Contágio escrita por MrArt


Capítulo 70
Estação 4 - Capítulo 70 - Dormindo ao Lado do Inimigo


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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— Isso tudo não passa de um grande mal entendido! - Robert falou enquanto metade de seu grupo ainda mantinha as armas apontadas para Vasili e todo o resto de seus homens - Você só pode estar maluco! Todos da minha família estão mortos - O loiro falou assustado, mas era visível que ele e Vasili tinham grandes semelhanças - Não pode ser… - Ele falou para si mesmo, baixinho.

— Nós viemos cobrar uma dívida! - Kei falou se intrometendo no assunto ‘’familiar’’. Ford levantou suas mãos demonstrando que não iria atacar ninguém. Renata ria daquilo ao fundo, sabendo que iria acabar mal - Você matou nossos dois amigos e sequestrou elas duas, fora todas as outras pessoas que perdemos por causa dessa loucura sua - Kei olhou para o lado e viu que Robert estava em estado de choque com a situação - E falar que esse garoto que você mal viu é seu filho? É a coisa mais estúpida que eu já ouvi desde que esse inferno começou.

— Vocês estão bem que fora do assunto? Não é? - Vasili riu, cruzando os braços, não estava com medo nenhum de levar um tiro - Sua mãe… - Aquelas únicas falas de Vasili fez Robert olhar para ele no mesmo instante - A Norma, Norma Petterson - Os olhos de Robert esbugalharam - Te assustei só pelo sobrenome, não? - Vasili riu em deboche - Seu pai era o Talon, mas ele era infértil… então eu conheci sua mãe e você nasceu - A pressão do rapaz estava caindo aos poucos enquanto Vasili discursava - É melhor ser duro do que ficar nessa enrolação. Aceite que você é filho de um Assassino Russo - Vasili falou bem lentamente, voltando ao seu modo frio.

— Cara, acho que eu vou desmaiar - Robert falou para Polly e Akio. Todos ali pareciam acreditar nas palavras de Vasili, até mesmo Kei.

— Nós queremos apenas o nosso amigo de volta! - Tobbie disse tentando acalmar a situação, mas mal sabia que Vasili odiava Ford e não iria libertar o homem de jeito nenhum. Ford tinha uma grande dívida com o russo e não iria se safar daquilo tão cedo.

— Seu amigo não vai sair daqui, nunca - Novamente as armas voltaram a ser apontadas para Vasili - Vão ser assim comigo? - Vasili fez um sinal com o dedo e Dimitri entrou para dentro do cassino, mas logo voltou para o lado de fora com Ford amarrado, seu estado era horrível - Podem me matar, mas o amigo de vocês irá junto.

— ESPERA! - Robert gritou e todos novamente olharam para ele, inclusive seu pai recém-descoberto - Você não faria isso com os amigos de seu filho… não é? - O loiro disse meio sem graça.

— Acha que não? - O olhar de Vasili já respondia a pergunta de Robert - Matar alguém de meu sangue com certeza não, mas outras pessoas que ele conhece, isso sim é um caso para se pensar - Vasili olhou todas as pessoas que estavam junto com Robert, inclusive Irina - Mas vocês não me fizeram mal algum, apenas este homem é responsável por tudo isso - Apontou o dedo para Ford.

— O que você quer que a gente faça? Que nós fiquemos quietos enquanto você faz algo de ruim com o Ford - Polly estava muito irritada com aquela situação, parecia que não iria ter um fim aquela conversa.

— O Ford não era uma das melhores pessoas - Renata falou e chamou a atenção de Vasili, percebendo que havia uma marca de dedos no pescoço da moça - Eu não me importaria se algo acontecesse com ele. Pode ir em frente - Renata estava sem sentimento algum por Ford, apenas queria que dessem um fim nele.

— Como você é fria, Jesus - Danita falou passando as mãos em seus próprios braços.

Todo o comboio remanescente - Monna, Horan, Danita, Selena, Bonnie, Jenny Robson, Bonne, Tobbie e Nitori - estava preocupado de fato com Ford, mesmo depois de todas as coisas que ele havia aprontado. Querendo ou não, Ford havia salvado a vida de todos eles no começo do apocalipse.

De fato, Renata havia se tornado uma pessoa fria, calculista, mas no fundo estava extremamente perturbada e não reconhecia bondade nas pessoas, todos ao seu redor eram apenas pessoas que lhe ajudavam a sobreviver, mas naquele momento, sabia que iria conseguir sobreviver sozinha.

