As Crônicas do Império do Norte - Dasthan escrita por Sara Fellires


Capítulo 2
Vila Última


Notas iniciais do capítulo

Como característica unica decidi que cada capitulo tem o nome da localidade em que se passa a estória, sendo assim muitos capítulos tem o nome da cidade onde se passa, mantendo o segredo de quem é a personagem que está por trás da histórias.



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O sonho foi bom, pelo menos esse em anos. Mas tenho certeza que foi por causa da febre, não por lembranças felizes, já que estão tão distantes...

Lembrei dos jardins, das ruas de pedra, dos olhos azuis nortenhos, dos cabelos louros bege como se não tivesse cor, da pele branca, era beijada pelo espirito do norte... Do vestido que ela mais gostava e usava somente nos dias de sol em Dasthan.

Ela girava e ria para mim e a cada passo ela ria ainda mais, em resposta eu ria de volta, mas a sua beleza me fascinava e eu ia na sua direção. Para tomá-la em meus braços e nunca mais soltar até que eu voltasse a ama-la, a possui-la, a cheirá-la.

Ela sorria e falava “te amo”, “meu amor” e “logo estará em meus braços”. A voz dela era suave tranquila e calma, de um certo modo acordei mais calmo do que de costume, deve ser pelo sonho... Fazia tempo que não sonhava com seu rosto tão claro e detalhado. Quase dez anos já estava borrando seu lindo rosto, mas dessa vez não, eu até a senti em meus braços quando ela me abraçou, senti seu cheiro quando me aproximei. Mas uma força, que não sabia qual, tirou-me do lindo sonho.

— Ah! — em um gemido de desconforto e dor no peito.

— Calma! Naahman sua febre está muito alta. — diz Ana se aproximando e colocando a mão em minha testa — Como foi a noite? — perguntou torcendo um pano e colocando em minha testa.

— Muito estranha. — respondi fechando olhando para seus olhos azuis escuros — Agradeço por cuidar de mim ao em vez do Duka. — digo a acalmando em tom cortês.

— Já disse que não precisa de me agradecer toda vez que me vê. — ela pegava outro tecido e torcia para remover o excesso de água — Afinal das contas, são eles que estão nos alimentando, nesse dias que você fica muito ruim.

— Mas você é melhor do que eu em relação a isso. Se não estivesse tão ruim... Eu poderia alimentar a todos nós e não estaria dando trabalho a ninguém. — digo sentindo culpado, mesmo sabendo que essa doença era um surto que estava acontecendo por todo o Império, em maioria no Norte, como diziam os comerciantes que viajavam pelas estradas.

Ela estava ali com seus cabelos negros, olhos azuis, pele branca com seus vestidos meio esfarrapados, torcendo um pano em uma tigela com água fria para colocar na minha testa. Infelizmente agora era um estorvo em sua vida e não a ajuda do passado.

Simplesmente lembrei de uma noite em que encontrei um par de brincos de ouro, os vendi e me permiti comprar uma garrafa mercantil de vinho barato e o resto lhe entreguei para que comprasse nossos alimentos por dias. Com o vinho me embriaguei e fui bater até a sua porta, a atração me subiu a cabeça e a possui no primeiro cômodo de sua casa.

Quando comecei a cair sobre ela não resisti ao cheiro de flores silvestres a qual ela se banhava todas as noites, minha boca foi de encontro a da dela e pelo tempo que seu marido tinha morrido ela não pensou duas vezes e simplesmente permitiu que as coisas acontecem normalmente. Nós nos beijávamos até sentarmos em um banco feito de tronco arvore velha do quintal, que eu mesmo tinha cortado, pois ameaçava desabar.

Dele logo caímos e começamos a ter um ao outro ali no chão mesmo, com a lareira à crepitar e o vento frio de inverno a jorrar pela porta aberta, fiquei lá por muito tempo, até fizemos de novo, e de novo, e no outro dia ela veio ao meu quarto e me arrastou até a sua casa já que, desde a morte de seu marido, vivia sozinha.

Seu marido tinha ido servir ao exercito e o filho que ela tinha na barriga se perdeu ao ler a carta que trazia a notícia da morte dele.

Desde então não vivia com mais ninguém, suas terras produziam pouco, mas dava para seu sustento. Quando cheguei com minha mulher gravida ela e seu marido nos acolheram e eu falei o que havia acontecido com a Grande nortenha, e eles nos fizeram sentir em casa.

