Paz Temporária - Olhos Amaldiçoados escrita por HellFromHeaven


Capítulo 14
Reunião de negócios




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Dormi mal pra cacete aquela noite. Depois que a ansiedade me deixou dormir, um maldito pesadelo sobre a morte do meu pai veio me dar um “oi” e acabou de vez com qualquer possibilidade de descanso. Praticamente me arrastei da cama até a cozinha e tomei várias canecas de café. Isso estava virando uma rotina. A primeira pessoa que vi naquela manhã foi Kimi. Eu devia estar na sétima caneca (eu sei que café demais faz mal, mas diga isso para minha insônia) quando ela entrou na cozinha aparentando estar feliz:

– Bom dia!

– Bom... Dia...

– Mas que bom dia mais seco!

Havia um copo com água até a metade na pia. Meu cérebro não estava funcionando muito bem e a garota fez questão de gritar. Num momento de raiva peguei o copo com minha mão que estava livre e joguei a água nela.

– Bom dia.

A princípio achei que ela voaria no meu pescoço, pois ficou parada me encarando com uma cara de “que porra foi essa?”. Mas depois de um tempo ela começou a rir e eu a acompanhei. Ficamos rindo por cerca de um minuto. Foi bom, já que eu tinha acordado mal graças àquele maldito sonho. Voltei a tomar meu café e ela sentou-se à mesa.

– Por essa eu não esperava.

– Nem eu. Estou com sono, então não tenho total controle de meus atos. Desculpe-me.

– Pode ficar tranquilo. Você não parecia muito bem e se isso lhe ajudou a sentir-se um pouco melhor, então não há com o que se preocupar.

– Obrigado. Sabe se a Jade já acordou?

– Fui verificar no quarto dela porque tenho notícias importantes, mas ela e a Bunny estavam apagadas e esparramadas sobre a cama.

– Entendo. Queria estar dormindo também.

– Não se preocupe com isso. É normal que esse tipo de coisa aconteça depois de um grande trauma como foi a morte de seu pai. Logo passará.

Ela estava certa. O engraçado era que eu deveria estar muito mais arrasado do que realmente estava. Acho que o clima fraternal daquela mansão e o apoio de seus integrantes fez toda a diferença para mim. Mais tarde Jade e Bunny saíram de sua “toca” e foram até a cozinha. Aquelas duas dormiram tanto que faltava menos de uma hora para o nosso encontro com a Jackie. Nossa líder se arrumou às pressas e juntou todos os membros que estava na mansão o mais rápido possível:

– Gente! Hoje eu dormi demais então a porra ficou séria pro meu lado! Enfim, tenho um assunto muitíssimo importante para tratar e só devo voltar à noite. Qualquer coisa, falem com a Bunny.

A lanchonete ficava bem longe da mansão, então Jade pegou um dos carros e acelerou como se não houvesse o amanhã. Estava acostumado a andar de carro, mas a alta velocidade e as manobras perigosas que ela estava fazendo para poupar tempo me assustaram pra cacete. Em alguns momentos cheguei a pensar que iríamos bater e que realmente não haveria um amanhã. Felizmente, chegamos sãos e salvos ao local de destino. Estávamos cinco minutos adiantados e entramos rapidamente no local. Lisa já estava nos esperando em uma mesa com mais quatro cadeiras (já era de esperar, já que ela morava bem perto dali). Minha criminosa preferida logo deu seu caloroso e característico cumprimento à nossa amiga:

– Lisa! Sua linda! – disse Jade enquanto abraçava a pobre garota.

– Oi... Jade... Você está... Me machucando...

– Oh. Desculpe-me. Acho que me empolguei um pouquinho.

Um pouquinho? Cheguei a pensar que a garota seria partida ao meio. Por mais doloroso que aquele “oi” possa ter parecido, Lisa não pareceu se importar e exibia um belo sorriso em seu rosto.

– Olá Lisa.

– Harry! Oh... Que cara é essa? Não dormiu bem?

– Nem um pouco. Estou acordado graças à boa e velha cafeína. Aliás... Garçom! Por favor, me traga um café extra forte.

– Acho melhor você maneirar no café, jovem. Vai acabar ficando outra noite sem dormir.

– A essa altura já não me importo. Não posso perder esse encontro por nada e estou disposto a sacrificar meu sono por isso.

– Hm... Gosto da sua paixão, jovem!

– Obrigado... Eu acho...

– Pelo menos parece que você está bem. Digo... Aquele lance do seu pai foi...

