Clarice. Este é o nome de uma das garotas mais quietas da cidade. Com um talento incomum em aulas de português, e uma dificuldade notável em esportes, ela poderia ser considerada ''nerd'' se não fosse seu cabelo liso e suas roupas escuras.

Ela teve a má sorte de nascer na ditadura, e mesmo que tivesse só 13 anos enquanto ela ocorria, já entendia tudo o quê se passava e que seus pais tentavam desesperadamente lhe proibir de ver.

Há muito tempo já tinha percebido que só uma expressão negativa podia matá-la, então, não restava muito a fazer...

A não ser, escrever poesias que nunca seriam lidas.

-----------------------------------------------------------

Há muito tempo me pergunto

Se as pessoas podem mudar.

Haverá sempre alguém querendo o poder?

Até onde as pessoas podem ir

Para conseguir o chamado ''poder absoluto''?

Para a todos governar,

Para que todos lhe obedeçam, para que todos morram por ele?

As pessoas parecem não perceber

Que não são perfeitas

Que erram tanto quanto eu ou você.

Acho eu, nesse mundo em ruínas,

E sei que não estou só, muitos outros pensam assim:

Não importa se é novo, se é velho, se é branco ou negro.

Todos deveriam ter a chamada ''liberdade''.

Liberdade de escolher quem governa,

Liberdade de dizer oquê pensa,

Liberdade de dizer coisas sem medo de morrer.

Este deve ser só, acho eu,

Um sonho pequeno, diante desse mundo pequeno e cruel.

Pois parece que o medo rege a nação

As pessoas olham com tristes olhos

Mas com bocas sem expressão

As crianças solitárias,

Órfãs sem motivo.

E os homens mortos,

Sem família que possa chorar sua morte consigo.

Este mundo em ruínas

Acho eu, que não tem salvação.

Perdoe-me se estou errada,

Mas parece que a cada pessoa como eu

Há dois como eles

Há dois que anseiam o poder mais que tudo

Mais que a vida de tudo e todos.

É por isso que escrevo poesia.

É por isso que talvez um dia

Eu tente mudar o mundo

Pois assim como uma pessoa ruim pode com tudo acabar,

Talvez várias boas, juntas,

Possam a tudo melhorar.

------------------------------------------------------------

Muitos anos depois da ditadura, uma família compra uma antiga casa.

Ela estava cheia de móveis antigos, porém os compradores resolveram que seria melhor coloca-los todos empilhados em um quarto.

Uma das crianças dali ( tinha 6 anos ) resolveu espionar os móveis... Até que achou um criado-mudo ( ou mesinha de cabeceira ). Suas gavetas estavam trancadas, mas procurando mais, a criança encontrou a chave ( estava bem escondida em uma minúscula gaveta no guarda-roupa, que mal se conseguia ver ).

Depois de abrir o criado-mudo, a criança encontrou muitos papéis. Como não sabia ler, ela os levou a sua irmã mais velha ( que por ironia do destino, era extremamente parecida com Clarice, além de ter a mesma idade ), para que ela lesse todos aqueles papéis.

Sua irmã ficou muito assustada, afinal, eles haviam achado um tesouro histórico: Clarice havia sido uma heroína na ditadura, apesar de nunca acharem mais que sua ficha ''criminal'' ou relatos sobre ela em jornais antigos.

Assim, depois de revelar aos seus pais e a imprensa oquê haviam encontrado, os pensamentos silenciosos de uma antiga heroína não precisavam mais serem silenciosos: agora o mundo inteiro poderia pensar como ela.

Parece que Clarice conseguiu oquê queria, mesmo que tenha morrido antes de alcançar seu objetivo.