- Charlie, você já está se arrumando a uma hora! Vem tomar café e o Godofredo precisa passear.

Gritou a minha mãe enquanto batia irritantemente na porta.

-Tudo beem! Só preciso pentear o cabelo e estou pronta.

Abri a porta.

-Bom dia, flor do dia!

Falei radiante. Hoje seria meu primeiro dia de aula e ao contrário das outras pessoas eu adoro primeiros dias. Mas isso se deve ao fato que eu estudo na mesma escola faz uns 6 anos.

- Oi minha delícia peluda!

Olhei para baixo e lá estava o meu "cachorrinho". Um golden retriever, chamado Godofredo(sim eu dei seu nome quando era criança e assistia o Castelo Ra-Tim-Búm). Fiz carinho nele e fui tomar café da manhã.

Ainda faltavam alguns minutos até que a minha condução chegasse então fui descer com o Godofredo para o condomínio. O lado bom de se morar em prédios é que pode soltar o seu cachorro para correr livre.

Me sentei num banquinho estilo de praça e fiquei o observando. Foi aí que eu ouvi um grito totalmente esganiçado: Aiiiiiiiiiii! Seu moleque idiota!

Fui correndo até perto da portaria sendo atraída pelos gritos.

- Meu Deus! A senhora me desculpe! É que eu não a vi passando por aqui.

- Hunf!

Disse se levantando com a ajuda da mão do menino e pegou suas sacolas e foi caminhando até o elevador.

Eu o olhei pela primeira vez de verdade e ele parecia bem encabulado, já que os gritos da jararaca (eu a chamava assim ou simplesmente de bruxa) acordou todo o prédio.

- Não precisa ficar assim, a dona Lindálva é assim mesmo.

Ele olhou pra mim enquanto pegava seu skate (objeto que começou toda a confusão).

- Mas só por curiosidade: Por que você está andando de skate uma hora dessas?

Ele riu e mexeu no cabelo, coisas que eu achei adorável.

- Bom, eu gosto de andar de skate de manhã. O sol fica suave e não tem muitas pessoas na rua. Quer dizer, no condomínio.

- Ah tudo bem. Bom, eu sou a Charlie.

Falei estendendo a mão. Ele a apertou.

- Sou o Rafael. Seu nome é Charlie mesmo? Aqui no Brasil?

Ele falou meio rindo. Eu expliquei que meu nome era Charlotte e que minha mãe desde criança queria uma filha com esse nome, mesmo sendo não comum aqui no Brasil.

- Charlie é bonito, gostei de Charlie.

Ele falou e logo foi atraído pelo Godofredo que estava querendo fazer amizade com o novo inquilino.

- Oi garotão, nossa você é lindo e muito... babão! hahaha.

O Godofredo virou a barriga para ele para receber mais carinho e assim o fez. Eu fiquei olhando ,encantada.

- Eu tenho um cachorrinho, o Finn. Ele é um vira-lata nós o pegamos numa casa de adoção.

E ficamos conversando sobre animais por um bom tempo, eu amava animais e estava muito empolgada por poder compartilhar isso com alguém. Principalmente alguém como ele: Um pouco alto, cabelos castanhos em um topetinho meio desarrumado, olhos castanhos escuro e um sorriso encantador acompanhado por covinhas lindas.

- Então... você é novo aqui não é? Quando se mudou?

- Eu moro com a minha mãe e ela sempre se muda bastante por causa do trabalho, e desta vez viemos para cá. Nos mudamos acho que faz só uma semana no máximo. Mas e você? Está aqui a muito tempo?

- Sim, moro aqui desde os 8 anos. E na cidade desde que nasci.

-Interessante.

Ele falou me olhando dos pés a cabeça. Eu não considerava esse olhar "pervertido" mas não era nada amigável. E não me entenda mal, eu não sou insegura comigo mesma, me acho completamente normal. Tenho cabelos pretos ondulados e sou razoavelmente baixinha, tenho olhos verdes e gosto de quem eu sou.

- Ei! Você estuda no mesmo colégio que eu vou estudar!

Quando ele disse isso me veio um misto de emoção e susto. Eu tinha me lembrado que tinha esquecido da condução!

- Meu Deus! Eu tinha esquecido. Tenho que ir, a aula começa daqui a pouco e... foi um prazer te conhecer.

Quando eu estava pronta para correr com o Godofredo para pegar minhas coisas ele me chamou:

- Charlie! Espera, eu só vou colocar a farda e já desço. Podemos ir juntos? É que é um colégio novo pra mim...

Fiquei meio indecisa, eu realmente estava atrasada mas aqueles olhos e todo ele... - Ahh, tudo bem eu vou em casa buscar minha mochila e você vai colocar a camisa da escola.

- Tudo bem então.

Fomos correndo para o elevador e ele parou no sétimo andar e como o meu é o último eu fiquei.

Depois de tudo pronto eu o esperava no mesmo banquinho. E lá estava ele com a farda, meio confuso e meio correndo. A visão dele ali valeu a pena esperar.

- O-oi! Então.. vamos?

- Tudo bem.

Ele concordou num sorriso torto e ao invés de eu pegar a condução eu preferi ir a pé já que o colégio não é longe e a companhia compensava.

Chegamos na frente do colégio.

- Está nervoso? As pessoas aqui são legais, eu tenho certeza que você se sentirá em casa rápido.

Ele só me sorriu sem jeito e nós entramos.

- Qual a sua série?

- Sou nono ano e você?

- Primeiro.

Nos olhamos meio que tristes. Aquela conexão estava acabando e logo ele faria amigos e me esqueceria.

- Tudo bem então, eu te vejo na saída?

- Claro. Na saída.

E nos olhamos. Aquele seria um bom momento para abraços? Eu sem pensar o abracei ele ele retribuiu, senti o melhor cheiro do mundo, um cheiro totalmente dele e de mais ninguém. O soltei com resistência e me afastei, dei um "tchau" com a mão, meio sem graça. E andei pelo corredor para encontrar a minha sala.