Divã - As Crônicas do Cristal Vermelho escrita por Céu Costa


Capítulo 15
E foi assim que começou


Notas iniciais do capítulo

Muito bem, cá estamos denovo!



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– O que quer que eu diga? - eu perguntei.

– Bem, o que quiser me contar. - ela disse.

Eu fechei meus olhos, deitando no divã. Outra vez. Era como se eu me lembrasse de tudo o que aconteceu nesses últimos meses.

Era uma noite escura. O céu estava cheio de nuvens, e a chuva caía faziam nove dias. Eu estacionei na frente da delegacia. Não era o tipo de lugar que eu costumava ir, mas não podia ignorar a ligação do detetive no meio da madrugada. Eu desci do carro, vestindo meu casaco. Já era hora de entrar, para acabar de vez com essa palhaçada e poder voltar a dormir.

– Dakota, desça logo! Eu estou congelando! - eu briguei, na calçada.

Dakota me olhou. Seus olhos estavam inchados, e ela ainda vestia o pijama preto e vermelho, por pirraça. Dakota estava comigo haviam dois dias, passando uma semana em meu apartamento em Metrópolis. Ela havia pedido para ficar comigo, embora eu estivesse desconfiada de que ela tivesse fugido de casa, denovo. A garota só tinha 15 anos, mas já era atentada.

– Por que eu tenho que entrar aí? - ela resmungou - Não fiz nada!

– Pelo jeito que você vem agindo desde os treze anos, não me surpreende estarmos aqui! - eu bufei.

– E é por isso que eu não vou entrar! - ela segurou a maçaneta do carro por dentro, para fechar a porta.

– Pare de manha e vamos! - eu a puxei pelo pulso - Eu quero voltar logo para casa!

Entramos na delegacia. Nela haviam muitos policiais atendendo telefones, tomando cafés e comendo rosquinhas. O que é muito estranho, porque geralmente àquela hora, haviam apenas dois ou três para fazer a ronda, e o resto estava em casa dormindo.

Eu me aproximei de uma das mesas. Uma policial estava mexendo no computador ali.

– Com... com licença.... - eu gaguejei - Meu nome é Evelyn McMillian, eu recebi um telefonema do delegado agora há pouco, e....

– Oh, sim! - ela se levantou, apressada - Com licença!

Ela se dirigiu a uma sala com persianas, e começou a falar com um homem lá dentro.

– Desculpe, com licença. - uma voz grave me distraiu - Você é McMillian?

Eu me virei. Era um rapaz jovem, devia ter uns vinte anos, cabelos negros, olhos azuis, expressão amigável.

– Evelyn. - eu estendi a mão direita para ele.

– Oh sim! - ele se atrapalhou com seu papelão com copos de café, mas por fim apertou minha mão - Meu nome é John Loyd. Café?

– Obrigada. - eu peguei um, e dei para Dakota, e depois peguei outro.

– Tomem tudo. Algo me diz que vão precisar. - ele falou, severo.

– Srta McMillian? - a mulher apareceu na porta da sala - O detetive que falar com você.

Dakota olhou para mim. Eu respirei fundo, fechei mais o meu casaco, e entramos na sala.

Era clara, mas escura, devido à grande janela que dava para a cidade, mergulhada na noite e na chuva. Havia também uma mesa de mogno, e duas cadeiras de couro preto. A cadeira do detetive era mais alta. O detetive mesmo, estava olhando a cidade por entre as persianas.

– Srta McMillian! - ele se virou e estendeu a mão, mas não apertou - Qual das duas é?

– As duas somos. Esta é minha irmã mais nova, Dakota. - eu os apresentei.

– Sou detetive Henderson, da polícia de Metrópolis. - ele apertou nossas mãos. - Sentem-se, por favor.

Nós nos sentamos, mantendo os olhos fixos nele, enquanto ele também se sentava, e cruzava os dedos.

– Olha, eu vou ser bem direto com vocês. Um casal foi assaltado quando saía do Às de Paus há cerca de uma hora. O ladrão levou jóias, relógios, dinheiro, e depois, atirou nas vítimas, de modo a ser fatal. - ele falou, mas a forma que ele falava, parecia tão distante, apenas o jornalista do noticiário. - O mais estranho é que ele só roubou coisas fúteis, e nem se deu ao trabalho de revirar a bolsa da mulher, o que é quase padrão em um latrocínio. Nós pegamos alguns itens das vítimas, documentos, chaves do carro, e uma carteira. Gostaríamos que dessem uma olhada.

Ele colocou os itens na nossa frente. Os documentos estavam manchados de sangue, o que tornava quase impossível a identificação. Mas talvez eu não quisesse saber quem eram.

Eu peguei o molho de chaves. O chaveiro era uma pequena Ferrari azul, conversível, o carro que papai sempre sonhou em dirigir.

– Ivy, dá uma olhada aqui. - Dakota me chamou.

Ela tinha em mãos a carteira. Ela era de couro preto, sem verniz, e tinha o desenho de um cavalo em prata. Eu conhecia aquela carteira. É como algo que você vê todos os dias sem perceber, mas que quando some você sabe que algo está faltando. Dakota abriu a carteira. Tinham alguns cartões de crédito, de banco e de desconto de uma churrascaria do Nebrasca.

Mas, bem ali do lado, havia uma foto. Era eu, de bikíni laranja neon, com o nariz queimado do sol. Dakota estava nos ombros do papai, segurando uma bola de vôlei. E mamãe, segurava a câmera com um daqueles suportes de plástico, para poder sair na foto também. Eu me lembro disso. Foram nossas férias no Hawaii, eu tinha 10 anos, e Dakota, 7.

– Você não pode estar falando sério! - Dakota se exaltou - Essa é uma brincadeira de muito mal gosto!

– Eu bem queria que fosse... - o detetive suspirou.

– Ivy, diz pra ele! - Dakota olhou para mim - Diz pra ele parar com isso! Diz pra ele parar de mentir pra gente! Diz pra ele, Ivy!

Eu bem queria poder brigar e mandar o detetive se ferrar por mentir para duas adolescentes. Mas aquela era mesmo a carteira do papai. Nada no mundo poderia mudar isso.


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Notas finais do capítulo

Pobrezinhas........



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