Os primeiros minutos foram os mais tensos.

A Redoma parecia preenchida por uma neblina que aos poucos se dissipava, revelando as duas mulheres caídas, ainda inconscientes sobre o chão frio. Simmons chorava nos braços de Fitz, enquanto Ward e Maria Hill ainda estavam sem ação, com as pistolas empunhadas. Como explicar o que seus olhos tinham acabado de presenciar?

– Ela tá viva? – Jemma balbuciou, mais como um pedido desesperado do que como uma pergunta.

– Vamos checar o perímetro. Vocês dois fiquem aí atrás.

Ward sinalizou para Maria e ambos seguiram na frente cautelosamente, ainda temendo a aproximação de Graviton que realmente parecia ter desaparecido dos arredores.

– Tá tudo limpo. Vamos tirá-las de lá. – Maria observou e acenou para que Fitz-Simmons se aproximassem. – Simmons, se comunique com a Base imediatamente. Coulson precisa ser informado sobre isso.

– Sim, senhora.

Jemma ocupou-se em ligar para Coulson, enquanto os outros ainda tateavam próximo à Raina e Skye desmaiadas dentro da Redoma que aos poucos ia estilhaçando como um casulo. Fitz, Hill e Ward afastaram-se ao perceber que poderia explodir a qualquer momento.

– Não temos muito tempo, Hill – Ward olhou pra Skye e a tomou nos braços enquanto via Samantha arrastando Raina sem muito cuidado. – Elas precisam ser examinadas em um lugar mais... apropriado.

– Estamos em Hunan, Ward! – ela o olhou como se isso não fosse óbvio. – Temos algum equipamento no Bus e Simmons pode muito bem se encarregar delas. Não podemos deixar esse lugar sem mais respostas. Sem querer fazer trocadilhos, mas... é quase como se tivéssemos sido atraídos gravitacionalmente para cá. Raina estava certa sobre o poder desse lugar. Olha – ela suspirou, observando Skye imóvel nos braços de Grant. – Estamos entrando em contato com o QG. Desativaremos o modo furtivo e aí eles poderão nos encontrar.

– Phil deve estar louco. – Os dois responderam em uníssono.

– Okay – Hill sorriu e Ward não pôde deixar de notar o modo como ela ficava doce quando seu cabelo caía sobre o rosto. – Vamos levar as duas para o Bus.

(...)

– Nunca mais façam isso novamente!

Coulson esbravejava com Fitz enquanto ao seu lado, May apertava os punhos, aliviada e irritada com a irresponsabilidade deles. Alan já havia cansado de jogar damas com o Capitão e se encontrava cochilando na poltrona.

– Como está a Skye?

– Está desacordada, mas Jemma acabou de ir checá-la. Não parece ter sofrido maiores danos.

– Precisamos de mais informações, Fitz. Não poderemos ir até aí com o Alan... estamos pensando em outra estratégia, até os Vingadores se for necessário!

– Mas, senhor, ele não parecia ser tão hostil assim... ele estava mais para alguém ou algo cumprindo uma missão. Receio que ele não seja o nosso maior inimigo.

– Droga. Eu e Melinda não podemos fazer nada daqui...

– Nós o manteremos informado, senhor. Qualquer mudança no estado de Skye ou qualquer pista sobre o estranho poderoso estaremos comunicando ao QG.

– Certo, Fitz... E mantenha a droga do avião fora do modo furtivo.

– Sim, senhor. – Fitz encerrou a chamada. – Ele tá uma fera.

– Não é pra menos. – Samantha deu uma risada, enquanto mexia em algum dispositivo por ali – A filha adotiva dele foi pega por um maluco da gravidade e vocês querem que o cara fique de boa? Eu teria dado uma surra em quem deixasse isso acontecer ao meu filho.

Samantha ficou séria subitamente ao lembrar de Alan. Seu filho ainda estava com May e Coulson na base, e de repente, ela teve uma ideia.

– Ward... Preciso ver o meu filho. E Coulson e May precisam vir até Hunan. Que tal uma troca?

– Onde está a Daisy? – Cal interrompia o assunto, completamente desequilibrado e coberto de terra. – O que aquela coisa fez com o meu bebê?

– Quantos pais essa garota tem mesmo? – Samantha olhou para Ward e ele revirou os olhos.

– Skye está sendo examinada por uma de nossas agentes. E é melhor se acalmar se não quiser que eu o faça. – ele apontou a ICER para Cal.

– Eu quero vê-la agora! – Cal avançou para cima de Ward e ele deu dois tiros no peito do homem, derrubando-o, e vendo seu rosto sendo tomado pelos efeitos da dendrotoxina.

– Durma um pouco, Cal. – Ward afastou-se dele sem demonstrar muita reação. – Qual era o seu plano mesmo, Sammy?

Samantha assistiu o corpo de Cal jogado no chão e arqueou uma sobrancelha, olhando divertida para o irmão.

