Ramsay caminhava pelos corredores do pequeno castelo de Forte do Pavor, o dia amanheceu frio como todos os outros no Norte. O jovem trajava um gibão de couro sem estandartes costurados afinal, era um Snow, um bastardo do Norte. Até onde sabia era rebento de um estupro. Lorde Roose Bolton era seu pai e sua mãe a esposa de um moleiro. Ela morreu pouco depois do parto.

O filho mais velho de lorde Bolton, Domeric Bolton, havia falecido durante a guerra no Tridente, e por este motivo Ramsay foi trazido para Forte do Pavor, mas ainda era Ramsay Snow, O Bastado.

Finalmente Ramsay, avistou o pátio. Várias pessoas corriam, realizando suas tarefas diárias. Ramsay possuía cabelos negros curtos e bagunçados, pele clara e olhos pálidos. Muitos diziam que seus olhos eram como gelo.

O rapaz se dirigiu até a biblioteca. O lugar era bem iluminado com várias lanternas à óleo espalhadas pelas paredes de madeira. O guardião do septo e da biblioteca do castelo, Senhor Mroz, estava sentado numa cadeira atrás de uma pequena mesa de madeira. Seus olhos negros ergueram-se do livro e encararam o garoto por algum tempo, até que o mesmo esboçou um sorriso e estendeu-lhe um livro grande. Sua capa era de couro vermelho e estava escrito com letras finas e artísticas o título Família Real.

– Ramsay, esta deve ser a quinta vez nesse mês que você pega esse livro - disse Septão Mroz se levantando - o que há de tão especial nele?

–Nada, Septão -respondeu o garoto indo até uma prateleira pegar outro livro - eu só... Acho a família real muito interessante, apenas isso.

– Você não me engana rapaz, é a Princesa?

– N-não criatura! O senhor está imaginando coisas! - Ramsay pegou um livro de capa verde e entregou ao Septão.

– Espere - disse o homem indo até sua mesa.

Ele abriu uma gaveta e nela estavam vários papéis com figuras desenhadas, pegou um com o desenho de uma mulher e entregou ao garoto.

– Esta é Rhaenerys Targaryen Martell, atualmente.- disse o homem.

O Septão possuía a cabeça calva e os poucos fios que restavam eram brancos, sua pele era clara e seus olhos, negros. Era pequeno e tinha a coluna envergada, as mãos tremiam um pouco enquanto estendia o papel.

Ramsay puxou o papel da mão do homem e olhou atenciosamente a pintura. A mulher possuía cabelos prateados, que estavam presos a uma trança. Seus olhos eram azuis. Na pintura ela não sorria. Estava séria, mas ainda sim, linda. O rapaz lembrou-se da última vez que a viu, deveriam ter sete ou seis anos e brincavam de esconder. Não se recordava bem de sua aparência, mas o seu riso animado ainda ecoava em seus ouvidos.

“Pare Ramsay! Você é um bastardo e ela uma princesa, vocês nunca ficarão juntos!” ouviu uma voz em sua cabeça.

P.O.V. RAMSAY SNOW

Agradeci ao Septão e saí da biblioteca. Estava frio, mas nada fora do comum. Avistei Kristan. Ele era ferreiro e por ordens do Senhor meu Pai ele não permitia que eu escalasse os muros do castelo. Mas era a única coisa que me fazia sentir liberdade, desde pequeno eu escalo os muros, posso dizer com total certeza que conheço cada detalhe de Forte do Pavor.

Esgueirei-me pelas sombras proporcionadas pelos telhados das pequenas casas, passei pelo Senhor Ferreiro e finalmente comecei minha escalada. Eu era rápido em demasia e logo cheguei ao topo. Continuei andando pelos muros até que cheguei onde desejava. A torre mais alta do castelo, ela me permitia visão para as águas chorosas e também para todo Forte do Pavor.

Observei os homens se exercitando com madeira e aço no pátio, os ajudantes de cozinha correndo, carregando suculentas travessas de carnes recém-cozidas e vi as garotas banharem-se no rio. Uma delas acenou para mim, uma de cabelos ruivos e longos. Era o único detalhe que eu conseguia perceber devido à distância. Acenei de volta, mas logo desviei o olhar.

