Eu atravessei a porta como White havia pedido e me surpreendi com o quão grande era, as escadas eram largas e um lado delas estava completamente congelado enquanto o outro lado estava limpo, que fiquei observando as árvores com pétalas brancas, cujo nome não me recordo, só sei que são lindas, ou deveriam ser porque agora a grande maioria estava um pouco congelada.

— É lindo não é? – White disse me tirando de meus devaneios, acho que estava tão distraída que nem o vi chegar.

— É sim.

— Então vamos? – Ele estendeu a mão pra mim, desde quando esse arrogante era tão cavaleiro? Me contive apenas em sorrir e corresponder, nós começamos a descer o lado sem gelo da escada com calma, ou melhor, eu descia com calma para não cair e ele apenas acompanhou meu ritmo.

Com a ajuda dele consegui terminar de descer as escadas, mas mesmo no final estava muito congelado.

— Ah! – Gritei quando meu pé escorregou e meu corpo foi junto, White entrou na minha frente, me impedindo de ir de encontro ao chão, eu segurei sua camisa, com o rosto enterrado em seu peito e comecei a rir de mim, ele sorriu por um instante, um segundo se passou, eu parei de rir um pouco e então percebi que não queria mais me afastar dele, era tão... Bom.

Me afastei um pouco sem jeito, sorrindo para tentar disfarçar, ele apenas estendeu novamente a mão e assim nós continuamos, claro sem tombos inesperados.

A cidade era encantadora, colorida e cheia de flores tão lindas que mais pareciam magicas, as casas eram simples e atrativas, diferentes de tudo que já vi na vida, até porque tudo que já vi em meu mundo foi um monte de mansões frias e vazias, cada uma o mais longe o possível das outras, mas ainda assim algo parecia estar faltando algo, a começar pelas pessoas.

— A onde estão os moradores? – Perguntei.

— Acho que escondidos, é o mais provável. Como a maioria por aqui é composta por comerciantes eles não querem prejuízos imensos. Sabe a alguns poucos metros da cidade fica a vila de copas, antes claro isso não era problema, mas quando a rainha branca sumiu o povo ficou com medo. – Ele contou ainda pensativo.

— Do que eles tinham medo?

— Na vila de copas, vivem os nobres e os leais a rainha, eu não sei ao certo o que eles temem, mas coisa boa não deve ser.

Nós seguimos andando em silencio, tudo ali era um mistério para mim.

Parei ao notar algo se mover em um beco, comecei a caminhar na direção do beco e White me seguiu confuso. — Olá? – Perguntei baixinho quando cheguei no começo do beco, sem resposta, então resolvi me aventurar por ele.

— Ei Alice! Onde está indo? – White perguntou enquanto me seguia.

— Acho que vi alguma coisa.

— Um animal ou seria um fantasma? – Ele questionou com tom de ironia. — Olha acho que precisamos conversar sobre essa sua mania de seguir animais e fantasmas.

— Não se preocupe eu só persigo coelhos. – Retruquei e ficamos em silencio, mas mesmo ele estando atrás de mim, consegui sentir seu sorriso sonso, bem pelo menos ele calou a boca. E continuamos andando em silencio até que chegamos ao outro lado, que dava em uma praça, meus olhos pairam sobre um enorme chafariz que jorra água... Colorida? No canto do chafariz eu consegui ver uma pessoa, na verdade uma criança encolhida, e resolvi me aproximar aos poucos, White balançou a cabeça claramente querendo dizer “lá vai você novamente”, mas eu nem me importei, continuei me aproximando e ele me seguiu, quando cheguei bem perto me ajoelhei ao lado da criança, um menino, e pus a mão em seu ombro, ele levantou a cabeça surpreso e quando me viu ele se levantou e ameaçou correr, mas White o parou e o segurou.

O menino nos encarou, ele parecia ter uns oito anos, tinha cabelos pretos com alguns fios brancos espalhados em toda a parte, os olhos eram pretos, mas as vezes reluziam em um tom vermelho, quase inacreditável, mas acima de tudo era algo lindo de se ver, ele vestia uma blusa vermelha num tom bem claro, uma jaqueta e uma calça jeans preta, o pequeno nos encarava em dúvida e parecia estar com medo, se fosse em outra ocasião eu até o deixaria ir, mas ele estava ferido, tinha um corte em uma das sobrancelhas que sangrava um pouco.

— Tudo bem... Não vamos te machucar, só queremos te ajudar. – White disse sorrindo, com a voz tão suave e terna que nem parecia ele, o menino baixou os olhos. — Ei... Tudo bem mesmo. Desculpe se a gente te assustou é que minha amiga é um pouco estabanada.

— Ei! Quem é estabanada aqui? – Eu perguntei revoltada e White que olhava nos olhos do menino, me encarou por um segundo, mas não com raiva, ele me olhava com paciência e sorriu, como se dissesse, “falamos sobre isso depois”, depois ele voltou a olhar nos olhos do menino, se fosse qualquer outra pessoa eu perderia a linha, mas era ele, e pelo que sei sobre ele, eu entendi seu recado, “Nada de brigas na frente de uma criança assustada.”

— Eu me chamo Alli e essa é a Alice, e você como é seu nome? – White perguntou sorrindo, o menino ainda fitava o chão e balançava o pés, fazendo círculos com ele no chão, assim como... Não, não pode ser.

