Encontro Gelado escrita por Carszl


Capítulo 1
Capítulo 1 - EDIT


Notas iniciais do capítulo

CAPITULO EDITADO: fiz uns ajustes, não mudou a linha da história, mas alterou alguns detalhezinhos interessantes...

Olá pessoas! Eu tive essa ideia depois que vi uma fanart do Loki comendo um cerebro humano, então não se surpreendam se encontrarem alguma esquisitice. Mas, então... Me pareceu meio tentador fazer do Loki um jotun selvagem, meio amoral se envolver com o alguém "civilizado" como o Thor. PS: gostaria de ressaltar que a personalidade do lokitu pode estar um pouco desviada da original, já que ele perdeu o conceito básico do "meu pai n me ama, da mais atenção pro meu irmão besta com cerebro de noz".



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Já distante da gruta, Loki parou a onde estava e se virou, olhando por cima do ombro. Detrás das longínquas cordilheiras congeladas ao norte, uma friorenta nevasca soprava incessantemente, limitando seu campo de visão com rajadas de neve agressivas. Estreitando os olhos vermelhos, entretanto, ele avistou uma pequena figura distorcida correr com dificuldade sobre a neve espessa, vindo diretamente ao seu encontro.

Como tudo o que se movia em Jotunheim, principalmente naquele raio de clima, representava uma ameaça em potencial, ele se preparou: abaixou-se e, com uma de suas mãos, materializou um longo e pontiagudo punhal de gelo.

Mas, conforme se aproximou, ouviu da figura um uivo distante, melancólico, porém familiar. Relaxando os ombros, soltou um suspiro irritado, dissolvendo a adaga em sua mão com um gesto simples.

No limite de seu fôlego, o que parecia ser um lobo monstruoso, de dentes e garras avantajadas, músculos proeminentes e porte considerável, surgiu no meio da tempestade.

Embora notavelmente abatido pela nevasca, a criatura aterrorizante de pelagem azul-esbranquiçada alcançou Loki rapidamente, saltando com entusiasmo sobre a neve e, de brincadeira, batendo sua enorme cabeça ao encontro do tórax do jotun, que quase caiu para trás.

Loki resmungou, atordoado pelo impacto descuidado.

– Fenrir! O que esta fazendo aqui? – perguntou, aborrecido – Volte agora para a caverna ou vai congelar ate a morte, seu tolo!

Fenrir, entretanto, tinha outros planos, pois apenas o observou com seus grandes olhos de íris brancas e pupilas pulsantes, sacudindo a cabeça coberta de neve.

Impaciente e mal-humorado, Loki o empurrou para trás. A criatura, relutante, deslizou as pernas musculosas sobre a neve e levantou a mandíbula, soltando um de seus latidos monstruosos, que para o jotun não passavam de euforia inocente.

– Que foi? – perguntou, desta vez num tom desconfiado.

Fenrir ganiu, recuando e girando o corpo nervosamente enquanto tentava agarrar o próprio rabo felpudo com a boca, o que não foi difícil dada às dimensões do membro. Loki franziu o cenho e o apanhou das laterais daquela grande cabeça quanto teve a chance, forçando-o a parar com o frenesi desnecessário.

– Qual é o problema, Fenrir? O que você viu?

E como quem ansiasse por aquela pergunta, Fenrir puxou sua cabeça para trás e saltou para longe das gélidas garras de seu mestre, baixando as patas dianteiras e empinando o traseiro. Abanou o rabo e latiu mais uma vez antes de dar a volta e correr em disparada, levantando uma nuvem de neve no processo. Reconhecendo o típico sinal de que encontrara algo, Loki correu desajeitadamente atrás dele.

– Fenrir! – chamou, mas o lobo não ouviu.

O monstro só cessou sua corrida quando, enfim, chegou a um pequeno penhasco congelado, relativamente próximo a caverna que ambos se abrigavam. Ele olhou para baixo, mostrando os dentes pontudos enquanto rosnava em silêncio. Loki agarrou seu manto de pelos brancos e se aproximou da ponta do penhasco. Observou Fenrir por um instante antes de seguir seus olhos vibrantes.

Lá em baixo, atolado no meio da neve alta, avistou uma figura caída de bruços, imóvel, com uma longa capa vermelha brilhante esvoaçando, lutando para se soltar e juntar-se à tempestade.

Loki arregalou os olhos e encarou Fenrir, perplexo, como quem esperasse uma resposta. O lobo, contudo, não retribuiu a atenção.

– O que é aquilo? – o jotun murmurou mais para si mesmo, curioso, inclinando o corpo para frente.

Da distancia em que se encontrava e dada às condições climáticas pouco favoráveis, parecia ser apenas mais um cadáver deixado para trás. Após uma tempestade de neve como aquela, era comum encontrar criaturas feridas ou mortas largadas por ali.

Porém aquela capa vermelha não podia pertencer a um animal selvagem, muito menos um jotun. Jotuns não vestem capas vermelhas como aquela, pois estas chamam muito a atenção, e isto é tudo o que se procura evitar num mundo onde tudo o que é vivo está tentando de alguma forma te matar.