Polly, Akio e Bel estavam crendo que o grupo estava se distanciando ainda mais, principalmente após os problemas passados no Palácio Oeste. Kei havia se tornado alguém mais sentimental após relacionar-se com Akio, mas ainda sim mantinha sua postura fria e intimidadora. Robert, no entanto, queria sempre fugir de problemas após levar um tiro de Derek meses atrás, mas parecia que todos os problemas agora iam para ele sem cessar.

— A única coisa que posso lhes oferecer, é residir o cassino conosco - Vasili falou e todos começaram um burburinho, até mesmo os seus atiradores - Sei que é uma ameaça para ambos grupos, mas… - Vasili suspirou - Você precisa aceitar que é meu filho, querendo ou não - Ele olhou para Robert, que ouvia tudo com atenção - Sei que vai com seu grupo onde for, por isso mesmo peço para que todos fiquem, não vamos ficar perto um dos outros, há diversos andares pelo cassino desocupados. Apenos quero ter certeza você não vai estar desaparecido por aí novamente.

— Espera aí? Novamente? - Polly quase engasgou com o que Vasili havia falo.

— Isso é uma longa história - Irina sussurrou para Polly, que ficou quieta.

— Enfim, a escolha é de vocês. Há água potável, energia e comida e com mais pessoas, a segurança daqui será mais forte, mesmo com tantas mortes que ambos tiveram - O mafioso disse cruzando os braços - E não é porque vocês vão ficar aqui, que esse homem será solto - Ele se referiu a Ford.

— Eu quero que esse Ford se dane, a última vez que vi energia foi naquela droga do Palácio Oeste - Renata falou saindo do meio de seu grupo e indo na direção de Vasili, que sorriu satisfeito por já ter conquistado alguém com as mordomias do cassino. Era aquilo ou deixar Robert ir embora, igual Norma fez vinte anos atrás.

— Não era você quem queria invadir a porra do cassino? Como você é falsa! - Bel gritou para Renata.

— Ele tem água quente, você acha mesmo que eu vou atacar um cara que está me oferecendo segurança? - Renata disse chegando perto da entrada do cassino, mas foi barrada por Mikhail e Mischa - Qual é…

— Espere as ordens do Vasili para você passar - Mischa falou cerrando os olhos para Renata, o atirador não estava gostando nada daquela conversa de seu líder receber ‘’refugiados’’.

— Enfim, você tem toda a opção de vir para cá - Vasili falou para Robert. Sua esposa Katya e seu filho Ygor olhavam tudo aquilo um tanto que surpresos, mesmo sabendo que Vasili havia tido um filho bem antes de Ygor nascer, mas o encontrar no meio de um apocalipse zumbi era algo surpreendente.

— O que nós vamos fazer? - Robert perguntou para Kei, Akio, Bel e Polly.

— Nós não temos alternativa nenhuma agora, resta aceitar o que ele está pedindo - Polly falou, enquanto observava alguns zumbis aparecerem na rua - Se ele é quem diz que é… não vai tentar fazer alguma coisa com você, mas pode ser um risco para nós.

— Então vamos arriscar - Kei fez todos ficarem surpresos com sua atitude - Não é seguro ficar nas ruas com todos os esses zumbis sendo atraídos para a cidade.

— E vocês acham que essa gente do comboio vai se sentir confortável com o líder deles preso? - Bel perguntou, vendo que os membros do grupo de Ford se mantinham apreensivos com aquela oferta de Vasili - Com certeza um deles vai tentar tirar o Ford de lá, tipo o Boone. E tem a Jenny e a Selena, elas foram sequestradas por eles e a Danita foi atacada e quase morreu...

— Boone viu Ford tentar matar a Renata, ele não vai tentar nada. Jenny e Selena são amigas da Irina, elas conseguem se resolver, inclusive a Danita - Kei falou - O problema é a Nitori, mataram o namorado dela, isso sim é um perigo.

— Eu não vou, podem ter certeza disso - Nitori ouvia toda a conversa do grupo. Ela segurava sua única arma - Ficar com esse grupo que tirou a vida da pessoa que eu mais amava, eu realmente estou deprimida com isso, quero me vingar deles, mas sei que vocês também precisam de descanso, principalmente o Robert, e é raro encontrar um familiar nesse inferno, principalmente quando ele é um assassino russo - Nitori olhou bem para Vasili - Podem fazer o que bem entenderem, eu estou indo - Ela foi até seus amigos para se despedir deles - Como a Renata disse, esse comboio acabou.

