Escovas de Dente escrita por Queen Vee


Capítulo 1
Suíte, escovas, apartamento novo. — Único.


Notas iniciais do capítulo

OLÁ! Podem jogar pedras. Sim, eu notei que todas as minhas fics estão atrasadas e não posto absolutamente nada novo faz tempo. Acontece que minha vida adora dar loopings escrotos e a inspiração não aparece nunca!
Foi um milagre eu ter acordado com vontade e criatividade pra isso! Bom, Ian e Lake são personagens originais que provavelmente irão ver muito na minha conta. É difícil que eu poste as coisas que escrevo dos dois, mas vou pensar na possibilidade se isso aqui for bem-aceito.
Semelhanças com a minha personalidade no Ian é mera coincidência. Obrigada.
APROVEITEM BEM



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Aquele era para ser apenas o meu banho matinal — o momento em que me arrasto da cama e passo meia hora debaixo do chuveiro ligado esperando minha preguiça descer pelo ralo. Infelizmente, não foi nem um pouco como o esperado.

Começando pelo fato de que no dia anterior, meu melhor amigo havia passado à morar comigo no… Nosso apartamento. Era um sonho de infância, um acordo feito por moleques da sexta série. Passamos a noite arrumando o básico pra ele, mas o quarto de hóspedes não estava pronto e, para minha sorte, dormimos na mesma cama.

Na verdade, não comprei a cama do outro quarto de propósito. Cruel? Talvez em outra visão. Sempre tive medo de dormir só e não era novidade dividirmos uma cama casal. Sempre que visitava sua casa, ficávamos no mesmo quarto e na mesma cama com colchão “ortopédico” que era da avó dele.

Só que tinha me esquecido do detalhe da suíte.

Como na noite passada estávamos caindo de sono, arrumamos as caixas de qualquer jeito e fomos dormir. De qualquer jeito MESMO. Assim, quando fui me despir para entrar no box, dei de cara com algo extremamente desconfortável.

Elas duas. Juntinhas. Quietinhas. Paradas. Dividindo o mesmo espaço no canto, voltadas uma para a outra e unidas como se fossem amantes. Aquilo era quase invadir a privacidade de um casal em um beijo íntimo!

Nossas escovas de dente e suas cerdas coladas.

Aquilo me deu um tique nervoso inexplicável. Preguiça? Sumiu. Larguei a toalha em um canto e bati com a cara na porta ao tentar sair, cerrando os punhos na madeira e escorregando lentamente para o chão.

Acho que não comentei que sou apaixonado pelo meu melhor amigo há tempos. E que ele sabe desde que me dei conta. E mesmo assim aceitamos morar juntos. E que eu sonho em casar algum dia — com ele? Quem sabe?

Então, inocentemente me levanto em um domingo, arrastando os pés pelo chão, e encontro aquele casal unido de forma tão envolvente e quente que me faz morrer e derreter de inveja dos dois. Ou melhor, das duas.

Será que ele tinha visto aquilo e não disse nada?! Impossível. Com certeza teria as separado e lavado freneticamente. “Isso é completamente anti-higiênico, Ian! Eca!”, ouvi sua voz na minha mente. Mas e se elas acabaram voltando pro mesmo lugar?!

Pior: E se Lake achasse que eu mesmo tinha as colocado ali, voltadas uma para a outra? Porque não era uma possibilidade à ser descartada. Sempre fui neurótico e apaixonado por ele! Tsc. Aquele era meu fim.

Ele não estava na cama, então já tinha levantado. Isso significa que já tinha escovado os dentes, certo? Sua rotina era aquela! Ou elas tinham se envolvido daquele jeito após ele fazer a higiene? Pode ter sido um descuido de sua parte.

O que me restava fazer era simplesmente desvirá-las e agir como se nada houvesse acontecido. Se ele não tivesse visto, também nunca iria ver e pensar mal de mim ou coisa do gênero. Qual a dificuldade, Ian?

Você é escritor, faz faculdade, acorda cedo todos os dias, enfrenta o sol forte de Salvador sempre que sai de casa e não pode deixar de agir feito uma garotinha pela primeira vez na vida para enfrentar escovas de dente?!

E mesmo com tantas palavras de apoio moral ecoando em meu interior, foi só virar para o porta-escovas que meu coração falhou algumas batidas e encolhi os ombros como uma criança que tem medo do escuro.

Ele tinha visto. Claro que tinha visto!

Acabei largando tudo por ali mesmo e correndo para a sala, disfarçando tudo com a maior cara lavada do mundo. Sim, talvez fosse tempestade em copo d’água e dilúvio em tampinha de xarope, mas… Era nosso primeiro dia morando na mesma casa!

