– Precisamos encontrar a May e os outros.

Skye pronunciava firme, adentrando a sala do Diretor sem ao menos pedir permissão.

– Isso não será possível. – Coulson não se deu ao trabalho de cogitar a ideia, tão longe estavam os seus pensamentos em todos os acontecimentos recentes.

– Pois então eu vou sozinha.

Ela deu meia volta e dirigiu-se resoluta em direção à saída, fazendo com que Coulson levantasse a cabeça e prestasse atenção no que ela acabara de dizer.

– Skye – ele soltou a papelada que segurava e levantou-se, apoiando as duas mãos na sua mesa. – Apoie seus argumentos.

– Senhor – ela respirou ligeiramente tensa. – Eu tenho uma teoria sobre um possível envolvimento entre os agentes que foram levados da Terra por aquele lunático com antenas... Mas aqui... Só aqui com o que temos isso será praticamente inútil – ela explicava com a ajuda de gestos. – Na base E.A.R.T.H. eles já até conseguiram contactar Samantha, e nós estamos congelados nas nossas pesquisas.

– E o que sugere que façamos?

– E o que mais seria? – ela perguntou como se estivesse tudo muito óbvio. – Precisamos nos unir a eles!

– Skye, eu compreendo seu raciocínio e preocupação, mas eu não posso deixar essa base. – ele esperou alguns segundos apenas para assistir qual seria a reação dela. – Mas você pode juntar uma equipe se julgar necessário e partir para auxilia-los na missão.

– Acha que eu posso...? – ela se interrompeu no final da frase.

– Pilotar? – encorajou Coulson.

– É.

– Você já fez isso antes? – ele instigou, fazendo Skye dar um meio sorriso.

– Em três simuladores diferentes com a melhor piloto da S.H.I.E.L.D.

– Você vai conseguir alguém corajoso o suficiente para entrar na aeronave com você? – ele perguntou divertido, mas com a expressão séria. – Alguém com digamos... Tendências suicidas?

– A.C... – ela o olhou com tédio, repreendendo-o.

– Se Fitz-Simmons toparem, azar o deles.

– Coulson! – ela arregalou os olhos em protesto, mas não conseguindo se manter séria. – Você está me encorajando ou me assustando?

– Tudo bem – ele quase sorriu. – Mas preciso falar com Simmons antes. – Skye observou-o curiosa. – Eu sei que você vai leva-los.

– Vai mandar a Jemma ficar de olho em mim. – ela arriscou.

– Certamente – ela fingiu espantar-se com a resposta. – Isso e outras coisas.

– Como quiser, diretor.

– E Skye – ele a chamou uma última vez antes que ela desaparecesse corredor a fora. – Tome cuidado. Por favor.

– E quando foi que eu não tomei?

Coulson a olhou como se estivesse começando a mudar de ideia quanto à essa pequena viagem.

– Skye...

– Brincadeira – ela corrigiu-se, percebendo o olhar quase assustado de Coulson. – Vou cuidar daqueles dois com a minha vida.

– Bem, é disso que eu tenho medo. – Coulson despejou quase involuntariamente. – Você é uma agente de campo. Sabe se cuidar. Apenas... Não morra lá fora.

– Okay – ela disse em tom arrastado, notando Coulson mais sentimental do que o normal. – “Não morra lá fora?” – ela repetiu – Isso saiu de você mesmo ou copiou a fala de algum final de filme triste?

– Copiei – ele se entregou. – E em breve você descobrirá a fonte. – ele sorriu e voltou a sua mesa, tomando novamente os papéis em mãos e separando uma ficha em especial. – Estou vendo com a agente Morse a possibilidade de trazermos mais pessoas para a equipe e ela liberou esse cara aqui. – ele estendeu a mão, mostrando a ficha para ela.

– Nossa – Skye não pôde evitar o comentário. – Ele é gatinho.

Coulson a olhou feio.

– O que foi? – ela gesticulou, não vendo nada demais naquele comentário. – E é britânico... Nossa, se ele fosse um pouco mais moreno, a Jemma logo se...

– Okay, Skye – Coulson tomou a ficha das mãos dela e a direcionou até aporta. – Pode pegar um dos quinjets e montar sua equipe, antes que eu mude de ideia.

– Obrigada, senhor. – ela falou, como uma boa agente. – Brincadeiras a parte, espero conseguir mais informações na base helitransportada. – ela aproximou-se dele de repente e o abraçou. – Tome cuidado também. – ela falou, já dirigindo-se à saída. – A May odiaria perder você agora.

E com essas palavras, ela marchou pelo corredor em direção ao subsolo. Precisaria convencer Fitz-Simmons a entrar no quinjet com ela.

(...)

– Onde está a prisioneira? – Loki indagou, apenas observando os penhascos congelados, sem dirigir seu olhar à rainha de Nilfheim.

– Dormiu. Finalmente.

– Falas como se isso a importasse. – ele observou, ainda mantendo seu olhar ao longe.

– Não me importo com ela, senhor. – ela rebateu quase como se isso a tivesse insultado. – Só me importo com a parte em que ela entra nos nossos planos.

