- Mas Lu-chan! Você concorda com ela?

Eu estava me esforçando para não aumentar meu tom de voz, meu rosto estava muito corado.

- A Cana está certa Levy – Lucy me falava. – Se você gosta tanto dele deveria falar.

- Ma... Ma... Mas. – Acabei gaguejando e não terminei a frase.

Cana, que estava em cima da mesa, virando outro barril de vinho, olhou firmemente para mim.

- Vocês dois estão de enrolação há um bom tempo.

Eu olhei disfarçadamente para o outro lado da guilda, e ele estava lá. Gajeel estava comendo sozinho, o que não era novidade. Há algum tempo eu havia criado o hábito de comer junto com ele, mas de umas semanas pra cá, eu simplesmente não conseguia ficar perto dele sem gaguejar ou ficar vermelha como um tomate. E que conselho eu recebo? Declarar-me para ele. Como posso fazer isso se mal consigo conversar com ele?

- Você viu Lucy? É só olhar para ele que se esquece das amigas.

- Oi? – Eu me voltei para elas. Nem percebi que havia me distraído com minha linha de raciocínio.

De repente, Cana apenas sorriu para mim, e eu me assustei com a malícia contida naquele sorriso.

- O que foi Cana? Lucy perguntou.

- Sabe Lu-chan. – Eu me segurei para não revirar meus olhos quando percebi que Cana estava imitando minha voz. – Eu acho que tive uma ideia...

Lucy parecia ter entrado na mesma sintonia que ela, porque começou a sorrir do mesmo jeito. E eu senti um arrepio na espinha.

- Uma ideia Cana-chan?

- Sim, mas a Levi vai ter que esperar lá fora.

- Hein? Do lado de fora?

No final das contas acabei mesmo indo para o lado de fora da guilda. A única coisa que me preocupava mais do que o possível plano delas, era o tempo fechado e nublado.

Os minutos foram passando, o dia foi se pondo, e as pessoas começaram a ir para sua casa (ou no caso de algumas garotas para Fairy Hills.).

Eu já estava seriamente pensando em ir embora, quando ele saiu de lá. Gajeel parecia estar ligeiramente confuso, como se estivesse procurando alguém. Assim que ele me viu, ele foi se aproximando, e eu fui sentindo meu rosto queimar de vergonha.

- Ei baixinha. – Ele parou na minha frente. – O Lily disse que você estava me procurando.

- O Phanterlily?

Esse era o plano delas? Falar para gato falar para ele vir falar comigo? Nota mental: não aceitar conselho de uma Cana sóbria. Ou não aceitar em momento algum.

- E então? Ele me perguntou

- Eu... Bem... Eu...

Droga! Eu estava gaguejando de novo! Ele deve me achar uma idiota agora.

- Tudo bem baixinha? Ele aproximou o rosto do meu.

Coragem Levi! É agora ou nunca.

- Gajeel... Eu queria te falar que... Eu... – Eu respirei fundo e olhei-o nos olhos. – Eu estou gostando, quer dizer, estou apaixonada por alguém. E esse alguém... É você Gajeel.

Soltei tudo de uma vez, e abaixei minha cabeça. Senti meu rosto queimar, e toda coragem que eu tive alguns segundo atrás eu simplesmente evaporava. Senti algo gelado em meu braço, e depois em minhas costas. Chuva? Reuni coragem o suficiente para olhar para o alto e tentar encara-lo.

Ele apenas virou o rosto para o alto, silenciosamente. O cenho estava franzido. O que aquilo significava? Ele havia ouvido tudo, eu tinha certeza. Então por quê?

Num ímpeto, dei as costas a ele e saí correndo, a chuva ficava mais forte, as lágrimas embaçavam minha visão e meu coração doía. Eu nunca passara por algo parecido.

No meio do caminho, que não tinha destino por que eu estava correndo a esmo, eu acabei tropeçando. Por instinto leve meus braços a altura do rosto, mas o que senti não foi o chão duro e frio, foi algo me puxando e me envolvendo, algo bem maior que eu, que me protegia por inteiro.

- Eu já não disse pra você não sair da minha vista? É difícil cuidar de algo tão pequeno.

Assim que reconheci a voz grave, senti meu coração bater mais forte, mas não sabia por qual sentimento ele estava motivado.

- Gajeel-kun. Eu...

- Vamos sair dessa chuva. Não estamos tão longe da guilda.

Eu me afastei dele bruscamente. Não conseguia entender aquela frieza dele. Eu sempre soube que ele não era do tipo emotivo de pessoa, mas ele nunca fora assim comigo. Eu só queria ouvir uma resposta.

- Eu não preciso que você fique com pena de mim Gajeel!

Ele apenas me puxou pelo pulso, pondo um dos braços em volta da minha cintura, deixando nossos corpos bem juntos.

- Eu não estou com pena de você. – Ele aproximou o rosto do meu e me olhou nos olhos. – Eu estava apenas tentando achar um jeito de falar o quanto gosto de você, o quanto eu te amo.

A chuva foi ficando mais forte, fomos obrigados a ficar debaixo do beiral de uma casa. Sentamo-nos na calçada (já estávamos molhados por inteiro mesmo.). Em um determinado momento, ele percebeu que eu já estava com muito sono e me colocou no colo dele, não achei que meu rosto poderia ficar tão vermelho.

Queria poder ter falado que ficamos a noite toda trocando beijos e juras de amor, mas era óbvio que não seria assim. Às vezes eu olhava para ele e sorria às vezes ele afagava meus cabelos. Para mim aquilo era suficiente.