Luci escrita por an


Capítulo 2
Brando


Notas iniciais do capítulo

E por fim, mais um capítulo. Houve uma demora no termino desse, mas finalmente acabei. Aproveitem!



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Seus olhos eram tão profundos, conseguia enxergar a alma dele, mas não entender o que estava nela. Seu rosto, tão macio. Suas mãos passaram pelas minhas, nossos rostos se aproximaram. O calor de seu corpo era extremamente bom. Vagarosamente ele foi se aproximando, conduzindo a nossa dança, respondi a todos os movimentos.

Não conseguia imaginar o sabor de seus lábios, a maciez – talvez fossem tão macios quanto sua pele. A cor rosada que se misturava muito bem com traços vermelhos. O formato perfeitamente desenhado a mão. Se eu tivesse mais tempo pra pensar, diria que não poderia ser real. Senti como um choque que percorreu por todo meu corpo. Aquele encostar de lábios.

Consegui prestar bem atenção em todos os detalhes que me faziam hesitar. À cada movimentos, à cada toque. Nossas mãos permaneciam juntas, bem firmes. E, por um instante, quase consegui decifrar sua alma.

O portão sob nossas cabeças se abriu e uma luz branca nos cercou. O chão começou a ficar mais distante, o controle sob meu corpo foi perdido. Nós nos olhamos rapidamente, parecia que algo queria sair por minha garganta, mas talvez não fosse tempo. Olhei de lado para o horizonte e vi muitas das árvores se mexendo, mas nenhum sinal de monstros. Abruptamente, a luz que nos cerco, tomou conta de toda a nossa visão. Não enxergávamos mais.

– Sabe o que iremos enfrentar, não é mesmo? – perguntei a Peter, enquanto olhava fixamente para seu rosto, até parecia admira-lo, talvez estivesse. O mesmo retirou um cigarro do bolso direito de trás e o colocou na boca, procurou por seu isqueiro com desenho de tubarão que estava no bolso esquerdo da calça, colocou a mão na frente do isqueiro para o vento não apagar o fogo, acendeu o cigarro e virou o rosto.

Olhou-me por alguns segundo, mas não parecia admirar-me, era mais um olhar de desafio. Tragou o cigarro e começou a andar.

– Vamos! – disse com uma voz firme e séria.

Adentramos a floresta sem medo, ou parecíamos não ter. Tudo é incerteza na vida. Como as informações que um garoto de rua passou-me enquanto estava na cidade. As informações diziam que no meio da floresta havia uma espécie de mesa redonda, como se ela tivesse sido feita para algum tipo de ritual. Que todos os monstros se reuniriam em volta dela na próxima noite de primeiro de Abril.

Questionei-o sobre como ele conseguiu tais informações, disse-me que não poderia contar-me, que nem deveria estar dizendo todas aquelas coisas. Após isso, fiquei semanas sem vê-lo. Quando retornei a vê-lo, o garoto estava doente, um de seus olhos estava com manchas pretas no canto esquerdo, e as mesmas manchas pareciam começar a vazar para o outro olho. Se observasse bem, era possível notar as manchas crescerem.

Encontrou-me em um beco escuro ao lado de uma casa que ficava bem a frente do centro da cidade. O centro da cidade era contido por uma praça com poucas árvores e muito gramado, tinha o formato circular e peculiarmente convidativo. O garoto apareceu abruptamente pelo beco, segurou firme em minhas roupas e sussurrou em meus ouvidos: "Existe algo no meio da floresta, além de uma simples mesa redonda, ajude-nos."

Eu olhei bem fundo de seus olhos em uma tentativa de tentar entendê-lo melhor. O mesmo começou a correr, mancando pela perna esquerda, correu até o centro da praça, se ajoelhou e olhou para cima. O céu parecia bem convidativo naquele momento, então fiz o mesmo. Olhei de volta para o garoto e foi como se o corpo dele se desligasse por completo, ele caiu no chão. Fiquei escondida na escuridão do beco e retirei-me, antes que alguém notasse minha presença.

E isso foi o suficiente para que minha esperança se firmasse, saber que poderia ter a chance de salvar minha irmã, foi o suficiente. E por ela, vou até o fim. Afinal, todos faríamos o possível e o impossível pelas pessoas que amamos, independente do que seja.

Isso me lembra Peter.

– Peter! – virou o rosto, enquanto andava para mostrar que estava prestando atenção – estou feliz que tenha vindo junto.

– Só pensa que é uma criança crescida! Ainda não sabe muita coisa sobre a vida – disse, enquanto andava e olhava para meu rosto sem deixar de presta atenção no caminho.

– Ás vezes você não sabe o que está falando – disse com uma voz mais firme que a dele, o suficiente para deixar minha presença explicita. Continuei andando e apertei o passo, deixei-o um pouco pra trás de mim.

– Ei! Precisamos de um lugar para descansar – disse Peter.

– Não estou nem um pouco cansada – respondi.

