As Crônicas do Império do Norte - Dasthan escrita por Sara Fellires


Capítulo 3
Vila Última


Notas iniciais do capítulo

É o terceiro capitulo e dos mais importantes que fiz, pois meu personagem principal aparece...



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Meu pai não está bem e sei que não vai ficar conosco por muito tempo. Mas não posso ser fraco, Ana e Dian precisam de mim. Como posso ignora-los? Vou ser forte vou ser o homem da casa mesmo que não seja um.

Agora devo ir para a vila para conseguir algo para o jantar, espero não ter que fugir dos comerciantes de novo. Lembre-se! Não pode ser pego! Seja invisível!

A tarde foi fraca, a vila não estava indo bem, muitos morriam com a doença, Peregrina da Cordilheira, que matava adultos, mas não necessariamente crianças. Sabia que aquela doença era a mesma que matara minha mãe no passado e agora começava a levar meu pai. Ana cuidava dele e provavelmente era por isso que o pai não teria morrido.

Como desejo que ele não morra. Me ouça destino! Salve meu pai!

Como um sopro no ouvido algo falou que já era tarde, mas ignorei e continuei a busca de comida para o jantar e o máximo que poderia conseguir.

As vezes tinha sorte, trabalha e ganhava comida como pagamento. As vezes achava dinheiro no chão ou comida que havia caído e as pessoas não queria mais. Mas algumas vezes, era necessário o mais difícil, roubar...

Tentava variar entre feiras, mas nos últimos meses elas haviam resumidos a uma feira, que já não era tão grande quanto a maior já tinha sido, não demorou muito para os comerciantes acostumarem com meu rosto, ou a me confundir com outras crianças que também roubavam para tentar sobreviver.-+-

A maioria das crianças eram órfãs ou crianças como eu, com os pais a beira da morte. Tinha feito amizades com eles e as vezes todos roubávamos juntos uma carroça que havia sido deixada sozinha, e se um era pego todos se juntavam para solta-lo. Somos unidos, mesmo nessa situação... Pensei enquanto esperava o melhor momento para roubar uma fruta.

Estava me aproximando, devagar como quem não queria nada, de um certo ponto começaria a andar junto com a multidão e passaria pela banca, pegaria uma fruta qualquer e continuaria andado, se tudo ocorresse bem não precisaria correr. Então quando comecei a chegar perto da banca de frutas, levantei a mão sobre as frutas... A comerciante pegou meu pulso. Meu coração disparou a tamborilar dentro de meu peito. Mil pensamentos atrapalham meu agir, mas algo me fez ficar e olhar para a comerciante.

— Menino! Tome. — a comerciante pegou três maçãs gigantes de suculentas e colou nas minhas mãos — Leve para sua família! Agora vá embora! Suma daqui!

Com a ordem me virei e fui embora, passando pela banca do outro lado da rua e agarrando mais outras frutas e depois me misturando na multidão.

O resto do dia foi mais tranquilo, só que meus pensamentos sempre me levavam para as histórias que meu pai tinha me contado, de que tinha sangue real de Dasthan, e já sabia que o sangue real de Dasthan era o mesmo que se derivava o Imperador do Império do Norte.

No começo do Império, Dasthan ficou sendo a capital, mas um imperador decidiu levar o poder para Pandora e assim fez, deixando muitos descontentes e uma cidade quase sem nobres. Quando tal Imperador fez isso deixou seu segundo filho para governar a cidade e foi para Pandora, cidade que manteria seus governantes simultâneos com o Imperador.

O dia acabava e Dian já tinha chegado para ajudar a carregar a carga de depois do almoço, fomos embora em silencio por algum tempo. Mas começamos a brincar de quem corria mais rápido, depois de quem ficava mais em silencio e finalmente de adivinha o que estou pensando. Quando finalmente estávamos chegando, praticamente imundos, pela estrada de terra que estava seca devido um verão abafado e quente, ali estava uma casinha meio torta para a direita com dois andares, o de baixo era maior que o de cima.

