes pensei que aquele poderia ser o lugar perfeito para eu matar o maldito aranha, mas ia ficar muito clichê, então eu descartei essa possibilidade. Sem contar que antes de me unir ao simbionte alienígena eu era um homem católico, então não poderia matar alguém na casa de Deus. Pelo menos não do jeito que eu planejava fazer com o Parker.

Sem poder contar com a conveniência de matar o homem que me criou no lugar de origem, eu tive que pensar em outro jeito de fazê-lo. Já era noite, eu estava em um pequeno beco perto da casa dos Parkers e pensando que poderia acontecer bem ali, em frente a casa dele. Assim a tia May teria a chance de ver o sobrinho monstruoso que tinha. Mas a briga com o Parker poderia machucar a pobre senhora que não tinha nada a ver com aquilo, uma inocente despreparada para tal choque. Mais uma possibilidade desconsiderada.

Quando estava me preparando para ir embora um policial correu para perto de mim e gritou:

–Você aí, venom, fique parado!!! Você está preso!!!

–HAHA! Você pensa que pode ''nos'' prender?!

Deixei ele vir pra cima e quando estava perto o suficiente eu o prendi em um mata-leão(técnica de estrangulamento no jiu-jitsu). Quanto mais eu apertava, mais ele perdia as forças e sofria. Tentava desesperadamente se soltar e segurava meus braços com uma força considerável. Seu rosto ficava cada vez mais vermelho, as veias exaltadas em sua testa e aquele desespero que me dava prazer. Eu pretendia matá-lo, mas percebi que aquele não era eu, alguma coisa dentro de mim dizia não, então eu o soltei. Observei o policial desmaiado no chão e a chuva começou a cair em minhas costas e num momento de sanidade as gotas pluviais escorreram pelo meu rosto como se fossem lágrimas de um outro alguém dentro de mim. Talvez fossem de Eddie Brock, que chorava ao ver o que tinha se tornado.

–Desculpa policial, mas NADA NEM NINGUÉM VAI SE COLOCAR ENTRE A ''NOSSA'' VINGANÇA E ''NÓS''!!!

Depois de quase ter matado um homem eu me perguntava se tinha me perdido dentro do meu alter ego, venom. Realmente Abraham Lincoln tinha razão, quase todos os homens são capazes de suportar adversidades, mas se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder. Eu nunca imaginei que poderia nem sequer pensar em fazer uma coisa daquelas, como eu pude ter prazer em ver um homem inocente sofrer?! Mas isso não importava mais, tudo que eu tinha que me preocupar era com a morte de Peter Parker!

No dia seguinte eu o segui pela cidade e o ataquei de um jeito que ele não pôde prever.

–Argh! Venom?! Eu sabia que ainda teria que me preocupar com você!

–HAHA! Olá Parker! ''Nós'' te avisamos que voltaríamos!

–Brock, o que você está fazendo?! Você não é assim, para com isso!!!

–Homem-aranha... sempre dizendo que quer salvar pessoas... sempre se achando o herói, mas VOCÊ É O VILÃO AQUI PARKER!!!

–Você se chama VENOM e eu que sou o vilão?-Zombou ele-

Eu fui com tudo pra cima dele e como sempre ele estava apanhando. Ele lançava teias em mim para me cegar e tentar me atacar de surpresa, mas aquele pequeno truque já estava ficando manjado demais. Por poucos momentos alguma coisa mudou nele e eu comecei a levar socos brutais que nunca tinha tomado antes. Mas como eu disse, por poucos momentos.

–Você não vai mais ameaçar ninguém venom!!

Em uma hora eu cansei de apanhar e segurei o soco dele. Aí foi a MINHA vez de bater.

–''Nós'' nos cansamos disso!!! Te agredir fisicamente não é o único jeito de fazer você sofrer!!! ''Nós'' ainda nos lembramos daquela sua ruivinha gata sabia!!! HAHA!!-Eu disse enquanto dava socos duas vezes mais brutais do que os dele-

Então, após dar a minha mensagem para ele eu decidi acabar com aquilo!

–Maus sonhos!!!

