Aqui estou eu, novamente sozinho, sem ela ao meu lado. Tudo que me resta são lembranças e fotos da melhor pessoa que já conheci. O cheiro dela ainda se faz presente, me deparo todos os dias com coisas que me fazem lembrar-se dela. A voz, seu toque, sua mania incontrolável de comprar sapatos e esmaltes. Cada segundo que vivi ao lado dela ficará gravado em minha mente pra sempre.

 

 

 

Flash Back on

 

- Ai amor, olha que sapato maravilhoso! – mais uma vez lá estava ela em frente à vitrine da arezzo com aqueles olhos azuis brilhando.

 

- De novo amor? Você já não acabou de comprar um sapato? – perguntei já sendo arrastado com ela pra dentro da loja.

 

- Ai Bill, deixa de ser chato. Vamos entrar na loja vai, é rapidinho, eu juro. – ela fez aquela carinha de neném querendo doce que só ela sabe fazer e eu não tive como negar.

 

1hora e meia depois saímos da loja carregando umas 3 sacolas.

 

Flash Back off

 

 

Vai completar dois meses desde sua morte e não agüento mais essa casa vazia, desde que ela se fora ninguém entrara aqui além de minha mãe e meus melhores amigos. Tom, Georg e Gustav me visitam às vezes pra checar se ainda “estou vivo”, mas é claro que estou. Não irei mentir de que a idéia de morte me veio à mente centenas de vezes, apenas pra estar mais perto dela. Mas de que ia adiantar? Prefiro continuar vivo e sofrendo, pois a dor é o único meio que tenho de me lembrar dela.  

 

Olhei no relógio: 23h56min. Nossa, que tarde preciso ir me deitar. Esse sofá é muito desconfortável. Dirige-me ao meu quarto, quando o telefone toca.

 

- Alô. – atendi irritado, quem me ligava essa hora da noite?

 

- Oi Bill, é o Tom. Desculpa ligar essa hora é que esqueci um negócio com você.

 

-O que é Tom? Fala logo que estou com sono.

 

- Acho que deixei minha carteira no seu quarto.

 

- No meu quarto? O que você foi fazer lá e porque tirou sua carteira do bolso?

 

- Eu fui te acordar hoje de manhã, caso você não se recorde, tínhamos compromissos e você nunca lembra se de nada. Aí meu telefone tocou fui tirar do bolso e a carteira caiu. Será que você pode me entregar amanhã no estúdio?

 

- Acho que não vou pro estúdio, falando nisso. Estou pensando em sair da banda.

 

- Bill Kaulitz, não fale uma besteira dessas. Você não vai acabar com a banda.

 

- Não consigo mais Tom, desde que ela... Você sabe. Desde então, não tenho forças pra continuar. – comecei a lacrimejar, toda vez que a mencionava meu coração apertava e lágrimas caiam involuntariamente de meus olhos.

 

- Bill, por favor. Amanhã conversaremos sobre isso, mas não pense assim. Você vai encontrar uma razão pra continuar, eu sei que vai. Eu tenho fé em você e não faça nenhuma besteira, por qualquer coisa que você valorize. Por mim Bill, seu irmão que te ama mais do que tudo, não pense que não conseguirá, eu sei que você vai. Agora vou desligar, você precisa dormir. Não esqueça minha carteira amanhã. Boa noite Bill.

 

- Boa noite Tom. – disse seco.

 

Vi a carteira dele no chão perto da cama, a peguei e coloquei em cima da cômoda. Sem querer esbarrei em um porta-retrato que estava virado pra baixo e o deixei cair no chão. Eu não precisava olhar pra saber de quem era a foto ali, o tirei do chão e a vi através do vidro quebrado.  Estávamos abraçados, eu encarava seu rosto perfeitamente lindo, ela olhava pra foto e sorria, aquele sorriso sincero e contagiante que só ela sabia dar. Essa foto, a última foto, daquele dia... O pior de minha vida.

 

 

 

Flash Back on

 

- Nossa, você consegue ficar mais linda cada dia que passa.

 

- Para Bill, eu fico com vergonha.

 

- Vergonha de mim? Por favor, Sophie, vamos nos casar em apenas 3 meses e você ainda fica com vergonha quando te elogio.

 

- Ai seu bobinho, to brincando né. Eu amo receber elogios, principalmente do homem da minha vida. Agora vamos que eu não quero me atrasar pra estréia do filme.

 

- Ai, vamos sua viciada em cinema.

 

- Peraí, antes quero uma foto nossa.

 

- Pra que?

 

- Eu quero uma foto com meu futuro marido, não tenho direito? Vem aqui, olha pra câmera vai. – não consegui olhar pra câmera, tudo que meus olhos queriam enxergar era seu rosto. – Você não olhou Bill.

 

- Sophie, você é muito mais linda e não será uma foto que irá demonstrar o quanto eu te amo e somos felizes. Agora vamos que se não iremos perder. – e saímos juntos pela última vez da nossa casa.

