Cigarettes escrita por Laris


Capítulo 4
III - Cara sádico


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a todos comentaram no capítulo anterior e espero que gostem desse.



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Hoje era mais um daqueles dias em que eu acordava incrivelmente atrasada, me arrastava até o banheiro e perdia alguns minutos nada prazerosos debaixo do chuveiro frio, tentando espantar a vontade de correr de volta para a cama e dormir o resto do dia.

Enrolei a toalha azul felpuda no corpo e saí de dentro daquele cubículo desconfortável onde nada funcionava direito, inclusive aquela maldita porta, voltando ao quarto e vestindo a primeira roupa decente que eu consegui achar dentro do meu armário recém arrumado. Diane continuava babando em cima dos próprios travesseiros enquanto resmungava coisas ininteligíveis e se embolava ainda mais nos lençóis coloridos.

Conferi o horário uma última vez antes de pegar a mochila e sair do alojamento, disparando pelos corredores já cheios da universidade até encontrar a sala certa.

O homem gordinho que estava sentado atrás da mesa de mogno me lançou um olhar feio assim que eu passei pela porta, interrompendo o início da primeira aula do dia. Larguei a mochila no chão, sentando em uma das cadeiras livres do fundo, perto da janela e bem atrás de uma garota de cabelos coloridos que dormia profundamente em cima do próprio braço.

Eu mal prestei atenção no que o Sr. Winters tentou explicar durante aqueles cento e vinte minutos de tortura, e quando ele fez o favor de nos dispensar, eu me apressei porta afora, sem ter nenhuma anotação no caderno, e fui em direção ao lugar responsável por me alimentar durante os próximos quatro anos de faculdade.

Sinceramente, eu gostava de acreditar que a culpa não era minha se o meu cérebro se recusava a trabalhar antes das onze horas ou do café da manhã. Que, por falar nisso, eu não tinha tido tempo de tomar.

Encontrei Diane sentada em uma mesa meio afastada das outras, junto com Christopher e uma garota ruiva que eu ainda não conhecia. Arrumei a alça da mochila pesada sobre o ombro esquerdo, e atravessei a multidão de alunos desconhecidos que se empurravam de um lado para o outro, indo até o grupo.

– Até que enfim você apareceu. – Diane gritou assim que eu ocupei o lugar ao seu lado. Christopher bufou irritado, arrumando a touca cinza sobre os cabelos escuros enquanto me fuzilava com o seu olhar quase assassino. – Como foi a aula?

– Entediante. – resmunguei, ignorando aquela criatura maligna e suas íris castanhas assustadoras.

– Bem-vinda à faculdade. – ela soltou risada alta antes de apontar o polegar para garota ruiva de óculos gigantes. – Heather, essa é a Lorie. – o rosto sardento dela ficou quase da mesma cor dos seus fios vermelhos e eu precisei prender o riso. A garota ruiva abriu um pequeno sorriso tímido e eu me forcei a fazer mesmo.

Eu realmente estava precisando aprender a me socializar com as pessoas.

– Então, qual o prato do dia? – perguntei, encarando a comida intocada no prato da minha colega quarto.

– Carne desconhecida, acompanhada de arroz branco e purê de batatas. – ela deu de ombros.

– Parece ótimo. – ironizei.

Eu não conseguia decidir o que era pior, aturar a presença agradável de Christopher à mesa ou ter que obrigar meu estômago a digerir aquela coisa tóxica que a mulher baixinha de avental cor–de–rosa estava servindo hoje.

– Apenas se você não liga para o gosto ou aparência do que engole. – ele murmurou, revirando o bolso da sua mochila surrada e cheia de bottons coloridos e tirando de lá um pacote de cigarros fechado.

– Você não pode fumar aqui dentro. – murmurei entre dentes, controlando a minha repentina vontade de afundar o punho naquele rosto bonitinho.

– Não posso? – Christopher perguntou com indiferença, arqueando a sobrancelha direita e me lançando um meio sorriso torto. – Me observe. – Christopher abriu o pacote e levou um cigarro até os lábios finos, o acendendo com o seu ridículo isqueiro personalizado em seguida.

– Você quer perder outro casaco, Christopher? – questionei-o. Chris cerrou os olhos na minha direção, expelindo uma quantidade considerável daquela fumaça nojenta pelo nariz. Ele havia feito a mesma coisa ontem à noite, não xingou, gritou ou esboçou alguma reação preocupante, apenas continuou parado lá, me observando estragar a sua roupa.

Lorie riu baixinho quando ele se levantou da nossa mesa, e saiu andando em direção à saída do refeitório sem dizer uma palavra sequer ou expressar qualquer reação.

– Não se anime. – Diane disse. – Ele com certeza está planejando a sua morte.

– Como você sabe? – a ruiva retrucou, curiosa.

– Por favor, é do Christopher que nós estamos falando. – ela respondeu, revirando os olhos. – Acredite em mim, ele é o tipo de cara sádico que espera o momento certo para ferrar alguém. – Diane acrescentou e eu engoli em seco, incapaz de formular alguma resposta boa.

– Agora eu sei o porquê da sua colega de quarto ter ido embora daquele jeito. – Lorie comentou, tirando os óculos de grau do rosto e puxando a barra da camisa para limpar as lentes.

– Lorie! – Diane reclamou, virando-se para o lado e acertando um tapa estalado no braço esquerdo da ruiva esquisita.

– Desculpa. – ela murmurou constrangida, encolhendo os ombros e esfregando a parte da pele que estava meio avermelhada.

Franzi o cenho em total confusão.

– De que jeito? – perguntei.

Diane mordeu o lábio inferior, assumindo uma postura seria e desconfortável.

– Não é nada de mais. – explicou, apertando os lábios em uma expressão irritada e correndo os dedos pelo cabelo loiro em um claro gesto de nervoso. – Agora nós podemos mudar de assunto?

– Claro. – respondi, ainda desconfiada. Aparentemente esse era mais um assunto proibido que eu teria que descobrir sozinha.

Depois disso, Lorie e Diane começaram uma conversa tranquila sobre as aulas experimentais da universidade que durou até o fim do nosso curto intervalo. Ainda tentando imaginar o que tinha acontecido com a antiga colega de dormitório da loira, eu levantei da mesa e me despedi das duas, sem nenhuma vontade de ir para a próxima aula.

Christopher estava parado do lado de fora do prédio, no meio de um pequeno grupo de garotos que riam de forma despreocupada enquanto ele terminava o seu maldito cigarro.


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Notas finais do capítulo

Então, esse capítulo demorou mesmo, sem pedras. Eu revisei o capítulo, mas se tiver algum erro me avisem por favor.

Não sei se vocês perceberam, mas tava aparecendo que a historia estava sendo atualizada varias de uma vez e nem todos os reviews eu conseguia visualizar e responder, então eu exclui a minha outra conta e passei a fic pra essa, espero que agora não tenha mais nenhum problema.