Aqueles que Chegam escrita por Outono


Capítulo 1
Reunião


Notas iniciais do capítulo

Como eu coloquei, a fic começa onde terminou a quarta temporada. Divirtam-se!



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O dia passou sem qualquer outra comunicação com os habitantes do Terminal. Fracos ruídos de vozes, de disparos de armas e de latidos de cachorros eram ouvidos apenas se você prestasse bastante atenção neles. E nada aparentavam de útil. Os sobreviventes no vagão deitaram no metal frio do trem, que a noite que caía tornava ainda mais gélido. Logo silenciaram suas vozes, cada um mergulhado em seus próprios pensamentos e conjecturas sobre tudo o que aconteceu desde a saída da prisão.

Apenas Rick permanecia em guarda, espiando o pouco que podia através da fina fresta que se abria na lateral do vagão e deixava perceber os parcos movimentos que aconteciam lá fora, iluminados pela luz da lua e por lanternas que alguns sentinelas portavam para enxergarem invasores.

Invasores, sim. Era isso que tinham se tornado para aquela comunidade. Seria um teste para saber se eram confiáveis? Rick, Carl, Daryl e Michonne invadiram o local, realmente. Mas os outros disseram que entraram por onde haviam as indicações, da maneira que eles queriam no Terminal. E ainda assim estavam na mesma situação que eles e tiveram seus bens roubados. Não, isso não era um teste para saber suas índoles.

De fato parece que aqueles que chegam, sobrevivem. Mas até quando?

− Pai. Pai? Você está olhando por esta fresta a noite toda? – Carl se remexeu no chão em que estivera dormindo e percebeu Rick acordado. Apoiando-se nos cotovelos, aprumou-se para sentar ao lado do pai.

− Sim, Carl, estou. Precisamos estudar estas pessoas, ver o que eles fazem, como eles fazem... A hora que eles fazem... Toda informação é importante. Estamos sem armas, quanto mais soubermos, mais preparados ficaremos. – afirmou Rick, sem sequer tirar os olhos do que estava acontecendo lá fora. Qualquer segundo poderia revelar algo essencial.

− Você podia ter me acordado, eu podia fazer isso. Você precisa descansar também. – Carl sentia que a todo momento voltava a ser tratado como uma criança, embora já tivesse provado diversas vezes o quanto cresceu.

− Eu sei que você podia, meu filho, eu sei. – disse Rick enquanto o trazia para mais perto de si e lhe afagava os cabelos como há muito não fazia.

E isso lembrou ao xerife uma outra vida, quando descansavam num macio sofá nas tardes de domingo e Carl ficava entre ele e Lori, enquanto ele mexia os cabelos do filho e a mãe lhe massageava os pés. Os três conversavam e riam e na época eles conseguiam pensar que haveria um futuro.

Mas o futuro não veio.

− E nós estamos sem armas, como você disse. O que está pensando em fazer? – Carl o trazia de volta de seus devaneios.

Alguém se remexia do outro lado do vagão, denunciando que não eram os únicos acordados.

− Inferno... Vocês dois não deixam ninguém cochilar. – Daryl se sentou devagar e esfregou as mãos pelo rosto, mas não estava com sono. Nem havia conseguido dormir qualquer hora daquela noite.

− Não é como se estivéssemos numa mansão com isolamento acústico, você sabe. – a interrupção incomodou Carl que se afastou de Rick, na atitude típica de adolescentes que não querem ser vistos em momentos íntimos com seus pais.

− Não se preocupem, ninguém está dormindo de verdade mesmo. – disse Abraham, deitado de costas no chão, com a cabeça apoiada em seus próprios braços cruzados para trás. – Ninguém conseguiria dormir.

− O que tem de interessante aí? – Daryl se aproximou da fresta, atento.

A luz que adentrava o vagão, mesmo fraca, fez com que ele piscasse os olhos e precisasse de um momento para se adaptar ao claro.

− Está vendo aquele sujeito ali perto da cerca? – Rick apontava. − Dois walkers se aproximaram pouco depois que ele veio cobrir o turno do guarda anterior. Num ele acertou o tiro de primeira. No outro ele precisou dar três disparos. Pelo visto não são todos que tem treino em armas por aqui.