O telhado ainda aguentara mais um inverno.

Meu pai tinha me dito. Mas não tinha tanta certeza quanto ele. Os invernos eram frios e com muita neve, que provavelmente faria o teste para o frágil telhado. Já eu adorava o inverno, nem ligo pelo fato de ter que tirar a neve do teto, antes de começar as brincadeiras do inverno, mas mesmo assim era a melhor parte do inverno.

Ao lado da casa torta, mais distante, era o local onde o pai morava. Era simples, tinha uma lareira, um fogão a lenha, duas janelas, uma cama baixa quase caindo. Também estava torta, também para direita, só que bem mais torta, como se estivesse preste a cair e se tornar uma pilha de taboas de madeira. Em algumas frestas o espaço era suficiente para passar um dedo.

Junto com Dian dormíamos com Ana na casa grande, ela em seu quarto no segundo andar e agente no andar de baixo no meio da sala.

Chegando lá a casa grande ainda estava apagada. Isso não está certo... Caminhava normalmente, e a cada passo aquilo parecia mais esquisito.

Do fundo veio um grito, eu e Dian corremos para saber o que estava acontecendo. Vi Ana sendo segurada por dois guardas do Império.

— Eles não vão! — Ana grita com convicção e não se permitindo mudar de ideia.

— Eles não terão escolha! Com seu “hospede” morrendo, você não terá como sustenta-los. — diz um dos guardas como resposta a resistência.

— Não importa. Darei um jeito. Mas eles não vão. — Ana nota que nós estávamos ali — Meninos vão para dentro, agora. Tenho que falar com esses senhores.

— Mas mãe... O que está acontecendo? — diz Dian confuso.

Antes que víssemos o que não devíamos, peguei no braço de Dian.

— Dian vamos mamãe vai nos explicar tudo depois. Vamos, guardar isso tudo lá dentro e ver se nosso pai, está bem. — não esperei a resposta dele e nem a resistência que tornou difícil puxa-lo, mas isso acabou, e ele foi o resto do percurso pisando forte.

Dentro da casa no fundo Dian foi para a janela para ver o que estaria acontecendo lá fora, e começou a narrar o que acontecia.

— Eles ainda estão discutindo, mas não da para ouvir.

— Dian para de ver isso, e me ajude aqui. — digo tentando convencer Dian a parar de ver aquilo que já sabia que iria acontecer.

Era o jeito que ela encontrou de nos manter aqui desde que meu Pai começou a ficar doente. Começaram a aparecer, vinham até durante o dia. Ela os levava para dentro da casa grande. Um dia entrei por acidente e vi o que ela estava fazendo com dois guardas.

Estava deitada no chão da sala com os dois a possui-la ao mesmo tempo. Ela mandou que eu a esperasse do lado de fora. Não sei o que aconteceu, mas fiquei e esperei. Acho que foi a paralisação que me impediu de sair correndo, ou de ter qualquer atitude revoltante.

Há esperei, quando ela saiu pareceu ter absorvido o cheiro dos soldados, que saíram logo depois com parte das vestes nas mãos, colocando as peças da roupa no caminho para a estrada.

Ela não apareceu para mim nua, se vestiu, mesmo com o vestido meio desgrenhado, e foi falar comigo. Pareceu tão surpresa de eu estar lá a espera dela quanto eu mesmo de ter esperado.

— Duka não tenho mais dinheiro. — ela falou olhando em meus olhos — Com seu pai tão ruim, não poço permitir que o exercito os levem para lutar em uma guerra que provavelmente irá mata-los. Você é meu filho de leite. O filho que não me deixou ficar louca, depois de perder o filho que estava em minha barriga quando recebi a noticia que meu marido havia morrido. — ela dizia com tanto remorso do que tinha feito — Tenho que proteger você e seu irmão. Se começasse a matar todos os guardas que estão a caminho para te buscar, aí é que não estariam aqui mesmo. Um homem costuma lutar em campos de batalha, no trabalho para sustentar a família, em atividades no campo, semeando. Uma mulher é a dona da casa, ela deve proteger e educar um filho, sem falar na prova de sua força que ela prova em um parto.

