Imbranato escrita por Mari Bonaldo


Capítulo 3
O Estranho Perfeito


Notas iniciais do capítulo

Voltei galera :)
Espero que gostem do capítulo e do (finalmente!) encontro de Katniss e Peeta hehe
Obrigada pelas reviews e espero que gostem do capítulo!



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Quando o avião pousa no Aeroporto Internacional Fiumicino eu tenho que admitir que sinto uma leve palpitação no meu peito e que minhas mãos tremem um pouco. Há duas semanas atrás eu tinha tudo o que achava que queria: um namorado (Ted podia não ser grande coisa, mas me aquecia nas noites frias), um emprego fixo, meu próprio apartamento na cidade que eu amava e algum dinheiro para comprar roupas bonitas e ocasionalmente jantar em lugares caros. É estranho pensar que minha vida era assim tão diferente há tão pouco tempo atrás. Parece que faz anos desde que as mudanças ocorreram, mas na realidade faz somente algumas horas.

Desço do avião e me dirijo à esteira, esperando ansiosamente por minhas malas. A maioria das minhas coisas já haviam sido entregues durante a semana, e esperavam por mim em meu novo apartamento – que eu, por sinal, não conheço. Quando pego minhas malas, me sinto um pouco perdida. Ao meu redor, diversas pessoas correm em direção umas às outras, se abraçando, falando emocionadas em italiano, algumas até mesmo chorando. Observo uma mulher bonita, na casa dos trinta, correr em direção a um homem que parece um pouco Cary Grant. Ele a tira do chão com um abraço quando ela finalmente o encontra, e os dois riem por entre lágrimas de felicidade.

De repente, me sinto solitária. Como nunca havia me sentido antes.

Tento me lembrar porque estou aqui. Estou aqui porque fui promovida, vou ganhar mais do que a maioria das pessoas nesse saguão de aeroporto, e isso me causa um leve reconforto. Muitas pessoas adorariam ter a minha vida, definitivamente. Mas ainda assim, uma parte de mim – a minha metade que ainda não havia abandonado completamente Minnesota e seus valores - desejava desesperadamente um marido.

Era estranho que, tendo crescido em uma família tão disfuncional como a minha, eu tivesse essa obsessão por relacionamentos. Estranho e muito doloroso. Algumas pessoas eram simplesmente felizes sozinhas. Como Marvel, por exemplo: ele simplesmente adorava a vida independente que levava. Dizia que, desde que tivesse Pinot Noir e TV à cabo, sentia-se completo – devo admitir que, mesmo sabendo que nosso namoro fora uma farsa, era um pouco estranho ouvir isso saindo da boca de alguém que costumava passar os domingos ao meu lado, usando minhas pantufas da Hello Kitty. Eu, entretanto, não era uma dessas pessoas. Lembro-me de minha adolescência, quando tive meu primeiro namorado (Lucas. Decepcionante, devo dizer) e depois dele nunca mais parei. Tive uma série de namorados tão ou mais decepcionantes do que o primeiro e de alguma forma eu preferia essa busca constante e cansativa por um homem, do que a solidão.

Perdida em devaneios, ando em direção a saída do aeroporto. Um homem está parado na porta, vestindo uma calça social preta e uma camisa azul clara listrada, muita fina. Ele me olha, e eu não posso evitar olhá-lo também. É muito alto, e tem um tronco forte. Você sabe, o tipo de tronco que você quer no pai dos seus filhos. Os cabelos louros estão perfeitamente penteados, mas de alguma forma isso lhe cai bem. Seus olhos azuis me examinam minuciosamente e de repente, eu sinto calor – apesar de estar usando um vestido levinho da Miu-Miu, azul marinho com estampa de pequenos gatinhos brancos.

Com muito custo, desvio os olhos daquela visão e continuo caminhando até a porta, arrastando minhas malas atrás de mim. Quando passo por ele, não posso evitar dar uma última olhada. E, quando o faço, me deparo com seus olhos me encarando de volta.

Você com certeza já leu sobre esse momento nos livros ou isso já aconteceu com você. Amores de metrô. Quando sua atenção é inteiramente voltada para um estranho ao seu redor – seja pelos olhos dele, pelo livro muito bom que está em suas mãos ou pela sua música predileta, que você consegue ouvir através dos fones de ouvido dele. E então você pensa em todas as histórias que já ouviu a respeito de casais que se conheceram de forma inusitada e se pergunta, só por um momento, se aquele pode ser o amor da sua vida.