Encontrei-o já vestido na poltrona listrada da sala, de fones e teclando rapidamente no notebook, às vezes resmungando ou reclamando com alguém invisível. Prendi a respiração. Ah! Estava jogando!

...De banho tomado?

Foi assim que o teto do apartamento desabou sobre minha cabeça. Quase. Passei a mão pelo tecido da minha camisa de Adventure Time e escorreguei para perto dele. Como sempre, concentrado demais na tela para erguer o olhar.

— Eu sem mouse jogo melhor do que você! Noob! — “Argumentou”, com a boca cheia de biscoito recheado e gesticulou com a outra mão. Franzi o cenho, mas continuei tentando agir normalmente ao sentar no braço do móvel. — Uhn… Bom dia, Ian! ...Não, seu escroto, não estou falando com você! Vai logo pro Mid!

Ri comigo mesmo e o abracei de lado, deitando a cabeça em seu ombro. Escondi o nervosismo, disfarcei a ceninha acontecida há pouco tempo e observei seu jogo.

— Bom dia! Dormiu bem?

— Aham.

— Já tomou banho?

— Aham.

— E escovou os dentes? — E quase como se algum encosto estivesse tirando sarro da minha cara, ele não respondeu e pareceu se concentrar em responder os colegas de equipe novamente. Senti meu rosto esquentar… Remexi meus cachos que já deveriam estar úmidos embaixo do chuveiro àquela hora. — Escovou?

Bufei e me levantei, caminhando em direção ao corredor e ao quarto para dar novamente de cara com aquele desafio que a vida me impôs. “O que não me mata, me fortalece”. Porém, eis que a resposta da minha pergunta vem em alto e bom som após o quase-loiro — castanho-claro ou loiro escuro, eis a questão — retirar os fones.

— Ah, sim! Tive uns probleminhas na hora de escovar os dentes!
Meu coração parou de bater e minha pressão baixou. Quase desabei no corredor de nervoso, sentindo o rosto tão quente que parecia ter chupado uma bala sabor lava quente. Sem saliva para engolir no momento de desespero, hesitei e me virei outra vez para Lake.

— Q-Que tipo de problema? — Ele ainda levou mais tempo pra responder, com o olhar preso ao monitor e os dedos ainda mais rápidos que antes. Tsc. Gamers. — Que tipo de problema, Lake?!

Ele fez uma cara de ofendido com meu tom de voz, mas suspirou e afastou os dedos do teclado por um momento.

— Eu não achei minha escova. Onde colocou?

Abri a boca, mas minha voz parecia ter sumido na garganta. Minha mente deu um giro de 360° e meus pensamentos foram sugados para uma outra dimensão, onde pôneis rebolam até o chão e átomos realmente são “pudins de passas”.

Não achou a escova. Se ele não achou a escova, provavelmente não tinha a visto juntinha com a minha… E isso significa que ele não tinha tomado banho na suíte.

Isso explicava tudo! Sua toalha não estava na suíte, muito menos úmida! O box estava seco logo cedo e sua escova estava guardada lá. Pronto. Simples assim. Ele não sabia do que estava acontecendo no banheiro do nosso quarto.

Nunca estive tão aliviado na vida. Até respirei fundo, sentindo meu coração voltar à bater normalmente, como se nada houvesse acontecido.

— Ah, bom! Sem problemas! Está no banheiro do quarto. Espera que eu já vou buscar, tá’ bom? — E assim, como se meus pés fossem nuvens, saltitei de volta pro quarto. Fitei as escovas… Sorri.

Sorriso bobo, infantil e impossível de ser contido. Cerrei as pálpebras por uns momentos e me apoiei na bancada da pia, relaxando os músculos. Desespero pra nada, sei disso. Peguei a escova dele, lavei enquanto encarava o espelho… E me sentia um idiota tentando controlar aquele sorriso de menino.

Antes de sair dali, parei na soleira da porta e virei o rosto para a minha escovinha solitária em seu canto. Olhei de uma escova pra outra, de um amante pro outro. Meus ombros caíram.

— Não se preocupa não, Ian. Um dia o Lake volta pra ficar abraçadinho com você assim. — Ri sozinho e confirmei mentalmente: Sou louco. Ah, não devia ser tão ruim ser o confidente de uma escova, certo?

Eram um casal! Voltariam à ficar juntas! ...Mesmo que pra isso eu precisasse acabar dando uma “empurradinha acidental” na hora de colocar a minha no porta-escovas.


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Notas finais do capítulo

Opa! *3* Veio até aqui? Ótimo! Espero que tenha apreciado e gostado! Qualquer erro, pode me informar!
;3; Que sacrifício pra editar esse HTML, cara! Ufa!
Por favor, se gostou ou mesmo se não gostou, comente e dê sua opinião. Isso estimula e ajuda bastante, ok?
Como eu sempre digo: Um leitor que comenta é um leito amável!