Um mundo além do mundo escrita por Lobo Alado


Capítulo 40
Uma conversa sob a luz do diamante


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus amigos... Estamos de volta, como prometido!
Eu apreciei este capitulo ainda mais que o anterior, e sinto-me orgulhoso disto, tendo sido o outro um capítulo o qual delirei-me.
Bem, espero, como sempre, agradar todos você como agradei a mim mesmo.
Boa leitura, nos vemos lá em baixo!



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O céu vinha em relâmpagos abscindentes e muito azuis, como o fundo do mar sob a potente luz do sol. Podia sentir as pontas dos dedos queimadas por uma superfície viva. Uma força expandia em seu corpo, causando uma pressão incômoda, como se estivesse em uma lenta explosão. As suas costas suavam e os membros formigavam.

Ele vidrou os olhos, e por um confuso tempo não conseguiu normalizar suas pálpebras. Suor acumulava-se ao redor delas e os pulmões pararam por um instante. Quando voltou a si foi com um choque abrupto que fez suas costas desgrudarem e os olhos irem de encontro ao horizonte, o deixando sentado e arfando.

A primeira coisa que Lemond notou foi o cajado de Brom embaixo de si. Franziu o cenho e levantou-se do túmulo do Cavaleiro. Olhou rabugento para o cadáver antes de virar-se, e só então lembrou-se do que acontecera. Tocou sua barriga, perplexo, e não conseguiu imaginar em nenhuma possibilidade que explicasse sua respiração e sua falta de sulcos na pele até avistar alguém despreocupado, sentado de costas para ele, amolando uma espada com delicadeza.

De ombros largos, um homem com porte, mas sua postura mostrava-se um tanto atacada. Os cabelos negros alcançavam as costas com dificuldade, e as mãos brancas eram ligeiras de um jeito arcaico e ajuizado, que lembravam muito ao rapaz as mãos de um ancião. A sua túnica preta tinha detalhes prateados delicados e sutis, porém desgastados.

Lemond sabia que sua vida se dividiria em duas metades distintas a partir dali, tudo o que vivera até aquele segundo, e tudo o que viria depois de por os olhos naquela figura sentada nas proximidades do túmulo de Brom.

Lemond caminhou até o homem, apreciando a ação de estar vivo, e parou a um passo, franzindo o cenho, sem saber o que fazer.

— Lemond Grorvan... – As mãos pararam de amolar. – Talvez eu tenha errado ao escolher você, você me custou trabalho... Sabe quanto tempo fiquei acordado para mantê-lo a salvo por causa de suas escolhas?

Lemond abriu a boca, perplexo.

— Eu não sei o porquê, mas acredito que isso faz de mim a escolha perfeita, não? – Lemond abriu os braços. – Fui uma preocupação tanto para Marbrayes quanto para meu pai, e então você... Se precisa de alguém do seu lado, esse alguém sou eu.

O homem gargalhou suavemente.

— Por que você deduz que preciso de alguém do meu lado? – Virou-se revelando um rosto magro e expressivo escondido por uma longa barba negra.

— Você provavelmente sabe por quê... – Lemond agitou as mãos na altura da cabeça. – Já que navega violentamente na minha mente... e sem permissão. – O rapaz cerrou os olhos e avaliou bem o rosto saudoso do homem. – Eu sinto, com a mais profunda ação de sentir, que você não vai me dizer quem é você. Sinto que não encontra com ninguém desde que começou a falar comigo... Não, estranho, você precisa fazer algo, estou certo? Algo grande e as escondidas. – Lemond arquejou graciosamente. – Raios, ninguém pode saber que você existe, e que planeja fazer coisas, estou certo?! – Lemond pôs-se a andar de um lado para o outro. – Isto envolve toda a Alagaësia, certamente... e você não se mostrará, e eu... – Lemond olhou para ele. – Eu sou o seu instrumento de uso.

Os olhos misteriosos brilharam, via-se neles algo ameaçador, mas Lemond não sabia o que era. Talvez arrogância, ou então conhecimento de algo que ninguém jamais saberia, algo que o tirava da condição de humano. Ele caminhou até Lemond, dando outro significado a caminhar que não fosse se mover, tornando-o um ato majestoso e sigiloso. Era como se quisesse de propósito mostrar que tinha algo a mais ali além do que se via.

— Eu andei me perguntando onde estaria esta sua parte... Esta parte intimidadora. – Ele levantou uma sobrancelha. – Esta que estava sendo ofuscada por impaciência, e por ações estúpidas e palavras incineradas ao vento.

Lemond sentou-se no túmulo de Brom e preparou sua voz de peito.

— Diga-me logo minha parte nisso tudo, homem. Descobrirá que sou dinâmico.

— É realmente frustrante, mas tenho de lhe dizer que isso será uma barreira em nosso progresso. Eu preciso de você calmo além de atento. Está errado, Lemond, você não é meu instrumento. Eu lhe darei os instrumentos para que resolva os problemas que conhece tão bem.