 

Flash Back off

 

 

Comecei a chorar novamente, não suportava mais. Sempre me lembrava meu mundo desabava mais ainda, resolvi ir dormir, pelo menos era certeza de sonhar com ela e senti-la próxima de mim.

 

Levantei-me da cama e fui até a cozinha pegar um copo d’água, estava morrendo de sono.

 

- Oi Bill. – QUE SUSTO! Quem tava na minha cozinha essa hora?

 

- Sophie? O que você tá fazendo aqui? – Fiquei estático, não sabia se corria para abraçá-la ou fugia. Ela estava sentada no sofá da sala.

 

- Sua mania de levantar no meio da madrugada e ir pegar água não vai mudar nunca né?

 

- Soph... – não consegui terminar, já estava chorando e desabei-me em seu colo.

 

- Bill, meu amor. Não chore. O que tá acontecendo? Diz-me que não é por minha causa que está nesse estado depressivo, por favor. – ela usava a mesma roupa daquele dia no cinema o que me entristecia mais ainda.

 

- É claro que é por você, não consigo continuar a viver sem você. Minha vida só faz sentido se você existe e agora você me deixou, eu estou sozinho Soph. Ajuda-me, por favor...

 

- Não diga isso, eu existo ainda. Dentro de seu coração eu sempre existirei. – ela estava deitada no sofá e eu com a cabeça em seu colo chorando enquanto ela passava seus dedos entre meus cabelos, como eu sentia fala daquele carinho. De repente reparei que ela usava a pulseira prata, aquela pulseira, daquele dia...

 

- Você tá com a pulseira? – perguntei.

 

- Sim meu amor, foi enterrada comigo. Tome, fique com você.

 

 

 

Flash Back On

 

- Aqui a pipoca amor. – entreguei-na e sentei-me a seu lado.

 

- Que demora Bill.

 

- Ah, tenho um presente pra você amor.

 

- O que é?

 

- Uma pulseira. Tem 4 pingentes: um é a torre Eiffel representando onde nos conhecemos, o outro são duas crianças representando nosso futuro, esse é uma caneta representando sua maravilhosa habilidade de escrever roteiros e por último um coração, o meu coração. Estou lhe entregando inteiramente a você e quero que você o guarde.

 

- Que lindo Bill, você é o homem mais perfeito que já conheci. Eu te amos demais. Muito mesmo.

 

- Eu te amo muito mais Soph. – selamos nosso amor com um beijo e nos silenciamos para o começo do filme.

 

No meio do filme ela colocou a mão na cabeça e abaixou-se. Não entendi o que estava acontecendo, ela apenas desmaiou e eu entrei em pânico. Comecei a berrar no cinema e pedi pra pararem o filme e chamarem uma ambulância. Não demorou muito para que os médicos viessem com a pior noticia que já recebera. Sophie havia morrido de derrame cerebral.

 

Flash Back off

 

 

 

-Obrigada. Fiquei dias a procurando. Soph, você está aqui, fique comigo... Não se vá, por favor. Eu te imploro.

 

- Bill, meu anjo, faz 2 meses que já parti e você ainda está nessa depressão. Você tem que entender que a vida continua, não pode ficar assim. Pense em sua mãe, no Tom, seus amigos. Eles sentem sua falta e odeiam ver-te sofrer. Você precisa seguir em frente.

 

- Como? Não posso seguir em frente sem você, será que é tão difícil entender? Você foi minha vida Soph, ainda é. Eu simplesmente NÃO SEI como faço isso.

 

- Mas você nunca tentou seguir em frente.

 

- Não, eu não quero. – eu realmente não queria continuar vivendo e a deixar pra trás. – tenho medo que você saia de minha memória.

 

- Bill, vou lhe explicar uma coisa. – ela levantou-me e colocou suas mãos em minhas maçãs, sempre fazia isso quando queria esclarecer algo. Deus, como ela era perfeita. Havia me esquecido de sua perfeição. – Você não vai me apagar de sua memória, nunca. Mas você precisa continuar, a vida é assim, as coisas acontecem quando você menos espera e temos que estar preparados pra tudo.

 

- Mas, isso não é justo. O que eu fiz pra merecer te perder? Fico anos sem amar alguém e quando  a encontro você simplesmente vai embora...

 

- Bill, imagine que sua vida é um filme dividido em capítulos.  Em um filme se têm protagonistas, figurantes e coadjuvantes. O filme da MINHA vida você foi o personagem principal, aquele que sem sua presença o filme não era completo, eu tive os primeiros capítulos em que se tratava apenas de minha vida antes de conhecê-lo, quando nos encontramos, o meu roteiro finalmente fazia sentido, todas as peças perdidas se encaixaram, mas o MEU filme chegou ao fim. Os créditos já pararam de passar e não haverá extras. Mas você é diferente. Eu fui apenas um capítulo do seu, um capítulo que completa sua história, sem esse o enredo se perde completamente. No seu filme, eu sou apenas uma coadjuvante que apareceu, deixou sua marca, porém teve que partir. Você ainda tem os minutos finais de sua vida pra viver, personagens novos irão chegar e lhe mostrarão o quão surpreendente um filme pode ser. Então Bill, por favor, entenda que os seus créditos não foram antecipados, sua vida não tem que acabar aqui.

