Shintaro Kisaragi estava encolhido embaixo dos lençóis frios extendidos em sua cama, não conseguia respirar direito, mas apenas se sentia melhor ali, "escondido", do que em qualquer outro lugar... o quarto estava escuro, esteve assim durante exatamente dois anos, ele não era o tipo de pessoa que gostava de abrir a janela para deixar o sol entrar e iluminar o cômodo, preferia o seu canto escuro, onde estaria isolado de tudo e de todos.

Ele podia ouvir risadas de crianças vindas da rua de sua casa, tão alegres e cheias de energia... ele não sentia felicidade alguma fazia um longo período de tempo, então ouvir isso só o cobria de mais dor.

Era dia quinze de agosto, lembranças vinham e ecoavam em sua mente com essa data. Tudo porque, essa data era... o que o fazia lembra-se dela...

Ela que havia partido, e deixado apenas as lembranças que as pessoas haviam guardado dela para trás, do seu sorriso, de sua voz, até mesmo de seu jeito de andar, tudo era memorável quando se tratava daquela menina.

"Ayano..." – disse o nome dela num sussurro quase inaudível.

Era tão triste vê-lo assim, ninguém mais poderia sentir medo dele agora, aquele que sempre esteve sentado no fundo da sala com um olhar irritado e tedioso para o resto de sua classe, estava no momento com uma expressão tão triste que nem a pessoa mais fria do mundo poderia não ter pena ou ficar preocupado.

O menino não conseguia ficar quieto enquanto estava deitado. Ele ainda se lembrava de suas últimas palavras, e elas ainda foram naquele mesmo dia em que ela se foi...

"Sorria Shintaro!" – era o que ela sempre dizia a ele, em um tom alegre e adorável, e justamente essa, foi a última frase que ele conseguiu escutar saindo da boca da garota.

Shintaro estremeceu mais uma vez embaixo dos cobertores ao lembrar-se daquelas palavras.

"Por que tinha que ser assim, Ayano?" – indagou já não contendo as lágrimas salgadas que agora escorriam pelo seu rosto.

Virou-se de bruços na cama e fechou os olhos com força. Logo, fechou a mão em punho a batendo contra o colchão.

"Por que? Por que?" - disse tendo a voz abafada pelo travesseiro.

Ele não queria mais pensar no destino horrível que ela teve, então, o sono foi chegando...

Logo ele embarcou no mundodos sonhos.

E lá estava ele, Shintaro caminhava com seu uniforme escolar de inverno, em tons de preto total. Ele fazia o trajeto de sua casa até a escola. O dia estava nublado, o que o causava mais desânimo que o normal. Shintaro nunca foi de sorrir, ainda mais em ocasiões tão rotineiras, então, estar desanimado significava que seria difícil de fazê-lo abrir um sorriso ou deixar soltar um pequeno riso pelo canto da boca.

Mas então ela surgiu.

A garota com um uniforme igualmente em tons de preto, usando o traje da mesma escola do menino. O que mais se destacava em sua imagem era o longo cachecol vermelho que estava cuidadosamente arrumado em torno de seu pescoço. Seus cabelos castanhos se movimentavam juntamente com o vento, fazendo a cena se tornar ainda mais bonita.

"Shintaro! – ela falou com aquele sorriso lindo que ele adorava, aquele que fazia com que todos em volta sorrissem de volta e se encantassem pela menina logo na primeira vez que a vissem.

"Bom dia..." – disse ele um pouco nervoso, mas fingindo não prestar muita atenção na menina que vinha correndo em sua direção.

Ela ainda sorria para ele e, sem mais nem menos, ele também se pegou sorrindo.

Aquele sorriso único dela, que preenchia os dias do menino sutilmente com mais felicidade. Nem mesmo alguém como ele continha-se a dar um sorriso de resposta para ela.

"Seu sorriso é muito bonito, sabia?" – falou ela observando as feições do menino mais de perto - "Queria ver essa cena mais vezes." - completou enquanto dava algumas risadinhas.

"Uh...? Não diga bobagens." - falou o menino com as bochechas já quentes.

"Por favor" - ela deu uma pausa - "Sorria Shintaro!" - disse ela com um estranho peso em cima de suas palavras, mas com o mesmo sorriso de sempre.

Então o perfeito cenário de seu sonho mudou, agora ele via o telhado da escola.

Não, não, não, aquilo não.

Aquela cena era insuportável para ele.

Era uma cena dela... dela sorrindo antes de partir.

Ayano sentou-se em um pequeno degrau logo na frente da porta que ligava o andar de cima do colégio com o telhado, pegou uma folha de papel, e a dobrou formando um tsuru. Assim, a menina caminhou até a ponta do telhado. Lá ela se abaixou e largou a dobradura, e logo depois disso... pulou.

Logo, o cenários mudava de novo. Agora o menino via-se numa sala de aula coberta por tons alaranjados. E é claro, na frente de uma das janelas, lá estava ela, Ayano, parada, o olhando. Seus olhos eram vermelhos.

O garoto corria até ela. Mas de nada adiantava. Ela só parecia cada vez mais distante.

Quando ele finalmente se aproximou, ela sumiu.

Desapareceu diante de seus olhos.

A garota cheia de vida que estava em sua frente a poucos segundos nunca iria voltar, não estaria mais segura em seus braços nunca mais.

Ela tinha partido.

"Por que, Ayano?" - o menino dizia paralisado diante da grande janela da sala de aula que a dois anos atrás era sua classe - "Por favor, me dê uma resposta pelo menos desta vez. Por que?"

"Porque eu te amo..." – ouviu uma voz doce em um sussurro do vento em seu ouvido.

Com isso ele despertou.

Encarou o teto ainda paralisado, do mesmo jeito que estava em seu sonho.

Logo, fechou os olhos com força e permitiu-se chorar mais uma vez.

Desabou.

A resposta sempre esteve lá, era transparente desde o início, e ele nunca tinha notado.

"Eu também te amo, Ayano.” – pensou em meio as lágrimas que caiam.