BAM!!! E lá estava ele, desmaiado. Mas sinceramente, eu não tinha vontade de machucar a tal de Mary Jane, na verdade acho que só disse aquilo para deixá-lo preocupado. Então eu voltei para casa e esperei mais um dia para acabar de vez com o homem que arruinou a minha vida. Eu cheguei a pensar que estava esperando de mais, mas pra que ser apressado? A paciência é uma virtude que poucos têm e com certeza o aranha ia ficar nervoso e afobado depois daquele blefe.

No outro dia eu já tinha em mente que seria definitivamente o dia da morte do aranha e não ia esperar mais nada! Estava determinado a acabar com isso e para começar, eu já acordei fazendo meus exercícios, como sempre. Forte como nunca estive e preparado para fazer o homem-aranha conhecer o destino dele eu fui até o Peter. Eu procurei por aquele inseto em todos os lugares possíveis, mas ele parecia ter sumido do mundo. Porém, eu tinha jurado para mim mesmo que não haveria lugar na terra onde não pudesse encontrá-lo! Era meu dever cumprir a promessa.

Quando voltei para o meu apartamento eu encontrei o que procurava grudado na parede, apenas me esperando. Eu entrei em casa com o homem-aranha, parede e tudo. Saí quebrando o lugar inteiro e ele sabia que seu inimigo estava furioso, então me conduziu até telhado e para minha surpresa, ele tinha um presente.

–Annie??!!

–Você blefou sobre a Mary Jane ontem, o que me deu a ideia de procurar saber do seu passado e então eu descobri sobre a Annie e seus outros amores Brock, como a doutora Kafka!-Disse o Parker-

–AAAARRRRGGGHHHH!!! Você colocou ela em risco à toa!!! Agora é sua responsabilidade salvá-la!!!

–Eddie, olha o que você se transformou!!! Esse não é você, lute contra isso!!!-Disse a Annie-

–Você não faz mais parte da minha vida! ENTÃO SUMAAA!!!

Mais uma vez o homem-aranha tinha que pensar rápido para me impedir de quebrar os ossos dele. E dela também. Ele pegou a Annie e a jogou em uma teia longe da nossa briga e ao fazer isso ele também ficou desprotegido. E eu em alta velocidade o agarrei e num único impulso pulei junto com ele e nós dois caímos em cima de uma árvore, mas para mim não era o bastante. O Parker viu que eu estava furioso, então ele tentou fugir, mas quando nós estávamos na cidade eu cortei a teia dele e o deixei cair no telhado de um prédio.

–Acabou Parker! Você já era!!!

E assim a nossa briga física começou novamente. Ele tentava se defender, mas eu estava furioso, mais nervoso do que nunca. Eu batia violentamente e não parava, minha raiva era muito grande, ainda mais influenciada pela determinação e ele não conseguia parar de apanhar, eram socos muito rápidos, eu não dava chance do adversário respirar, eu literalmente estava destruindo-o e isso foi muito pra ele. Chegou um momento em que o homem-aranha só conseguia ficar no chão, deitado, apanhando e mesmo assim eu não parei de esmurrá-lo, eu tinha perdido o controle do meu corpo, o ódio estava me dominando. Então eu parei por um segundo, olhei e ele estava quase morto, acordado por pouco. Eu segurei a cabeça dele com as duas mãos e o levantei. Enquanto ele olhava para mim, seu sangue escorria pela boca.

–Eddie não!-Ele disse quase sem voz-

Quando eu estava quase matando o homem-aranha, alguém usou uma arma sônica em mim e me derrubou, o que me fez largá-lo. Eu olhei pra trás para ver quem tinha ousado fazer tal coisa e então eu me vi frente a frente com um homem que usava um uniforme estranho e um capacete.

–Urgh! Você... não tem... noção... do que acabou de fazer!-Eu disse enquanto me levantava-

–Tenho sim Eddie!

–Hã?!

Ele tirou o capacete e me mostrou seu rosto, era Frank Jones, o meu ''amigo'' que tinha me dado o apartamento algumas semanas atrás.

–Frank?! Por que você?! ''Nós'' pensamos que fosse nosso amigo!

–Eu era Brock! Mas por sua culpa...

Antes de terminar de falar ele apontou aquela arma para mim de novo e eu desviei de duas rajadas sônicas daquela. Ele me olhava com ódio, com toda certeza era um ódio muito maior do que o meu.

–O que houve com você Jones?!

