Um mundo além do mundo escrita por Lobo Alado


Capítulo 8
O peso da coroa


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo sobre Nasuada bem curto
Apenas para amenizar e não sobrecarregar os proximos capítulos, desculpem pela demora
tentarei não demorar tanto.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/506861/chapter/8

— Minha Rainha, O líder Urgal Nar Garzhvog aguarda o consentimento real para tratar das questões de sua ultima viagem. – Disse o mensageiro rapidamente, como se precisasse que cada palavra demorasse menos de um décimo de segundo para ser dita.

— Mande-o entrar. – Exigiu ela com a voz menos rígida, quase deliciada. Garzhvog era como um terceiro olho do império... Um olho mais real, que enxergava coisas que estiveram diante dos narizes de todos os lordes, mas que jamais iriam compreender. O motivo disso, era que o Kull era mais do que alguém eficaz, mas um ser animalesco e inteiramente vivo. Os lordes entendia de táticas e estratégias, assim como entendiam de manter as pessoas confortáveis em suas cidades, mas Nar Garzhvog entendia de vida, de sensações, e da violência que ameaçava o império como se houvesse provado com a língua.

O mensageiro abriu a porta dupla e postou-se ao lado da entrada com as mãos coladas no corpo, em uma posição ridiculamente vertical. O grande Kull abaixou a cabeça para poder entrar. Depois de dentro, levantou-a, pondo-a para trás, como se olhasse para cima, e levou a mão, em punho, ao peito – Símbolo de respeito entre os Urgals, por os chifres para trás.

— Minha Rainha, Caçadora noturna. – Disse ele com sua voz grave. Nos pulsos tinha grotescos braceletes de ferro cinzento, e  presa a cintura tinha uma espada desgastada. Seu rosto não era o mais amigável, seus cabelos soltos estavam maiores que da última vez, e mais selvagens.

— Nar Garzhvog – Ela fez a mesma reverência com a cabeça. Não tinha chifres, mas gostava de fazê-lo sentir-se mais confortável e familiar diante dela. – A que devo a honra?

Ele cerrou os olhos amarelos, franzindo ligeiramente o nariz, e bufou. Depois de uma pausa que não revelava nada, abriu um saco de pano, e de lá retirou uma cabeça de Urgal em decomposição, com os chifres arrancados.

Ela ergueu as sobrancelhas, surpresa o quanto a conveniencia permitia que ficasse. Em outra ocasião, Nasuada teria contestado aquilo, mas conhecia a cultura dos urgals, e não mostrou aversão.

— E de quem seria esta cabeça? – Perguntou ela calmamente.

— Este era o comandante dos Urgals rebeldes, minha Rainha. – Disse ele de cabeça erguida. – Muito ainda não está endireitado... Muitos ainda atormentam a vida no Império, minha Rainha, mas eu prometo que eles não respirarão mais. Nosso pacto vai permanecer. – Por fim ajoelhou-se.

— Levante-se, Nar. – Disse ela ligeiramente, mas doce. – Você o ofereceu rendição? – perguntou quando ele levantou.

O líder inclinou discreta e milimetricamente a cabeça com os grandes chifres.

— Confesso que não, minha Rainha. – Respondeu olhando para o chão como olhava para todas as coisas, com o olhar cerrado de uma ferocidade destinada ao grande tudo. – Mas... minha Rainha... veja quantos eles mataram.

— Quantos você matou antes de aliar-se a mim, Garzhvog? – Ela não deveria contestar a maneira como o líder agia com os próprios Urgals, a final, era sua própria raça, mas acima de tudo, ela gostava de aconselhar, onde lhe cabia uma opinião, sem exceções.

— Sim, minha Rainha – Ele ajoelhou-se novamente. – Não prometo que mudarei, mas prometo-lhe que farei tudo pensando no melhor para o Império, e para nossa aliança e amizade.  

— Contudo, você me serviu bem, Garzhvog. – Disse, deixando que as palavras do Kull morressem nos pensamentos dele. – Talvez seus serviços aqui em Ilirea estejam dispensados.

Ele olhou-a sobressaltado, pela primeira vez.

— Então poderei voltar à espinha, minha Rainha? – Perguntou.