Meu Pai, Lorde Roose Bolton, caminhava ao lado de um senhor baixo e de longos cabelos castanhos. Estreitei os olhos a fim de reparar em algum detalhe e percebi que o homem possuía olhos de um verde profundo, olhos inconfundíveis. Da última vez que vi aquele homem eu era apenas uma criança, foi na época em que a Rhay estava sob a proteção do Senhor meu Pai. “Rhaenerys Targaryen para você! Você é só um bastardo, esqueceu?” pensei. Desci do muro correndo, vi as pressas e escutei Kristan berrar às minhas costas ouvi algo como “Seu bastardinho”. Decidi ignorar e continuar a correr.

Finalmente alcancei o meu Pai e lorde Howland Reed. Eles haviam entrado no gabinete e provavelmente começariam uma discussão sobre algum assunto importante. Tentei passar despercebido por eles.

– Ramsay? - Uma voz baixa e leve me chamou.

Virei-me e mordi o lábio inferior, sabia que o Senhor meu Pai me repreenderia por estar matutando pelos arredores quando deveria estar em meu treino com espadas. Eu sabia que não era bom em lutar. Os outros jovens, que também treinavam, insistiam em lembrar-me sobre disto. Também lembravam-me que eu era um bastardo. Claro, ninguém em todo Norte se esquecia de recordar-me que era um bastado.

Encarei os olhos pálidos de meu Pai, a única coisa que nos fazia semelhante eram aqueles olhos cor-de-gelo.

– Ramsay, lembra-se do lorde Howland Reed?- disse meu Pai.

– Ora vejam- disse o homem baixo se aproximando- como cresceu! Já tem corpo de homem.

Continuei calado, não sabia o que dizer. Por algum motivo nunca fui de falar muito, afinal ninguém gostava de minha presença. Eu não tinha amigos, nem colegas, a única pessoa com quem estive próximo foi a princesa Rhaenerys Targaryen, mas isso foi há muito tempo, ela nem deve lembrar-se de quem sou.

– Como estão seus filhos? - perguntei.

– Ah! Lembra-se de Jojen? E de Meera? - disse lorde Howland com uma felicidade aparente - eles vieram comigo, provavelmente estão observando os homens treinarem.

– Por falar nesse assunto, não deveria estar treinando Ramsay? – perguntou Lorde Bolton

Eu olhei para o chão, envergonhado, evitando encarar a meu Pai.

– Vamos partir amanhã - disse lorde Howland Redd para meu Pai - assim chegaremos antes da Família Real em Winterfell.

– O quê?- Perguntei, confuso.

– A Família Real virá a Winterfell e a mando de Rhaegar Targaryen, o Rei, todos os Senhores Vassalos devem ir. - explicou lorde Howland para mim - por isso levarei Jojen e Meera.

– Lorde Bolton, por favor, permitiria que eu fosse também?- eu disse com toda formalidade possível.

O senhor meu pai soltou um suspiro e assentiu. Eu não demonstrei toda a alegria que senti, apenas sorri brevemente. Eu sei que não poderei chegar perto de Rhaenerys, afinal ela é uma Princesa, mas pelo menos poderei vê-la novamente e até mesmo conversar com ela.

Corri pelos corredores do castelo até onde era meu quarto. Era no final da escada, pequeno e escuro, porém com uma vista maravilhosa das águas chorosas. Comecei a preparar uma mala. Não sabia ao certo quanto tempo passaria em Winterfell, então fui jogando dentro todas as roupas que apareciam.

Deixei um lugar reservado para livros e, lá, coloquei os meus preferidos. Um que contava a história dos dragões e outro sobre os filhos da floresta. Logo que acabei, escutei alguém bater a minha porta.

– Está aberta. - respondi, ainda de costas.

– Está preparando a mala? - Perguntou a pessoa que havia entrado.

Virei-me para ver quem estava lá e percebi que era Jojen Reed. Reed era magro e pequeno, um típico cranogmano. Trajava vestes verdes que realçavam seus olhos da mesma cor, sua pele era pálida e possuía cabelos castanhos curtos.

– Jojen Reed, certo?

– Sim - disse o garoto sentando-se na minha cama - eu tive uma visão.

– Uma o quê?

– Uma visão- repetiu- eu vi você.

– O quê eu estava fazendo nessa sua visão?

– Sinto muito, mas não posso revelar a você.