 

- Soph... – eu não consegui pronunciar uma palavra se quer. Sophie havia me hipnotizado com suas palavras e eu as estava absorvendo ainda.

 

- Me promete uma coisa Bill? Prometer não, você tem que jurar.

 

- Claro bebê, qualquer coisa.

 

- Você vai deixar o filme rolar sem ter que ficar dando pausa e retrocedendo capítulos?

 

- Sô, eu posso tentar...

 

- Sabe a pessoa que mais sofre nessa história toda?

 

- Quem?

 

- Tom. Ele está muito decepcionado com ele mesmo desde que você se trancou em seu mundo e não deixa ninguém entrar.

 

- Porque ele está decepcionado com ele mesmo?

 

- Ele acha que não é um bom irmão, porque ele não consegue fazer nada pra vê-lo para de sofrer ele pensa que falhou como amigo e irmão mais velho. Ele não é mais o mesmo desde que você se afastou, pense nisso também. Não é só você que sofre com essa história toda.

 

- Mas ele não falhou, eu só recusei a ajuda dele... – de repente percebi a cagada que estava fazendo. Perdi minha namorada e estava prestes a perder meu irmão.

 

- Sim e isso foi o suficiente pra ele achar que a culpa de você estar assim é dele. Bill, eu tenho que ir agora e prometa-me que irá mudar, que tentará seguir em frente. Vai deixar o controle de lado e deixar rolar seu filme sem interrupções. Eu te amo, te amei e te amarei pra sempre,  você foi meu tudo, meu ar, minha motivação e enquanto estive vive tudo que desejava era você, não quero vê-lo sofrer por minha causa, não quero que pense em mim sentindo dor. Lembre-se com um sorriso no rosto.

 

- Obrigada por tudo, você é a melhor pessoa que já conheci. – a abracei fortemente.

 

- E não se esqueça de conversar com Tom, ele te ama demais e odeia te ver desse jeito. Vocês têm uma conexão mágica, não a deixe se perder.  – a beijei com vontade. Estava com saudade de seus lábios, seu hálito doce, sua pele macia e seu cheiro extasiante. Era o melhor beijo que já provara.

 

- Toma Bill, a pulseira. Guarde-a com carinho. Adeus meu amor, eu te amo.

 

- Eu te amo mais que tudo na minha vida Sophie, pra sempre.

 

- BILL, ACORDA! – senti alguém me sacudindo, abri os olhos devagar e vi a imagem de Tom em minha frente puxando meu cobertor.

 

- Tom? O que faz aqui? – perguntei meio grogue do sono que tive. Será que aquele sonho era real?

 

- Vim te acordar, sabia que você ia esquecer-se da reunião e vim buscar minha carteira também.

 

- Tom, já que está aqui. Quero conversar com você.

 

- Sobre o que Bill?

 

- Sobre Sophie e sobre mim. – ele olhou incrédulo, nunca conversava sobre ela com ninguém.

 

- O que houve? – ele sentou-se na cama, preocupado.

 

- Me desculpe por te ignorar, por recusar sua ajuda. Eu acho que fiquei tão cego com a morte de Sophie que me esqueci do mundo e das pessoas que amo. Sinto muito mesmo Tom, nunca quis te magoar. Você não é um péssimo irmão, é o melhor que alguém poderia ter. Eu agradeço sempre por você ser meu melhor amigo. Eu te amo demais Tom.

 

- Bill, obrigada por me falar isso. Eu não suportava mais te ver sofrer e não consegui fazer nada pra ajudar. Espero que você agora me deixe fazer meu papel de irmão e me deixar te ajudar a seguir em frente.

 

- Claro Tom. Você pode me ajudar sempre que quiser, você deve.

 

- Que saudade que eu estava de você Bill. Você não tem uma noção, eu te amo meu irmãozinho, sempre que precisar eu estarei lá pra te ajudar, sempre. NUNCA se esqueça disso. – Nos abraçamos por longos minutos até que Tom se lembrou da bendita reunião. – Bill, vou te esperar lá embaixo, se troque e vamos logo.

 

- Ok.

 

Levantei-me da cama e me troquei em 20 minutos. Resolvi dar uma ajeitada nos lençóis e quando fui esticá-los escutei um barulho do outro lado da cama. Fui olhar e a vi refletindo a luz do sol que entrava pela janela. Lá estava ela, a pulseira que havia sido enterrada com Sophie.  A peguei na mão e dirigi-me até a varanda.

 

- Obrigada. – olhei para o céu e a agradeci segurando a pulseira em minha mão.

 

A partir daquele momento soube que não havia mais sofrimento, decidi que a dor passaria e nada impediria Bill Kaulitz de voltar. Com a ajuda do meu irmão, meu conselheiro, meu melhor amigo eu iria superar tudo.