– Não se preocupe. Lá na mansão dos Valentines é proibido ficar para baixo, então estou suportando bem.

– Fico feliz.

– Enfim... Estão tão ansiosos quanto eu?

– Estou um pouco nervosa...

– Porra! Talvez até mais! Parte da minha insônia de ontem foi causada por essa maldita ansiedade.

– Eu estava com esses problemas, mas tenho um “truque” para situações como essa.

Lisa ficou confusa, mas eu entendi muito bem o que ela quis dizer com aquilo. Tenho certeza de que a noite foi longa para aquelas duas. Duas garotas bonitas... Em um quarto... Sozinhas... Fazendo... Espere... Melhor voltar para onde estávamos.

Ficamos esperando por mais uns dez minutos até que Jackie chegasse. Ela entrou na lanchonete e, logo que nos avistou, começou a se aproximar. Algo ruim devia ter acontecido na última noite, pois sua expressão não era a de alguém que tinha apenas dormido mal. Sentou-se, respirou fundo e voltou seu olhar para nós.

– Boa tarde... A Jessy logo deve aparecer.

Ela logo encarou Jade.

– Não nos conhecemos, certo?

– Ainda não, mas já ouvi algumas coisas a seu respeito.

– Pode me chamar de Jackie.

– Jade Valentine.

– Jackie... Está tudo bem? – perguntou Lisa.

Depois de uma pequena pausa, ela respondeu com um tom de tristeza:

– Vou sobreviver...

– Harrisons? – disse Jade com um olhar sério.

– Harrisons...

O clima do local de repente ficou pesado e apenas ficamos em silêncio. Eu, Jackie e Lisa estávamos cabisbaixos. Era óbvio que o motivo para seja lá o que eles tenham feito com ela foi aquela cena no parque. Surpreendia-me como a criancice de um “homem” podia interferir tão bruscamente na vida de tanta gente. Comecei a pensar que aquela “guerra” da qual a Jade estava me falando entre as famílias seria exatamente o que Sahoc estava precisando. Logo outra garota sentou-se à última cadeira vazia. Era alta, ruiva e seus cabelos era lisos e compridos. Seus olhos possuíam uma cor semelhante ao mel e exibia um belo sorriso em seu rosto:

– Vejo que estão todos aqui. Prontos para saber a verdade?

– Mais pronto impossível! – disse.

– Muito bem. Vamos por partes. Em primeiro lugar: o porquê de vocês verem o que humanos normais não veem.

– Tudo bem. – disse Jade. – Sempre quis saber isso aí.

– Todos você têm algo em comum: tiveram experiências de quase morte. Na verdade isso não é algo raro, mas suas circunstâncias é o que fazem a diferença. Todos eram apenas crianças inocentes e deveriam ir diretamente ao paraíso depois de suas mortes, que já estavam “previstas”. Mas essa “viajem” foi interrompida e vocês voltaram à vida por meios “artificiais”. E com isso quero dizer que a tecnologia e os avanços da Ciência ressuscitaram vocês. Isso significa que vocês deveriam estar mortos, mas não estão. Por isso os chamamos de “erros”, pois vocês são como erros no sistema espiritual. Nós, espíritos, possuímos todas as habilidades que vocês, mas somos capazes de conviver com elas e controla-las sem que isso afete nossa sanidade. Como vocês estavam aptos a se tornarem espíritos de luz e sua “transformação” foi interrompida, voltaram com uma das habilidades como forma de efeito colateral.

O silêncio tomou conta do lugar e, com exceção da Jackie, todos estavam sem reação. Nós éramos os únicos clientes presentes e os únicos sons que podíamos ouvir eram os dos passos das garçonetes. Jackie deum um grande gole em sua caneca de café e olhou para nós, um por um:

– Estão felizes com a resposta?

– Eu... Agora tenho certeza de que não descobriria a verdade nem se pesquisasse durante toda minha vida. – disse animado.

– Espíritos de luz... Quer dizer que o Lucas também seria um desses?

– Ele nem sempre foi esse ser humano desprezível. – disse Jessy. – Quando o acidente ocorreu, ele ainda era apenas uma criança inocente. Mas ele não pôde suportar a perda do pai e acabou usando seu poder para o mal. É por isso que só espíritos possuem esse tipo de habilidade. Os humanos não são feitos para aguentarem.

– Foi realmente interessante. – disse Jade com um largo sorriso no rosto. – Mas algo me diz que isso não é tudo, certo?

