Paz Temporária - Olhos Amaldiçoados escrita por HellFromHeaven


Capítulo 12
Planejamentos




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Depois daquela breve conversa, as duas saíram e me deixaram sem entender muita coisa. Fiquei alguns segundos parado observando o vazio até voltar a si e me lembrar da minha busca pelo café. Tomei algumas xícaras e fui até o meu sofá preferido. Sentei e fiquei tentando decifrar as palavras da Jade. Nunca havia encontrado uma utilidade para minhas habilidades, a não ser, é claro, salvar algumas pessoas de mortes idiotas. Pouco tempo depois, Kimi se juntou a mim com um... Peixe frito na boca. Aquela garota não batia muito bem. Quem come peixe frito às oito da manhã? Enfim, ela sentou-se do meu lado e ficou me encarando. Apenas retribuí o olhar e ficamos daquele jeito por alguns minutos. Ela começou a ficar cada vez mais impaciente, até que não aguentou mais e gritou comigo:

– Droga! Diga alguma coisa!

– Por que eu diria? Você quem estava me encarando. A propósito, seu peixe caiu no chão.

– O quê? Merda! Isso é tudo sua culpa!

– Ache o que quiser.

Ela saiu bufando em direção à cozinha. Esperei seus passos se distanciarem para rir. Para meu espanto, outra risada se juntou à minha. Tomei um puta susto e olhei para o lado. Will estava ao lado da escada e, pelo jeito, deveria estar ali o tempo todo.

– É divertido irritar a Kimi, não?

– Acho que posso transformar isso num hobby.

– Está muito pensativo garoto. A demonstração de amor das duas “donzelas” da casa te deixou assim não é?

– Foi realmente... Interessante, mas não é esse o motivo.

– Eu sei que não. Se você pretende ficar por aqui deve aprender a entrar no clima.

– Vou me lembrar disso. Estou tentando imaginar o destino que a Jade planejou para mim.

– Isso também é um mistério para mim. A única pessoa que sempre está por dentro de tudo é a Bunny. A Jade costuma manter seus planos em segredo até o último momento. É bom para evitar traições.

– Oh. Então existe um histórico de traições por aqui?

– Quase.

– Como assim?

– Muitos vieram aqui às ordens do Lucas para acabar com o lugar de dentro para fora, mas todos desistiram. Quem não saiu por vontade própria acabou se juntando à família. Aliás, eu sou um desses.

– Nossa... Parece que ela criou um sistema foda mesmo.

– O que faz tudo dar certo é o carisma dela. Conquista qualquer um.

– Verdade. Bem... Pelo jeito terei que esperar.

– Sim. Tente descansar um pouco. Vai acabar ficando com olheiras se continuar sem dormir.

– Obrigado pelo conselho.

Por mais que não faça muita lógica (ou talvez até faça), aquele comentário acabou me lembrando da Jackie, o que em lembrou do Lucas e que me lembrou da Lisa. Eu tinha me esquecido de ligar para ela. Corri até meu quarto e descobri que meu celular estava sem bateria. Minha memória ruim só me fodia cada vez mais. Sabem o pior? Meu carregador estava em casa. Sim, aquela mesma casa que pegou fogo há dois dias. Tudo bem que uma pessoa normal anotaria o telefone em algum lugar que estivesse sempre à vista, mas o número dela só estava salvo no celular. Pensei seriamente em arremessar meu pobre aparelho eletrônico contra a parede, mas consegui me conter e fiquei respirando profundamente até me acalmar. Desisti da ligação e decidi perguntar à Jade se ela tinha o número (ela com certeza possuía meios de conseguir). Voltei à sala e passei o resto da manhã tentando, como a minha chefe havia mandado, preparar meu psicológico para algo que eu desconhecia. Resumindo: fiquei horas olhando para a televisão desligada até que alguns membros a ligaram em um programa qualquer. Continuei olhando para o mesmo local, só que não via nada. O vazio parecia muito atraente e eu o encarava com vontade. Almocei e só então avistei novamente as duas “senhoras carisma”. Depois de comer, conversei com Jade (que não me deu mais nenhum detalhe de seu plano maldito) e ela concordou em pedir para descobrirem o número do telefone de Lisa. Andávamos em direção à sala enquanto discutíamos isso e, para nossa surpresa, avistamos uma figura familiar que parecia um pouco perdida ao lado de Kimi.