Então agora eu à deixava com filho que não lhe pertencia e um que acabamos gerando. Duka era meu com Duka Mansão, oh minha Duka, porque foi antes de mim? Dian nós geramos e já ia fazer seis anos, como o tempo passa depressa!

— Ana, me acorde quando o Duka chegar, por favor? — minha voz estava fraca — Preciso lhe contar quem sou. E quem era a mãe dele, sinto que não vou durar muito e ele tem de saber essa verdade.

— Claro, já está tarde ele deve estar para chegar. — Diz Ana soando gentil e calma, a voz mais calma que poderia ouvir. Uma fungada dela e foi possível notar que estava começando a chorar.

— Ana, não quero que ouça a história da minha boca, pois sei que irá te machucar ainda mais, peso que deixe que eu fale com Duka sozinho. — Ainda estou a machucando, mas deixa-la ouvir essa história a fará sofrer ainda mais...

O sono foi tranquilo até comecei a ter o mesmo sonho só que dessa Duka somente dizia que “logo estaria com ela”, só falava essa frase, então de um sonho bom se tornou um pensamento perturbador. Lodo depois de muito ouvir essa frase em meu pensamento fui acordado com um toque em meu ombro.

— Naahman, Duka chegou. — diz Ana com a voz doce, me dá um beijo na testa suada e provavelmente salgada, e sai do meu barraco, deixando apenas eu e meu garoto que logo faria dez anos.

— Pai, está melhor? — diz Duka com cautela e medo da resposta na voz.

— Não mudou muito... — respondi olhando um garoto de mão juntas a frente e cabeça baixa — Lembro quando foi você que estava doente, quase fiquei doido... — ele levanta o olhar — Agora sou eu a dar trabalho para todos vocês.

— Não pensa assim, não faz mau nenhum. O senhor não pode mesmo trabalhar... Caso contrario sei que estaria trabalhado enquanto eu, minha mãe e Dian estaríamos plantando no terreiro. — diz Duka não permitindo que eu me culpasse de algo que literalmente não era culpa minha. -+-

— Duka vou te contar uma longa história que você deve saber. Preste muita atenção, pois será a ultima vez que a ouvirá. Estou fraco, logo o homem dessa família será você. — uma tosse descontrolado surgiu para atrapalhar.

— Sim, meu pai. — o garoto disse paciente. A calma dele perante essa situação é surpreendente, mas devo continuar.

— Duka, você tem sangue real em suas veias. Sangue do senhores de Dasthan, dos grandes Imperadores... Eu... Era o mais jovem de meus irmãos. Não teria nem uma possível pretensão ao trono da cidade. Meu irmão mais velho iria se casar com uma das herdeiras de uma cidade próxima à Dasthan...

“Meu outro irmão se tornaria o Senhor Comandante da guarda da cidade... E eu. No máximo me tronaria um senhor de um lugar distante... Ou um cavaleiro a serviço do Rei de Dasthan... Ainda havia duas irmãs, a mais velha de todos nós, já estava noiva e a caçula ainda nem se tornara mulher. Então conheci sua mãe... Ela era a herdeira de uma casa antiga e nobre de comerciantes, o que eram raros entre os nobres.”

“Nós nos apaixonamos, e a coroa permitiu nosso casamento. Depois de muitas confusões e preocupação do que de pior poderia acontecer. Depois que noivamos, casamos em uma cerimonia simples, depois do casamento passei ajuda-la a cuidar dos negócios da família. Pouco tempo depois, ouve a revolta do Conselho de Dasthan, levando minha família para longe da cidade em uma fuga usado o veleiro nortenho que meu irmão herdeiro ainda não tinha nomeado, um presente pela sua coroação, que estava se aproximando.”

“Depois de se recuperarem chegaram a conclusão de reassumir o poder da cidade, e eu era a ponte, com o auxilio de outras famílias conseguimos traze-los de volta com um exercito que tomou o Castelo. Mas uma família tinha a maior parte da tropa que tomou o castelo, e isso acabou se tornando outra traição. Mataram aqueles do sangue real que estavam no Castelo de Dasthan. Com a confusão foram mortos meus pais, minhas irmãs e meu irmão comandante. Meu irmão herdeiro conseguiu fugir com as minhas forças o protegendo até o porto, como uma promessa jurou que o sangue real voltaria ao trono e foi em bora. Mas antes de começar a batalha, seu veleiro ainda não tinha nome, só ganhou quando decidiu retomar a coroa dando o nome ao seu veleiro de Tomada da Coroa, que levou todos da minha família para a batalha e depois tirou meu irmão da Baia de Dasthan em segurança.”

