10º Desafio Sherlolly escrita por GabrielaGQ


Capítulo 1
Para sempre


Notas iniciais do capítulo

Enquanto o Nyah! estava fora de cena, tivemos esse desafio que postei no facebook, mas pensei "Não custa nada postar no Nyah também" :D
Bom, aí está! Pra quem for ler, boa leitura!



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- Molly, sabe onde você está? – O terapeuta perguntou com uma voz tranqüila e serena.

- Em Londres, num escritório? – Molly respondeu, confusa.

- Sim, isso mesmo. Quantos anos você tem? – ele continuou.

- 29.

“Ok, isso foi há 4 anos atrás. Mas não deve ser nada preocupante, Molly está indo bem.” Eu pensei me sentindo ansioso.

- Na verdade você tem 33 anos Senhorita Holmes. – O terapeuta a corrigiu.

- Senhorita Holmes? – Ela perguntou, extremamente confusa e preocupada.

“Oh não.”

- Sim. – O médico pausou – Você é casada Molly, não se lembra?

- Casada? Eu não sou casada. – Então ela olhou para a aliança no dedo dela. Uma aliança dourada, que eu sabia que tinha meu nome escrito dentro dela.

“Não pode ser, ela não lembra do nosso casamento? Mas de mim ela deve lembrar, ela tem que lembrar” comecei a me apavorar.

- Então você não sabe quem é esse homem? – O terapeuta disse apontando para mim. Estava sentado ao lado de Molly, com o coração tão acelerado que tinha medo que ela pudesse ouvi-lo. Ela se esforçava para manter distância de mim. Depois de tudo, o que eu mais queria era ficar perto dela. Tinha sido tudo tão difícil.

- Sei. – Ela disse com um olhar indiferente. “Ela se lembra de mim”. – Esse é Sherlock Holmes, o grande detetive consultor. – Ela então fez uma pausa – Mas eu não sou casada, muito menos com ele.

Aquilo perfurou meu coração. Molly se lembrava de mim, mas não se lembrava que me amava e muito menos que éramos casados.

***

- Já falei para você parar de fazer isso Sherlock! – Molly brigava comigo enquanto eu tentava fazer cócegas nela.

Estávamos voltando da casa dos meus pais no interior de Londres. Molly dirigia o nosso pequeno carro vermelho e era muito categórica quanto as regras de “Não conversar, beijar, agarrar ou respirar durante o volante”. Era óbvio que eu não obedecia e ignorava qualquer tentativa dela de fazer com que eu me comportasse.

- Ah Molly por favor! – Eu continuava fazendo cócegas na barriga dela, enquanto via ela se contorcer e segurar o sorriso nos lábios. – Só canta essa música Molly, você sabe o quanto amo ouvir você cantar! – Eu falava fazendo biquinho e tentando ser o mais amável possível.

Tínhamos dois meses de casados e eu estava mais feliz do que nunca. Eu sei, difícil acreditar que Sherlock Holmes, irmão do Iceman, pudesse um dia se apaixonar e quanto mais se casar. Mas aqui estou eu. Completamente apaixonado pela única mulher que realmente importa. E que sente muitas cócegas.

- Tudo bem Sherlock! – Ela disse irritada, se ajeitando no banco. A música já estava tocando no rádio. Ela virou o rosto sorrindo, já dançando no ritmo da música, e quando ela ia começar a cantar, aconteceu.

Tudo de repente ficou em câmera lenta. Vi enquanto a boca de Molly, ainda no formato da primeira palavra da música, de repente soltou um grito. Automaticamente senti todo o meu corpo ir para a frente bruscamente e o cinto de segurança me prender ao banco. Aquilo doeu e realmente me incomodou.

Não consegui me virar para olhar para Molly, só podia encarar a grande caminhonete vermelha, quase dentro do nosso carro. Vi uns estilhaços do vidro voando sobre mim e rapidamente minha mão procurou a de Molly.

Por um segundo toquei na sua mão, mas quando enfim encontrei coragem para virar a cabeça, o sorriso que Molly tinha há apenas 5 segundos atrás tinha sumido. Da sua testa estava escorrendo sangue, muito sangue. Molly estava desacordada e eu não conseguia sentir minhas pernas.

Assim que olhei para ela, soube que alguma coisa estava errada e eu senti que tudo tinha mudado. A mão da Molly que eu segurava não era mais a mesma. E a imagem da Molly sentada ao meu lado, com todo aquele sangue, era algo que eu nunca vou esquecer.