Foi exatamente isso o que ocorreu comigo e o Estranho Perfeito – como carinhosamente apelidei-o – quando nossos olhares se cruzaram no saguão do aeroporto. Até que desviei meu olhar, quebrando o magnetismo. Eu estava em uma dieta livre de homens, lembrei à mim mesma. E, além disso, ele provavelmente tinha alguém em casa – uma mulher linda que cozinhava nua e servia sushis perfeitos às sextas-feiras.

Andei rapidamente, arrastando minha mala atrás de mim, e então saí através dos portões do aeroporto. O sol da Itália me deu as boas vindas, aquecendo levemente minha pele enquanto os meus olhos se acostumavam com a claridade. À minha frente, uma fileira de taxis se estendia e a movimentação era tão grande que me senti em casa. Naquele momento, Roma não me pareceu tão diferente de Nova York, afinal.

Um dos taxistas sorri um sorriso com alguns dentes faltando para mim e começa a falar rapidamente, já tomando minha mala nas mãos. Eu aceno que não com a cabeça, sorridente, e tento puxar minha mala de volta. Ele não a solta. O meu sorriso se esvai e eu puxo violentamente a mala em minha direção, quase caindo para trás graças à força aplicada. O senhor me olha um pouco espantado, parecendo meio nervoso, e eu me afasto dali um pouco amedrontada.

Que lugar é esse, afinal, onde não se pode confiar nos taxistas?

Recomeço a andar, um pouco mais longe da fila de taxis dessa vez, pensando no que fazer. Eu não conheço ninguém. De repente, me dou conta de que na correria da última semana não peguei o telefone de meu novo chefe ou da redação da Vita. Procuro meu celular na bolsa marrom pendurada em meu ombro, pronta para ligar para o Sr. Rudolph. Por que ninguém pensou em mandar alguém para me esperar, afinal?

Paro perto de um banco, e me sento. Quando pego meu telefone nas mãos, sinto o olhar de alguém sobre mim. Viro-me para o lado, e encontro o Estranho Perfeito me observando fixamente. Ele anda na minha direção. E eu sinto um pouco de medo, depois do taxista e tudo mais. Como saber em quem confiar?

O Estranho Perfeito está cada vez mais próximo e a minha inquietação aumenta à medida que a distância entre nós diminui. Antes que minha ligação possa se completar, guardo o celular e me levanto, andando um pouco apressada – ou pelo menos o mais rapidamente que se pode andar quando se está carregando malas pesadas atrás de si.

Enquanto caminho, olho para trás. Apesar da distância que coloquei entre nós, percebo que o Estranho Perfeito está me seguindo. Engulo em seco, já podendo visualizar um policial ligando para meus pais em Minnesota, dizendo que meu corpo jaz inerte em um beco público, entre caixas de pizza vazias e embalagens de produtos cirúrgicos abandonadas.

E isso seria muito bem feito pra mim, por me deixar levar pelas aparências. Não é porque o Estranho Perfeito é extremamente lindo que merece minha confiança. Talvez eu devesse ter aceitado entrar no táxi do taxista banguela, afinal.

– Katniss Everdeen! – diz uma voz carregada atrás de mim, com um sotaque carregado que definitivamente não é italiano. Eu paro, abruptamente. O Estranho Perfeito sabe meu nome. Talvez ele esteja me stalkeando há meses e soube, através da minha publicação sentimentalóide no Facebook que eu estava de mudança para a Itália. Merda. Eu deveria ter escutado minha mãe quando ele me dizia que amizades virtuais com estranhos eram perigosas. Eu sabia, por experiência própria, que existia gente muito doida mesmo nesse mundo. Com problemas de verdade. Olho para trás e vejo que, com minha bobeada, o perseguidor está quase me alcançando. Antes que eu possa correr com mais fervor, ele finalmente me alcança, parecendo irritado. – Você é Katniss Everdeen?

Eu assinto com a cabeça, um pouco assustada.

– Por que diabos você está correndo? E porque não parou quando chamei seu nome? – ele indaga, com aquele sotaque engraçado que agora, escutando atentamente, reconheço como sendo de Yorkshire. E então me lembro das palavras do Sr. Rudolph, sobre o diretor de redação da Vita ser inglês. – Meu nome é Peeta Mellark e sou o diretor da Vita. Agradeceria se a senhorita pudesse me acompanhar até o carro que está nos aguardando, sem correr uma maratona dessa vez.

E então percebo. O Estranho Perfeito é meu novo chefe. Parabéns, Katniss Everdeen: começou seu novo emprego com o pé direito.


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Notas finais do capítulo

Semana de provas na faculdade e por isso talvez eu demore um pouco para postar um novo capítulo, o que dá uma margem de tempo legal para vocês comentarem bastaaaaaante u_u hauahauha beijos!