“Com essa batalha na cidade, do sangue real, só restou a mim, casado com uma nobre. A descendência ainda estava em minhas veias, mas não poderia chamar muita atenção, para não provocar aqueles que detinham o comando da Grande nortenha. Fiquei lá a sombra do nome de minha mulher, sua mãe, isso até aquele maldito ataque surpresa... Que nos levaram até aqui... Não que tenha sido algo ruim. Mas para você meu filho desejo coisa melhor!”

Um ataque de tosse me obriga a parar de contar a historia, mas logo me recomponho e continuo.

“Quando ouve o ataque a cidade, sua mãe estava gravida. Uma construção antiga distante dos prédios da cidade e da Mansão Cinza nos manteve a salvo, quando voltamos descobrimos que a cidade, junto com a Mansão Cinza, havia sido dizimadas... Sou do antigo sangue e não poderia contar com o atual, nem pra abrigo. Era colocar a vida de minha família em um risco incalculável. Você ainda nem tinha nascido... Não poderia arriscar, sua mãe concordou comigo, e então fomos os primeiros a sair da cidade... Depois de muito caminhar pela cordilheira, acabamos chegando aqui.”

Olhei para o teto e o rosto claro de minha Duka pairava no teto. Ela ainda dizia...

Logo estará em meus braços...

— Sua mãe teve alguns dias de descanso, mais depois de um tempo alguns sintomas começaram a aparecer: tossia muito e começou a ter febre alta. Um curandeiro disse que não sabia, mas que mulheres tinham perdido as barrigas já grandes, com os sintomas da dessa doença, que chamamos de Peregrina da Cordilheira. — digo olhando para o teto e sentindo a saudade trazer lagrimas que caiam pelos cantos dos olhos — Sua mãe não pensou muito. Tomou uma poção que incitava o parto e isso aconteceu. Foi uma noite terrível... E o que meus medos gritavam... Aconteceu... Como eu temi o que acabou acontecendo.

Duka não mudou muito, não sentiu os pesos que aquelas palavras tinham para mim e para meu coração. No final de tudo, ele não se lembrava e não poderia ter sentimento por alguém que nunca conheceu. Só que parece que tenta ser forte... Forte para um pai que ele sente que não terá mais...

Uma respiração profunda me deu folego para continuar.

— Duka sua mãe já tinha perdido uma barriga. Quando menos esperávamos, depois de dois anos tentando, veio o maior enjoo que sua mãe já teve. Ela ficou três dias vomitando direto, uma parteira foi vê-la por acaso, passou a mão na barriga dela e notou você... Sua mãe só não sorria mais, quando descobriu que estava gravida, porque seu rosto a impedia...

“E quando ela me contou o que estava acontecendo, jurou que faria de tudo para ter meu herdeiro... Para ter você... Chegamos aqui e ela ficou doente. Quando comentei que poderia engravidar depois, ela falou “Não. Ele será seu herdeiro, sinto isso. Sinto que ele trará a alegria que o norte clama”. Disse que você seria o homem que mudaria o mundo, disse que tinha sonhado com um garoto... Um adolescente, sendo coroado com uma coroa de flores de Arvore de Fogo, uma coroa feita gelo e uma coroa feita de cristal acinzentado, e isso faz parte das coroações de Dasthan...”

Aquelas paredes eram as mesmas do dia em que ela tinha colocado no mundo meu menino. Até parece que o tempo não passou...

“Ela teve você no meio da noite. Eu estava a ponto de surtar, a parteira não me deixou ficar com ela, pois sabia que eu não aguentaria vê-la sofrer daquele jeito. No final sua mãe me chamou e me entregou você. Nos meus braços vi um garoto pequeno... Perfeito... Com mãozinhas pequenas... Pezinhos pequenos... Olhos fechados... Uma cara de mal humor... E lindos olhos azuis se abriram, olhos azuis no qual me perderia toda vez que olha-se. Olhos que me diziam que você era o norte. Era os olhos de sua mãe, praticamente. Olhos que até hoje me lembram ela...”


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Notas finais do capítulo

Esse foi o terceiro capítulo que simplesmente sentei e escrevi e foi impressionante entrar no mundo mágico da escrita e ver o capítulo surgir.



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