Ás vezes, Peter e eu, parecíamos estar em uma constante guerra entre egos, mas sinto algo totalmente diferente de uma guerra. Não importa, não tenho tempo pra pensar nisso. Tenho que manter a mente forte. Só um objetivo.

Era como se tivesse alguma parede tampando o caminho. Peter estava bem a minha frente, podia vê-lo e ele a mim, mas não conseguia ultrapassar aquele objeto que estava bem à minha frente, invisível para meus olhos. A textura: aparentavam ser pelos, algo macio e senti um movimento, no mesmo instante fiquei paralisada. Encostei novamente para ter certeza e então, senti respirar.

– Estamos andando á horas, você pode admitir que estamos perdidos? – disse Peter.

– Sei exatamente para onde estamos indo! – respondi com frieza.

– Você deveria parar de ser teimosa – puxou meu braço com força –, parece uma garotinha – olhou fundo nos meus olhos. Minha alma começou a ferver de raiva, mas não conseguia me decidir se era por causa do braço ou das ordens. Nós nos encaramos por alguns segundo e...

– Sei exatamente para onde estamos indo! – disse, enquanto arrancava meu braço de suas mãos com toda a minha raiva.

Foi preciso respirar fundo depois disso. Arrumei minha roupa, olhei para ele e notei que ainda estávamos em silêncio, apontei para frente e ordenei que ele andasse. Deu alguns passos a mais, empurrou alguns galhos de uma árvore pequena que tampavam um pouco da visão, olhou para frente e depois para trás, levantou uma das sobrancelhas e balançou a cabeça em positivo. Nem parecia acreditar.

Acompanhei-o.

Estávamos lá, a grande mesa redonda. Realmente não parecia ser real. A cor cinza do concreto e as escrituras que haviam por cima da mesa, quando eu vi aquelas escrituras, aqueles símbolos, eu tive a certeza de que era o lugar certo.

"sua pele tomava uma textura diferente que era facilmente notada, como desenhos ou alguma escrita antiga."

– Disse que sabia! – provoquei. Levantei a sobrancelha esquerda, pois era a única que conseguia levantar sozinha, e comecei a procurar por alguma coisa que traria alguma resposta. Nem quis saber da reação de Peter.

– Você deveria ler o que está escrito em cima da mesa – disse Peter.

Subi em cima da mesa e olhei fixamente para as escrituras, achei que poderia ter algo que não tinha visto antes, algo do meu idioma.

– É latim. Está escrito "O beijo, o caminho", provavelmente essa mesma frase esteja se repetindo por todo o redor da mesa. – disse, enquanto subia em cima da mesa. Peter estava de um lado e eu do outro. Os dois foram se aproximando. Quanto mais perto, mais longe parecia; Quanto mais rápido, mais demorando era.

E quando estávamos bem perto um do outro, senti encostar em algo.

Havia sangue por todos os lados, não sabia de quem era, adentrei a floresta em busca de Peter. Empurrava arbustos, galhos, cipós, mas não chegava até ele. Tudo parecia conspirar contra o meu favor, como sempre.

A textura. Afastei-me e gritei para que Peter fizesse o mesmo. No mesmo instante, o que estava sombrio para meus olhos, se tornou claro. Era um deles. O Monstro se mostrou aos poucos como realmente era, pelo por pelo foram ficando visíveis. Os tons brancos com tons cinzas, o imenso tamanho. O Monstro deu uma patada incrivelmente forte em Peter, fazendo o mesmo voar. Virou-se, olhou bem fundo nos meus olhos. Os olhos dele eram como o pôr do sol, laranja.

"E aquelas cores se juntaram tão bem, creio que ninguém imaginaria como o laranja casaria com o cinza."

Quando me dei conta estava sendo arremessada, bati em alguma coisa, talvez em uma árvore, então apaguei. Quando acordei, havia sangue por todos os lados, segui os rastos de sangue até encontrar o Monstro morto. Com seu peito aberto por completo, como se algo tivesse atravessado o mesmo. Olhei em volta e lá estava Peter. Só pude pensar em abraça-lo. Fiquei com medo de perdê-lo, já perdi tanta parte boa da minha vida.

– Encontrei uma pedra dentro do Monstro, talvez ela se encaixe em algum lugar.

Voltamos até a mesa de pedra e bem no centro havia um buraco, exatamente do formato da pedra, redondo e um pouco curvado. A cor, laranja, como os olhos do Monstro. Peter me olhou como se estivesse pedindo permissão para encaixar a pedra, balancei a cabeça concedendo-o seu desejo. O mesmo se abaixou e colocou vagarosamente a pedra, levantou e olhou para meus olhos. Nada aconteceu.

Então Peter disse, "O beijo, o caminho".

Ele se aproximou, segurou minhas mãos e seus olhos... Seus olhos eram tão profundos.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por lê, espero que tenha gostado. Deixe sua critica (boa ou ruim), comentário, ideia, o que quiser. Espero que entendam as fotos que são deixadas no final de cada capítulo e é isso. Até o próximo capítulo. Foto retirada do Tumblr "ohmetaphor".



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