Capítulo 3 – Quando as saem fora do esperado

Então, hoje é o dia da festa.

O dia em que meu melhor amigo faria 19 anos.

Agente nunca alterava a data de nascimento nas certidões, fazer aniversário em datas diferentes todo ano seria muito confuso e nós podemos não ter Alzheimer, mas não temos super memória nem inteligência suficiente para isso.

O presente dele já foi comprado, Estela disse que estava tudo preparado e bom, eu sei que não preciso de muito para convencer meu melhor amigo á ir numa festa, então...

Eu só não contava que ele fosse sair do quarto dele enrolado num cobertor like Batman, com a cara vermelha e tossindo feito um louco.

Puta Merda.

–Parabéns fera?

–Eu quero uma canja –ele disse entre tossidas.

–Vou ligar para a Estela, não sei cuidar de doentes. –revirei os olhos e realmente liguei, não só pelo fato de não saber fazer canja, ele não estava em condição de ir num luau, cara, ele consegue ser mais azarado que eu as vezes.

LIGAÇÃO

–Alô? –A colega de quarto de Estela atendeu, acho que era Lara o nome dela.

–Lara? A Estela tai?

–Eae Jay, tudo certo?

–Mais ou menos, você sabe fazer canja ou curar doentes com a força do pensamento?

–Vou fazer uma canja e depois levo pro seu ap, quem é o doente?

–Gabe.

–Vê se ele ta com febre.

~~le vendo se o Gabe ta com febre~~

–Não, mas ele é alérgico a frango.

–Merda, vou fazer canja só com legumes, você queria falar com a Estela, né?

–Aham, passa pra ela por favor.

–Claro, até mais tarde.

~~le esperando a Estela atender~~

–COMO ASSIM O GABRIEL TÁ DOENTE?? QUE PORRA É ESSA?? ELE TA LOUCO?? PLANEJAMOS A PORRA DA FESTA A PORRA DA SEMANA INTEIRA PRA ELE FICAR DOENTE?? NÃO, TEM ALGUMA PORRA MUITO ERRADA NESSA PORRA!!

–Você falou “porra” cinco vezes. Lara está fazendo uma sopa milagrosa pra ele, ele vai dormir, tomar algum remédio e vai ficar bem, respira.

–EU TO INDO PRAI AGOR, VOCÊ VAI DEIXAR ELE MORRER SE EU NÃO SUPERVISIONAR VOCÊ CUIDANDO DELE.

–Pode vir Estela, mas finja que não sabe que é aniversário dele, fala que eu não sabia fazer canja, vem junto com a Lara enquanto vou tentar melhorar a situação.

–Ok, até mais.

–Até mais.

A casa delas ficava a uns 10 minutos da nossa, então só esperar a Lara fazer a canja, ai ela traz a canja, ai tudo da certo. Vamos fingir que algo sai como agente planeja.

–Então vocês planejaram uma festa para mim? –Reconheci a voz de Gabe, apesar dela estar um pouco mais rouca que o normal, como aquele filho da puta desgraçado ficou atrás de mim sem tossir??

–Então, você não tava morrendo á uns segundos atrás?

–Então, você não me respondeu.

–Sentaí. –respirei fundo e preparei toda minha paciência pro discurso “vocês não precisavam fazer nada”, “como vocês iam me levar para a festa” ou “vocês achavam que eu era imbecil o suficiente para não notar”

–Como você não queria fazer nada, e 19 é uma idade importante na vida de alguém como nós, eu tomei liberdade de decidir que você queria uma festa.

–Você sabe que esse é exatamente o motivo de eu não querer comemorar, não queria ser como nós.

–Brow, achei que você tinha aprendido, mas vou repetir “aprende-se a tolerar aquilo que não se pode mudar”.

–Achei que você ia ligar quando a Estela descobri-se.

–Achei que tinha deixado claro a parte que ela não ia descobrir.

–O que eu não ia descobrir? –Estela brotou na porta do apartamento (do qual ela tinha a chave) e perguntou isso.

Olhei mortalmente para Gabriel, que tinha um olhar culpado que eu só reconhecia por ver nele sempre que andávamos de avião, Estela não deveria ter chegado com Lara aqui, deveriam ter feito a canja e depois vindo.

–O que houve? Por que já estão aqui?

–Decidimos que a canja se esfriaria se fizéssemos e depois viéssemos aqui, então decidimos trazer as coisas para fazer aqui... –Lara se pronunciou pela primeira vez.

–Claro, vocês precisam de mais alguma coisa? Eu vou ao mercado, quero comprar bacon, Gabe quer ir comigo?

–Claro.

E nós fomos, as meninas pediram tomates e nós compramos bacon para fazer lanches mais tarde.