Principalmente, agora.

***

Já fazem 3 semanas desde que o acidente aconteceu.

Os minutos que se seguiram após o acidente foram confusos e barulhentos. Quando acordei, me vi sendo levado numa maca para dentro de uma ambulância. Automaticamente, procurei a mão de Molly. Ela não estava lá. Um desespero tomou conta de mim ao me sentir separado dela. Tinha jurado protegê-la e que nunca mais íamos nos separar. E agora, eu tinha falhado. Uma lágrima escorreu dos meus olhos. Ela não poderia estar morta. Seria algo terrível, uma enorme tragédia para mim. Não era possível.

Como todos esses pensamentos angustiantes, adormeci e quando acordei novamente, estava num enorme quarto branco de hospital. Tinha vários tubos ligados a mim e eu tinha voltado a sentir as minhas pernas. Tudo estava perfeitamente ótimo comigo, apesar de eu sentir todo o meu corpo doer. Minha boca estava seca e sentia uma enorme dor de cabeça. Meus pensamentos logo se direcionaram para Molly.

Precisava urgentemente ter notícias dela. Tirei então a máscara de ar e arranquei fora os tubos. Antes que eu pudesse colocar o pé no chão, uma enfermeira seguida de um médico entraram no me quarto e me impediram de fazer qualquer coisa.

Em resumo a todos os blá blá blá que eu ouvi o médico dizer, a única parte em que comecei a prestar atenção, foi quando ele mencionou a palavra “esposa”. Meu coração até então acelerado, diminuiu gradativamente para que eu pudesse entender o que o médico queria me dizer. Era algo relacionado com uma concussão cerebral, que acarretaria em uma possível perda de memória ou uma perda total dos movimentos.

Eu sorri. Não sei por que, mas eu sorri. O médico parecia estar brincando comigo. Molly não iria perder a memória, não a minha Molly. Ela jamais iria se esquecer do nosso primeiro beijo, da nossa primeira noite juntos, das nossas conversas e jamais esqueceria o nosso casamento. Molly jamais iria se esquecer que me amava.

Mas depois de alguns segundos, me dei conta do quão sério o médico estava. Ele não parecia estar brincando. Era tudo tão terrível e impossível. Meu sorriso sumiu. Meu mundo desabou. Lágrimas brotaram dos meus olhos e rapidamente encharcaram a roupa de hospital que eu vestia.

***

Depois que Molly também acordou no hospital, eu já tinha me recuperado bem. Mas ainda não estava preparado para toda aquela situação. E ainda não estou.

O começo foi confuso e mesmo agora, 3 semanas depois, ainda sinto meu coração se quebrar e as lágrimas invadirem os meus olhos toda vez que Molly diz alguma coisa.

Assim que chegamos do terapeuta, essa sendo sua 3ª sessão, Molly tira os sapatos e o casaco e joga no meio da sala. Ela nunca fazia isso. Sempre deixava suas coisas arrumadas e até brigávamos pelo grande senso dela de limpeza e arrumação. “Mas o médico disse que a personalidade dela mudaria.”

Em seguida, ela vai até a cozinha e volta trazendo uma lata de refrigerante e um pacote de salgadinho. Molly odiava salgadinho e refrigerante. Essas besteiras quem comia era eu, óbvio.

- Você vai realmente comer isso? – Falo enquanto fecho a porta e recolho as roupas que ela deixou pelo chão.

- Vou.

É tudo o que ela me responde. Sinto uma faca penetrar meu coração. Essa resposta simples e direta me magoa todas as vezes em que ela faz isso. É como se ela não se importasse comigo e que a minha presença a incomodasse. A Molly carinhosa e amável sumiu, deixando uma Molly similar ao meu irmão. Esse pensamento me enoja e dá um arrepio.

Molly estava completamente mudada. Tinha sido um grande sacrifício convencê-la a vir morar comigo, porque ela insistia em dizer que não era casada. Apesar de eu mostrar a aliança no dedo dela e até mesmo as fotos do nosso casamento, para Molly era como se outra pessoa tivesse vivido tudo aquilo, e não ela. Na verdade, parecia que tinha sido mesmo outra pessoa. A Molly que eu amava tinha sumido e parecia que nunca mais ia voltar.

Apesar do médico dizer que provavelmente a perda de memória seria temporária, já estava começando a pensar que não, tinha perdido a minha Molly para sempre. Nunca tinha sentido o meu coração tão quebrado em toda a minha vida. Até respirar doía e em todos os segundos, só queria chorar.