— Que merda… - Kei falou um pouco atordoada com a situação, mas naquela hora não havia mais o que fazer. Ela se virou para o restante do comboio - Podem vir conosco ou irem com a Nitori, mas tenho certeza que não irão sobreviver lá fora. Vamos? - Kei deu o primeiro passo com seu grupo prontos para entrarem num ‘’paraíso’’ ou num covil de cobras.

 

— Flashback -

 

Um ano antes do Contágio. Kei estava sem pique algum de se apresentar no Festival de Outono na sua escola, em Tóquio. A oriental parecia ser uma pessoa extremamente rude, fria, mas também muito inteligente e observadora.

— Nós vamos nos apresentar em cinco minutos - Yumi apareceu no pequeno camarim de Kei, onde a mesma observava seu próprio rosto em um grande espelho. A garota saiu do camarim deixando Kei sozinha novamente.

— Eu odeio minha vida - Kei falou para si mesma. Se levantou da cadeira e pegou sua guitarra da cor preta, personalizada com alguns materiais da cor neon. Quase todos os alunos da escola deveriam estar no grande auditório prontos para assistirem a apresentação de ‘’Band Rock’’, pacata banda que Kei formou com seus amigos.

Kei, Akemi, Yumi e Akio - Que estava fora da cidade por algumas semanas -. Apenas as três estariam fazendo uma apresentação para um público de quase 1000 estudantes, funcionários e pais. Mesmo tendo uma semana infeliz, ela estava pronta e confiante que o show daria certo e teria reconhecimento pelas pessoas.

Ela estava completamente errada.

O Show foi um desastre, a iluminação havia falhado o tempo inteiro, Yumi errou várias notas musicais, Akemi foi atingida por um objeto lançado por um rapaz, fora um pequeno tremor de terra - Mesmo sendo constante no Japão -, que atrapalhou ainda mais a apresentação do trio.

Tudo terminou sem um único aplauso, todos foram embora rapidamente enquanto os técnicos arrumavam o palco. Kei estava totalmente desgostosa com o resultado do show que havia se preparado tanto e havia sido um fiasco.

— Ei, precisamos conversar! - Yumi apareceu no corredor dos bastidores, enquanto Kei passava por ali, nervosa.

— Vai se ferrar! - Kei passou por Yumi, olhando mortalmente para a garota, que ficou quieta e deixou a moça dos cabelos curtos em paz. Kei estava decidida, ela iria embora daquele país, não estava mais suportando ficar ali, tudo estava dando errado e sua única oportunidade era uma oferta de emprego dada por uma desconhecida chamada Polly.

Kei havia conhecido Polly na internet enquanto a mesma fazia propaganda de sua nova rede de jornalismo sediada em Denver, após se separar de seu marido também jornalista Andrew, que no momento havia se mudado para Utah.

A oriental saiu da escola e foi direto para o seu apartamento nos arredores da cidade, sua mãe não estava em casa no momento, mas sabia de todo o projeto da filha de sair da banda e ir embora para o Japão, contudo, não era a favor da decisão da filha, mas sabia que a mesma teria que construir sua vida sozinha.

— Parece que está na hora de sair disso daqui… - Kei falou se sentando na sua escrivaninha, ela ligou o notebook e abriu uma rede social, onde havia uma mensagem de Polly recebida a algumas semanas, mas a oriental não havia respondido por falta de interesse, mas agora, ela tinha toda a certeza que aquela era a sua única oportunidade de mudar de vida.

 

  - Cassino de Vasili -

 

— Por aqui ficam os quartos e logo adiante temos outra sala de recepção - Vasili andava com todo o grupo recém-chegado atrás dele. O grupo estava no terceiro andar no cassino, o local onde a máfia de Vasili residia era no quinto. Mikhail e Mischa faziam a escolta de Vasili por questões de segurança - As armas podem ficar com vocês, mas não podem usar elas a não ser que seja de extrema urgência - Vasili percebeu que eles não iriam fazer nada de ruim, pelo menos não agora - Bom, acho que já é o suficiente - Vasili olhou para Irina, que estava logo ao fundo deles - Creio que você pode mostrar o resto do cassino para eles e mostrarem seus quartos, não é mesmo, Irina? - A moça se sentiu intimidada, ela sabia que iria ouvir poucas e boas de Vasili por ter sumido - Mesmo tendo sido sequestrada por Jenny e Selena -.