− É, mas não generalize, cara. Nós não estamos vivos por sorte. Eles simplesmente não quiseram atirar em nós. Você viu. – Daryl já estava contendo sua raiva com a situação a mais tempo do que podia. Sabia lutar, mas sem sua besta ou qualquer outra arma, estava se sentindo inútil. Quase incapaz de proteger a si mesmo ou a outra pessoa. Outra pessoa como Beth. E não gostava de se sentir assim.

− Mas pense que errar um alvo de propósito é muito mais fácil que acertar o mesmo alvo de propósito. – Michonne também acompanhava a conversa desde o início e, como Daryl, não havia dormido.

Sasha se revirava, deitada ao lado de Bob. Se houvesse luz no interior do vagão, seria possível notar seu olhar vidrado e perdido, seu semblante de derrota, seu abatimento com aquela situação. Algo dentro dela lhe dizia que estava perto de desistir.

− E eu me pergunto o porquê disto. Vejam, não faz sentido nenhum nos manter prisioneiros aqui. – disse.

Um dia ela tinha sido uma pessoa diferente, que acreditava que podia vencer, que acreditava que o amanhã traria paz, mesmo em meio a todo o caos. O caos lhe trouxe Bob. Mas o caos lhe tirou mais do que estava podendo suportar. Mais do que qualquer um ali dentro poderia suportar no seu lugar. E por isso, não acreditava mais em coisas como “amanhã”.

− A não ser que tenham algo pior planejado para nós. – colocou Glenn. − Eles trazem comida. Eles nos querem vivos. Mas com certeza não estão querendo começar uma amizade saudável.

Ele segurava a mão de Maggie entre as suas e desde que chegara e foram trancados ali, se perguntava o motivo daquilo tudo. Por que propagar uma mensagem para atrair pessoas que eles simplesmente não queriam ali? Esses esforços não seriam melhor aproveitados de outra maneira?

− Eles nos tiraram tudo e nos jogaram aqui. Quase penso que estamos a ponto de reviver toda aquela coisa com o Governador. Maldito. Me tirou meu pai. Me tirou Beth. – Maggie não conseguia mais conter as lágrimas, que escorreram abundantes por sua face, lavando a poeira acumulada pelas andanças infinitas.

Esta menção fez todos relembrarem Hershel, de sua bondade, de seu altruísmo e de como sua morte havia sido cruel e injusta. E Rick se martirizou por não ter cedido aos apelos do Governador. Poderia ter salvado Hershel. Mesmo que tivessem entregado a prisão, ele ainda estaria ali. Ele e tantos outros que faziam parte daquela família. Judith.

Rick sacudiu a cabeça, tentando eliminar estes pensamentos. Sabia que tinha feito coisas erradas em sua vida, mas que estava certo sobre essa. Precisava ter resistido. E nada lhe garantiria que aquele homem insano pouparia a vida do veterinário. Ou de qualquer um dos que estavam ali com ele naquele momento.

− Calma, calma. – Glenn envolvia sua Maggie num abraço, para confortá-la da única maneira que poderia.

Do outro lado do vagão, metade do rosto de Daryl era visível pelos raios ainda insipientes que invadiam a pequena fresta, apontando o surgimento de mais um dia.

− Ei, me perdoe por não poder ter trazido Beth prá você. – ele murmurou.

− Eu sei, eu sei. Não se culpe. Eu não te culpo. Sei que você fez o possível para salvá-la. – Maggie soltou sua mão da de Glenn e a estendeu para Daryl, que andou em sua direção e a segurou por um instante breve.

Mesmo que Maggie tenha lhe dito a mesma coisa pouco depois que lhe contou o ocorrido durante a tarde, ele não poderia se isentar de culpa. Beth estava bem ali com ele. Ele era o adulto que sabia lutar, ela era apenas uma jovem mulher aprendendo ainda a lidar com aquele mundo às avessas em que foram jogados. Ele achou que ela estaria mais segura fora daquela casa do que com aqueles monstros lá dentro. Ele estava errado.

− Se ela ainda estiver por aí, nós a encontraremos. – Michonne tentava jogar uma gota de esperança no grupo, mesmo sem ter ideia de como fariam para sair dali. E ilesos. Eram um bando de pessoas munidas apenas com o objetivo de escapar, contra um grupo armado, organizado e hostil.

