Dear Teacher escrita por Flávia Monteiro


Capítulo 3
Capítulo 2 - Má ideia


Notas iniciais do capítulo

Enfim, mais um cap pra vcs! o/
agora já tenho uma meta de um cap a cada final de semana! :)
Aproveitem a história!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/505634/chapter/3

Dois dias seguiram comigo tentando lugares diferentes na sala de aula como o fundo e junto à parede para fugir do radar do Mr. Grunt, o que é um pouco difícil com uma classe em forma de platéia que quanto mais ao fundo mais alto você está. Minha sorte é que ele corria os olhos por nossos rostos cansados com desinteresse, sem nunca se ater em um de nós.

No terceiro dia depois da minha vergonha eterna da biblioteca, quando o sol se escondeu atrás de nuvens cinza e frias, Alan me pegou sozinha no corredor do refeitório, esperando Ellen comprar algo para ela comer. Minha amiga loira nunca fica sem um lanchinho na bolsa.

– Bom dia! – me cumprimentou com as mãos nos bolsos do jeans e um sorriso estampado no rosto. Era impossível não sorrir de volta pra ele.

– Bom dia. – respondi.

– Como estamos com o senhor Grunt?

Fiz uma careta. Estava demorando para ele vir com esse assunto para mim.

– Hum... Sabe, nunca vai chamar a atenção dele se escondendo pelos cantos.

– Alan, ele é meu professor! – Como é que ele pode pensar que devo chamar a atenção de um professor? Isso é tão idiota.

– O que deixa tudo mais... Hum... Interessante.

Rolei meus olhos. Aposto que Alan estava com caraminholas na cabeça, tramando cada detalhe de um romance ilusório aluna/professor que não existe. E, como o conheço desde o ensino médio, sei que não vai me deixar em paz com esse assunto por um bom tempo.

– Sabe, nunca o vi com ninguém. Nem sequer ouvi falar que tivesse alguém. – comentou sem olhar para mim – Quem sabe, sendo um pouco insistente, você não o conquista?

Fingi que não o ouvi. Só imaginava que se levasse um fora do Mr. Grunt, nunca mais assistiria a uma aula dele de novo.

– O que aconteceu na biblioteca na Segunda? – perguntou me avaliando com atenção.

– N... Nada. O que poderia ter acontecido? – pisquei, tentando parecer confusa.

Ele riu, olhou para os lados e se aproximou de mim para falar em voz baixa.

– O vi entrando lá enquanto ia pro refeitório com Gustav. A Ellen já estava lá e contou que você tinha decidido passar o almoço entre os livros empoeirados, antes de chegar completamente sem graça a nossa mesa. – Continuei fingindo que não o ouvia, sentindo que me observava com atenção – Ele encontrou seu esconderijo secreto e falou com você, não foi?

Como, diabos, ele sabe?

– A Ellen está demorando. – comentei, evitando olhar para o ruivo.

Alan riu. Acho que mudar de assunto confirmou suas suspeitas.

– Bom dia! – ouvimos do outro lado do corredor o Derick vindo radiante.

– Alguém viu um passarinho verde. – comentei, tentando mudar de assunto. O problema é que Alan não é tão fácil assim.

– É que ele não tem medo de arriscar.

Sinceramente, esse assunto já deu pra mim. Por mais que o Mr. Grunt seja bonito a ponto de desviar minha atenção da aula (e do meu sono à noite) não quer dizer que ele olharia para mim, uma aluna nanica e com cara de criança.

– Você está bonita, Catherine. – Derick se aproximou de nós e tirou a boina vinho que eu usava da minha cabeça para pôr na dele. – Isto fica bem em mim?

Ele a usou de lado como um pintor francês, e fez uma expressão de superioridade. Ri com a palhaçada do moreno.

– Não. Só na Kate. –Alan resmungou.

Derick deixou os ombros caírem, exagerando na expressão de decepção.

– É, você tem sorte de se parecer como uma boneca. Qualquer coisa fica bem em você. – tirou a boina e me devolveu para poder a vestir de novo.

– Isso foi uma referencia à minha altura? – reclamei sem estar realmente irritada.

– Pode ser. Baixinha, delicada... Bonita... – aqueles olhos azuis brilharam em minha direção enquanto terminava de ajeitar o pedaço de pano sobre minha cabeça.

– Nem na outra vida, Derick. – respondi.

Alan riu observando os alunos saírem e entrarem no refeitório, mas sabia que ele estava rindo do fora que acabei de dar no carinha aqui do meu lado.

– E lá vem a Ellen pra gente poder ir para a aula. – o ruivo anunciou, já dando as costas e seguindo o seu caminho, nós nos apressamos atrás dele.

