Depois de uma maratona de quase três horas de programas idiotas de culinária e muitos pacotes de batatinhas calóricas roubadas diretamente da despensa maravilhosa de Craig, nós finalmente estávamos voltando para casa.

Boa parte das ruas já estavam cobertas pela neve naquela hora e o vento frio parecia cortar minha pele. Christopher caminhava em completo silencio ao meu lado, mantendo as mãos enfiadas dentro dos bolsos do seu pesado casaco cinza e o olhar perdido, ele parecia ter esquecido totalmente da minha presença ali.

Durante aqueles poucos minutos de sossego fiquei pensando no que o Christopher tinha feito mais cedo, bancar o amigo preocupado e encorajar Diane a ir falar como tal Mason com certeza não era o tipo de coisa que eu esperava que ele fizesse.

– Algum problema? – Chris perguntou, irrompendo o silencio entre nós e me pegando de surpresa. Mirei um ponto qualquer a minha frente, tendo plena consciência da vermelhidão presente em minhas bochechas.

– Não. – eu respondi rápido demais sem saber se era possível corar ainda mais.

– Tem certeza? – ele tentou outra vez, abrindo agora um meio sorriso divertido que fez algo dentro do meu estomago se revirar. Christopher Wright obviamente não fazia ideia do quanto era bonito. Balancei a cabeça de um modo afirmativo e ele me olhou, arqueando uma sobrancelha. – Então você ficou esse tempo todo me encarando com essa cara de boba sem motivo algum?

– Christopher! – reclamei em alto e bom som, cruzando os braços em seguida como se fosse uma criança birrenta. Ele revirou os olhos e riu, deliciado com o meu constrangimento.

Ele resmungou alguma coisa ininteligível de forma extremamente impaciente e eu desviei o olhar.

– Tudo bem. – murmurei baixinho, sem saber exatamente de que maneira eu deveria dizer aquilo. – Foi muito legal aquilo que você fez pela Diane hoje.

– Eu sei. – ele respondeu convencido, observando-me de soslaio. – Isso significa que eu ganhei alguns pontos com você? – Christopher perguntou, me pegando de surpresa.

– Você está tentando ganhar pontos comigo? – rebati, ignorando a sua pergunta anterior. Afinal, qual era o problema desse cara?

– Talvez. – disse ele. – E pela sua cara de surpresa, acho que ganhei vários.

– Você é bipolar. – murmurei, apressando o passo e tentando me livrar dele. – E estranho.

– Obrigado. – ouvi ele responder.

Cinco minutos foi o tempo necessário para chegarmos ao nosso alojamento fedorento e bagunçado. Luke estava parado na porta, usando apenas uma bermuda folgada que deixava boa parte da sua cueca boxer azul exposta, conversando com uma garota alta de cabelos cacheados. Apertei os lábios enojada assim que reparei no que ela vestia, o uniforme de torcida minúsculo que horas antes estava jogado no chão da sala junto com um conjunto de roupas íntimas.

Ela sussurrou alguma coisa no ouvido do loiro antes de colar a boca na dele, começando um beijo que deveria ser considerado, no mínimo, obsceno.

– Isso foi nojento. – Christopher comentou em voz alta quando eles se afastaram. A morena revirou escuros os olhos entupidos de lápis preto, e delineador e saiu rebolando na direção oposta sem dizer nada.

– Chris e sua incrível habilidade de afastar mulheres gostosas. – Luke lamentou assim que nós entramos em casa.

– Você pelo menos usou a sua cama dessa vez? – reclamou Christopher enquanto se apossava do sofá e do controle.

– Sim. – Luke disse, revirando os olhos. – Quantas vezes eu vou ter que te pedir desculpas por isso?

– Não quero as suas desculpas. – Chris imediatamente respondeu. – Mas aceito uma cama, travesseiros e lençóis novos.

Luke bufou irritado antes de dar meia-volta e se enfiar dentro do próprio quarto, me deixando sozinha com o demônio. Christopher tinha passado os últimos cinco dias agindo como um completo babaca implicante, no entanto, havia algo de diferente nele hoje.

– Foi muito ruim? – Christopher perguntou de repente, me deixando confusa.

– O quê?

– Passar o dia todo comigo. – ele explicou, ainda com os olhos fixos no episodio de The Big Bang Theory que passava na televisão. Realmente, não tinha sido assim tão ruim passar o dia com ele, Craig e Diane, mas eu não precisava admitir isso em voz alta.

– Não. – eu me limitei a responder.

– Bom saber. – disse ele, esboçando um meio sorriso contente.

Pisquei algumas vezes, incrédula. Se eu soubesse que apenas algumas cervejas eram necessárias para melhor aquele humor quase insuportável de Christopher, eu com certeza o teria arrastado pelos cabelos para o bar da esquina na primeira oportunidade.

Chris puxou o maço meio vazio de dentro do bolso da calça assim que me viu levantar do sofá e levou um dos cigarros até os lábios enquanto procurava pelo isqueiro no outro. Pelo visto certas coisas ainda precisariam de muito tempo para mudar.

Tomei um banho demorado e coloquei roupas quentes e mais confortáveis. Diane estava jogada na outra ponta do sofá com um sorriso bobo no rosto, digitando freneticamente alguma coisa no celular quando eu saí do banheiro.

– Acho que alguém se divertiu hoje. – eu disse em voz alta, atraindo a sua atenção. – Como foi o encontro?

– Legal. – ela disse, constrangida.

– Legal? – Christopher repetiu. – Vocês passaram a tarde toda juntos e foi só legal?

– Você não tem outra pessoa para perturbar? – Diane resmungou, revirando os olhos. Ele fez uma cara emburrada e eu ri.

– Heather e eu estamos em paz por enquanto, e Luke já deve estar dormindo. – Chris respondeu. – Só sobrou você.

Diane arregalou os olhos.

– Isso é verdade? – ela perguntou, ainda surpresa com a resposta dele.

– É. – respondi, dando de ombros. Eu não tinha certeza se essa trégua entre nós iria durar, mas Christopher com certeza sabia como me surpreender.