Ouvi em silencio e ela abaixou.

— Duka essa casa está sem um homem, e onde? E como? Eu posso lutar com eles? Não me resta mais nada a não ser proteger meus dois filhos.

Eu a abracei apertado e chorei, assim como chorei a noite quando lembrei daquilo. Ela também me abraçou e eu senti seu cheiro, o cheiro que ela sempre exalava, o cheiro confortável de flores selvagens.

Fui até Dian e cheguei no momento certo quando um dos soldados estava começando a agarra-la para beijar. Puxei Dian, o impede que visse aquilo. Ele se retorceu para se soltar. Mas nosso pai no fundo falou e o fez escutar.

— Dian obedeça seu irmão. Ele quer o seu bem!— ele estava fraco. A doença era tão rápida que nem permitia que a vitima emagrecesse muito, ele ainda estava musculoso e grande, mas pálido, e sem forças para ficar em pé. Estava lá em sua cama baixa e próxima a lareira.

Dian se virou para ouvir e se aproximou de nosso pai. Deitou junto a ele abraçado em seu peito, nosso pai pareceu mais confortado com aquilo. Virei para a janela e Ana já tinha levado os dois soldados para dentro. Agora o pior parecia ter passado.

Passado alguns minutos em silencio eu estava descascando batatas para uma possível sopa, notei que Dian havia dormido e meu pai fazia caretas pela dor que sentia, de repente começou falar baixo provavelmente para não acordar Dian.

— Duka. — me aproximei dele — Você e Dian precisam ir embora daqui. Ana tem razão, não devem ser pegos pelo exercito. — sua voz estava abatida e cansada como se só estivesse esperando o momento certo para morrer, tal pensamento me casou arrepios por todo corpo.

— E como ficaram vocês? — digo esperando que isso se torne uma grande desculpa.

— Não importa! — ele disse sério e convicto — Duka, assim como Ana, não suportaria ver vocês dois irem para o exercito Imperial. Por isso devem ir para Dasthan.

— Mas Dasthan está destruída...

— Para todo o Império, sim. Mas creio que nesses dez anos já a tenham reconstruído, ou pelo menos poderá ter reconstruído parte. Depois de descobrir, se ela ainda existe, podem procurar uma cidade com porto e passarem a trabalhar em um navio e conhecer o mundo. Mas não quero que vá lutar nas revoltas da região da Decima e morrer como um miserável, um pobre que o único destino seja morrer em um campo de batalha para que nobres sulistas possam ficar em seus lindos garanhões brancos. — ele virou os olhos azuis escuros em minha direção — Você é o norte! Suas cores são o norte! Seu sangue é norte! Não quero que morra por alguém que não merece sua honra. Arrume suas coisas, amanhã, parta para Dasthan.

Uma pequena pausa para espantar a dor.

— Duka... Sua mãe morreu quando nasceu e me deu o que mais tenho orgulho... Você... Quero que leve isso. Era de sua mãe, dei de presente para ela e ela me deu quando morreu, para que nunca a esquecesse.

Era uma correntinha com um pingente meio grande de forma oval, parecia abrir e foi o que meu pai fez para me entregar. Peguei e notei que lá dentro havia uma pintura pequena de uma mulher linda, diria ter sido beijada pelo Espirito do Norte, como todos no mundo chamavam os albinos.

— Duka. Ela era sua mãe!


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Notas finais do capítulo

Por favor comentem e me digam o que acharam, mesmo que seja criticas ruins... Aguardo sugestões!!!
Agradeço a atenção. E se tiver 3 comentários, posto dois capítulos amanhã, mas os comentários devem ter no minimo DEZ palavras...



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