Fatinha está de volta ao Brasil, após passar dois anos fazendo residência nos Estados Unidos. Uma parte dela se alegrava em estar voltando pra casa, à outra se entristecia ao lembrar dos motivos de ter aceitado se mudar para outro país.

Flash Back On

Bruno e Fatinha estavam no hospital. Ju havia acabado de entrar em trabalho de parto. O pequeno Davi finalmente viria ao mundo! Quando a estilista anunciou que estava grávida, todos ficaram surpresos. Ela e Gil, assim como Fatinha e Bruno haviam acabado de concluir suas Faculdades. Seus pais a apoiaram, mas não deixaram de ficar decepcionados. Nem bem começaram a vida profissional e já teriam um bebê sob responsabilidade.

– Bruno, Fatinha vou à cantina, querem alguma coisa? – Olavo perguntou depois de ter dado inúmeras voltas na sala de espera.

– Não, pai, pode ir lá. E fica tranquilo, a mãe tá lá com a Ju e o Gil. Vai dar tudo certo.

– Quero ver se fosse sua filha, Bruno. – Olavo sai resmungando.

– Nunca vi meu pai tão nervoso.

– Normal né, Bruno? Até eu tô. E olha que eu já vi vários partos na faculdade. Nessas horas que eu já queria ter feito minha residência. Era pra eu tá lá, assim que o Davizinho nascesse eu já o atenderia.

– Tudo tem seu tempo, Fats. – Bruno falava sendo interrompido pelo seu celular. Ele se afastou para atender. A moça havia reparado que há algum tempo Bruno agia estranho, distante. Eles eram amigos. Não havia segredos entre eles. Da parte dela, apenas um. Ela havia sido convidada, após ser considerada a melhor aluna da turma de medicina de 2011 da UFRJ, para fazer a sua residência e especialização na área de Pediatria nos Estados Unidos. Tinha que dar a resposta em uma semana e viajar dentro de dois meses. Seu coração estava apertado, passar dois anos longe de casa, da família, de Ju e Gil com um bebê novo em casa, e principalmente dele. Há alguns anos ela havia assumido para si mesmo o quanto amava Bruno. Os sintomas não podiam ser outros: o coração batia forte toda vez que o via, perdia o ar, a fala, o sentido. Eles eram amigos há anos. Lembrava claramente o dia em que Ju o apresentou. Mas lhe faltava à coragem. Coragem para de uma vez por todas se declarar e assumir esse amor que tanto a consumia.

Enquanto isso Bruno falava com Ana ao telefone. Ele tinha a pedido em namoro na noite passada. Ela havia aceitado.

– Bruno? – Fatinha o procurava pelos corredores do hospital, quando ouviu a conversa que quebrou seu coração em fração de segundos.

“Amor preciso desligar. A Fatinha tá me chamando, devem ter dado alguma notícia da Ju e do meu sobrinho. Assim que eles receberem alta, eu te levo para visita-los e te apresento a minha família! Sim, Ana, a Fatinha. Eu já te disse ela é apenas minha amiga. Você sabe que eu a vejo como uma irmã. Não tem nada, além disso. Agora eu tenho que ir, beijo.”

Fatinha viu seu mundo desabar. Como ele pode? E todos os sinais que ela dava? E todas as demonstrações de amor? Será que ele não havia percebido? Ou estava apenas com medo de dar um fora nela? Ele simplesmente a via como uma irmã.

Quando voltou em si, viu Bruno a olhando assustado.

– Aconteceu alguma coisa, Fatinha? Foi com a Ju e o Davi?

– Não, Bruno. – ela dizia enquanto enxugava as lágrimas que caiam sem ao menos perceber. – É que eu tô emocionada. – Fatinha tentava disfarçar suas emoções, queria sair dali, sumir.

– Eu ia esperar pra contar a todos juntos, mas eu vou contar pra você, quem sabe eu te alegro. - Ela já sabia o que iria ser dito.

– Eu desencalhei. Tô namorando, Fats. Acredita? Você vai amar a Ana! Ela é alto astral que nem você. Eu a pedi em namoro ontem, segui aquele conselho que você me deu outro dia, me declarei para ela, fiz até um jantar a luz de velas.

Fatinha ao menos conseguia ouvir o que Bruno falava. Era como se ela tivesse morrendo aos poucos. Entrou no seu mundinho de pensamentos, onde tudo era lindo, onde ela e ele haviam sido feitos um para o outro, onde eles seriam felizes.

Bruno, Fatinha, até que enfim encontrei vocês. O Davi nasceu! – Olavo anunciou.

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