–Não se faça de idiota Brock, você sabe muito bem o que aconteceu!!!

Ele voltou a atirar em mim e enquanto o fazia gritava loucamente. Em um momento o Jones me acertou e quando eu estava no chão ele não parava de me olhar com desprezo.

–Você não era assim Jones!

–Hunf... você realmente não sabe não é Brock?!

–Eu queria saber o que te aconteceu antes de te matar, velho amigo! Porque você se transformou nisso? Não me diga que virou um vigilante como o homem-aranha?!!

–Não, Brock! Eu estou fazendo isso pela minha esposa!

–Sua... a Mary?!

–É Brock...-Ele tentava falar enquanto lágrimas desciam pelo seu rosto-

–O que aconteceu com você, aliás, com ela?! Me diga!

–Ela estava indo levar o nosso filho para a escola, de carro... aí... aquele monstro vermelho apareceu... e virou o carro dela de cabeça pra baixo! Ela tentou escapar, mas tudo que conseguiu foi soltar o cinto de segurança do Max para ele fugir! O carro começou a pegar fogo, mas antes dela morrer lá, aquela aberração tirou ela de dentro do carro e a levou para longe. Ele deu esperança a ela...

–''Monstro vermelho''?! Kasady!!!

–Ele deu esperança... olhou no fundo dos olhos dela e cravou as garras no estômago! E sabe como eu sei de tudo isso?! Eu estava olhando Eddie!

–Eu sinto muito por você Frank!-Eu disse enquanto o simbionte mostrava o meu rosto para ele-

–Mas eu queria muito matar aquele monstro, então eu fui procurar a história dele e acabei achando a ficha no site do instituto Ravencroft... Cletus Kasady, parceiro de Eddie Brock foi solto quando recebeu o poder do simbionte alienígena de Brock! Atualmente Cletus está preso!

–Parceiro?!!! Eu sempre odiei o Kasady!!!

–É mesmo Brock?! Então como explica o que está escrito lá?! Como explica a transformação dele no carnificina?! Como explica... a Mary não estar mais aqui?! Você criou ele Brock, você é o culpado de tudo!!! EU VOU TE MATAR!!!

Eu estava despreparado, então ele usou o raio sônico mais uma vez em mim e o homem-aranha não fez nada, apenas observou enquanto eu sofria. Mais uma vez eu senti a dor do simbionte, ele estava sofrendo muito mais do que eu e a nossa ligação era tão forte que a dor dele passou para mim. No final de tudo o simbionte ficou debilitado e eu estava quase caído, mas o Frank não parou, ele aumentou a frequência daquela arma. A dor era tanta que chegou em um ponto que eu já não sentia mais o simbionte e então ele parou. Eu olhei para o meu corpo e vi que o meu ''outro'' estava no chão como um pedaço de tecido rasgado, morto.

–NÃÃO!!! Eu fiquei só!!! O meu ''outro'' se foi, eu não sou mais venom!!!

–Acabou Eddie, você pode parar de odiar agora!-Disse o homem-aranha-

Eu fui levado para o instituto Ravencroft pela segunda vez na minha vida, só que desta vez era só eu. Todos fizeram questão de me colocar bem longe do Kasady para nenhum de nós dois tentar qualquer coisa. Como o simbionte estava morto e não representava mais nenhuma ameaça, eles o colocaram dentro da mesma cela que a minha, exatamente para me torturar. Enquanto isso o homem-aranha conversava com os guardas do lado de fora da cela:

–Vocês tem que vigiá-lo sempre, se vocês derem uma bobeira daquelas de novo vão à falência!

–Claro, mas esse aí sem a ajuda do simbionte não vai a lugar nenhum!

–Mas será que o simbionte realmente morreu?!-Sussurrou o aranha-

O Parker olhou para mim e disse:

–É realmente uma pena Eddie! Uma pena que você não tenha usado o simbionte para o bem! Poderia ter acabado de outro jeito!

–Eu não preciso da sua pena!

Depois de um tempo ele foi embora e os guardas também se afastaram um pouco.

Sem o Kasady tudo estava em silêncio, todos estavam acostumados e sabiam que gritar não ia adiantar em nada, todos ficavam calados, menos eu. Eu ria...

–HAHAHAHAHA! ''Nós'' estamos vivos!!!

FIM.