Andamos até uma espécie de campina com uma árvore gigante no meio, segundo White é um dos possíveis esconderijos da duquesa, o problema era que aquele era o terceiro que visitávamos só hoje e eu já esta ficando cansada:
— Ah! Por favor, me diga esse é o certo. - Reclamei quando chegamos bem perto da árvore — Acho que vou morrer de tédio.
— Se tem tempo pra reclamar, tem tempo pra ajudar! - White falou de um jeito autoritário e o encarei indignada.
— Como é?
— É que até agora tudo oque você tem feito é RECLAMAR. - Ele disse dando enfase no final e voltando a encarar a árvore, que cada vez mais parecia uma casa, mas isso não era oque me importava no momento:
— Olha aqui seu coelho arrogante eu...
_Chegamos! - O infeliz exclamou me interrompendo — Este é o lugar certo, é aqui!
— E como sabe em gênio? - Eu perguntei com raiva e ele suspirou.
— Ali – O coelho apontou para a porta, eu olhei com mais atenção e estava escrito "Casa da Duquesa".
— Francamente, quem põe o próprio nome no próprio esconderijo? -Comentei enquanto suspirava indignada.
— A Duquesa! - White me respondeu como se fosse óbvio e eu o encarei com ódio, juro que se tivesse uma faca...
— Mas ainda não sabemos se ela vai ajudar certo? - Perguntou meu pai, me fazendo parar de fuzilar White mentalmente e voltar a me concentrar no que era importante.
— Quanto a isso não se preocupem, ela certamente vai nos ajudar de alguma forma, o problema é se ela vai nos ajudar da forma que precisamos, por isso não podemos perder tempo, vamos temos que falar com ela agora. - White falou com um tom ainda mais autoritário, andou até a porta e a abriu, sim, porta do esconderijo ultrassecreto da Duquesa estava aberta, francamente oque essa mulher tem na cabeça?
Nós entramos e encontramos uma sala de estar quentinha e toda decorada como uma casa de boneca, percebi que em um canto da sala tinha um escada não muito extensa, com uma porta média ao lado e logo a nossa frente uma suposta cozinha, eu respirei fundo e percebi que de lá vinha um cheiro de pimenta, não muito forte, mas também não tão fraco e incomodava um pouco.

— Ora! Ora! Parece que temos visitas. - Uma voz ecoou da porta, uma voz que por algum motivo me soava familiar, então antes que me virasse um vulto loiro pegou minha mão e a beijou, ao olhar melhor a criatura a minha frente reconheci no mesmo instante.
— Cheshire! - White exclamou com um sorriso cínico na cara e Cheshire correspondeu da mesma maneira, "bando de hipócritas, nem o sorriso de vocês é verdadeiro", Pensei enquanto soltava minha mão e me aproximava do meu pai, que apenas observava toda a cena de cara fechada, eu suspirei desanimada e essa agora: Um coelho arrogante, um gato petulante e psicopata e um pai com ciúmes de um gato, sinceramente tenho medo de conhecer a tal duquesa.
— Mas a que devo a honra? - Cheshire perguntou animado, estava mais radiante que nunca.
— Precisamos falar com a Duquesa, não é obvio? - White perguntou/respondeu com um pouco de raiva e Cheshire apenas o encarou e sorriu.
— Ela deu uma saída, mas podem esperar aqui, nunca recebemos visitas então fiquem a vontade. – A forma como ele disse visitas estava obviamente carregada de sentimentos, e o maior de todos parecia raiva, White também ficou visivelmente desconfortável com a frase.
— É claro que vamos esperar! - Ele murmurou enquanto se jogava/sentava no sofá, "Além de tudo é folgado", Pensei enquanto o observava.
— Então, você vive aqui? - Perguntou meu pai á Cheshire.
— Sim e não... - Ele respondeu sorrindo ainda mais.
— Como assim Cheshire? - Eu perguntei, mas antes que ele pudesse responder White interferiu:
— Ele quer dizer que é um vagabundo folgado e que passa o dia todo andando por ai e enchendo o saco de todos e só volta pra cá para comer e dormir. - White estava de olhos fechados, com a cabeça jogada pra trás e o pé em cima de uma mesinha perto do sofá, "Como se ele fosse o único folgado", pensei.
— É mais ou menos isso. - Cheshire Admitiu sorrindo. — E pode me chamar só de Ches.
— Ah! Sim... Ches. - Então ficamos lá, meu pai descansava enquanto eu e Ches nos sentamos no chão da sala para conversar, no começo eu ficava rindo das piadas dele e depois o coelho arrogante começou a se meter e discutir com ele por um bom tempo, até que ouvimos um barulho na porta e nos levantamos para encarar a fonte, que era uma mulher alta de cabelos castanhos claríssimos, ela usava um vestido rosa claro todo rodado que ia até um pouco abaixo do joelho e luvas brancas na mão, ela já era certamente uma adulta, seus olhos eram cor de mel e era de fato muito encantadora.
— Oh! - Ela exclamou quando nos notou, e se aproximou me encarando como se me examinasse, oque me deixou com um pouco de medo, mas depois ela sorriu um pouco, me acalmando, passando por mim ela bagunçou um pouco o cabelo de Ches que sorriu inocente e pareceu notar pela primeira vez a criatura albina que a observava com cara de paisagem. — Olá querido, a quanto tempo em. Não vem mais aqui. - Ela sorriu e também brincou com o cabelo de White, que apenas fechou a cara, e novamente senti o clima de raiva e desconforto quanto a ele, mas não era contra a presença dela, parecia o contrario.
— Onde foi? - Ches perguntou um pouco entediado, a Duquesa ficou séria por um instante e enfim respondeu:
— Fui ver o chapeleiro. - Assim que ela disse isso o clima do lugar ficou um pouco pesado, White baixou os olhos e se afastou um pouco, eu fiquei um tanto nervosa, Ches, que eu pensei que não se importasse ficou um pouco tenso, até mesmo meu pai, que não sabia oque tinha acontecido, pareceu sentir o clima do lugar, por isso mesmo o interrompeu:
— Então, acho que temos negócios a tratar. - Ele disse fazendo todos voltarem a si.
— Isso mesmo. -Eu encorajei um pouco.
— É! - White disse finalmente. — Precisamos de sua ajuda se não se importar.
— Bem, vamos conversar então. - A Duquesa disse nos guiando até o sofá e então começamos a explicar um pouco de tudo para ela. — Então no que exatamente precisam de mim?
— Se Alice tem mesmo o tal poder, talvez ela possa se capaz de dominar alguma arma especial que possa concentrar o poder dela em um lugar só. - White respondeu.
— Está falando... Eu não sei se seria uma boa ideia.
— Por favor. -Eu supliquei e ela me encarou por um segundo.
A Duquesa ainda parecia um pouco pensativa, mas prosseguiu mesmo assim:

— Tudo bem, vamos fazer assim eu não queria lidar com esse tipo de situação agora, mas como é uma emergência não tem outro jeito. - Ela se levantou e nós fizemos o mesmo — Alice e White venham comigo, enquanto você, Ches leva o senhor para um dos quartos de hóspedes, receio que ele precise descansar depois de tudo oque passou. - Todos aceitamos, e fizemos cada um oque nos foi mandado, sem questionar.
White e eu seguimos a duquesa até uma porta perto da escada e fomos parar em um quarto pequeno e escuro, ela chutou um tapete que revelou uma porta secreta no chão. — White querido poderia? - Ela perguntou mostrando uma chave para ele.
— Tudo bem - Ele pegou a chave e abriu uma passagem secreta, a duquesa desceu primeiro, depois eu e por ultimo White.
A sala em que fomos parar era grande e incrivelmente iluminada, em todos os cantos havia prateleiras e mais prateleiras lotadas de livros de todo os tamanhos e cores e no centro havia uma mesinha redonda com quatro objetos, um punhal prata, uma pulseira composta por várias pedrinhas parecidas com diamantes, uma corrente de ouro e um anel meio preto azulado.

A Duquesa pediu para que eu me aproximasse e eu fui.
— Ponha a mão por cima dos três objetos e concentre-se em tudo até agora. - Ela disse gentilmente e assim eu fiz, então milhares de coisas vieram a minha mente, tudo até agora, todos que conheci e aqueles que partiram, abri os olhos e vi o punhal brilhar, mas eu senti que uma outra força tentava se libertar, só não entendia o que era. — Incrível, você possui mesmo magia...
— Acho que sim. - Respondi ainda pasma quando a Duquesa pegou o punhal.
— Mas... Receio que tenha algo faltando. - Eu a encarei pasma, não por não fazer sentido e sim por ser o mesmo que eu estava sentindo. — White venha aqui. - Ele pareceu surpreso e confuso, mas veio até nós mesmo assim, a duquesa o colocou na minha frente e pediu que um segurasse as mãos do outro, oque nós fizemos mesmo sem entender, e depois para que eu tentasse novamente e assim o fiz, eu pensei em tudo novamente, só que dessa vez mais detalhadamente;
Primeiro de ter encontrado White e depois descoberto que minha mãe tinha morrido, depois eu vi minha avó chegando e sendo capturada, me lembrei de quando cheguei, de minhas brigas inúteis com White, de ter conhecido Ches, de ter me salvado, de lebre chorando e se desculpando, me lembrei do chapeleiro e de seu olhar confuso, de Let ao seu lado, da rainha, da duquesa, dos jardineiros, de Loke contendo o sorriso, de White bagunçando o próprio cabelo e por fim do seu olhar de dor. Eu abri os olhos e percebi que estava chorando e White me observava confuso, um pequeno objeto brilhava na mesa, o anel, mas sua luz era mais forte que a do punhal.
Quando a Duquesa o pegou ele brilhou ainda mais e se transformou em dois. — Como eu suspeitava. -ela comentou sorrindo, pediu que cada um de nós estendesse a mão que estava livre e nos entregou um anel, depois soltamos nossas mãos e colocamos o anel, ainda confusos. — Isso é uma magia compartilhada.
— Como? - Perguntei, ela apenas sorriu caminhando na direção da porta.
— Quando vocês compartilharem o mesmo sentimento, essa magia se tornará puramente invencível. - Eu encarei o anel, admirada.
— Invencível é... - Suspirei ao lembrar o pequeno detalhe, entender White.
— Agora vamos de uma vez antes que Ches fique preocupado. - Nós a encaramos sem reação, mas era óbvio que ela não tocaria no assunto tão cedo, eu e White nos olhamos e ele suspirou.
— Parece que dessa vez as respostas ficam por nossa conta... - E dizendo isso ele começou a acompanhar a duquesa.
— Acho que dessa vez tenho que concordar. - Admiti.