Seja lá o que fosse aquela coisa ou que tipo de perigo ela tinha a oferecer, Loki não resistiu à tentação de olhar um pouquinho mais de perto.

Tinha a assustadora sensação de que estava caindo numa armadilha, mas para alguém que não tinha sucesso numa única caçada há dois dias e vinha suportando seu estômago se contorcendo dolorosamente de fome, pensar em descartar uma fonte fácil de alimento, este apodrecido ou não, parecia loucura.

Não que ele gostasse de devorar uma carcaça congelada, porque não gostava.

Saltando do penhasco, Loki caiu e afundou os pés sobre a neve macia. Fenrir o seguiu logo atrás, cabreiro e silencioso.

Sorrateiramente, o jotun se aproximou da criatura imóvel, conjurando desta vez duas adagas de gelo afiadas, uma em cada mão.

Circulou a carcaça como um predador diante de uma presa, a observando com olhos atentos e desconfiados, pronto para fatiá-la em pedaços a qualquer movimento oportuno.

Mas depois de cutucá-la repetidamente com a ponta de uma das adagas e não obter qualquer tipo de reação, o jotun relaxou, diminuindo a tensão de seus ombros.

Esta morto, pensou.

Enfiando um de seus pés debaixo do corpo inconsciente, Loki o empurrou com força, fazendo-o rolar na neve.

Ele não escondeu o espanto em sua face com o que sua “comida congelada“ se revelou ser.

Não parecia com nada que tivesse visto antes. Quer dizer, não era tão diferente dele assim... Ou era?

Céus, aquela coisa era tão estranha!

Lembrava de fato um jotun, mas a cor da pele não era azul escura, nem tinha qualquer tipo de linha saliente... Era simplesmente clara, um pouco rosada, lisa e sem graça como a de um lobo pelado. Os cabelos compridos escorriam para o lado, contornando o ombro e se dispersando no chão enevoado. Cada punhado de fios era mais brilhante do que o outro. Alguns menores, porém não menos dourados se situavam, estranhamente, na parte inferior do rosto quadrado.

Loki baixou os olhos e franziu as sobrancelhas.

Que tipo de bicho em Jotunheim conseguiria ser tão... Exagerado?

Nunca tinha visto um jotun extremamente forte muito de perto, mas sabia bem que mesmo os membros mais atléticos de sua raça dificilmente chegariam naquele estado.

A criatura lembrava um balão. Os braços eram enormes, talvez feitos de músculo puro; o tórax volumoso e estufado como o peito de um galo-do-gelo; as pernas compridas e grossas.

Os trajes longos, encobrindo-o dos pés ao pescoço, ornados por estranhas armações metálicas e brilhantes de cor dourada.

Tão surreal que nem parecia pertencer àquele mundo.

Ou será que a aberração rosinha de cabelo cor-do-sol era algum tipo de híbrido de jotun com um monstro-do-gelo pelado?

Talvez uma criatura deformada e largada para morrer...

Como ele?

Loki balançou a cabeça e resmungou, quase como se aquela ideia inofensiva representasse um ataque pessoal de seu próprio inconsciente.

Tomando, porém, o fato como um incentivo para correr o risco a fim de saciar a curiosidade, Loki baixou à guarda e se agachou. Fenrir apenas grunhiu em desacordo.

Dissolveu suas adagas e estendeu uma mão para tocar os cabelos dourados, maravilhando-se com a textura macia. Depois migrou para o rosto peludo e, por fim, para o corpo, deslizando a ponta dos dedos com cuidado sobre as armações. Notou, entretanto, que ali, naquele amontoado de apetrechos que lembrava uma armadura, uma estranha estrutura serrilhada e de formato alongado, semelhante a uma faca, alojava-se entre as costelas ensangüentadas do bicho.

Já desfrutando da ideia de arrancá-la com um único puxão, foi impedido, pois impaciente, Fenrir latiu com fervor, trazendo seu mestre de volta a realidade.

O jotun virou-se para o lobo inquieto ao seu lado.

– Não sei se podemos comê-lo! Eu ainda nem cheguei a uma conclusão do que ele é! E se for venenoso? – perguntou. O lobo simplesmente rosnou em resposta.

Loki revirou os olhos vermelhos.

Ele se inclinou para agarrar os pulsos da criatura e arrastar seu pesado corpo até sua toca. Seu animal de estimação o perseguiu, saltitando e afundando suas enormes patas na neve branca, feliz em pensar que, naquela manhã, eles teriam algo a que finalmente preencher seus estômagos vazios e agonizantes.


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Notas finais do capítulo

Não deve ser nenhuma novidade para você que "Fenrir" é o nome de um dos filhos do Loki na mitologia escandinava. Nos quadrinhos ele aparece umas 61236125371 vezes de jeitos diferentes em AUs ou algo assim. É mó sem graça. Bem, não custada nada deixar a referencia explicita...