– Lisa?

– Harry! Então você estava mesmo aqui!

Ela correu em nossa direção e parou à nossa frente com uma expressão que variava de feliz para preocupada.

– E aí jovem! Aconteceu algo?

– Oi Jade. Bem...

– Nem precisa responder. Só perguntei para quebrar o gelo. Sua mãe está bem e já descobrimos que mandou os filhos da puta.

Aquilo me atingiu de surpresa. Mãe, filhos da puta... Eu não sabia do que se tratava, mas parecia ser sério. Então decidi me intrometer:

– O que aconteceu?

– Lucas mandou dois homens dele para incomodar nossa amiga. Mas parece que ela foi salva por uma garota que manjava das artes marciais.

– Espere... Seria a...

– Jackie. Acabei conhecendo ela.

– Tudo bem... Conte-nos desde o começo.

Ela então nos explicou todo o ocorrido. Tudo aquilo sobre “erros” e espíritos parecia ter saído de uma daquelas histórias folclóricas que minha mãe me contava antes de dormir quando eu era menor. Se bem que nessa altura do campeonato eu estava disposto a acreditar em tudo. O pior aconteceu quando começamos a questioná-la sobre o lance de “só contarei quando os quatro estiverem juntos”:

– E como ela espera que nós juntemos, já que a Jackie voltou para casa? – perguntei.

– Bem...

– Acho que você devia ter falado para ela entrar com você. – disse Jade.

– Eu até pedi, mas ela não quis.

– Não se preocupem. Amanhã vocês terão a oportunidade de se juntar a ela.

Todos se voltaram em direção à voz misteriosa e encontramos uma garota baixa de cabelos e olhos negros com um grande sorriso no rosto.

– Oh... Gente... Essa é a Jessy. – disse Lisa apontando para a garota que surgiu do nada.

– Entendo... Então você é o espírito boladão? – perguntou Jade.

– Mais ou menos. Hoje em dia mal posso manter uma forma física. Nos meus tempos de glória eu era capaz até de conceder a vida eterna.

– Ho! Isso soa realmente interessante!

– Quer viver para sempre, chefe?

– Não. Só estou brincando. E que história é essa de chefe? Aqui é Jade ou tia Jade se preferir! Somos uma família, afinal.

– É... Tenho que me acostumar com isso.

– Com o tempo você pega o jeito. Enfim... Quando vamos nos juntar, tia espírito?

– Tia espírito? Bem... Estejam naquela mesma lanchonete onde conversaram de verdade pela primeira vez às duas da tarde. Ela estará lá.

– Cacete. Como... – disse totalmente confuso.

– A tia é boa... Estaremos lá!

– Conto com isso. Até a próxima.

A garota então desintegrou diante de nossos olhos. Aquilo foi mais do que bizarro, mas não pareceu abater a Jade. O melhor era os outros membros nos olhando confusos, já que eles não podiam ver a Jessy. Eu e Lisa ficamos encarando o espaço vazio antes ocupado por nossa amiga espiritual por alguns segundos. Ficaríamos ali por um bom tempo se a Jade não nos abraçasse, cada um com um de seus braços, aproximando nossas cabeças umas das outras:

– Bem... Chega de ficar vegetando! Harry, temos algo a discutir. Lisa se quiser pode esperar por aqui. Minha casa é sua casa. Caso queira ir embora, é só falar com aquele cara feio ali. – disse apontando para Will. – Ele arranjará uns membros para te acompanharem.

– Tudo bem... Eu espero.

– Muito bem! Venha comigo pequeno Harry.

