Checkmate escrita por Zev


Capítulo 8
Mental Easter Egg


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Hehe, eu sei que demoro muito para postar os caps...
Mas ai está mais um deles =)
Boa leitura!



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De volta ao aeroporto, a mesma atendente do dia anterior entregou o novo cartão de embarque. Não lhe disse nada sobre o acidente da noite anterior, muito menos lhe fez perguntas. “portão 13” foi só o que disse. Tudo parecia completamente comum, com exceção talvez, do grande numero de fiscais do aeroporto e policiais que andavam apressados pelos saguões.

Passar para o portão de embarque foi uma sensação de libertação. Ali dentro, estaria a um passo de chegar onde queria. Algo lhe confortava, dizendo que seu avião não sofreria nada de ruim, que dois aviões não cairiam seguidos, indo para o mesmo destino.

Por um momento, havia pensado em ficar por ali mesmo, rasgar a passagem e viver o resto de seus dias imprevisíveis como moradora de diversos hotéis em Hong Kong... Pelo menos até que o dinheiro acabasse.

Novamente, sentou-se em frente ao portão de embarque e esperou. Esperou até que algo acontecesse ou que alguém fosse atrás dela exigindo respostas, que fosse detida por qualquer motivo. Se perguntassem qualquer coisa além do que constava no passaporte, não saberia responder e então estaria enrascada.

Duas senhoras sentaram-se ao seu lado. Carregavam grandes e estufadas malas de mão, falavam um inglês rápido, um pouco confuso, provavelmente do interior. “Marly, estou dizendo, acho que se fosse algum tipo de atentado contra os Estados Unidos, o avião teria pelo menos entrado no país! Ou alguém teria assumido o crime! Isso foi um atentado contra alguém. Devia ter gente importante naquele vôo. Só digo isso.” Uma delas disse como se concluísse uma longa discussão que tiveram até sentarem-se ali.

“Gente... Realmente importante?” a pergunta pairou momentaneamente sobre a cabeça dela, mas nenhuma conclusão se apresentou de imediato. Seria ela gente realmente importante? Pra quem? Sentia que pelo menos era obvio que a vítima deveria ter sido ela. Sentia-se feliz por ter escapado mais uma vez.

O portão se abriu e ela foi uma das primeiras a entrar. Não queria de forma alguma ficar ali naquele país, nem mais um segundo. Olhou brevemente para pista de pouso até entrar de fato dentro da aeronave.

“Gente realmente importante deve viajar de primeira classe mesmo”, ela pensou ao sentar-se na terceira fileira de largas e confortáveis poltronas. Logo lhe foram servidos vinho, bombons de licor e lhe foi entregue um edredom. As aeromoças também não perguntaram nada a ela.

Depois do ocorrido, parando para pensar. pareceu-lhe obvio que aquele atentado contra sua vida aconteceria. Censurou-se por ter ficado tão surpresa. A passagem que lhe deram era exatamente para aquele vôo... Esse tipo de truque deveria estar por toda parte. Eles ainda poderiam rastreá-la pelas compras dos cartões de credito.

Retirou do bolso da jaqueta um jornal que comprara com dinheiro antes de embarcar, em uma banca, e a manchete principal falava sobre o ocorrido com o Boeing 787 da American Asian Airlines. Leria aquilo depois, porque estava ansiosa para a decolagem. Queria que acontecesse rápido, antes que alguém a tirasse de lá.

Entretanto o vôo decolou, as luzes das cabines foram apagadas e logo ela já não podia mais ver as luzes da cidade. Nada de ruim acontecera. Achou que todos os passageiros eram corajosos, ou precisavam muito voltar para casa, para embarcarem naquele vôo logo após um acidente. Abriu enfim a página, e leu.

Sem sobreviventes, o avião fora seqüestrado no ar, logo após a decolagem. O passageiro do assento ao lado ligou a luz e foi ao banheiro, sua passagem não incomodou ninguém, a distância entre poltronas era muito grande.

Após cinco horas, o vôo perdera contato com a torre de comando. Uma hora depois, o satélite perdeu contato e sinais indicavam que havia caído – ou sido lançado – no oceano, outra perícia afirmava que ele teria sido completamente desintegrado no ar. Todas as luzes da cabine estavam apagadas. Agora, apenas a dela continuava acesa, sendo visíveis apenas as luzes dos televisores ou da cabine econômica.

Relatos de quem fora responsável pela tragédia ainda não foram notificados, ninguém entendia direito o que acontecera, e nenhuma organização terrorista declarara autoria pelo seqüestro. Aquele deveria ter sido um vôo normal, e ninguém entendia exatamente o que acontecera. 

A comissária de bordo percebeu que a moça lia sobre o acidente, aproximou-se e sussurrou que tudo estava bem no vôo, que ler sobre aquele tipo de coisa só causaria stress. Pediu que parasse e lhe ofereceu uma revista da companhia.

“sinto pena dos 300 passageiros que morreram por minha causa sem ter nada a ver com isso.” Lembrou-se do homem que entrara apressado, passando por ela e derrubando seus papeis.

