Senti a água me escorrer pelo rosto e costas. O lugar, não reconheci. Um chuveiro? Impossível, a água me estava na cintura. Quem sabe uma piscina? Não, não explica a água caindo. Uma cachoeira talvez? O mais provável até agora. Mas porque eu estava lá? Não fazia idéia.
Senti alguém se aproximando. Era um homem. Abraçou-me e começou a me beijar. Não apresentei resistência, retribui ambos. A cada momento ficava mais intenso. Minha franja, um tanto longa, ficava sobre meu rosto, dificultando o contato.
Seus movimentos eram ousados, sua língua passava por meus lábios, pescoço e peito, enquanto suas mãos me desciam quadril abaixo. Suas mãos haviam alcançado minhas coxas, pressionavam-nas forte. Sua boca descia por minha barriga. Estremeci, meu corpo ficou mole. Agachei me colocando completamente submerso.
As mãos dele subiam novamente, segurando em minha cintura. Subi para retomar o ar, mas fui impedido por ele. Tentei novamente, mas, foi em vão. O ar me havia acabado completamente e, eu, à beira do desespero, pensei que morreria afogado. Ele ria, se aproximando novamente, me beijou. Retribuindo o beijo, notei que não precisava de ar. Mas em meio à água? Ignorei esse fato e continuei lá. Puxou-me para si e colou meu corpo ao dele, enlaçando-me pela cintura. Senti cada parte de seu tronco no meu. Suas mãos me acariciavam delicadamente.
Suas pernas se encaixavam entre as minhas. Uma sensação boa me cobriu o corpo desejando que aquele momento não tivesse fim. Quebrando o beijo, sorriu para mim e me puxou de volta para a superfície. O ambiente não parece ter passado um minuto sequer, mas longos minutos se passaram para nós. O ar me parecia diferente, talvez por causa do tempo submerso, não sei.
Abracei-o deitando minha cabeça em seu ombro. Olhei mais atentamente e percebi que aquele corpo não me parecia estranho. Elevei a cabeça e olhei seu rosto. Um susto e quebrei o abraço. Não acreditei que era aquela pessoa que estava junto de mim. Distanciei-me. Um passo em falso foi o necessário para que eu ficasse submerso novamente. Não me preocupei com o ar, pois antes já tinha ficado mais tempo que o normal. Desesperei quando vi que respirar agora estava impossível e que eu iria me afogar. Tudo ficou escuro.
* * *
Dormia tranquilamente quando comecei a me mover bruscamente. Algo me inquietava, mas o que, não saberia dizer. Num pulo acordei e me sentei na cama. Levei a mão à altura do peito e apertei minha camisa. Respirava ofegante. Ainda em choque, encostei-me à parede trazendo as pernas próximas ao tronco, abraçando-as. Escorei a cabeça nos braços. Uma lágrima me escapou e me escorreu pela bochecha. Porque? Não conseguia pensar em outra coisa. Porque? Porque ele tinha que ir? Logo agora...
Com certa dificuldade, consegui adormecer novamente, mas este não durou muito. A imagem dele não me saia da cabeça. Na falta de sono, fiquei deitado. O punho fechado forçava a coberta amarrotando-a.
Sem que percebesse, adormeci. Algumas lágrimas secas me irritavam o rosto, atrapalhando o sono. Perturbado com elas, acordei novamente. Olhei o relógio, poucas horas haviam se passado. Cansado da cama, levantei e fui em direção a algum lugar da casa. Acabei voltando com um copo de água na mão.
A falta de opções me obrigou a deitar novamente. Deitei-me de lado com a coberta à altura da cintura. O efeito do sonho já havia passado, um pouco. Fechei os olhos na tentativa quase inútil de adormecer. Um pequeno ruído me distraiu de meu pensamento distante, mas não foi interessante o suficiente para minha atenção querer se focar nele. Isso até eu sentir algo mexer em minha cama. Virei-me na hora para ver mas minha visão foi impedida por uma camada levemente úmida de cabelo que guardava um rosto familiar por trás.
"Não precisava chorar tanto por mim" foi oque ouvi quando o ser se distanciou, mostrando completamente seu rosto. "Eu disse que voltaria". Impedindo-o de terminar a frase, enlacei seu pescoço com força, fazendo-o implorar para parar. Não conseguia esconder a felicidade. Desfiz o abraço e o encarei. Meus olhos se enchiam novamente com lagrimas. Ele ria de mim, mas eu não me importava. Aproximou-se, segurou em meu rosto e me beijou. A mesma sensação boa que tive antes se repetiu nesse momento. Não resisti. Puxei a blusa dele fazendo com que se deitasse comigo. Quebrei o beijo. Agarrei-me à camisa dele e colocando a cabeça na altura da mesma. Fechei os olhos. Senti os braços dele me envolvendo. Sorri. Ele sorriu de volta, eu sentia isso. Pela primeira vez na noite senti que poderia dormir com calma e de verdade. E foi isso oque eu fiz. Adormeci, depois de muito tempo, com aquele que amo, sem ter que me preocupar com imprevistos.