Eu não poderia ficar ali nem se quisesse, pois estava levando uma chave de braço e sendo arrastado pela mansão. Quase perdi o fôlego algumas vezes. Mesmo assim, o “sequestro” continuou ininterruptamente até que chegássemos ao porão. Dessa vez havia uma mesa e três cadeiras bem no meio do local. Uma delas estava ocupada por Bunny e as outras estavam vazias. Fui solto e ordenado a me sentar na mais próxima. Jade logo ocupou o outro lugar e, depois de encarar sua companheira por alguns segundos, coçou a garganta e começou a falar:

– Antes de tudo eu gostaria de esclarecer algumas coisas. Eu e a Bunny aqui estamos juntas e não somente como amigas, ou irmãs de causa. Só eu isso é um segredo das portas da mansão para fora.

– Ué... Mas todos gostam de você. Não acho que vão ligar para tais coisas.

– Gostam porque não sabem. A sociedade não vê relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo com bons olhos. E como isso pode atrapalhar meu relacionamento com o povo, espero que fique apenas entre nós.

– Tudo bem. Não tenho para quem contar mesmo.

– Acho melhor deixar a Lisa por fora disso também. Vai que nossa relação muda.

– Entendo. O que mais quer falar comigo?

– O próximo tópico é sobre nosso primeiro movimento contra os Harrisons. Quero você como um dos líderes na operação.

– Eu? Mas eu só participei de um mísero roubo de carga! Vou acabar fodendo com a porra toda!

– Na verdade, você estará lá exatamente para que a porra toda não seja fodida.

– Ué... Mas...

– Apenas escute! – interrompeu Bunny. – Garoto impaciente...

Jade olhou para Bunny, voltou seu olhar para mim e, depois de coçar novamente a garganta (isso parecia ser alguma mania), retomou o diálogo:

– Como estava dizendo, você será uma peça chave na operação. Sua habilidade é mais do que perfeita para isso.

– Eu ainda não entendi. Nunca achei uma utilidade para essa droga.

– Isso é porque você vivia uma vida normal. Aqui, o tempo é precioso e podemos morrer a qualquer instante. E é aí que você entra! Sua habilidade faz com que você saiba esse instante e pode poupar várias vidas.

Tudo bem, eu realmente nunca havia pensado desse jeito. Admito que fiquei feliz por finalmente poder usar aquele poder para ajudar outras pessoas. É claro que isso também me colocava numa posição muito delicada, mas deixemos isso para depois.

– Está tudo bem por você, certo? – disse Jade, me acordando de meu transe.

– Oh... Sim... Eu acho...

– Mostre um pouco mais de confiança! – disse Bunny.

– Como quiser senhorita. Vou dar o meu melhor.

– É assim que se fala jovem!

Depois disso voltamos para a sala, onde Lisa nos esperava. Conversamos mais um pouco e pude ver que, mesmo com a situação complicada, ela se mantinha calma. Pelo jeito era uma garota forte. Começou a escurecer e Jade ordenou que alguns membros a levassem de volta para casa. O resto do dia foi como o anterior e me peguei novamente olhando para o teto em minha cama. Parece que só nesse momento a ficha realmente caiu e percebi toda a responsabilidade por trás do meu cargo. Um sentimento de arrependimento brotou em mim por algum tempo, mas foi logo desintegrado quando me lembrei do que aqueles filhos da puta haviam feito com meu pai. E pensar que tentaram fazer o mesmo com Lisa e sua família só piorou as coisas. Logo comecei a pensar em Jessy e no encontro do próximo dia. Outro sentimento, agora de orgulho, brotou em meu coração e percebi que meus esforços não foram em vão. Se pedissem para que eu definisse como estava me sentindo após me tocar nisso em uma palavra seria “ansiedade”. Mas essa maldita controla o tempo e fez com que as horas daquela madrugada demorassem uma eternidade.


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Notas finais do capítulo

Eu tenho meio que um bloqueio em escrever nas sextas e nos sábados, mas aqui está mais um capítulo~
Estou gostando bastante de escrever essa parte e sei que gostarei mais ainda de escrever o próximo capítulo!
Agradeço a quem leu até aqui, espero que tenham gostado e até o próximo capítulo =D



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