Fui para o nosso quarto e a deixei na sala assistindo televisão. Tirei os sapatos e o casaco e me deitei tentando esvaziar a mente.

As últimas semanas tinham sido completamente malucas e daria até uma boa história para um livro. Ri com esse último pensamento.

Parece que tinha sido ontem em que o sorriso e olhar apaixonado de Molly iluminavam e aqueciam o meu coração. Eu poderia ficar dias parado, apenas olhando naqueles olhos castanhos. Eu era incapaz de imaginar um amor maior do que o nosso. Tínhamos uma história juntos e Molly sempre esteve ali, por mim, ela me amava. Ela me dizia isso todos os dias enquanto nos vestíamos juntos para sair. Como ela podia ter se esquecido?

Novamente, lágrimas escorriam molhando o travesseiro. Já não me importava mais com elas, faziam parte do meu dia.

Enquanto ouvia Molly suspirar enquanto dormia, as lágrimas eram sempre as minhas companheiras durante a noite. Era difícil pegar no sono quando se tinha lembranças constantes do acidente que mudou minha vida e quando a mulher ao seu lado não sabia quem você era.

Enxuguei as lágrimas e me levantei indo em direção a cozinha preparar um chá. Era sempre nesse horário em que Molly me preparava um chá, enquanto eu tocava algumas notas no violino e em seguida, passávamos horas conversando. Todos os dias eram assim.

Resolvi não mudar a nossa rotina. O médico tinha dito que isso era bom para talvez fazer a memória de Molly voltar. Ainda tinha uma ponta de esperança.

Quando passei pelo sofá, Molly estava deitada, cochilando enquanto a televisão falava sozinha. Peguei uma coberta e a cobri, enquanto jogava fora o saco de salgadinho.

Fiz meu chá e sem perceber, servi duas xícaras. Sorri pela evidência do costume.

Cheguei a sala, com minha xícara e a coloquei na mesa de centro. Peguei meu violino e comecei a tocar algumas notas. Era a única coisa que me dava paz e me fazia esquecer os problemas.

Estava de olhos fechados, tocando, quando ouvi um soluço. Quando abri os olhos, Molly estava se debatendo chorando. Parei de tocar e me sentei ao lado dela no sofá.

- Foi horrível Sherlock, horrível. – Molly chorava, soluçando, enquanto encostava o rosto no meu ombro.

Fazia semanas que não sentia o toque dela e isso fez meu coração acelerar novamente.

- Tudo bem, já passou Molls. Foi só um pesadelo. – Eu a acalentava enquanto encostava no sofá.

-Tinha uma música de um violino e... e eu não vi a caminhonete Sherlock. Foi tudo tão rápido.

Aquelas palavras me fizeram gelar. “Ela se lembra.”

- Que caminhonete Molly? – Eu perguntei com a voz embargada depois de longos segundos.

- A caminhonete vermelha que bateu no nosso carro Sherlock, você não se lembra? – Em meio as lágrimas, Molly me olhava espantada. “A música trouxe ela de volta.”

Um sorriso enorme estampou no meu rosto.

- Por Deus Molly, você voltou pra mim! – A abracei fortemente impedindo ela de dizer qualquer coisa. – Achei que tinha te perdido, mas você se lembrou. Você se lembra de mim. Minha vida não teria sentido sem você Molly. Eu já estava perdendo o controle só por pensar em viver sem você. – Eu suspirei depois de dizer as frases uma atrás da outra. Um peso enorme tinha saído dos meus ombros.

Então senti as mãos quentes de Molly segurarem o meu rosto e os lábios dela enfim matarem a saudade que os meus sentiam do dela. Foi o beijo mais apaixonado que eu já senti vindo dela. Podia sentir o calor e a calma vinda do corpo de Molly. Era como se ela sempre estivesse ali, como se nunca tivesse ido embora.

- Eu estou aqui Sherlock – ela disse se separando brevemente de mim e me olhando profundamente nos olhos – e vou ficar para sempre. Você se lembra quando nos casamos? – ela disse com um sorriso – “Pra sempre serei sua ou até que a lua perca o seu brilho e o sol deixe de nos aquecer”.

Sorri ouvindo ela se lembrar dos votos dela.

A minha Molly tinha voltado e eu não podia me sentir mais completo.


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Notas finais do capítulo



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