–Você sabe que a Estela vai tentar perguntar de novo o que ela não pode descobrir quando eu estiver bêbado...

–Não beba, pelo menos não até ela esquecer a história completamente. –Ele disse aterrorizado, eu sabia que ele se assustava muito mais com ser Neflim do que eu, tivemos tempo para fugir, mas ele sempre imagina o pai aparecendo na nossa casa e dizendo “você não deveria ter feito isso” e o matando, o pai de Gabriel era um Anjo Vingador, podia fazer o que quisesse, contando que achasse justo e quando ele descobriu que planejávamos uma fuga avisou que seria arriscado.

Meu pai era um Anjo da Guarda e disse que sempre olharia por nós, ele nunca achou errado nós gostarmos de observar os humanos, afinal nosso sangue também era igual ao deles.

Pera, vocês devem estar se perguntando “Mas se você tem sangue mortal sua mãe era mortal”, e ela era, linda moça, segundo meu pai biológico, me encontrei com ele uma vez, nem eu nem Gabriel vivíamos com nossos verdadeiros pais, como tínhamos sangue angélico o Céu mandou nos buscarem para que pudéssemos ser de utilidade.

Neflims são fortes, inteligentes, astutos, rápidos, resistentes a quase todo tipo de ferimento.

Quanto mais pessoas sabem sobre nossa condição mais fácil ficamos de sermos pegos, então evitamos muito tocar nesse assunto, evitamos praticar esportes, pois como somos muito bons, qualquer anjo na platéia perceberia que fugimos do Céu, ás vezes, algumas escolas tem professores enviados dos Céus para ver se alguma criança é uma neflim que não foi entregue ao Céu, eles são fixados na idéia de que todos que tem sangue angélico devem servir ao propósito do Céu, cuidar de humanos, essas baboseiras.

Não posso despejar isso na Estela, é injusto com ela.

Mas eu acho que um dos medos de Gabriel é ser julgado, ele acha que as pessoas pensarem que ele não era bom o suficiente para ficar no Paraíso.

Quando voltamos para casa com os tomates encontramos apenas um bilhete de Estela (aquelas flores no lugar do pingo no ‘i’ são inconfundíveis).

Gabe e Jay,

Vocês demoraram tanto que eu e Lara fomos para casa, aproveitem a sopa, está na Geladeira, esquentem no microondas.

Melhoras Gabe.

Precisamos conversar James.

Bom, comemos a sopa e fomos nos arrumar, fiz Gabriel prometer que ia fingir surpresa com a festa (na verdade chantageei ele dizendo que ia cancelar a TV a cabo) e quando deram 20 horas meu melhor amigo nem parecia o Batman de mais cedo, acredito que a Lara ou faz uma canja muito boa ou ela realmente pode curar com o pensamento.

Mandei uma mensagem perguntando a Estela se ela queria carona, ao passo que ela aceitou.

Decidi que seria um bom momento para entregar o presente do Gabe, então voltei ao meu quarto e procurei a caixinha preta em baixo da minha cama.

Quando desci, entreguei e fiquei esperando para ver sua reação.

–MEU DEUS CARA ISSO FAZ QUASE EU QUERER CASAR COM VOCÊ!!

–Fica no quase flor. –disse rindo da sua felicidade misturada com a indignação por chamá-lo de flor.

Para acabar com o suspense, o presente era um carro, não era um Fusca da vida, mas também não era aquela Ferrari, comprei um Fiesta para ele, ele só viu a chave até agora, então não deve saber que era simples, me senti meio mal por isso, mas logo sorri, pelo menos ele não ia mais pegar meu carro emprestado para sair com as meninas que ele achava no bar, sempre tinha camisinhas no carpete.

Enfim, fomos pra garagem e ele me abraçou quando viu o carro, será que ele achou que eu tinha esquecido e ficou feliz de eu lembrar?

Ou então ele me achava um bom amigo. Vou pensar que essa é a correta.

Enfim, chegamos no apartamento e as apanhamos Estela estava magnífica com uma coroa de flores, um shorts jeans simples e uma blusa branca meio rendada.

Enquanto babava na Estela percebi que Gabriel babava na Lara.

A loira não estava para se jogar fora, um vestido curto que deixava a mostra suas belas pernas e um olhar que parecia inocente (não sei como) essas mulheres e suas maquiagens...

Enfim, fomos para a festa, eu fui no meu carro com Estela e Gabe foi com Lara no seu novo.

–Então, que carro é aquele? –Estela tentou puxar conversa, sei que ela adora carros.

–O que eu dei para ele.

–Você comprou um carro para ele? –Ela claramente estava indignada com isso, porque é tão difícil acreditar?

–Bom, ele é meu melhor amigo, estava tendo que emprestar o meu para ele, então aproveitei a oportunidade para comprar um para ele.

