Azkaban, 6 de novembro de 1983

Querido James,

Nesta madrugada, neste preciso momento, não há nada que a distinga de todas as outras desde que te foste. O carvão acima de mim torna-me mais pequeno e permite-me sentir o medo que nunca fui capaz de presenciar a teu lado. A dura realidade é que, atualmente, não sou nada mais que uma criança com medo do escuro.

Mas ocasionalmente vejo uma estrela cadente a voar livre como nunca serei, e penso imediatamente em ti. Não somente por ser veloz e brilhante, mas por, supostamente, ser capaz de conceder um desejo. Há muito tempo, o meu foi o de um amigo, embora não possa ter exatamente a certeza já que todas as minhas memórias estão toldadas por este nevoeiro demasiado espesso, e tu tornaste-te na melhor coisa da minha vida. Mais que família, mais que sangue, parte da minha essência.

Outra terrível semelhança com a mesma, tenho de dizer, é a queda pelo dramatismo. O que foi senão isso quando, no nosso sexto ano, depois de ter azarado o Ranhoso e apanhado detenção, lhe fizeste crescer uma cauda e um nariz adunco só para eu não participar dela sozinho? Ou então quando, aos doze anos, fizeste aquela lista ridícula com todas as razões as quais tornarmo-nos animagos seria benéfico para o Remus?

A verdade meu caro James é que foste, és e sempre serás uma rainha do drama. Sempre amaste a atenção que te era dispensada por isso. Sempre gostaste dos holofotes e do tapete vermelho. E, por um tempo, eu odiei-te por isso.

Odiei o facto de teres morrido e me deixado sozinho. Mais do que isso, odiei o facto de até ao morreres, não conseguires deixar de ser a pessoa dramática que és. Porque se não o fosses, terias levado a merda da varinha contigo e combaterias Voldemort como sempre o fizeste. Terias te despedido de mim.

Mas não. Eu vi o teu corpo branco, inerte e sem vida. Por isso aqui estou eu, sozinho no meu aniversário, tendo como única companhia as paredes escuras e húmidas que parecem chorar por mim. Se eu tivesse forças, se eu pudesse sentir alguma coisa diferente do que venho sentindo nos últimos tempos, eu também o faria.

Especialmente porque passou pouco mais do que dois anos desde a última vez que te vi mas mal consigo lembrar-me da cor dos teus olhos ou do som da tua gargalhada. Sim, James, és uma rainha do drama, porque não bastava teres morrido, mas, daqui a tão pouco tempo que até me dói imaginar, feito esquecer todas as lembranças que tenho de ti.

Malfeito feito,

Sirius