— É, eu acho que sim - Irina falou com a cabeça baixa, enquanto Vasili passava pela moça, com Mikhail e Mischa logo atrás dele, os três rapidamente sumiram do corredor quando desceram as escadas direto para o saguão do cassino, onde passavam a maior parte do dia.

O Cassino era bem bonito e parecia estar bem conservado comparado aos outros edifícios de Las Vegas. Havia iluminação solar ali, água retirada em um poço artesiano e plantações feitas no topo do prédio - Ideia dada por Rhonda, antes de ser morta por Kei -, e com tantas baixas no grupo de Vasili, a maior parte dos quartos estavam vazios.

— Cada quarto aqui tem capacidade para duas pessoas, mas vocês podem colocar mais uma cama se não quiserem se sentirem seguros, todos eles tem banheiro com água encanada, se olharem as gavetas, vão encontrar alguma roupa que podem servir em vocês... - Irina falou abrindo a porta de um quarto, estava todo arrumado, as camas forradas com lençóis limpos - Anastásia é atiradora mas também cuida das coisas do cassino, mas se forem ficarem em algum dos quartos, terão toda a responsabilidade de cuidar deles.

— Isso me lembra muito o Palácio Oeste - Bel falou se sentando na cama e movendo seus quadris nela, balançando o colchão - Mas esse quarto é iluminado e tem cheiro de lavanda - Ela riu e Polly sentou na cama junto com a moça.

— Realmente! E é muito macio - Polly deitou-se encostando a cabeça no travesseiro.

— Eu acho melhor vocês tomarem banho antes de se deitarem em uma cama parcialmente limpa - Renata reclamou e olhou para Jenny e Selena - Principalmente vocês duas… e você também! - Ela gritou com Irina.

— Enfim - Irina encarou Renata - O tempo máximo do banho são cinco minutos, mas para quem andou no encanamento de esgoto acho que dez minutos resolvem… - A loira saiu do quarto, mas logo voltou para falar algo - Podem escolher os quartos que irão ficar, esse andar tem suficiente para todos vocês - Ela saiu novamente, pronta para voltar aos seus aposentos e tomar um belo banho.

— Escapamos dessa merda pra voltar, que trabalho mais inútil - Jenny falou olhando o quarto.

— Pelo menos vocês não estão presas, ao contrário do Ford - Robert falou coçando a cabeça - Cara a Irina tem razão, todo mundo precisa de um banho aqui…

Todos se dividiram e escolheram seus quartos. Robert ficou no mesmo quarto de Polly e Bel; Kei ficou com Akio respectivamente, Renata ficou sozinha, Boone e Horan - Que foi direcionado para a enfermaria para Dimitri o avaliar -, Danita e Monna, Selena e Tobbie, Jenny e Bonnie. Nitori definitivamente havia abandonado o grupo e agora estava na rota de saída de Las Vegas.

Enquanto Robert e Bel iam até o quarto de Kei pegar algumas armas por precaução. Polly imediatamente abriu as gavetas do quarto no qual iria ficar, ela viu algumas roupas femininas - Mesmo tendo um tamanho maior que o dela -, pegou uma toalha e um sabão líquido que estava em cima de uma estante e foi para o pequeno banheiro do quarto, trancando a porta.

— Eu estou horrível… - Polly se olhou no espelho após terminar de se despir. Seu cabelo estava desgrenhado, sua pele havia diversos arranhões, seus seios haviam se desenvolvido e ela nunca havia reparado. A loira seguiu até o box do chuveiro e abriu a água, colocou as mãos no líquido, e teve um momento de satisfação.

A água estava quente.

— Isso é incrível… - Polly falou enquanto passava um produto líquido em seu cabelo e o esfregava. O vapor naquele box era grande e Polly aproveitava cada segundo ali. A loira saiu do banho e se enrolou numa toalha, novamente foi em direção ao espelho e sorriu para si mesma, confiante da nova vida que iria levar.

As coisas iriam mudar nos próximos dias.


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Notas finais do capítulo

O que irá acontecer com Ford?
O comboio dele vai tentar fazer algo?
Como Robert vai agir com sua figura paterna?

Até os próximos capitulos!!



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