— Se desejar.

A satisfação no rosto do Kull era visível, ainda que misturada com toda aquela ferocidade que não parecia um sentimento, mas algo que envolvia todos eles.

— Então partirei. – Respondeu ele com um sorriso leve, mostrando suas presas amarelas. – Quando precisar saberá onde me encontrar. Foi bom revê-la, minha Rainha, Caçadora noturna. – Com essas palavras virou-se e saiu da sala causando tremores a cada passo.

Ah... “minha rainha”... “minha rainha”, e eu achava ruim "Lady" Pensou ela.

Nasuada estava entediada. Nada a alegrava, muito menos aquele gordo menino-gato balançando o rabo preguiçosamente, esperava que Roran chegasse a menos de três dias, até lá, continuaria sentada, ela sabia... mesmo que o futuro fosse incerto. Mas mesmo em tanta incerteza, ela sabia que seria um futuro incerto com ela sempre sentada no trono.

Pelos janelões, os raios de sol da manhã entravam, junto com o barulho de toda a cidadela e da cidade. Os gritos dos comerciantes, o tinilar de espadas, carruagens passando... Já viraram rotina há muito.

Um estrondo vindo da porta a chamou dos pensamentos com inconveniência. Nasuada tremeu de um jeito engraçado, inevitavelmente.

Observou um tanto furiosa e envergonhada um grotesco e gigante animal entrar pela porta do grande salão.

— Não, Gorjar! Tome mais cuidado, desastrado. – Disse uma garota de cabelos escuros, lisos, que lhe caiam pelas costas como uma cachoeira negra. Suas roupas era um estranho vestido negro suave que parecia não ter a luminosidade normal quando atingido pelos raios da estrela da manhã. Seus olhos violetas olhavam para Nasuada como se pedissem desculpas... Ou algo equivalente a isso para a Visionária.

Eram Elva, a feiticeira, e seu "bichinho" de estimação, Gorjar, Um urso gigante que ela pegara nas montanhas Beor. O urso era maior que qualquer outro animal – A não ser os dragões – que ela já vira, talvez tivesse sete metros de altura. não era um urso comum, Gorjar tinha o pelo preto, de textura parecida com o do vestido da dona, os olhos violetas como os de Elva. Seu focinho era mais fino que o de um urso gigante normal, seus braços eram de amedrontar qualquer um.

— Elva - Resmungou a Rainha – Tire essa criatura daqui.

Gorjar grunhiu.

— Nasuada, me desculpe. – disse ela ignorando a ordem. – Só vim para avisar que estou partindo. – Sorriu inclinando a cabeça para o lado, numa posição adorável.

— Partindo? Mais uma viagem? – Questionou a Rainha.

— Tive um... – Ela fez uma pausa, olhando para o nada. –  pressentimento... – Completou ela com os cenhos franzidos, como se surpreendesse-se com o que ela mesma dizia. – Preciso fazer algo importante.

Era esquisito saber que a feiticeira tinha conhecimento de tudo que ela estava pensando, que tinha conhecimento do que todo mundo estava pensando. Nasuada apenas assentiu devagar, conseguindo um sorriso discretamente gentil para a dos olhos violetas.

Elva sorriu.

— Até mais. – Fez uma reverência teatralmente ridícula. – Quando precisar de mim, eu saberei.

Saiu da sala com rapidez, mas conseguindo não transmitir nenhuma pressa. Seu urso a acompanhou.

Mais uma das viagens da feiticeira. Que tipo de pressentimentos a obrigariam fazer uma viagem? Era a pergunta que Nasuada já se acostumara a não alimentar.

A Rainha olhou para o menino gato que balançava a cauda mais lentamente que de costume. Fechou os olhos e escutou o barulho de sua vida... carruagens, gritos de vendedores ambulantes e o tinir de espadas.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá, novamente! Bem é isso que eu tinha para dizer, espero que tenha sido legal para vocês...
Eu amo este capítulo, pois é o surgimento de uma personagem que sempre me alegrou, por vários motivos pessoais e de visões delirantes do mundo. Falo de Elva.
Obrigado por acompanhar leitor!
Até o próximo capitulo.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Um mundo além do mundo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.