– Vocês precisam mais do Coulson e da May nesse momento e eu preciso ver o meu filho. Não quero o Alan no meio disso, então é melhor que eu volte para a E.A.R.T.H. e pegue o Alan lá.

– E o amuleto? Meio que... Não funciona com aquela coisa toda dos “gêmeos”?

– Essa é ótima – Samantha deu uma gargalhada farta. – Agora somos tipo o quê? Os Super Gêmeos? – ela riu novamente.

– Você tem razão – Ward balançou a cabeça e se arrependeu de ter dito tal coisa. – Vá ficar com o seu filho e a S.H.I.E.L.D. escava as coisas por aqui. Coulson e May devem estar loucos para sair da base.

– Tudo bem... vou ter que roubar o jato dos nossos rivais. Cal está desacordado, Raina também e aquele inseto não voltou mais do passeio pela floresta, então... vou aproveitar a brecha.

– E... desde quando você pilota aviões?

– Eu era uma agente da S.H.I.E.L.D. e fui treinada por Melinda May, maninho... como eu não saberia pilotar?

– Ei! Você me disse que não era... Samantha!

– Ah, eu não mencionei a parte da S.H.I.E.L.D? – Samantha sorria travessa enquanto se afastava do irmão em direção ao jato. – Foi mal!

Ward balançou a cabeça negativamente, ainda incrédulo com o fato de Samantha ter escondido isso dele por tanto tempo. Hill aproximou-se dele com os braços cruzados na altura do peito e uma expressão amena.

– Ela não te contou?

– Que era da S.H.I.E.L.D? Nunca! – ele respondia indignado e Maria Hill apenas ria da cena. – Aquela garota ainda me paga.

– Ela entrou bem cedo. – Hill apoiou-se nas grades do Bus e deixou o corpo descansar ali. – No começo ela tinha medo até da própria sombra. Foi um trabalho enorme fazer ela acreditar que podia mesmo fazer isso.

Ward ficou calado e observou Maria Hill nostálgica a encarar o vazio. Ele não sabia ao certo se estava confundindo gratidão com alguma outra coisa ou se ela realmente lhe parecia mais atraente agora que sabia de todo o seu envolvimento na vida de sua irmã.

– Obrigada. – Ele pronunciou simplesmente.

– Obrigada você. – ela devolveu o sorriso e virou-se de frente para Ward, agora com as costas na grade. – Se você não fosse um completo idiota, Samantha não teria fugido e eu teria sido filha única para sempre.

– Ah é? – Ward aproximou-se dela e fingiu estar indignado. – Quer dizer que eu sou um completo idiota? – ele pronunciou com um tom grave e arrastado, falando bem próximo ao rosto de Maria. Ela, por sua vez, sentiu o rosto esquentar.

– Sim, você é. – ela respondeu num sussurro, já sentindo os lábios de Ward tocarem o canto da sua boca. – Um completo e muito atraente idiota. – ela completou, antes de acabar com a distância que havia entre eles, puxando-o para um beijo urgente.

– Quer dizer então que você me acha...

– Cala a boca, Ward. – Maria pronunciou entre beijos e apressadamente, e em questão de segundos, os dois estavam no armário de vassouras do Bus.

(...)

– Vamos lá, Skye – Fitz pronunciava aflito, começando a se preocupar com a demora. – O que está impedindo ela de acordar?

– Não sei – Jemma encontrava-se sentada ao lado da amiga, segurando sua mão. – Ela não sofreu escoriações nem maiores danos. Só deveria estar desmaiada, mas...

Um bipe começou a se acelerar no painel e de repente, tudo ao redor começou a tremer. Jemma olhou de Skye para Fitz e em seguida para o painel de sinais vitais de Skye.

– 220... Isso não pode estar certo... não! – Simmons exclamava ao ver Skye se debatendo no leito ao passo em que seus batimentos cardíacos se aceleravam exponencialmente. - 230, 235...

– 240 bpm. Quem sobreviveria a isso?

Fitz não teve tempo de pensar na resposta, pois exatamente nesse instante as lâmpadas explodiram e um tremor lançou o Engenheiro e a Bioquímica contra a parede no final da sala.

Skye parou de se debater e seus olhos se abriram assustados, como se tivesse acordado de algum tipo de pesadelo. Ao seu lado, três figuras lhe chamaram a atenção: dois agentes desmaiados, um rastro de sangue e cacos de vidro e um ser semelhante a um deus estava de pé, empunhando um cetro que aparentava ser bastante poderoso.

– Mas o que você fez?!

Skye nem teve tempo de se colocar sobre os dois pés quando sentiu algo gelado e pontudo rasgar o tecido de seu uniforme e encontrar a sua pele. O cetro. Ele a tocou no coração e seus olhos escuros e travessos tornaram-se azuis e nublados, como se algo tivesse lhe arrancado a própria alma. E na verdade, não estava muito longe disso.

– Você é minha agora. – Loki sorria, olhando nos olhos da sua mais nova cobaia. – Agora, vamos para Attilan. Você tem um trabalho a cumprir para mim.

CONTINUA...