– Aquele energúmeno e sua linda irmãzinha se acham muito espertos. Eles acabaram de declarar guerra a mim. Estão oficialmente banidos do meu plano e apenas sofrerão as consequências de sua traição – Loki virou-se para Hela pela primeira vez na conversa – Preciso me comunicar com ela.

– “Ela” quem?

Hela o olhou em dúvida e Loki respondeu apenas com um aceno de cabeça. Até mesmo ela, por vezes, não compreendia o que se passava na mente distorcida do deus da trapaça.

– Não é muito cedo? – ela deu um passo na direção do pai, juntando-se a ele na contemplação do horizonte frio e denso de Jotunheim. – Ela não está preparada...

– Ela nasceu preparada, Hela. – ele a interrompeu, estranhamente paciente. – Ela só precisa de um empurrãozinho.

– E como pretende fazer isso?

– É hora de visitar o Doutor – Loki respondia com um sorriso um tanto sinistro em seu rosto – Attilan não ficará escondida para sempre.

(...)

A luz branca e forte que emanava de Asgard ainda se espelhava nas águas límpidas, forçando Samantha a deixar os olhos semiabertos ao passar pelas portas da casa de Odin. Ward estava lá dentro, ainda conversando com Frigga sobre a possibilidade de não ser mais um prisioneiro de Asgard e tentando convencê-la de que Loki era o único e real inimigo nessa história toda. E ele era bom. No final das contas, Sammy poderia admitir que se o irmão ainda estava vivo, fora pelo simples fato de saber convencer as pessoas, mesmo quando a história fosse falsa. Ward era um bom espião, um dos melhores no combate corpo a corpo, mas ela sabia que não ficava atrás. Estar na S.H.I.E.L.D. e na CIA ao mesmo tempo não era tarefa fácil, mas ela estava acima daquilo.

Sua mente divagava entre dois únicos pensamentos: Alan e a H.I.D.R.A. Lembrava-se da promessa que fizera a si mesma no dia em que fugira da fazenda: Destruiria aquela seita de uma vez por todas. Pensava também que seu irmão desaparecido há tanto tempo havia se juntado a eles e isso sempre fazia seu sangue borbulhar nas veias. Era como se a H.I.D.R.A. os perseguisse desde sempre, como uma doença hereditária e isso era quase tão doloroso quanto imaginar que Alan poderia dar sequência a essa onda de terror.

– Já vi esse olhar antes.

Uma voz forte e doce a tirou bruscamente de seu devaneio solitário. Samantha apenas olhou para o lado e viu a figura aproximar-se da borda, acompanhando o seu movimento de admirar o infinito. Observar o esplendor de Asgard daquela vista era algo realmente inebriante.

– Deixar alguém esperando – ela continuou. – É quase tão angustiante do que aguardar sua chegada ansiosamente.

– Meu filho... Ele precisa de mim.

– Estamos cuidando de tudo que podemos, Samantha Hill. – respondia Lady Sif, tentando afastar dela os maus pensamentos. – Estaremos em Midgard o mais rápido que pudermos.

– Vocês tem a Bifrost... Por que não começar por lá? Por que temos que esperar até sabe-se lá quando? – ela perdia a compostura. – Não suporto pensar na ideia de que Alan está correndo perigo sem mim para protegê-lo!

– Loki está arquitetando um plano muito maior, Samantha Hill. Se os deixarmos partir agora, apenas correrão mais perigo, já que aquele filho bastardo traidor já sabe que vocês estão sob nossa proteção e que conhecem parte do plano dele. Seria apenas como adiar a morte certa.

– Tudo bem... Entendo a preocupação e agradeço por tudo que estão fazendo por nós. – ela suspirou e olhou para cima novamente, os olhos cheios de lágrimas. – Aquele desgraçado vai pagar pelo que está fazendo com a minha família.

– Lady Sif, Terráquea – uma voz grave ecoou bem atrás delas. – Precisam ver isso, urgentemente.

Guiando-as pela Bifrost que ainda estava se regenerando aos poucos, Heimdall atravessou algumas barreiras com sua imponência e as levou até um enorme salão onde havia um poço raso com águas cristalinas.

– Observem.

Ele ordenou e as duas mulheres assistiram as águas se moverem até formarem uma imagem distorcida. Após alguns segundos a imagem mostrava uma mulher fria e pálida, com a respiração lenta e pulso estável. Atrás dela, alguns picos congelados davam alguma pista sobre onde ela poderia estar. Samantha esfregou os olhos duas vezes, tentando limpar as pupilas que ainda ardiam com as lágrimas de minutos atrás. A mulher mostrada no espelho d’água se remexia, o frio a fazendo se encolher em posição fetal. De repente, o rosto dela torna-se quase nítido e os olhos de Samantha se enchem com a iminência de novas lágrimas.

– He-Heimdall – Samantha pronunciou com dificuldades. – Onde é esse lugar?

– Jotunheim. O mundo dos Gigantes de Gelo.

– Duas passagens para lá, agora. – ela pediu, ainda com os olhos vidrados e a voz trêmula. – É a Maria... É lá que estão mantendo a minha irmã.