Passos e vozes foram ouvidos do lado de fora do vagão. A manhã já iniciava seu expediente. Parecia que duas pessoas se aproximavam. Um homem e um mulher. Os sobreviventes mal se mexiam, tentando captar o máximo de indícios do que se passava lá fora que pudessem. Mas mesmo sendo as paredes metálicas pouco espessas, nada puderam decodificar.

Logo depois, veio o barulho que indicava que estavam destrancando o vagão. Todos se puseram de pé, segurando suas respirações.

− Hora do café. – disse Glenn, sem muita animação, aguardando a entrada do sujeito gordo que lhes alimentava. – Ou da “ração”, como eles chamam.

A porta se abriu e os passos de alguém subindo a pequena escada foram ouvidos em seguida. Uma menina magra e loira carregava algumas caixas de cereal e uma garrafa de água. Beth.

O espanto infectou ligeiro o vagão. Era quase como se o coração de cada um tivesse parado de bater naquela hora. Num segundo todos começaram a se movimentar em sua direção e ela apressou-se a levar um dedo indicador aos lábios, orientando-os para que permanecessem em silêncio.

− Aqui a ração de vocês. – falou Beth, mais alto que seu tom normal, para que fosse ouvida pelo homem que a acompanhara, enquanto jogava as provisões que trazia em tigelas que as pessoas do Terminal que haviam deixado próximas à porta. − Não queremos que morram de fome. Não somos pessoas más. – E, voltando-se para seus companheiros, acrescentou, desta vez com a voz bem baixa: − Ajam como se não me conhecessem.

− Desde quando você está aqui? Você está bem? Eles estão te tratando bem? – Maggie precisava de respostas. Quase tinha perdido as esperanças de ter alguém da sua família sanguínea vivo e deixou as lágrimas caírem novamente, com o milagre.

Queria abraçar a irmã e não deixa-la mais sair, queria falar sobre o pai, sobre tudo o que aconteceu, mas entendia o que ela tinha dito e precisava deixar com que ficasse em segurança. Fosse qual fosse. Confiava em Beth. Sempre confiou.

− Eles ainda não confiam completamente em mim. – continuou a mais nova, enquanto amassava as caixas do cereal e as atirava pela porta. Seu pai teria reprovado a atitude, mas precisava agir como um deles. − Apenas hoje consegui convencê-los a me deixar vir aqui, tenho que ser rápida.

Sorriu olhando para o rosto de cada um, os companheiros antigos e os novos. Queria ficar ali. Ou melhor, queria estar com eles em outro lugar. Seu tornozelo ainda doía, mas se pudesse, sairia dali correndo com eles naquele momento. Todavia ainda era arriscado.

Daryl deu um passo em direção a Beth e puxou algo de dentro de seu colete. Uma pequena caderneta. Alisou-a com a mão, como que para tirar qualquer sujeira que ela contivesse e a estendeu para Beth.

− Ei, Beth. É prá você. – disse, sem jeito. − Sei que deixou aquele seu caderno na prisão e que precisa escrever. Foi só o que eu achei por aí. – desculpou-se, sem conseguir encará-la e indicando o objeto com a cabeça.

O sorriso da menina ampliou-se. Pegou o caderno da mão do amigo e o escondeu em sua rupa. Mal conseguia acreditar que ele lembrou este simples detalhe e trazia consigo o caderno apenas para o caso improvável de se verem novamente.

− Vamos logo, Carol. – a voz masculina chamava de fora.

− Já estou indo! – disse ela para o homem e, virando-se para Daryl: − Obrigada.

Ninguém comentou o fato de ela ter respondido por um nome que não era o seu. Esses eram outros tempos. Quando a porta se fechou atrás de Beth, todos se entreolharam sem nada dizer. Os pensamentos estavam confusos demais. Olharam as tigelas com cereal e a água no chão. Mesmo com fome, ninguém comeu.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do início! E que eu tenha sabido mexer direito aqui nas funções do site. :S
In the next episode... um flash de como a Beth foi parar aí. Talvez. [cara de mau]



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