— O Império está nas mãos de Lemond Grorvan. – Lemond abriu os braços. – Eu posso sentir todo este grande peso me consumindo, oh homem desconhecido. – Ele completou teatralmente.

O homem riu, escondendo as mãos no sobretudo.

— O Império está nas mãos de todos nós, Lemond, incluindo nas dos rebeldes. A função que lhe proponho é que mantenha-o erguido, e em boas mãos somente. – Os olhos do estranho brilharam ao mirar todo diamante de Brom. – Este centenário velho deitado e imóvel tem sido uma companhia constante minha nos últimos anos. – Caminhou devagar até o túmulo, como se a pressa fosse um desrespeito ao cadáver lá dentro. – Não sabe a quantidade de energia que acumulei nesta superfície de diamante. – Os dedos magros e ossudos alisavam o túmulo com delicadeza. – O mundo sempre precisará de alguém disposto a fazer algo, e esse alguém sempre precisará de preparo.

— E quanto você é disposto a fazer? O que pretende alcançar?

— Você precisará de tudo o que tem aqui futuramente, Lemond. – Completou ignorando a pergunta do rapaz. – Eu preciso de você... preciso que mantenha tudo erguido, preciso que seja aquele que move os acontecimentos... preciso que termine esta guerra desorientada.

Lemond mordeu o maxilar e sua pálpebra tremeu. Seu rosto fechou-se de seriedade como em nenhum momento desde que conhecera aquele homem e, novamente, sua pálpebra tremeu.

— Eu poderia supor o dia todo, e minhas suposições normalmente são corretas, mas preciso ouvir de você. – Ele aproximou-se com postura, sem deixar-se abalar. – Os motivos... Por quê eu?

O homem sorriu novamente.

— Eu lhe pergunto, Lemond, um homem pode mover-se no tabuleiro? Não, ele precisa das peças, e neste caso você é a minha peça de maior alcance. – Ele sussurrou uma longa frase inaudível e potente, e no ar uma brecha negra, deforme e reverberante abriu-se, revelando um saco até então escondido. – Eu os recuperei dos rebeldes, mas não posso fazer muito mais que isso sem me expor. – Ele estendeu o saco de couro a Lemond.

O rapaz o abriu com ansiedade, lubrificando sua visão com incredulidade ao fitar o que o saco guardava.

— Os ovos roubados! – Os dois ovos que Marbrayes havia conseguido roubar, de Ceunon e Gil’ead, o vermelho sangue e o cinza esbranquiçado. Lemond olhou por baixo para o rosto do homem. – Como terei certeza de que não trabalha para Marbrayes?

A gargalhada do homem naquele momento foi a mais real o possível, revelando os fragmentos de sua voz experiente.

— Abra sua mente, Lemond, permita-me mostrar minha identidade.

Antes que Lemond pudesse concordar ou discordar, o fluido quente e reconfortante da consciência familiar do homem adentrou sua cabeça, tornando-a um mar muito extenso, com alcance indefinido. Eram nos momentos que o homem invadia sua mente que Lemond sentia-se ilimitado.

Uma onda de informações o atacou e alojaram-se ali como se estivessem presentes desde sempre. Lemond arrepiou-se com a grandiosidade do que aquilo significava, com o pedido que aquele homem estava fazendo a ele, com a importância que teria se tudo desse certo, com a perspectiva de mudar sua vida para sempre.

O rapaz abriu os olhos.

— Você... – A palavra engasgou-o. – Você é Murtagh, o Cavaleiro de Thorn! – Agora conseguia reparar no rosto escondido pela longa barba. Ele já vira pinturas do Cavaleiro Vermelho no castelo de Dras-Leona.

— Você já sabe o que fazer, Lemond Grorvan. – Murtagh segurou seu ombro. – Eu lhe ensinarei o que for preciso para que consiga pagar sua divida para comigo e para consigo mesmo. A partir de hoje, vá até o topo do castelo de Dras-Leona todas as tardes. Lá estarei eu, pronto para instruí-lo. – Ele soltou-o e virou-se. – Agora suma daqui, e leve-os com você.

Lemond olhou para os ovos de Dragão e sem mais uma palavra virou-se, seguindo de volta para sua cidade. 


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Notas finais do capítulo

Bem, agora vocês tem conhecimento do que se trata a voz que tanto tramou com Lemond. Mais um mistério resolvido? Posso aliviar-me um pouco? hahahahah
É aqui que Lemond ganha uma nova proporção, e eu sinto-me orgulhoso de ver a evolução do personagem ao longo desses seus capítulos, isso não é algo fácil de se escrever, e sinto-me bem de ter alcançado tanto tempo.
Bem, esperem pelo próximo, pois ele virá! E logo, logo...
Tenham um bom dia, seja que hora for que estiverem lendo isto.
28/03/16



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