– Comprei um iogurte para você! – ela me passou a garrafinha que abri o lacre para beber.

O dia longo e lento foi fechado com chave de ouro. Após a aula do Mr. Grunt, que foi a última da tarde, Alan cochichou para mim enquanto guardava meus livros na bolsa.

– Vá falar com ele!

– Hum...?

– Aproveita e vai logo! – ele virou e se enfiou na onda de alunos que saíam da sala.

E essa agora? Senti meu coração disparar enquanto, pela primeira vez, pensava seriamente nisso. Será que eu falo com ele? Mr. Grunt estava de costas terminando de apagar a lousa. Seu pulôver azul marinho não marcava seu corpo como a camisa branca sob ele. Isso me ajudou a prestar atenção na aula hoje. Desci ao chão sem pressa, deixando as outras pessoas esvaziarem o local na sua pressa de chegar a suas casas antes que esfrie mais.

Quando cheguei ao chão permaneci parada olhando para o Mr. Grunt guardar seus papéis. Antes de fechar sua pasta notou que eu estava ali.

– Ah, oi. – me cumprimentou em um tom de leve surpresa.

– Oi. – minha voz saiu fraca. E agora? O que falo?

– Você é? – me perguntou fechando a pasta e vestindo seu paletó preto.

– Catherine. Catherine Johnson.

– Em que posso lhe ajudar, Senhorita Johnson? – ele vestiu o sobretudo sobre o paletó.

– Estava pensando... – estava pensando no quê? Rápido, invente qualquer coisa!– Vale a pena ser professor? Digo, é melhor ensinar literatura ou trabalhar em uma editora?

Ele me olhou com atenção. O que foi isso? Que tipo de pergunta foi essa? Catherine, abra um buraco no chão e enterre sua cara lá agora!

– Isso é algo que vai descobrir ao longo do curso. – respondeu com calma - Alguma dessas opções irá te chamar mais atenção. Só isso, senhorita Johnson?

– Sim, Mr. Grunt.

– Boa tarde.

Assenti a despedida até ele sair da sala. Nesse momento deixei meu corpo se apoiar na mesa mais próxima. Minha boca estava seca, e minha mão tremia quando a levei aos meus lábios. Meu Deus! Nunca mais vou voltar a fazer algo assim estúpido de novo! O que estava pensando quando fui seguir as idéias do Alan?

O som de alguém entrando correndo na sala ecoou pelo local e nem sequer me importei em saber quem era. Quando fui balançada pelos ombros ergui os olhos para o rapaz ruivo com sardas à minha frente.

– Ele te beijou?

– Então o que foi? – Alan enrugou o semblante e tirou minha mão da minha boca.

– Nervosa. – meu estado de choque não me permitia produzir palavras como deveria.

– Deu alguma coisa errada?

Neguei de novo. Alan suspirou e segurou meu rosto entre suas mãos, levando minha atenção aos seus olhos castanhos.

– Ouvi tudo, Catherine. Você foi bem. Agora ele sabe o seu nome, o que é um grande passo.

Assenti junto com ele. Alguém limpou a garganta atrás de nós, nos assustando. Mr. Grunt entrou na sala e foi pegar o molho de chaves sobre a mesa, antes de falar:

– Por favor, desocupem a sala.

Nem olhou para nós antes de voltar a sair.

– Será que ele ficou com ciúmes? – Alan perguntou se afastando de mim.

– Não me importo. Não vou mais seguir suas idéias sem noção – respondi, pegando minha bolsa e saindo dali.

– O quê? Por quê? – ele correu atrás de mim.

– Tem ideia de como fiquei nervosa e com vergonha?

Ele riu.

– Sim, e isso é meigo da sua parte. Diz que você não costuma paquerar professores com frequência.

Funguei. Quem pensaria algo assim de mim?

Quando entrei no meu quarto, Ellen estava sentada na cama dela com seu notebook cor-de-rosa sobre o colo.

– Você se inscreveu para a viagem para a Itália? – ela me perguntou.

– Não. – respondi tirando meu casaco e minha boina.

– Quer que eu faça sua inscrição?

– Sim, por favor.

– É a professora Prouts que está organizando. Ainda bem, ela é legal. Se fosse alguém como o Mr. Grunt eu não iria.

– Por quê?

– Acho que ele é bipolar. Parecia bem tranquilo na aula hoje, e quando passou por mim para ir embora parecia um daqueles carros monstro, passando por cima de tudo com raiva.

Passando por cima de tudo com raiva? Será que Alan estava certo? Poderíamos ter deixado o senhor Grunt com ciúmes?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dear Teacher" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.