– Sim. Gostaria de deixar mais algumas coisas claras. Por exemplo... Eu! Sou um espírito de grau elevado que foi incumbido de ficar no plano terreno para ajudar os humanos com conselhos e afins. No momento, existe apenas mais um além de mim. Não podemos interferir diretamente em nenhum assunto relacionado aos seres humanos e, muito menos, prejudica-los de alguma forma. Antigamente éramos vários e possuíamos formas físicas fixas, mas isso já faz muito tempo...

Um clima triste se instaurou naquela mesa e, depois de uma breve pausa, Jessy voltou a falar:

– Só tenho mais uma coisa a dizer... Como estamos muito fracos, só conseguimos nos comunicar com vocês, “erros”. Então gostaria de pedir a vocês que pusessem um fim ao reinado de terror instaurado pelos Harrisons essa cidade. Nada de bom virá disso...

– Pode deixar conosco! – disse Jade apontando para seu rosto.

– Devo alertá-los que o caminho que seguirão é muito perigoso e traiçoeiro. Não posso dar-lhes toda a informação, então tenham muito cuidado.

– Pode deixar! Aliás... E quanto à Jackie? – disse Jade apontando para a garota. – Ela é como nós, mas também é diferente já que não consigo ver suas ambições claramente.

– Oh! Tinha me esquecido desse detalhe. Ela é um especial. A exceção da exceção. Isso eu deixo para ela mesma explicar, quando sentir vontade. Aliás... Acho que ainda não perceberam, mas... Seus poderes também não funcionam comigo.

Nós três nos entreolhamos e depois voltamos nossos olhos para Jessy espantados. Ela estava certa. Não havia um número sequer em cima de sua cabeça. Dentre todas as perguntas que se passaram em minha mente naquele momento, a mais marcante foi “Como não percebi isso?”. Pelos rostos de meus companheiros, eles pensavam o mesmo.

– Cacete! – disse Jade. - Como eu sou distraída!

– Eu também não prestei atenção... Estava tão surpresa com o fato de poder vê-la de forma tão clara que nem tentei ver seu futuro...

– Acho que todos estávamos tão concentrados no fato de ela ser um espírito e estar falando conosco que acabamos ignorando esse detalhe tão óbvio.

Jackie nos olhava intrigada e, depois de terminar seu café, limpou sua boca com um dos braços e disse:

– É sério mesmo que vocês não perceberam? Foi a primeira coisa que notei.

– Deve ser porque sua habilidade é mais “explícita”. – disse Jessy.

– É... Pode ser... Desculpem-me pela arrogância...

– Não se preocupe. – disse colocando uma de minhas mãos no ombro da garota. – Foi um grave erro nosso não ter notado algo tão ridiculamente óbvio.

– Bem... – disse Jessy, aparentemente esgotada. – Minha energia está acabando. Com isso encerramos nossa reunião de “negócios”. Boa sorte a todos.

Ela desapareceu lentamente diante de nossos olhos. Não foi tão surpreendente, já que essa era a segunda vez em que presenciávamos tal acontecimento. Depois disso, todos ficamos em silêncio tentando digerir toda aquela informação que nos foi passada. Após alguns minutos, Jackie levantou-se e olhou para Jade:

– Preciso conversar com você.

– Tudo bem. Harry! Quero que você leve a Lisa para casa e me espera na mansão. Temos alguns assuntos importantes a tratar.

– Tudo bem.

Despedimo-nos e levei Lisa até a porta de sua casa. Estava muito frio, mas nenhum de nós parecia se importar. Ficamos apenas nos encarando enquanto a brisa soprava nossos cabelos e congelava nossos rostos. Foi um momento estranho... Estranhamente bom. Algo me dizia que as coisas não seriam mais as mesmas depois que nos separássemos. Apenas ignorei esse sentimento e saí de meu transe. Despedi-me decentemente dela e tomei meu rumo. Hoje sei que minha intuição foi uma filha da puta, mas acho que mesmo que eu tivesse a levado a sério, nada mudaria. Bem... É o que chamam de destino.


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Notas finais do capítulo

Esse não foi bem... no prazo, mas peço desculpas e digo que a culpa é de Sankarea u.u (estava assistindo saporra e não consegui parar x.x)
Enfim... Espero que as explicações não tenham ficado confusas (eu não achei, mas...)
Agradeço a quem leu até aqui, espero que estejam gostando e até o próximo capítulo =D



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