— Ja... Jasper. – Ele por fim respondeu timidamente, sua voz era doce e baixa e ele ainda fitava o chão.

— Jasper? Que nome lindo. – Eu comentei e ele sorriu ainda tímido.

— É mesmo, um nome lindo, você é da vila não é? – White perguntou e Jasper permaneceu em silencio. — Foi oque pensei, tudo bem Jasper, não vamos te machucar, qualquer um é bem vindo aqui na cidade, agora precisamos dar um jeito em seu machucado, tudo bem pra você?

Os olhos de Jasper passaram de White para os meus e dos meus para os de White — Eu to bem. Não se preocupem. - Ele respondeu sem jeito.

Quanto mais eu o encarava mais parecia que seus olhos ficavam vermelhos, mas era tão sutil que as vezes parecia que eu estava imaginando coisas, White sorria diplomaticamente de uma forma tão confiante e majestosa que por um segundo pude imagina-lo executando sua antiga função. — Como não, você esta ferido. - Ele insistiu, Jasper estava prestes a recusar quando cambaleou um pouco, logo tomando o equilíbrio de volta com a minha ajuda e a de White, nós o sentamos na beirada da fonte e ele colocou a mão na cabeça, com uma expressão de dor.

— O que foi? É sua cabeça? – perguntei e ele concordou, White me cutucou e eu o encarei.

— Tem um lenço ou algo assim? – Ele perguntou baixinho e eu concordei, por sorte fui obrigada desde sempre a ter um lenço em mãos, “Uma dama deve estar preparada”, dizia Judith praticamente todos os dias e por força do hábito e de tanto que ela repetiu isso na minha cabeça eu acabei aderindo seu pensamento, retirei o lenço do bolso e entreguei a White, ele se dava melhor com crianças que eu, então o coelho se aproximou e ergueu a mão até a reta do ferimento de Jasper, que se afastou um pouco no principio, mas depois deixou que White limpasse seu ferimento com calma, sim, calma, muita calma, ele era ágil e delicado, com o tempo notei que Jasper se sentia menos amedrontado, quando terminou White sorriu. — Viu, simples assim, o corte foi superficial, vai sarar logo, mas toma cuidado, você bateu a cabeça por acaso? Porque se bateu procure alguém para ajuda-lo, sério.

— O... Obrigado. – Jasper agradeceu sorrindo um pouco, ao fundo um sino tocou, eu olhei para o horizonte, confusa, e Jasper se levantou com um salto. — Eu... Tenho que ir. – Ele afirmou começando a correr, mas parou no meio do caminho, voltou e deu um abraço em White, depois em mim, ele sorriu e recomeçou a correr apressadamente.

— Acho que nós também temos que ir. – Eu afirmei e White concordou em silencio e assim nós recomeçamos a andar de volta ao palácio meio congelado da rainha branca, quando alcançamos o fim da cidade White parou e olhou para trás. — O que foi? Você está muito quieto faz um tempo.

— Eu sou quieto. – Ele retrucou emburrado, era estranho não vê-lo com aquela cara séria e sem expressão, mas acho que no fundo eu gostava mais dele assim, natural.

— Allister! - Eu o chamei pelo nome, claramente com raiva e ele me encarou ainda emburrado, mas depois volta a olhar a cidade que deixamos para trás. — É sobre aquele menino não é?

— Acho que sim, não sei eu... – Ele balançou a cabeça, como se fosse algo estupido. — Eu senti que queria protege-lo, ele tinha algo... E também, ele se parece comigo antes.

— Com você?

— É, o medo, o olhar confuso, e eu também passava horas fora de casa, eu sinto que nele a uma grande dor, uma que eu conheço bem. – Ele comentou pensativo, olhando dessa vez para o céu. — Mas ainda assim, tem algo a mais nele e esse algo me faz querer protege-lo.

Eu dizer a ele que talvez não fosse nada, mas se fosse alguma coisa ele logo entenderia, só que não tive chance, pois ouvi uma voz nós chamar do fundo.

— Ei! – Ches acenava sem parar enquanto caminhava até nós, Sinara vinha logo atrás e parecia tentar o impedir, ela gritava alo como, “Não ouse, você vai estragar o clima”, e ele respondeu algo como, “E essa é a ideia”, não entendi, que clima?

Nós nos aproximamos deles e Ches me abraçou rindo, “O que eu atrapalhei?”, ele perguntou meio que sussurrando e eu ri alto, “Nada”, respondi lançando um olhar para White, Jasper seria nosso segredo, pelo menos por enquanto, até porque eu tinha a mesma impressão, ele tem alguma coisa especial e acho que já sei o que é...

Ches se afastou um pouco e foi falar algo com White, o arrastando junto para longe, eu e Sinara rimos e ficamos observando os dois discutindo de longe, estava tudo bem, até que Sinara olhou para o céu em duvida e eu segui seu olhar.

— Oq- Comecei a perguntar, mas não cheguei a ter chance, três bombas caíram ao nosso redor, mas não bombas comuns e sim bombas de gás colorido que me fizeram perder um pouco do equilíbrio, senti minhas forças irem diminuindo aos poucos e meu corpo cair devagar, ao longe Ches e White correram até nós, então tudo se apaga.