Poucas horas depois, a cabine inteira, inclusive ela, dormiam profundamente nas poltronas que deitavam perfeitamente. O mapa da rota que mostrava a posição da aeronave sobre o trajeto quando ela adormecera, era aproximadamente 1 quarto do percurso total. Acordou uma única vez para jantar e logo em seguida, voltou a dormir. Ao despertar, faltavam 30 minutos para a aterrissagem, e a muito já sobrevoavam território americano. Ela chegaria à Nova York, a cidade que nunca dorme, a cidade lotada, onde jamais a encontrariam.

Enquanto pensava, aproveitando o ambiente calmo, concentrou-se, procurando se lembrar de qualquer coisa que pudesse remeter a algum pedaço de seu passado. Começou a ter dores de cabeça, mas conseguia visualizar coisas desconexas, que acabavam por se misturar com o quarto onde estivera. Continuou tentando. Comparou o que fazia a espremer o cérebro como uma esponja.

Era uma casa bem próxima a um riacho. Uma boa casa, com toda a entrada pintada de branco, sem cerca, com algumas poucas outras casas, um pouco distantes, na mesma planície, separadas por uma larga rua de terra O som do riacho era possível de ser ouvido da residência. Algumas das arvores que perdiam suas folhas nos invernos frios da região estavam ficando amarelas.

Com exceção daquela casa, todos os vizinhos só costumavam habitar a região nos verões, ou quando queriam pescar e caçar sem serem importunados. Mas ali era diferente. Todos os dias o dono ia para a cidade próxima trabalhar em seu armazém, e voltava pela tarde. Cada ano, no entanto havia um único período, durante o inverno, em que aquela casa ficava vazia.

O dono era um ex-militar jovem, cuja idade não passava dos 40. Vivia com a mulher, professora de dança, também na mesma cidade. Gostava da paz daquela localização, perfeita para manter seu talento como pescador, e colecionar as armas que tanto gostava. Nunca tivera problemas com assaltos, ou invasões. Se precisasse, “não pensaria duas vezes antes de meter bala no vagabundo”, como gostava de dizer.

A moça com quem vivia não podia ter filhos. Por isso, após cinco anos juntos, decidiram que iriam adotar uma criança. Conseguiram a guarda de uma menininha, que tinha seis anos. Era uma criança forte, de cabelos loiros e sorriso encantador. A nova família passou, então, um ano junta.

Um dia, após voltarem de uma das viagens anuais que faziam para o sul do país, encontraram a porta da casa aberta. Não havia nenhum mecanismo de segurança no local, era verdade, mas aquilo nunca acontecera antes. Preocupado, e até esperançoso de que os invasores ainda estivessem por lá, pegou duas pistolas, e entregou uma delas para a mulher.

Entraram silenciosos no local, e a garota, sozinha dentro do carro, pode ouvir disparos. Encolheu-se no banco onde estava, assustada, e pode ver, pelo vidro da frente, molhado pela chuva, os para lamas do jipe ligados, o vulto de dois homens, correndo pela rua de terra, sendo perseguidos, a tiros. Usavam um capuz vermelho, e mascaras de pássaro, incomum, o que a deixou encabulada. 

Levaram-na para dentro da casa. O local estava intocado. As salas, a cozinha, não levaram nada, e também não havia muito que levar. O único local onde a porta estava aberta e antes não estivera, era seu quarto. Ali dentro ocorrera um caos. Ela, confusa, tapou o queixo caído com as mãos, sem conseguir perguntar nada. Seus bichos de pelúcia estavam rasgados e jogados no chão. Era algum tipo de aviso. “Pra que fazer isso com uma criança?” perguntaram eles.

Nas janelas geladas pelo clima de fora, estava escrito em vermelho “Lembre-se que você não pode escapar” e em outra delas, o desenho de um pássaro, também em vermelho, bem peculiar, lembrava as máscaras.

O quarto ficou fechado por algum tempo. A perícia atribuiu o crime a uma brincadeira de mau gosto praticada por uns jovens vândalos da região. Mas o casal era católico fervoroso. Ia à missa aos domingos, e respeitava todos os feriados. Julgaram que aquilo era coisa do mal. Que a garota estava vinculada a algum ritual ou seita perigoso. Mandaram-na de volta para o orfanato, e nunca mais foram incomodados.

Era Bob, o nome do dono daquela casa. Nicole conseguia se lembrar. Chamava-o Tio Bob. Não se lembrava o nome da mulher dele, mas ela sabia exatamente onde eles moravam. Sabia graças a lembrança que tinha de uma placa que vira na estrada, enquanto era levada de volta para a adoção.

Todas as pequenas lembranças que surgiram vieram na forma de rápidas cenas, mas perfeitamente completas, sob a ótica de uma criança de 7 anos. Pela primeira vez, pode planejar o que faria ao chegar à Nova York.

Ela se perguntou como os sequestradores que a buscavam naquele vôo se deram o luxo de cometer tamanho erro... Colocá-la num avião lotado... Sem considerar todas as possibilidades... Eles deviam ter apostado tudo no fato dela estar desesperada para fugir dali... Não... Algo devia ter dado errado... Não era possível que eles colocassem tudo a perder explodindo um avião sem antes ter verificado se todos os passageiros estariam lá...

“Duvidaram da minha capacidade de manter a calma... Ou talvez... Apenas se precipitaram, embora isso seja extremamente improvável... Deve haver algo mais por ai... Mas sou de fato ansiosa... Eles conhecem minha personalidade... Eles sabem quem eu sou, e sabem que eu não sei.”


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado, até o próximo!



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