–Você é louco. –ela riu baixinho, eu entendo que normalmente não se dão carros para as pessoas, mas ele já me deu um carro, de presente por tirar a carteira.

–Bom, nós chegamos, a festa está meio desorganizada... –Estela me deu um tapa pela brincadeira, afinal, a festa estava imperdível e maravilhosa.

–Como você sabe fazer festas??

–Você acha o que? Eu morava em NY meu querido, as melhores festas do mundo ocorrem lá, bom, eu como boa cidadã comparecia a maioria –disse isso, me deu um sorriso travesso e eu a perdi de vista pela multidão.

Pude finalmente observar melhor o local, a praia era linda de dia, mas naquela noite se superava, toda comida estava em uma tenda, toda bebida em outra tenda e ainda tinha um quiosque-bar para quem gostasse de bebida se servir lá, mas elas não fugiam do clima, todas estavam coloridas e em copos incríveis (que depois eu irar levar para casa, agora quero um porta canetas tipo aquele).

(N/A: Os copos: http://1.bp.blogspot.com/-YTx499MMcJg/UADUZqUdciI/AAAAAAAAADA/EXLsn5Lm-yA/s1600/tumblr_lxll4b9R8l1r8470so1_500_large.jpg)

A maioria das meninas estavam como Estela e Lara, ou shorts e camiseta ou vestidos, eram poucas as que estavam só de biquíni, os meninos, praticamente todos sem camisa, então eu e Gabe olhamos um para o outro (sei lá aquele olhar do tipo: “ta pensando o mesmo que eu?”) assentimos e tiramos nossas camisas, que ficarão no carro, gosto daquela estampa.

Gabe estava super a vontade com a roupa dele, imagina como ficou sem.

Ele parecia um babuíno boboca, pulou no meio de todo mundo, todas as vezes que eu olhava para ele, tinha uma garota junto, o que era engraçado, pois quando esquentava ela levantava e deixava ele lá de pau duro por nada.

Ri muito, depois lembrei da Estela.

A encontrei conversando com o matleta estranho.

Só que ele saiu do papel de matleta, ele estava sem os óculos (provavelmente lentes), uma bermuda meio caída (não tipo rapper), ela provavelmente só escorregou e ele não quis arrumar e estava com uma camiseta (um dos poucos na festa assim) laranja.

Passei reto por eles, achando que Estela não me veria, missão impossível.

–Jay! –ela chamou mais alto do que Gabriel cantando (foi armado um palco durante a festa e todos podiam subir e cantar se quisessem, Gabe estava na sexta música, ele não deixou ninguém subir no palco, alegando que “o aniversário é meu, então quem dá show hoje sou eu”, agora ele estava cantando Lady Gaga, eu até filmei ele dançando, céus, quando ele ficar sóbrio vai querer me matar).

–Falae Estela e?...

–Mathew. –ele disse o mesmo nome que eu usei um Jersey, isso foi como um soco no estomago, mas tentei não deixar transparecer, afinal, aqui é o Hawaii.

–Já nos conhecemos né? Você fez aqueles gráficos comigo?

–Sim, legal rever você James.

–Igualmente Mathew, preciso ir, vou ver se um dos músicos quer curtir a festa.

E foi o que eu fiz, mas só depois de pegar uma menina muito linda de biquíni, não me preocupei em perguntar o nome, afinal, aquilo era uma festa...

Subi no palco (depois de pegar a guitarra com o guitarrista) e comecei a tocar Talk Dirty (me julguem u.u), eu e Gabe cantamos a musica olhando para garotas gatas estrategicamente posicionadas na frente, beijei algumas delas, sussurrei “Talk Dirty to me” no ouvido de outras, e se você acha que Gabe estava horrorizado com a música, errou feio, ele teve de parar de cantar a musica no meio para ir pegar uma mina da platéia que deu um jeito de subir no placo e começou a beija-lo.

No fim dessa musica comecei a tocar Timber, sorri minimamente com aquilo, procurei Estela com os olhos e a chamei para vir cantar comigo, ela fez que não, então eu desci do palco e a arrastei até lá carregando-a como um saco de batatas.

Quando larguei ela no chão, levei um tapa (não como se eu já não tivesse esperando) e ela tomou o microfone da minha mão, cantando comigo, desça vez, me comportei descentemente (sqn #sonhamundo) fiquei fazendo cosquinhas na Estela a musica toda, e quando acabou a beijei.

O que aconteceu não estava no esperado.

Ela não me empurrou para depois me bater, ela retribuiu.

A ESTELA RETRIBUIU MEU BEIJO.

Bom, acabou a música, eu carreguei ela até a areia e agente ficou se beijando lá.

Amanha eu me importo com isso.